Carta ao CMLP no exterior

Francisco Martins Rodrigues

Lisboa, 27/1/1966

Camaradas:

Recebemos a carta 1/66 e os fundos que indicam. Estamos a tratar de levantar a encomenda na morada indicada. Aproveitamos este portador para tratar detalhadamente algumas questões urgentes. Continuar a ler

Cartas a MV – 33

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (39)

10/1/1993

Caro Camarada:

Passaste o Ano Novo numa boa? Espero que esteja tudo bem contigo, que tenhas recebido a minha carta de 10 de Dezembro e que estejas a redigir uma Carta de Paris para publicar na próxima P.O.. Aceita-se colaboração até 20 de Janeiro!

Por aqui, tudo sereno. O sol português, que não falha mesmo no Inverno, tem um efeito calmante sobre as lutas de classes. Estive ontem no Porto, convidado pelos estudantes para um debate na Faculdade de Direito da Universidade Católica (!), sobre «O futuro da esquerda». Participaram também o Barros Moura (Plataforma de Esquerda, ex- PCP), Alberto Martins (PS) e Alda de Sousa (PSR). Apesar do tipo de público, passei o tempo a falar de comunismo, derrubamento da ordem social estabelecida, crimes do capitalismo e sua condenação histórica, mentira das liberdades burguesas parlamentares e das soluções reformistas, etc. Só queria que visses os olhos esbugalhados dos moços, era a primeira vez na vida que ouviam tais coisas. É claro que daqui a uma semana já esqueceram tudo, mas ficaram a saber que os tais «dinossauros» comunistas existem mesmo. E os nossos amigos reformistas meteram os pés pelas mãos e ficaram – sobretudo o Alberto Martins – incomodados. Também te mando o artigo que saiu há um mês no «Público» sobre os rivais de Cunhal-

No campo internacional, depois do panorama desolador que te dei na última carta, vieram notícias melhores: no Irão, o Mansoor Hekmat fundou um novo Partido Comunista Operário cujas posições, expostas num boletim em inglês, «International», nos parecem sólidas. Transcrevemos um extracto na próxima P.O. O MLP dos EUA realizou o seu 4º Congresso, no qual se debateram as divergências e se admite a probabilidade de não poderem continuar como partido, mas se afirmam dispostos a preservar uma plataforma marxista-leninista e um núcleo coeso. Veremos.

Publicamos na próxima P.O. um resumo-comentário do livro de Tom Thomas sobre Ecologia, que nos pareceu arejado e bem esgalhado. Ele chegou a tomar conhecimento da crítica que fizemos ao outro livro dele? Deu alguma opinião? Podes mandar-me o endereço dele para eu lhe escrever directamente a ver se ele quer colaborar na P.O.? Do Serfaty, não veio até agora qualquer resposta à carta que lhe mandei. Ou está muito ocupado ou não se quer comprometer connosco. E o «Albatroz»? No teu último cartão dizes que está em preparação. Fico à espera.

É tudo por agora. Aceita um abraço.

Cartas a MV – 32

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (37)

15/9/1992

Caríssimo:

Não recebi resposta às questões que te pus na minha carta de 14 de Julho: colaboração tua para a P.O., renovação da assinatura do Monde Diplomatique, contacto com o Serfaty, notícias sobre o Albatroz. Estou preocupado com a tua falta de notícias mas espero que estejas apenas de férias, numa boa.

Escrevo-te esta para te dizer que renovei aqui a assinatura do Monde Diplomatique; não faças aí uma em duplicado. Estamos a fechar a P.O., se quiseres mandar alguma coisa ainda vem a tempo. Escreve ou tomamos pública a tua irradiação! Além disso, só te escrevo sobre a política cá da terra quando escreveres uma carta em condições.

Um abraço

Carta a MV (38)

9/12/1992

Caro Manuel:

Só agora, depois de enviada para a tipografia a P.O. nº 37, pude meter-me a pôr em dia a vastíssima correspondência que aflui de todos os cantos do mundo… Respondo à tua carta de 28 de Outubro.

A visita do torcionário Hassan II não está marcada, nem oficialmente confirmada. Já foi mais de uma vez anunciada na imprensa, desde Abril ou Maio, mas depois fica tudo em silêncio. Suponho que há dificuldades no estabelecimento da agenda, interesses económicos conflituais (pescas, conservas). Uma coisa parece certa: do lado de cá, o Mário Soares está interessado em promover a visita e tem lançado periodicamente referências simpáticas a Marrocos na imprensa, além de abafar as referências desagradáveis. Uma coisa positiva foi a aparição recente do Abraham Serfaty num programa organizado pela Amnistia Internacional, no novo canal da SIC (Balsemão/«Expresso»), denunciando a situação dos presos marroquinos. De acordo com a tua sugestão, vou escrever ao Serfaty propondo a redacção desse manifesto, para não sermos colhidos de surpresa se a visita for avante dum momento para o outro. Procurei mas não encontrei fotos de visitas dos grandes chefes lusitanos a Marrocos.

A P.O. passou para 32 páginas e está a ampliar a lista de colaboradores regulares, como verás pelo nº 37 que te chegará dentro de dias. Só a «Carta de Paris» não corresponde. Quando te irritas com algum acontecimento e tens um dos teus desabafos, fazes óptimas cartas; o pior é que te irritas poucas vezes… Será desta que vais mandar algo? Ganhámos um novo colaborador, João Paulo Monteiro, do Porto, que parece ter ideias e sabe expô-las. Diz-me o que te parecem os artigos dele.

 A distribuição da revista também deu um «grande salto em frente»: passámos para 120 pontos de venda na região de Lisboa e estamos a alargar também no Porto e a arranjar outras localidades, tudo na base militante. O nosso sonho continua a ser a passagem à publicação mensal, mas só se assegurarmos uma rede maior de colaboradores certos.

Quanto a outras áreas de actividade, continuamos bloqueados. O único campo em que temos feito alguma intervenção tem sido na questão do racismo e colonialismo, através do MAR, Movimento Anti-Racista. Deslocámos uma delegação a Cádiz em Setembro, onde participámos num encontro internacional contra as Comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos; contactos com esquerdas latino-americanas, índios, teologia da libertação, não nos faltam. Continuamos a ir para a rua Augusta fazer agitação anti-racista e anti- descobrimentos. De cada vez, é um êxito quanto à comoção pública que causa, mas, como digo numa crónica que escrevi na última P.O., as reacções de extrema-direita e mesmo abertamente nazis começam a tomar-se descaradas, perante a vacilação e o receio da maioria das pessoas presentes. O ambiente aqui não tem termo de comparação com o do resto da Europa, vai tudo sempre mais devagar, mas, como bons alunos, acabam por lá chegar…

Um teste esclarecedor foram os acontecimentos em Angola, que levantaram na imprensa daqui uma vaga pró-Savimbi que nem queiras saber. Mando-te fotocópia dum artigo que consegui fazer sair no «Público». Agora estou a ver se publicam um outro que para lá enviei, em resposta a um artigo porco do Pacheco Pereira, que me referia entre os rivais infelizes de Cunhal (o velho passou à semi-reforma no congresso do PC que acaba de ter lugar).

Quanto ao terreno propriamente comunista, estamos a bradar no deserto. Espero que não me venham buscar um dia destes para o manicómio. Os nossos contactos internacionais não avançam, recuam. Os norte-americanos andam metidos num debate interno que possivelmente vai dar a divisão em duas ou três partes. Dos iranianos, quase nada sabemos, a não ser que o Mansor Hekmat saiu do partido. E pela tua parte? O último livro do Tom Thomas é interessante, eu tinha preparado um comentário-resumo, mas saltou por falta de espaço, sairá na próxima P.O. Estou a receber o «Monde Diplo».

Pedimos tudo o que vejas por aí de papéis com algum interesse. É tudo, Manel. Abraços de todos nós. Se vieres a Portugal, procura-nos!  

Cartas a MV – 26

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (30)

5/11/1991

Caro M:

Muito grato pela assinatura do “Monde Diplo”, recebi pelo correio directamente de lá, deduzi que tenha sido iniciativa tua.

Estive a ler o trabalhe do Tom Thomas sobre a “Opacidade”, segundo entendi da tua carta é para publicar no próximo Albatroz, mas, francamente, pareceu-me pesado de mais para o estilo da revista. Não só por ser extenso, nem pelo tom, mas sobretudo por ser uma exposição em estilo académico, não aplicada a uma questão concreta. Quanto a mim, ficaria mais interessante se o autor, a propósito dum comentário de actualidade, fizesse as suas considerações.

Estou à espera que me digas se contas comigo para algum artigo, tema e tamanho e prazo! Mas também não desisto de te pedir (com urgência!) uma carta de Paris para a próxima P.O.: as greves, o racismo, a podridão dos socialistas, sei lá! Estamos a tentar diversificar e animar mais a revista e tu tens que ajudar. Certo? Por agora ê tudo. Um abraço  

Carta a MV (31)

30/12/1991

Caro M:

 Fim do ano, carta rápida. Vou aproveitar os materiais que mandas sobre presos marroquinos e superexploração, assim como o caso Joel Lamy, para a próxima PO.

Aproveitei os tuas notas sobre  ética também para  o próximo, apenas suavizando os referências ao Ronald, não vá ele cortar connosco já à partida. Segue fotocópia da revista deles, “Arma da Crítica”. Eles prometeram tentar distribuir a PO no Brasil e em troca pedem -nos divulgação deste lado dum jornal que fala sobre casos de repressão e se chamo “Resistência”. Poderás colocar aí algum? Julgo que só interessará a brasileiros. Também nos comprometemos a mandar alguma colaboração para a “Arma da Crítica”, vamos ficar submersos.

A Tabaqueira (que não se chama “Nacional”, atenção !) tem os seguintes endereços: (…)

Se é para pôr uma bomba, tens o meu apoio. Por causa do tabaco é que isto está como está.

Um abraço e bom ano!

Cartas a MV – 21

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (24)

20/2/1991

Velho M:

Estou aplicadamente a responder e a ausência não é de tantos meses como dizes; a minha última foi em Novembro, nada mau. Tenho recebido um rio de bilhetes, recortes, jornais, até um livro (“Mon ami le roi”). E também as tuas duas colaborações: a última, curta, saiu no PO 28 (por gralha não foi mencionada como “Carta de Paris”); a outra colaboração, com notas e discordâncias sobre a carta aos comunistas americanos já está composta e ere para sair no caderno cor-de-rosa deste nº 28 mas a acumulação de mate­riais sobre o Golfo obrigou a pô-la de parte. Sairá no próximo nº.

Creio que não tens razão nos teus receios a que deitemos demasiadas coisas pela borda fora. Julgo haver na tua visão sobre a URSS ainda uma carga antiga (quanto ao poderio, ao social-imperialismo, etc.) que me parece (que nos parece a nós aqui) desmentida pelos aconte­cimentos recentes. Eu acho a perspectiva que damos hoje nesta PO so­bre a degenerescência e apodrecimento do regime soviético muito mais marxista-leninista do que a que herdámos dos chineses, albaneses, etc. Sem dúvida, o assunto precisa de mais discussão e a tua carta aju­dará a essa reflexão. Esteve cá um dos dirigentes do MU americano e travámos debates, inconclusivos mas amigáveis. Eles prometeram publicar no seu jornal uma resposta à nossa resposta, dentro de alguns meses. Quando a tivermos mandar-te-ei; possivelmente publicaremos.

Golfo: temos estado desesperadamente a tentar agitar as águas pantanosas do consenso pró-americano nesta terra, como verás pela PO 28 e por uma folha da CCIG[i] que aqui te mando junto. Estamos de novo associados com os trotskistas da FER, porque foram os únicos a condenar sem reservas a agressão imperialista americana. Hoje esti­vemos mais uma vez com uma exposição de painéis na Rua augusta e dis­tribuindo comunicados. Suscita uma enorme atenção e discussões por vezes acaloradas, com opiniões fascistóides a vir ao de cima a cada passo. Depois de amanhã vamos fazer nova concentração frente à embai­xada americana, mas não espero mais de duas centenas. Mando-te também fotocópia de alguns artigos que tenho publicado na imprensa, é pos­sível que algum vá repetido; tenho um artigo no “Público” à espera que saia, sobre o “anti-americanismo primário” (a desculpa prefe­rida dos nossos intelectuais vendidos) mas está difícil de sair, desconfio que as minhas hipóteses no “Público” vão acabar.

Recebi o artigo que te mandei “Lisboa a sono solto” tra­duzido em francês, mas não percebi porquê, porque não me voltaste a dizer nada sobre o Albatroz” que iria sair e para o qual te man­dei esta colaboração. São dificuldades financeiras, suponho? Há perspectivas de sair a breve prazo? O V afinal sempre te dá alguma ajuda? Diz-me alguma coisa sobre isto.

Ficámos aqui muito satisfeitos por ter chegado a resposta de Serfaty[ii] e a confirmação de que recebeu a encomenda com a PO. Te­mos estado a enviar-lhe a PO regularmente, espero que a receba. Vou decifrar o texto elaborado pelos presos sobre os recentes acontecimentos em Marrocos, talvez se possa publicar algo no próximo nº. Foi pena não ter chegado quinze dias antes; fiz um pequeno artigo sobre o assunto com base nas notícias dos Jornais, que saiu na PO 28.

Quem apareceu aqui com alguns manifestos mais radicalizados sobre a cruzada do Golfo ainda foram os anarquistas, temos algumas pontas para alguns, procurando vias de colaboração nesta frente. E aí, depois das manifestações que informaste, amainou o ambiente?

Ainda não li a tua intervenção no congresso sindical, che­gou aqui ontem, depois te direi algo.

Quanto ao resto da nossa actividade, segue como normalmen­te, isto é, reduzida a um punhado de “fanáticos” e por isso cheia de deficiências, mas cá vamos. Eu canalizo as minhas fúrias para os jornais; enquanto mas publicarem… Ontem mandei um depoimento para o “Independente” (da direita) sobre o maoísmo.

Um abraço, até breve

 

[i] Comissão Contra a Intervenção no Golfo (CCIG), ver comunicado em https://ephemerajpp.com/2014/12/07/comissao-contra-a-intervencao-no-golfo-ccig/. (Nota de AB)

[ii] Tratava-se do marroquino Abraham Serfaty (1926 -2010), militante e activista político, que foi preso durante o reinado autoritário do rei Hassan II. Esteve quinze meses num cárcere subterrâneo, tendo cumprido dezassete anos de prisão.  Em parte graças a uma campanha internacional a seu favor, foi libertado e viveu oito anos de exílio em França, antes de regressar a Marrocos, onde faleceu. (Nota de AB)

 

Cartas a MV – 12

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (16)

4/7/1988

Só umas linhas para saber se vai tudo bem e para te dizer que penso estar em Pa­ris em meados de Agosto, de passagem. Pode­remos ver-nos e poderás arranjar alojamento por dois dias pare dois (eu e Ana)?

Recebi há pouco tempo um bilhete teu, depois de falares com o ZM, e em que dizes que pensas vir brevemente a Lisboa. Quando será isso? Vamos ver-nos?

Fico à espera de notícias tuas. Um abraço

 Carta a MV (17)

 4/9/1988

Só para te dizer que a minha deslocação aí teve que ser adiada, por motivos alheios à minha vontade. Não sei quando se concreti­zará. Estive com o ZM, conversámos e foi com vontade de fazer o possível ai fora. Tu discutirás com ele a forma de poderem colabo­rar nalguma coisa. Sobretudo a tradução dos artigos principais da P.O. para francês teria para nós muito interesse, porque vão surgindo pessoas interessadas em conhecê-los. Temos acompanhado a iniciativa do ’Albatroz’ em tor­no dos presos políticos portugueses e tenta­remos dar-lhe apoio através da S.C.R.

Neste momento estamos a preparar a PO 16, para sair em meados de Outubro, com um novo visual (maior formato, menos págs, mais bara­ta, com mais comentários curtos), segundo uma ofensiva que decidimos lançar para ganhar lei­tores operários. Tu dirás o que te parece. E o Albatroz? Quando vens a Lisboa? Um abraço.

Cartas a MV – 9

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (13)

6/3/1987

Respondemos à tua carta. Esperamos que a esta hora já te­nhas recebido a encomenda com a PO nº 8, a Tribuna Comunista nº 11, a Denúncia nº 3, assim como recortes de imprensa acerca do 1º aniversário da nossa revista.

A nossa última iniciativa foi a realização de dois debates sobre a questão Staline, em Lisboa e no Porto. O de Lisboa, so­bretudo, com 30 pessoas, foi bastante participado e deu lugar a um debate animado. Manifestaram-se com certa força tendências anarquizantes que partem da crítica a Staline para pôr em causa o partido, a revolução, etc. Este confronto de opiniões foi muito esclarecedor para a maioria das pessoas presentes, que aprende­ram mais assim do que se tivéssemos feito uma palestra “monolí­tica” à porta fechada. Pretendemos continuar com estes debates, que estabelecem uma ligação mais viva com os amigos da revista.

Neste momento, as nossas capacidades de elaboração de temas estão seriamente reduzidas por termos que nos concentrar no pro­blema financeiro. Como disse antes, o pagamento em poucos meses da máquina de composição obrigou-nos a contrair uma série de em­préstimos que ameaça afogar-nos. Felizmente estamos a conseguir bastante trabalho e vamos dar luta para pôr a empresa a flutuar. Mas esta concentração nas actividades técnicas e comerciais vai afectar provavelmente o nível da revista por algum tempo.

lamentavelmente, a tua carta com as notas sobre os estudan­tes, o artigo sobre o “Carrefour du Développement” e as revistas com bonecos, chegou tudo tarde demais, quando já tínhamos a re­vista na tipografia. Sei que a tua vida é atarefadíssima mas pe­ço que tenhas em conta as datas-limite para podermos meter a tua colaboração. Se nos puderes mandar alguma coisa para o próximo nº, deve cá estar no próximo dia 19 de Março. Vamos ainda meter o comentário sobre o escândalo do “Carrefour”; embora um pouco atrasado é interessante porque foi aqui pouco conhecido.

Recebi uma carta do JC, antigo companheiro de prisão, que tomou contacto com a PO por teu intermédio. Parece-me sinceramente desejoso de fazer qualquer coisa e já lhe escrevi. Seria bom que discutisses com ele e visses em que nos po­de ajudar. Que opinião tens sobre ele? Estará ele disposto a vir cá brevemente para conversarmos? Peço que me escrevas sobre este caso, que pode ser de muito interesse.

Também escreveu o PA, em resposta a uma carta que lhe enviei, com a oferta da PO nº 7. Mostra-se preocupado com o sentido das nossas críticas (Staline, Albânia) e continua a não assinar a revista. Seria bom se lhe escrevesses, para lhe agitar um pouco as ideias e tirar o medo à crítica.

Quanto ao “Albatroz”: temos sabido pelo R do andamento dos trabalhos. Vou entregar-lhe o pequeno texto que pediste so­bre o Zeca Afonso, não sei se servirá. Mas, pelo que entendi, o vosso “Albatroz” não dará trabalho de composição para a nossa empresa.

Tomámos nota dos contactos que fizeste com a OCML e o M. Soube há dias, por um comunicado da OCML que já rebentou lá a cisão e que mudam de endereço. Veremos como se desenvolve o caso mas receio que o grupo esteja em crise geral, talvez pela dificuldade em implantar-se, ao fim destes anos de existência. Um perigo que também nós corremos, diga-se. Por enquanto, ainda não conseguimos consolidar as pontas sindicais que nos apareceram. Estamos a iniciar um debate sobre a questão sindical, como pode­rás ver pela ”Tribuna Comunista” nº 11. Diz o que te parece sobre o assunto.

Do Irão, nunca mais recebemos notícias acerca do seu projecto de um encontro internacional. Continuo à espera de melhor oportunidade para me deslocar aí.

Por agora termino. Estamos assoberbados de trabalho. Até breve, um grande abraço para ti e para a R. Beijos para os pequenos.

 

 

Cartas a MV – 7

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (11)

28/10/1986

Temos recebido as vossas encomendas com a “Afrique-Asie” e o “Flash”. Esperamos que a esta hora já tenham recebido a PO nº 6, de que enviámos 10 exemplares. A segunda carta de Paris, sobre os aten­tados, teve que sair na secção de comentários porque o material já es­tava paginado. Fizemos alguns cortes na outra carta, que esperemos não aches mal. E saíram finalmente os emigrantes às postas (bastante elogia­dos por alguns leitores, criticados por outros). Esperamos mais cartas de Paris e mais bonecos.

Aguardamos opiniões críticas sobre a PO 6. Não estamos muito sa­tisfeitos com o conteúdo, porque continuamos a adiar uma série de pro­blemas de fundo, por falta de tempo para estudar, discutir, elaborar.

De toda a maneira, não parece mau. Chamamos a vossa atenção para o ar­tigo de MR, bastante polémico. A capa também se tornou polémica, devido à ideia original do rectângulo branco. 0 autor (MR) assegu­ra que se vê logo que aquilo representa Portugal mas muitos pensaram que era defeito de impressão… Mandem impressões críticas e sugestões. Tencionamos dar mais qualidade à secção de comentários (nacionais e internacionais), mas as dificuldades são grandes. Venha colaboração!

Estou a trabalhar num artigo sobre os processos de Moscovo e as repressões de Staline, para o nº 7. Calculam como são grandes as mi­nhas dores de cabeça. Se conseguir aprontá-lo a tempo, enviarei cópia para aí, para darem a vossa opinião antes de ser publicado.

A “Tribuna Operária” sai dentro de dias, enviaremos alguns exem­plares. Continua em preparação activa o Encontro sindical, marcado pa­ra 22 de Novembro. Elaborámos teses que serão publicadas dentro de duas semanas.

Já mudámos para a nova sede (um assombro!) e vamos fazer no dia 8 de Novembro um lanche-convívio com camaradas e amigos. A nova máquina é excelente e cá vamos pagando as prestações ao banco, com grandes apertos mas sem nos deixarmos ir ao fundo (por enquanto). No fim do ano será nossa, embora ainda fiquemos a pagar diversos empréstimos. Consegues arran­jar-nos trabalhos?

Quanto à vida organizativa, continua assim, assim… 0 ZB já regressou e vai dar um empurrão ao trabalho sindical, que é bastante prometedor.

Isto quanto às nossas actividades. Quanto aos contactos que propu­semos que fizesses aí, temos estranhado não haver nenhuma referência tua nos bilhetes que tens mandado. Admitindo a hipótese de um extravio, mandamos junto fotocópia da nossa carta de 28 de Agosto.

O teu contacto com o amigo dos iranianos () parece-nos agora mais urgente porque vimos no último nº da “Bolshevik Message” (Setembro) que o PCI prepara um encontro de debate preparatório internacional entre grupos da ala esquerda ML. Ad­mitindo a hipótese de sermos convidados para esse encontro (citam a OCPO entre as organizações com quem estão em contacto), interessa-nos ter mais ideias acerca das posições políticas deles. Por isso uma en­trevista tua aí poderá ajudar a orientar-nos. Naturalmente, não deverias referir que estamos à espera de ser convidados para o encontro.

Na carta de 28 de Agosto que segue junto verás como pensamos que deverias orientar os contactos, tanto com esse amigo como com a “Voie Frolétarienne”. Diz-nos logo que possível alguma coisa a este respeito.

Da parte do MLP/USA temos continuado a receber os jornais: publicaram com destaque a mensagem que lhes foi enviada em nome da nossa 2ª Assembleia e iniciaram uma crítica bem argumentada e dura à política do PC Espanha (Raul Marco).

E é tudo. Ficamos a aguardar notícias e artigos e bonecos. Abraços para a R e S. Um grande abraço para ti.

 Mais livros que poderão ter interesse (tu é que podes dizer, são só su­gestões):

Les tribulations d’un idéologue, Victor Leduc, Ed. Syros, Paris, 1986

Les contraintes d’une rivalité: les superpuissances et 1’Afrique (1960-1985)

Zaki Laldi, Ed. La Découverte, Paris, 1986

Revista “Travailleurs” de Julho (Resoluções do 6º Congresso do PAC (gratuito)

Bajanov, Boris – Avec Staline dans le Kremlin

Bessedovski Grégoire – Staline, l’homme d’acier

Cederholm Boris – Au pays  du NEP et de la Cheka

Collinet Michel – Du Bolchévisme

VIII congrès du Parti Communiste Chinois

idem: vol. II

Djilas Milovan – La nouvelle classe dirigeante

Gorkin Julian – Destin du XX siècle

Histoire du PC Français (Manuel)

Histoire de la révolution russe

Hou Kiao-Mou – Trente ans du PC Chinois

Laporte Maurice – Les mystères du Kremlin

Laurat Lucien – Du Komintern au Kominform

Lewis O. – Trois femmes chez la révolution cubaine

Monzie A. de – Petit Manuel de la Russie nouvelle

Gautherot Gustave – Le bolchevisme en Afrique

Rosenthal Gerard – Avocat de Trotski

Rossi A – Deux ans d’alliance germano-soviétique

Schreiber Emile – Comment on vit en URSS

Smith Andrew – J’ai été  ouvrier en URSS

Valter Gerard – Histoire du PC français

Medveded Roy – Le stalinisme. Origines, histoire, conséquences, Ed. Seuil, 1971 Voslensky H. – La Nomenklatura, Les privilegiés en URSS

Castoriadis – La societé bureaucratique. I – Les rapports de production en Russie. Coll. 10/18, 1973

Cartas a MV – 6

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (9)

26/6/1986

Camaradas:

Temos recebido livros, revistas e bonecos do M, mas só uns pequenos bilhetes a acompanhá-los e não a carta detalhada que postaríamos de ter da vossa parte, para nos apercebermos melhor dos vossos problemas e perspectivas de actividade. Soubemos pelo R que pensam vir aqui em fins de Julho e esperamos nessa al­tura ter um dia para uma discussão a sério de todos os nossos problemas. Seria bom que nos avisassem com antecedência do dia que terão disponível para estar em Lisboa connosco.

A seguir damos as notícias mais importantes sobre o que es­tamos a fazer.

PO nº 5 – Enviamos pelo R apenas 3 exemplares porque sa­bemos que têm bastante dificuldade em colocá-la aí. Se estiverem de acordo, será esta quantidade que pastaremos a enviar. Este número saiu com algumas semanas de atraso por dificuldades de to­da a ordem, mas parece-nos que mantém o nível dos anteriores; ainda não é desta que entramos nos grandes problemas de fundo, mas a pressão dos acontecimentos e o quadro reduzido dos nossos redactores não nos deixou fazer melhor. Como verão, temos um novo colaborador, MC, de quem vocês se devem lembrar. Está disposto a fazer uma série de artigos e a sua perspectiva parece-nos correcta. E colaborações do M? Não compreendemos por que não mandas nada, nem que seja a Carta de Paris. Só se é por não gostar de nós.

Decidimos adiar o nº que calhava no período de férias porque a venda seria muito difícil. O nº 6 sairá em fins de Setembro-princípios de Outubro e tentaremos aproveitar este intervalo maior para trabalhar alguns artigos mais de fundo e, se possí­vel, fazer um nº melhorado para comemorar este primeiro aniver­sário. Discutiremos convosco o sumário e a v/colaboração.

Pensamos também fazer na altura uma campanha de publicidade para tornar a revista mais conhecida. As vendas têm tido uma certa quebra, que aliás esperávamos: houve um movimento inicial de curiosidade que levou a esgotar o nº 1. Mas à medida que um certo número de pessoas de tendência social-democrata se aperceberam da orientação da revista, deixaram de a comprar. Estamos a colocá-la numas 25 livrarias de Lisboa, mais umas 20 na provín­cia, mas a venda principal é a venda militante. Temos umas 100 a 150 de sobras, que se vão vendendo depois lentamente. Aproveita­mos manifestações, Feira do livro, etc., para mostrar a revista a público. O desafio que temos pela frente é descobrir os leito­res de esquerda que ainda ignoram a nossa existência e isso de­pende sobretudo da acção militante.

Assembleia – depois de vários adiamentos, realiza-se em definitivo nos próximos dias 5 e 6 de Julho. Já conhecem o relatório de actividade da direcção que vai ser discutido. Seguem junto as Tribunas nº 6 e 7 e, se possível, ainda vos enviaremos antes da­quela data outras duas que devem sair com materiais para discus­são. A Assembleia está a ser preparada por uma comissão organi­zadora com dois elementos da direcção e três dos núcleos para assegurar completa democracia. Temos feito diversas reuniões preparatórias envolvendo a maioria dos camaradas. Principais problemas em debate, para além dos que estão no relatório;

  • definição da situação de diversos camaradas que têm fun­cionado na prática mais como simpatizantes do que como membros da OCPO. Lutamos pela aplicação do artº 1º dos estatutos, tentando ganhar todos os camaradas como mem­bros activos, mas não conseguiremos evitar que alguns pas­sem a simpatizantes, porque é esse o seu desejo. Ê o caso do R. Como não há perspectivas imediatas de recruta­mento e entretanto já perdemos alguns outros camaradas, esta situação preocupa-nos. O principal é mentalizar o conjunto dos camaradas para a ideia de que não há nada de dramático na situação de sermos um pequeno grupo, combater o pânico. Há épocas para estar num partido e há épocas pa­ra estar num grupo.
  • a atitude perante as eleições (as que houve e as que pode­rá voltar a haver dentro de meses) tem gerado bastante po­lémica. Embora todos concordem em que essa não é neste mo­mento uma questão prioritária para nós, dada a nossa es­cassíssima influência, o certo é que em torno da abstenção ou não abstenção se geram divergências. A direcção não foi capaz de apresentar um balanço de sua autoria e iremos con­frontar opiniões pessoais; em todo o caso, não pensamos que as divergências sobre esse assunto se tornem graves,pelo menos nos tempos mais próximos.

Quanto à futura direcção, procede-se a consultas e a co­missão organizadora apresentará uma lista de candidatos à Assembleia. O G saiu da direcção há já meses por razões que todos consideraram injustificadas; na realidade, segundo pensamos, porque nunca se sentiu bem com essa res­ponsabilidade; o ZB teve que emigrar para a Suíça à procura de trabalho por se encontrar em situação aflitiva; está agora connosco (partiu um pé e veio-se tratar cá) mas voltará para lá mais 3 meses, a cumprir um contrato. Está moralizado e garante-nos que estará aqui de vez em Outubro. Os restantes continuam a funcionar, mas muito as­soberbados com trabalho, sobretudo desde que nos começámos a meter mais na intervenção política.

A vossa participação na Assembleia poderá fazer-se, de acor­do com os estatutos, através do voto por correspondência, com quaisquer declarações que entendam úteis e que serão levadas ao conhecimento da Assembleia. Achamos de bastante interesse que o façam, tanto sobre o relatório da direcção como sobre outros as­suntos. Se ainda nos for possível, enviar-vos-emos os projectos de moções que vão ser postos à votação, para que se pronunciem por carta. Achamos que o vosso afastamento não deverá impedir a vossa participação no essencial dos trabalhos.

Internacional – como tínhamos informado, estiveram entre nós dois dirigentes do MLP dos EUA, com quem tivemos uma semana de discussões bastante frutuosas; quando nos encontrarmos em Julho poderemos informar detalhadamente do que se tratou. Para já, re­sumidamente, podemos dizer que há um acordo no essencial; o en­tendimento do marxismo-leninismo como a demarcação nítida dos interesses do proletariado e portanto, a crítica às correntes burguesas democráticas, nacionais, etc., a crítica à linha do 7º congresso da IC, a crítica ao rumo da União Soviética desde os anos 30, a crítica ao PTA, a crítica às revoluções tipo sandinistas, etc. Alguns pontos em que fazemos apreciações diferentes: a corrente ML é ML com erros (tese deles) ou é apenas centrista? centralismo de­mocrático significa monolitismo (tese deles) ou esse conceito deve ser rejeitado? Os últimos 50 anos tiveram grandes vitórias (tese deles) ou devem considerar-se 50 anos de derrotas? não in­teressa destrinçar qual dos dois blocos é mais perigoso (tese deles) ou deve-se dizer que o imperialismo EUA é o principal inimigo?

Vamos continuar a debater mas ficámos com uma impressão geral bastante boa. Eles publicaram recentemente um longo artigo no jornal deles a nosso respeito. Infelizmente não temos cópia feita para vos enviar, mostrar-vos-emos quando cá vierem.

Quanto ao PC do Irão, como já dissemos antes, entrou em con­tacto connosco e mandou-nos muito material que estamos a estudar. Parece-nos ter algumas fraquezas teóricas, como poderão ver pelos extractos do programa que publicamos na PO 5 mas é um partido com real base de massas e que se bate de arrumas na mão contra o Khomeiny. Do PC da Nicarágua (ex-MAPML) é que ainda não obtivemos nada mas, pelo que temos lido, parece-nos ser um partido sério, que conjuga uma posição anti-imperialista inequívoca com uma crí­tica aberta aos sandinistas e às suas incoerências.

Tribuna Operária – seguem junto 3 exemplares do nº 0, que temos estado a fazer circular entre sectores operários que toca­mos, para ver se ganhamos base de apoio para a sua edição defi­nitiva. Só por nós não podemos fazer um jornal destes: precisamos de recolher notícias e informações de muitas empresas e ter uma rede de difusores. Vamos usar estes meses do Verão para tentar criar uma equipa de redacção e difusão, com vistas a iniciar pu­blicação regular em Outubro. Está em preparação um encontro sin­dical com activistas de vários pontos do país (alguns deles ex-UDPs) para Setembro. A dificuldade aqui resulta do facto de a ini­ciativa ser disputada por outros agrupamentos e nós não queremos fazer um consórcio de grupos, que acaba sempre em guerras.

O almoço comemorativo do centenário do 1º de Maio, de que já tínhamos falado, fez-se com 130 pessoas, na maioria operários, e intervenções dos representantes dos vários grupos promotores. Teve um efeito positivo na ideia de que se pode começar a reagru­par a esquerda.

Técnico/finanças – acabamos de dar um novo “grande salto em frente” com a troca da máquina da composição por outra mais evo­luída que nos permitirá agarrar encomendas de livros e trabalhos de mais vulto. Evidentemente, empenhámo-nos até a raiz dos cabe­los (mais uma vez) mas pensamos não estar a ser aventureiros. SÓ o futuro o dirá, e o nosso esforço, evidentemente; discutiremos também este assunto convosco quando cá estiverem. Recebemos os dois vales que mandaram (…) que saldaram as vossas dívidas em publicações. Vocês dir-nos-ão em Julho se têm possibilidade de manter uma quotização regular.

Bonecos Zav – receamos que Zav esteja desgostoso com o pouco apro­veitamento que temos dado aos bonecos. Isto não resulta de de­sinteresse da nossa parte. Pelo contrário, temo-los apreciado atentamente porque sentimos muito a necessidade de comentários gráficos; os reparos que têm sido feitos aos bonecos são os se­guintes; o humor amargo e por vezes brutal (o que  é um de­feito) torna-se em muitos casos difícil de apreender pelo lei­tor comum; as críticas a acontecimentos nacionais surgem com muito atraso, perdendo actualidade; há um certo número de piadas relativas à emigração que só se justificariam como ilustração a um artigo sobre o assunto (ex: a excelente venda de emigrantes às postas) mas a dificuldade é que não temos cartas de Paris.

Propomos pois que o Zav se procure inspirar em temas (nacio­nais ou internacionais) tratados na revista, que não sejam de mera conjuntura eleitoral, para não sofrerem com a perda de ac­tualidade. Sugestões: o povo espera pacientemente na bicha da sopa dos pobres que Cavaco, Soares, Eanes, etc. decidam nos seus congressos se vão aliar-se ou guerrear; parabéns ao gene­ral Pedro Cardoso, super-comandante da nova PIDE; 183 novos de­sempregados em cada dia – avançamos aceleradamente para níveis europeus; Cunhal nega terminantemente que existam divergências no PCP, enquanto atrás da cortina se esmurram eurocomunistas e “ortodoxos”; etc, etc. Também as questões internacionais poderiam ser tema para bonecos: como o massacre dos presos políticos no Peru pelo social-democrata Alan Garcia, na presença da social-democracia internacional; os massacres de negros na Africa do Sul, etc, etc.

Por agora é tudo. Acabamos esta carta para a entregar ao R, que vai partir. Até breve, abraços para vocês de todos nós.

Carta a MV (10)

28/8/1986

Caros camaradas:

Recebemos ultimamente, além do “Monde” e da “Afrique-Asie”, cinco números da revista ’’Cause du Communisme” e as outras publicações.

A questão principal que gostaríamos de ver em andamento são os contactos directos com o OCML-VP e com os representantes do PCI, conforme debatemos no nosso encontro.

Em relação aos primeiros, estamos a estudar a revista e podere­mos depois pôr algumas questões por escrito. Para já, gostaríamos de conhecer a razão por que não se referem ao movimento ML e ao PTA e se têm alguma posição definida a esse respeito. Não sabemos se esse silêncio, da parte de um grupo já estabilizado e com vários anos de existência, significa desinteresse ou vacilações no corte. Mandamos junto um resumo da nossa opinião sobre o movimento ML, que poderias pôr em francês e que serviria também para o teu contacto com os apoiantes do PCI. Seria bom se conseguisses, a partir desse resumo, ter uma discussão com alguém responsável da OCML.

Vemos também que a OCML faz ura apreciação muito positiva da revolução cultural chinesa. Gostaríamos de ler algum trabalho que tenham sobre o assunto. Outra sugestão: estariam eles interessados em publicar no “Partisan” ou na “Cause du Communisme” algum artigo da PO que tu ou a R lhes traduzissem? Nós encaramos a hipó­tese de publicar alguma coisa deles.

O objectivo essencial seria, através de um debate com alguém responsável da OCML e falando tu como representante da OCPO, ficar­mos com uma ideia mais precisa do que são e abrirmos caminho a um encontro formal de delegações, que se poderia fazer aqui ou em Pa­ris. Seria bom também que averiguasses se têm conhecimento e o que pensam dos posições do MLP, EUA.

Quanto ao grupo de apoio ao PCI, deverias dizer-lhes que rece­bemos a carta deles, que estamos a receber os materiais do comité exterior em Estocolmo (“Bolshevik Messsge” e “Report”), dar-lhes o mesmo resumo das nossas opiniões sobre a corrente MI. (fizeram-nos perguntas a esse respeito) e procurar travar debate com eles.

A preparação da PO 6 está atrasada. Cá estamos à espera da certa de Paris (urgente!) e de bonecos do Zav. Enviaremos 10 ex. como pediste. Da lista de livros que te entregámos, destacamos o Castoriadis, que valeria a pena comprar (usado?).

E é tudo. Abraços para os três. Vemo-nos em Dezembro?

 Sobre a corrente ML

Desde a nossa constituição como grupo independente, há cerca de 18 meses, informámos os partidos ML das razões da nossa ruptura com o PC(R) e propusemos a troca de publicações e o debate. Apenas com uma excepção, não nos responderam.

Verificamos que o conjunto dos partidos ML não admitem qualquer investigação crítica ao processo de degeneração da União Soviética, a Staline, ao 7º– congresso da IC, à teoria das “democracias populares”, à política do PTA, etc. Temos conhecimento de que numa reunião de 10 partidos ML realizada em Outubro de 1935 em Quito (Equador), o MLP/EUA e a OCPO foram denunciados como forças “provocatórias” por terem abordado publicamente estas questões.

Nestas condições, parece-nos irrealista esperar que os partidos da chamada corrente  ML possam evoluir para posições revolucionárias consequentes. Em nossa opinião, trata-se de uma corrente centrista decadente que de marxista-leninista só tem o nome e que se mantém à sombra do PTA, como sua força dc apoio externo.

A chamada corrente ML constitui-se herdeira de todos os des­vios do movimento comunista internacional que nos anos 30-50 es­tiveram na origem do revisionismo moderno. Defende em palavras a política leninista de hegemonia do proletariado mas aplica na prá­tica a política stalinista-dimitrovista de “frente popular” e de “democracia popular”, visando a formação dum bloco operário-pequeno-burguês. Denuncia o maoísmo mas adopta a política  maoísta de apoio às burguesias nacionais dependentes. Proclama o marxismo-leninismo como “doutrina sempre jovem e científica” mas mantém uma atitude dogmático-praticista face à evolução da luta de classes. Declara-se fiel ao centralismo democrático mas suprime a democra­cia interna no Partido para defender o seu oportunismo.

Apesar do esforço para ocultar as divergências crescentes, a corrente ML está a ficar dividida em duas alas: uma, mais acentuadamente oportunista, constituída pelos “incondicionais” do PTA: PC do Brasil, PC(R) de Portugal, PC da Dinamarca, etc. Destaca-se nesta corrente o PC do Brasil, pela força com que exporta as suas próprias posições extremamente oportunistas de aliança com a bur­guesia liberal. 0 PC do Brasil teve um papel preponderante na de­generação oportunista do PC(R) e na nossa expulsão desse partido. Possuímos documentação, de que podemos ceder fotocópias, sobre a política do PC do Brasil.

A outra, ala, que agrupa actualmente a maioria dos partidos (PCs de Espanha, França, Suécia, Equador, México, Japão, Colômbia, etc.) faz algumas demarcações indirectas e cautelosas em relação ao nacionalismo da política albanesa, mas nenhuma crítica de princípios ao oportunismo, como se constata pela revista internacional que editam, “Teoria e Prática”. Nesta ala, o PC de Espanha (m-l) tem sido o mais agressivo no esforço para isolar as posições de esquerda.

O PC da Nicarágua (ex-MAP-ML), que tem aparecido associado a esta corrente, mantém ao mesmo tempo relações com o MLP/EUA e, no terreno de política interna, faz uma crítica à pequena burguesia sandinista que nos parece correcta. O PC do Japão (Esquerda), tam­bém associado a esta corrente, parece ter desistido por completo das análises críticas que há anos iniciara ao passado do movimento comunista internacional.

Concluímos que a actual corrente ML não pode dar origem a uma nova corrente comunista. Só a afirmação e a ampla divulgação de posições narxistas-leninistas consequentes pode tornar-se um pólo de atracção das forças revolucionárias, cortar caminho à prolife­ração do oportunismo e precipitar a crise do centrismo pseudo-ML.

Por isso atribuímos a maior importância ao debate e à troca de documentos entre os partidos e grupos que iniciaram a crítica às origens do revisionismo moderno. No que se refere aos artigos até agora publicados na nossa revista “Política Operária”, não nos é possível de momento traduzi-los mas procuraremos, na medida do possível, fornecer-vos resumos do que nos parece mais importante.

Propomos pois à vossa organização a troca de documentos e o início dum debate sobre as grandes questões do Movimento ML, como a tarefa mais urgente para a elaboração de uma plataforma comunista internacional, sem a qual é impossível a reorganização do movimento comunista.

 

 

Cartas a MV – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (4)

20/6/1985

Camaradas M e R:

Como vão? Cá estamos mais uma vez a pedir resposta às nossas cartas, mesmo que seja resumida, para termos a certeza de que não estão zangados connosco. Sabemos que o M fez um telefonema para o R, mas há várias coisas a concretizar. Por isso vos pe­dimos que nos escrevam antes de partirem para férias. (Por acaso não lhes calhava fazer férias em Portugal? 0 clima é excelente, co­mo sabem, e era uma bela oportunidade para debatermos de viva voz os nossos problemas). Vamos aos factos.

Aparelho técnico – Estamos neste momento a legalizar uma sociedade e a montar um atelier de artes gráficas. Comprámos uma máquina de fotocomposição em segunda mão, a prestações, e vamos dedicar-nos a trabalhos de composição e montagem (asseguramos também a impressão, por acordo com uma tipografia). Esta vai ser a base económica e técnica para a sobrevivência da revista, mas exige que se obtenham clientes para rentabilizar a máquina, sustentar os funcionários, pagar a renda da casa, etc. Já temos alguns clientes e vamos empe­nhar-nos em singrar. Uma pergunta: não seria possivel canalizar para nós trabalhos de fotocomposição aí de Paris? A ideia pode parecer disparatada à primeira vista, mas justifica-se pela barateza da mão-de-obra portuga, o que nos permitiria competir com os preços aí praticados. A Grua[i] fazia uma pequena revista (de karate) que era redigida em Paris, impressa em Portugal e vendida em Paris. Nós po­deríamos. fazer o mesmo quanto a parte da composição e montagem. Po­derão vocês enviar-nos algum trabalho que aí obtenham? Garantimos preços vantajosos, cumprimento dos prazos, boa qualidade. Em breve vos enviaremos o cartão de apresentação da nossa sociedade. Vejam o que se pode fazer, tendo em conta que é neste momento uma das formas principais de criar base financeira para a edição da revista.

Atenção – O nosso atelier de artes gráficas está a funcionar na rua (…)Pedimos que nos digam como se encontra o plano para a compra e envio da PB Dick. Vai ser ume pedra essencial para a feitura da re­vista. Inicialmente imprimiremos fora, mas precisamos de dar andamento a essa questão, para nos tornarmos independentes e pouparmos dinheiro.

O título da revista está legalmente registado, temos apartados de correio em Lisboa e Porto, estamos a tratar do porte-pago e de outras questões burocráticas.

Revista – Como já tínhamos informado, estamos a trabalhar para a saída do nº 1 em fins de Setembro-princípios de Outubro. O projec­to para um nº experimental, como ensaio e só para consumo interno, não passou além de alguns pequenos artigos; temos andado todos ab­sorvidos nas actividades práticas e as capacidades de redacção es­tão pouco treinadas. Este é um dos aspectos mais sérios das dificuldades que vamos enfrentar.

Para o nº 1, estão em preparação alguns artigos de fundo, já em fase de redacção e discussão:

  • Portugal: revolução democrática e nacional ou revolução socialista?
  • Disciplina e liberdade de discussão no Partido Bolchevique – um exemplo.
  • Lições do Verão quente de 1975 no seu 10º aniversário.
  • O Partido Bolchevique e o movimento operário às vésperas da revolução de Outubro.
  • Cometna: um exemplo das novas realidades na luta de classes nas empresas.
  • A viragem à direita do PCE e o começo da guerra de Espanha.
  • Situação política – tendências de classe por detrás dos ali­nhamentos dos partidos.

Para além destes artigos (como vêem, ambição não nos falta), completaremos o nº inaugural com um Editorial, diversos comentários curtos, crítica de livros e revistas, etc. Pergunta: podemos contar com uma carta de Paris, feita por vós, sobre tema à vossa escolha? Para ser actual, deveria ser redigida em Setembro e enviada para cá até 15 de Setembro o mais tardar. Decerto compreendem a importância que terá para este começo da revista o aparecimento da vossa cola­boração. De acordo? Fizemos um pedido semelhante ao PA mas até agora não tivemos resposta. Se puderem, dêem-lhe um aperto.

Com vista ao nº 2, já temos um artigo feito sobre as medidas re­volucionárias da libertação da mulher na revolução russa e o recuo posterior. Como sairá em Dezembro, 10º aniversário da fundação do PC(R), terá um artigo desenvolvido de balanço à experiência do PC(R) e da corrente ML em Portugal. Para o preparação desse trabalho, fi­zemos no dia 16 um encontro, aberto a diversos amigos, em que se discutiu o tema na base de teses redigidas previamente por um bom número de camaradas. O debate prossegue no dia 30 do corrente.

Como apoio para c estudo, tendo em vista futuros artigos, pre­cisaríamos que nos mandassem mais fotocópias dos livros que nos in­dicaram poder obter. A ignorância é grande por estas bandas. Também estamos à espera que nos digam se podemos contar com uma assinatu­ra feita por vós de uma revista de informação internacional, que poderia ser, supomos, a “Afrique-Asie”.

Outra forma de apoiar o lançamento da revista será a subscrição dos boletins de assinatura antecipada, a preço muito baixo, de pro­moção. Enviamos junto alguns, pedindo a vossa atenção.

Anti-Dimitrovleram? Qual a vossa opinião global? A reacção aqui, naturalmente, foi para considerar o trabalho esclarecedor na nossa área e para o considerar como uma manifestação de esquerdismo incurável, na área dos arrependidos da esquerda, que são a lar­ga maioria. Em todo o caso, foi bastante falado na imprensa e a ti­ragem está quase toda vendida. A casa distribuidora (“Ulmeiro”) só tem umas dezenas e nós outros tantos como reserva. Ao todo, .já co­brámos 250 contos, que foram uma ajuda importante para nos abalan­çarmos à compra da máquina de fotocomposição, somados às quotiza­ções, donativos e empréstimos.

Esperamos que tenham recebido os 20 exemplares que vos enviámos em dois pacotes de 10 e que já tenham feito alguma massa com eles. Se tiverem possibilidades de colocar mais alguns aí nos meios da emigração, podemos arranjar-vos mais uns tantos. Se tiverem recei­tas da venda do livro, pedimos que mandem para cá tudo o que pude­rem, pois neste momento é vital para nós concentrar todo o dinheiro possível para fazer face às despesas de lançamento da empresa grá­fica. Ainda temos cerca de cem contos a receber de livros.

Quanto à hipótese de reedição do livro, pusemo-la de parte, pois implicava una grande despesa. Agora o meu plano, já aprovado em debate, é começar a trabalhar numa espécie de balanço histórico sobre a evolução do PCP: fazer a tal crítica as origens do revi­sionismo que o PC(R) nunca se atreveu a fazer. Seria ideologica­mente útil para o reforço da nossa corrente e comercialmente pode­rá ser uma boa ajuda para financiar a revista. O projecto é ter esse livro na rua no Outono do ano que vem, mas terei que me dedi­car muito mais ao estudo e combater a dispersão das tarefas urgen­tes que agora puxam de todos os lados.

PC(R) – dois últimos acontecimentos espectaculacres desta banda são a estrondosa adesão de Frederico Carvalho (o pequeno Fred) ao PCP e a demissão colectiva de 37 membros da UDP do Porto, quase todos operários. O ex-membro do CC do PC(R) José Magalhães, aderiu à OC-PO e consti­tuiu-se como núcleo de apoio à revista. Seguem junto recortes de imprensa sobre um e outro caso, assim como uma carta que dirigimos aos membros do PC(R) sobre o caso Fred, lembrando-lhes que ele foi o nosso principal inimigo no 4º Congresso. Afinal quem tinha razão? Prevemos um agravamento da crise interna do PC(P.) devido ao desen­rolar dos acontecimentos, assim como a complicada situação eleito­ral em que se está a meter. Vamos fazer trabalho de esclarecimento junto de todos os membros que pudermos contactar. Da Grua já saíram ou estão despedidos, prestes a sair, todos os que formavam a velha equipa, à excepção da mulher do EP.

Organização – fizemos a 12 de Maio um encontro para debater inter­venção operária e sindical, frente de trabalho que estamos a tentar impulsionar em paralelo à edição da revista, porque oferece perspectivas e é uma peça essencial para a reconstrução; a 2 de Junho fizemos a nossa 2ª Assembleia, para tomar decisões sobre a cohstituição da empresa, dadas as grandes responsabilidades finan­ceiras que envolve, e para debater o andamento geral do nosso tra­balho; verifica-se que a vida dos núcleos e a participação de bas­tantes camaradas é irregular, recaindo o grosso dos esforços sobre um pequeno número; não se pode dizer que a nossa situação quanto a mobilização e militância seja satisfatória. Está espalhada urna certa falta de confiança quanto à realização do nosso objectivo, dado o ambiente desfavorável na classe operária. Vamos ter que avançar a pulso, porque o tempo não é de facilidades.

Segue junto o boletim interno nº 1, agora baptizado ” Tribuna Comunista”. Continuamos a lutar por lhe elevar o nível como ponto de encontro de experiências e pontos de vista. Continua em aberto o pedido de críticas e colaborações vossas.

Movimento ML internacional – Embora não tendo ainda recebido nenhuma resposta è mensagem de Março aprovada pela 1ª Assembleia (deve haver uma atitude geral de retraimento, a ver em que param as mo­das), vamos enviar por estes dias uma segunda carta, informando sobre o caso do Fred. Segue junto cópia desta carta (que distribuímos em inglês para todos os partidos). Se puderem pô-la em francês e fazê-la chegar à “Avant-garde communiste”, ao PCOF, Kessel, etc., será uma boa ajuda.

Recebemos regularmente as publicações eu inglês do PC do Japão (Esquerda).

 

 

 

[i] Empresa gráfica que pertencia ao PC(R), onde FMR trabalhou. (Nota de AB).