Para uma Análise do Campesinato e da Agricultura

Para uma Análise do Campesinato e da Agricultura

Francisco Martins Rodrigues*

Nos últimos 30 anos a crescente procura de produtos agrícolas no mercado e o investimento de capitais na produção e comercio agrícolas actuaram como alavanca desintegradora da estrutura tradicional no campo; a velha economia agrícola de subsistência e ultrapassada pela produção mercantil que expulsa centenas de milhares de famílias camponesas para a emigração e para as cidades; o operário agrícola e o jornaleiro independente avantajam-se cada vez mais ao camponês independente; a exploração mecanizada, moderna começa a estender-se a largas zonas; o grande proprietário semi-feudal vivendo das rendas começa a perder a sua antiga omnipotência em face do lavrador capitalista, do comerciante de produtos agrícolas, do industrial, do proprietário citadino.
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Carta de João Pulido Valente ao CMLP

João Pulido Valente

Carta ao CMLP

 

3/8/1966

Caros Amigos

Só agora tive oportunidade de contactar com vocês. Há aproximadamente um mês que fui transferido para Caxias. Durante esse tempo inteirei-me do comportamento perante a polícia de todos os camaradas presos, tendo actualmente um conhecimento profundo do comportamento dos camaradas mais responsáveis. Continuar a ler

A privação do sono

Francisco Martins Rodrigues

A privação do sono

(s. d.) [1966]

Entrei na sede da PIDE pelas 21:30 horas do dia 30 de Janeiro. Mandaram-me despir. Obedeci. Depois de me revistarem, devolveram-me as roupas. Entrou então o chefe de brigada José Gonçalves e vários agentes. Perguntou-me o nome. Disse que nada tinha a responder. Imediatamente, começaram a dar-me socos e pontapés, insultando-me e ameaçando-me de morte. Eu nada disse. Retiraram-se e veio um outro inspector, com modos correctos, que, sem nada me perguntar, mandou fazer um curativo, pois sangrava do nariz e dum lábio e tinha um sobrolho deitado a baixo. Fizeram-me o curativo e levaram-me para um gabinete no último andar, na secção reservada para os interrogatórios e espancamentos. Comecei pois imediatamente uma sessão de privação de sono.

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RELATÓRIO AO CMLP

Francisco Martins Rodrigues

RELATÓRIO AO CMLP[i]

(s. d.)

Como não sei se foram recebidos os dois relatórios anteriores, repito a descrição do meu porte na PIDE, procurando ser o mais completo possível.

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Carta ao CMLP no exterior

Francisco Martins Rodrigues

Lisboa, 27/1/1966

Camaradas:

Recebemos a carta 1/66 e os fundos que indicam. Estamos a tratar de levantar a encomenda na morada indicada. Aproveitamos este portador para tratar detalhadamente algumas questões urgentes. Continuar a ler

Carta a João Pulido Valente

Francisco Martins Rodrigues

Carta manuscrita enviada de Paris – para onde fora destacado pelo PCP ainda enquanto militante, mas já expulso à data em que escreve – a João Pulido Valente

29 de Março de 1964

Meu caro João[i]:

A tua carta e as notícias que já tinha acerca da tua posição deram-me uma grande alegria. Num momento difícil como aquele que temos vindo a atravessar, é bom encontrar ao nosso lado os velhos companheiros de luta, não é assim?

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Carta a C.

Francisco Martins Rodrigues

Carta a C.

Março [de 1965]

Querida C.:[i]

Com a costumada irregularidade e atraso, venho escrever-te um pouco, porque os meses passam sem eu dar por isso e se não fosse a N.[ii] chamar-me a atenção e repreender-me constantemente, desconfio que o desleixo era ainda mais escandaloso. Eu sei que não é justo mas custa-me escrever e sobretudo estas cartas nossas em que temos de passar por cima de tudo o que é a nossa vida e os nossos problemas diários. Continuar a ler

Cartas na clandestinidade

Cartas na clandestinidade

 

Antes de dar por encerrado este blogue – onde inseri grande parte dos estudos, documentos, artigos assinados por Francisco Martins Rodrigues -, nos próximos dias passarei a reproduzir as suas cartas manuscritas, redigidas em condições de clandestinidade, que estão contidas no espólio posto à minha guarda,

A primeira, sem data, mas possivelmente de Março de 1965, é a única de carácter familiar. Todas as restantes tratam de assuntos de militância política. As primeiras foram escritas enquanto esteve clandestino, em França e em Portugal, quando rompeu com o PCP e iniciou as actividades da FAP-CMLP.

A seguir a estas, incluo uma mensagem clandestina redigida por João Pulido Valente e endereçada ao CMLP, em que se pronuncia sobre a expulsão de FMR em consequência do seu porte sob tortura.

As últimas mensagens foram escritas quando, já preso e cumprindo pena de cadeia, pôde fazer passá-las clandestinamente para o exterior e destinam-se à sua organização. Entre elas está o rascunho que preparou para a sua defesa em tribunal.

Carta a JR – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JR – 1

17/2/1994

Caro Amigo:

Soube pelo OR do teu interesse em fazeres uma assinatura da P.O., pelo que aqui te mando o último número publicado (ele já me deu um cheque por um ano). Gostaria muito de conhecer a tua opinião sobre as posições defendidas na revista, nomeadamente sobre a questão da União Soviética, assunto sobre o qual fiz uma série de artigos de que te mando fotocópia. Talvez numa das tuas vindas a Lisboa se proporcione um encontro, que dizes?

Escrevo-te também para te propor colaboração numa iniciativa que vai explicada na circular junta: a edição de um livro pelo 20° aniversário do 25 de Abril, composto por depoimentos que retratem um pouco esse período para quem não o conheceu ou já o esqueceu. Se estiveres de acordo e entretanto não vieres tão cedo a Lisboa, poderias gravar um depoimento e enviar-me a cassete, ou então escrever um texto, até duas páginas dactilografadas. Fico a aguardar a tua resposta, tão breve como te seja possível.

Tenho grande satisfação em estabelecermos contacto. Aceita um abraço