Carta de João Pulido Valente ao CMLP

João Pulido Valente

Carta ao CMLP

 

3/8/1966

Caros Amigos

Só agora tive oportunidade de contactar com vocês. Há aproximadamente um mês que fui transferido para Caxias. Durante esse tempo inteirei-me do comportamento perante a polícia de todos os camaradas presos, tendo actualmente um conhecimento profundo do comportamento dos camaradas mais responsáveis. Continuar a ler

A privação do sono

Francisco Martins Rodrigues

A privação do sono

(s. d.) [1966]

Entrei na sede da PIDE pelas 21:30 horas do dia 30 de Janeiro. Mandaram-me despir. Obedeci. Depois de me revistarem, devolveram-me as roupas. Entrou então o chefe de brigada José Gonçalves e vários agentes. Perguntou-me o nome. Disse que nada tinha a responder. Imediatamente, começaram a dar-me socos e pontapés, insultando-me e ameaçando-me de morte. Eu nada disse. Retiraram-se e veio um outro inspector, com modos correctos, que, sem nada me perguntar, mandou fazer um curativo, pois sangrava do nariz e dum lábio e tinha um sobrolho deitado a baixo. Fizeram-me o curativo e levaram-me para um gabinete no último andar, na secção reservada para os interrogatórios e espancamentos. Comecei pois imediatamente uma sessão de privação de sono.

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RELATÓRIO AO CMLP

Francisco Martins Rodrigues

RELATÓRIO AO CMLP[i]

(s. d.)

Como não sei se foram recebidos os dois relatórios anteriores, repito a descrição do meu porte na PIDE, procurando ser o mais completo possível.

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Carta ao CMLP no exterior

Francisco Martins Rodrigues

Lisboa, 27/1/1966

Camaradas:

Recebemos a carta 1/66 e os fundos que indicam. Estamos a tratar de levantar a encomenda na morada indicada. Aproveitamos este portador para tratar detalhadamente algumas questões urgentes. Continuar a ler

Carta a João Pulido Valente

Francisco Martins Rodrigues

Carta manuscrita enviada de Paris – para onde fora destacado pelo PCP ainda enquanto militante, mas já expulso à data em que escreve – a João Pulido Valente

29 de Março de 1964

Meu caro João[i]:

A tua carta e as notícias que já tinha acerca da tua posição deram-me uma grande alegria. Num momento difícil como aquele que temos vindo a atravessar, é bom encontrar ao nosso lado os velhos companheiros de luta, não é assim?

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Carta a C.

Francisco Martins Rodrigues

Carta a C.

Março [de 1965]

Querida C.:[i]

Com a costumada irregularidade e atraso, venho escrever-te um pouco, porque os meses passam sem eu dar por isso e se não fosse a N.[ii] chamar-me a atenção e repreender-me constantemente, desconfio que o desleixo era ainda mais escandaloso. Eu sei que não é justo mas custa-me escrever e sobretudo estas cartas nossas em que temos de passar por cima de tudo o que é a nossa vida e os nossos problemas diários. Continuar a ler

Cartas na clandestinidade

Cartas na clandestinidade

 

Antes de dar por encerrado este blogue – onde inseri grande parte dos estudos, documentos, artigos assinados por Francisco Martins Rodrigues -, nos próximos dias passarei a reproduzir as suas cartas manuscritas, redigidas em condições de clandestinidade, que estão contidas no espólio posto à minha guarda,

A primeira, sem data, mas possivelmente de Março de 1965, é a única de carácter familiar. Todas as restantes tratam de assuntos de militância política. As primeiras foram escritas enquanto esteve clandestino, em França e em Portugal, quando rompeu com o PCP e iniciou as actividades da FAP-CMLP.

A seguir a estas, incluo uma mensagem clandestina redigida por João Pulido Valente e endereçada ao CMLP, em que se pronuncia sobre a expulsão de FMR em consequência do seu porte sob tortura.

As últimas mensagens foram escritas quando, já preso e cumprindo pena de cadeia, pôde fazer passá-las clandestinamente para o exterior e destinam-se à sua organização. Entre elas está o rascunho que preparou para a sua defesa em tribunal.

Cartas a JV – 5

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 5

11/6/1991

Caro Amigo:

Só depois de nos termos separado, e ao reler a sua carta, vi que ficou por reparar uma falta: o livro de Dawn Raby sobre “A Resistência Antifascista em Portugal”, que se perdeu nesses tenebrosos correios franceses. A única solução segura tinha sido entregar-lhe outro exemplar, porque os extravios são frequentes. Há dias o MV queixou-se que, de um outro livro que lhe enviei, só lá chegou… a etiqueta do embrulho! Os envios da P.O. já mais de uma vez se perdem, mas só em França! Vou ver se arranjo um exemplar e mando-lho… rezando à senhora de Fátima, que é boa para estas coisas.

Na P.O. a sair dentro de dias publicamos a primeira parte da sua carta (Golfo), guardando por razões de espaço a segunda parte para o nº seguinte. A. não ser que você entretanto dispare mais umas das suas bombardas que tenham prioridade. Gostámos muito da conversa convosco. Abraços para si e para a S.

 

Cartas a HN – 12

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 12

7/5/1998

Caro Camarada:

Respondo à tua carta de 27 de Abril e, o que é grave, também às de 6 de Fevereiro e 12 de Janeiro, que ficaram por responder. Resultados da sobrecarga de trabalho que tu certamente compreenderás. Agora com a PO nº 64 despachada e o 1º de Maio passado, dedico-me a pôr a correspondência em dia. No 1º de Maio desfilámos (poucos, como sempre) com uma faixa dizendo “Já só falta pedir desculpa aos pides pelo 25 de Abril”. Foi bastante aplaudida porque as pessoas estão motivadas com o escândalo do pide Rosa Casaco, fugido há anos e que veio a Lisboa dar uma entrevista à imprensa, deves ter sabido. Também distribuímos um manifesto intitulado “sinais de perigo” (vem na próxima PO) e um outro sobre “Cem vítimas da PIDE” que fez sucesso Em seguida, fizemos o lanche de confraternização com 40 pessoas e… até para o ano! Vou agora dedicar algum tempo para preparar artigos para a PO, é essa a minha vida. E quanto à preparação de algum material de fundo, com vista a um livro, como tu sugeres, vai ficando eternamente adiado.

Recebi o vale postal de 4.000S00 (além dos 50 francos anteriores). Tenho recebido os diversos materiais que tens mandado, nomeadamente a “Rcvue Internationale” e o livro sobre “La révolution manquée”, de que fiz uma recensão na PO, deves ter visto. A encomenda com os livros que pediste segue dentro de dias, porque o Brecht está atrasado na tipografia. Só segue um exemplar do Thomas porque de momento não dispomos de mais, estão todos distribuídos; fica registado e logo que houver mais mandamos-te, certo? E fico à espera do livro de Lafargue de que falas, será que dava para uma edição em português? A Dinossauro está a postos, embora quase falida…

Espero que a tua actividade associativa te dê boas possibilidades de contactos, pelo que contas parece que sim. Calculo que o meio da emigração seja em geral muito pouco politizado, de resto aqui é o mesmo. Tomei parte recentemente em três debates (dois deles de estudantes) e pude constatar como os defensores das teses reaccionárias se movem à vontade e os defensores de ideias marxistas são incompreendidos ou mal vistos pela assistência. Faz dó ver os jovens, sem audácia nenhuma, a repetir as baboseiras capitalistas que lhes ensinam, como se fossem verdades incontroversas. Mas vai-se à luta e são obrigados a ouvir umas tantas verdades. Será que podemos programar um encontro lá mais para o fim do ano? Bem gostaria mas vejo as tropas muito desmobilizadas. pouco a pouco vão-se todos retirando para a sua vida pessoal.

Bem, mas não quero acabar em tom de lamentação. A disposição de prosseguir é firme cá pelo lado da PO. Estou a preparar um artigo para a próxima, que se chamará possivelmente “Partido: cuidado com os partos prematuros”, que vai ao encontro da vossa ideia do Centro Marxista. Estamos numa fase de germinação e não compensa querer queimar etapas. Temos é que saber cumprir as tarefas próprias desta etapa: jornais, debates, núcleos, etc. Só daí poderá surgir uma corrente de ideias suficientemente forte para dar base ao partido. Esforçamo-nos por que a PO cumpra a sua parte nesse trabalho preparatório, mas são precisas muitas mais iniciativas. Foi essa ideia que procurei transmitir na curta alocução que fiz no lanche do 1º de Maio.

Por agora c tudo. Desejo êxitos no vosso trabalho. Aceitem abraços de todos

 

Cartas a JM – 9

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 9

15/5/1989

Camarada:

No seguimento da nossa conversa telefónica, peço que envies com a máxima urgência tudo o que possas conseguir em vídeo sobre a situação dos emigrantes, pequenas entrevistas, etc., para ver se ainda chega a tempo de incluir no programa que está a ser preparado para o tempo de antena na televisão. O produtor exige tudo com muita antecedência e estamos pobres de material concreto, corre-se o perigo de fazermos uma campanha na TV à base de declarações políticas, o que não prende as pessoas.

Estamos a fazer força contra a propaganda fascista que se está a tornar descarada. Queimámos um boneco na Praça da Figueira contra a visita do fascista espanhol Blas Pinar, deu na TV, rádio e imprensa. E temos marcado um almoço antifascista para dia 28 de Maio, domingo. Discursa o Varela Gomes. Queres vir? Recebeste o material da FER que enviámos há dias? Vai seguir mais. Escreve Um abraço