Carta de João Pulido Valente ao CMLP

João Pulido Valente

Carta ao CMLP

 

3/8/1966

Caros Amigos

Só agora tive oportunidade de contactar com vocês. Há aproximadamente um mês que fui transferido para Caxias. Durante esse tempo inteirei-me do comportamento perante a polícia de todos os camaradas presos, tendo actualmente um conhecimento profundo do comportamento dos camaradas mais responsáveis. Continuar a ler

A privação do sono

Francisco Martins Rodrigues

A privação do sono

(s. d.) [1966]

Entrei na sede da PIDE pelas 21:30 horas do dia 30 de Janeiro. Mandaram-me despir. Obedeci. Depois de me revistarem, devolveram-me as roupas. Entrou então o chefe de brigada José Gonçalves e vários agentes. Perguntou-me o nome. Disse que nada tinha a responder. Imediatamente, começaram a dar-me socos e pontapés, insultando-me e ameaçando-me de morte. Eu nada disse. Retiraram-se e veio um outro inspector, com modos correctos, que, sem nada me perguntar, mandou fazer um curativo, pois sangrava do nariz e dum lábio e tinha um sobrolho deitado a baixo. Fizeram-me o curativo e levaram-me para um gabinete no último andar, na secção reservada para os interrogatórios e espancamentos. Comecei pois imediatamente uma sessão de privação de sono.

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RELATÓRIO AO CMLP

Francisco Martins Rodrigues

RELATÓRIO AO CMLP[i]

(s. d.)

Como não sei se foram recebidos os dois relatórios anteriores, repito a descrição do meu porte na PIDE, procurando ser o mais completo possível.

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Cem vítimas do fascismo

Francisco Martins Rodrigues

Distribuído no 1º de Maio de 1994

O regime de Salazar-Caetano foi ou não fascista? A PIDE foi ou não
uma organização de assassinos? Estas parecem ser as grandes questões
em debate, neste 209 aniversário do 25 de Abril. Para avivar a memória
dos “distraídos”, recordamos os nomes de cem vítimas, extraídos de um
folheto publicado em 1974 pela Associação de Ex-Presos Anti-Fascistas.
Com uma pergunta: os que se sacrificaram pela liberdade merecem
o espectáculo vergonhoso a que se assiste de reabilitação do
fascismo?
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Cartas a MV – 18

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (25)

20/10/1989

Caro Camarada

Respondo aos teus últimos cartões, esperando que já tenhas recebido a PO 21, onde vem uma importante Carta de Paris e uma caricatura muito interessante. Esperamos que haja continuação.

Seguem em carta separada, para a morada da R, três suplementos em francês, com os quais poderás começar uma grande ofensiva nos meios de esquerda parisiense. Dentro de um mês ou dois haverá mais.

Quanto à proposta que fazes de reproduzir o meu texto de há uma dúzia de anos sobre a tortu­ra do sono, com toda a franqueza, não me agrada nem acho aconselhável. Como já vimos na altura, o texto conduz, queira-se ou não, a uma certa justificação das declarações na polícia sob o efeito da privação do sono. E não penso que um posfácio pudesse alterar essa conclusão. Se vi­res utilidade em transcrever alguma parte do tex­to no corpo de um artigo, para dar uma ideia mais concreta sobre a tortura do sono, evidentemente que não tenho objecções. Mas a publicação na íntegra é que me parece inconveniente, pelas razões que já indiquei.

Em todo o caso, para dar uma ajuda ao próximo Albatroz, mandamos algumas revistas sobre a repressão em Espanha que talvez te interes­sem.

Já enviámos novamente a PO 16, como pe­diste. Confirma a recepção.

Continua a enviar Mondes Diplo e outros materiais, que nos são muito úteis, e mais uma vez pedimos colaboração tua para a PO. O próximo número será fechado em 15 de Novembro.

Um abraço

 

 

 

 

Cartas a HN

 Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN (1)

6/2/1998

Exmo Senhor:

Foi-me completamente impossível corresponder ao seu amável convite para estar presente no lançamento do seu livro[i] e espero que me desculpe por só agora responder ao seu cartão. Não vi até agora na imprensa de Lisboa referências ao seu trabalho, o que de resto não é de estranhar, dados os critérios e os gostos em vigor. Se entender enviar-me um exemplar para recensão na “Política Operária”, terei muito gosto em dar a conhecer o seu livro.

Sem outro assunto e na expectativa de uma outra oportunidade para nos encontrarmos, envio as minhas cordiais saudaçôes.

Carta a HN (2)

24/2/1998

Caro Amigo:

Agradeço o envio dos seus livros, que já estou a ler com interesse e de que farei recensão na próxima P.O., a sair em princípio de Abril. Verifico pela sua carta que tem em prepara­ção um novo livro sobre o 18 de Janeiro para o próximo ano e que procura materiais relativos à Marinha Grande. Contudo, pela bibliografia referida no fim do seu livro, vejo que consultou prati­camente todos os livros que conheço relativos ao assunto. Poderei talvez conseguir-lhe alguns artigos ou documentos internos, de carácter mais ideológico e de menor valor histórico. Um exem­plo é um artigo que publiquei na Política Operária há anos e que aqui lhe envio com muito gosto. Se entretanto encontrar outros, prometo enviar-lhe fotocópia. Ocorre-me também o livro de Gil­berto de Oliveira Memória viva do Tarrafal, das edições Avante, que faz referência a vários depor­tados da Marinha Grande, António Guerra, etc., e que não vejo mencionado na sua bibliografia. Se estiver interessado, poderei emprestar-lho.

Quando se lhe proporcionar vir a Lisboa, terei muito gosto em encontrar-me consi­go para trocarmos impressões. O meu contacto, além do que vai indicado no cabeçalho, pode ser pelo telefone (…). Sem mais por agora, envio cordiais cumprimentos

Carta a HN (3)

9/2/2002

Caro Amigo:

Estou a responder às suas duas últimas cartas, pedindo desde já desculpa pelo atraso. Registámos a sua assinatura e mando-lhe aqui junto os nº 63 e 64 da revista. Quanto aos números atrasados, temos todos excepto o nº 1. Poderíamos fornecer-lhos se estivesse interessado.

No que se refere à hipótese de colaboração sua, nomeadamente sobre a situação do operariado da Marinha Grande, posso desde já dizer-lhe que nos agradaria muito. Como talvez já tenha notado, a revista inclui sempre artigos enviados por leitores. Preocupa-nos apenas que tenham uma índole de denúncia do capitalismo. Como também decerto compreende, sendo uma revista de tipo militante, não comercial, não nos é possível retribuir monetariamente a colaboração. Posto isto, se tiver notícias, comentários, entrevistas, nomeadamente a respeito da situação do operariado da Marinha Grande, teremos gosto em publicá-las.

Faço votos pelo progresso do seu trabalho de investigação de história do movimento, que me parece escrupuloso. Gostaria de poder fazer o mesmo, mas as limitações da minha vida não mo permitem. Duas notas sobre o caso António Guerra:

Sobre a data da fuga de António Guerra — Procurei no Avante desses anos qualquer referência a essa fuga mas não encontrei nada. O meu único ponto de referência foi o testemunho de Joaquim Campino, que cita no seu folheto “18 de Janeiro Rostos”. Campino foi para Peniche em 1947, segundo diz ali. Durante esse ano falou com Guerra sobre a necessidade de “acabar com a paz podre” que ali se vivia, com o que este não concordou. “Mais tarde — escreve — “aproveitando aquele afrouxamento de vigilância, o António Guerra… tentou evadir-se”. Isto levou-me a situar a data da tentativa de fuga em começos de 1948, E uma data aproximada, reconheço, mas que permite excluir, penso, essa informação de que tivesse sido em 1946. Não concorda?

Quanto aos outros nomes que cita que teriam participado na fuga, nada sei.

Sobre a saúde de Guerra Não referi no meu artigo a informação de que ele sofreria de distúrbios mentais. A ficha prisional refere uma passagem de poucos dias pelo Hospital Júlio de Matos, após a vinda do Tarrafal, o que só por si não basta para pensar que ele tivesse perturbações mentais, a não ser que haja outras informações. Poderia vir em greve da fome, por exemplo, o que, sei por outros casos, era motivo para o preso ser levado pela Pide ao Júlio de Matos para ser alimentado à força. Terá sido esse o caso? Quais eram os padecimentos de Guerra para além da perda de visão? A rapidez da sua morte depois de regressar ao campo de concentração sugere que o seu estado de saúde estaria bastante debilitado, mas poderia não ser mais do que isso. Muitos outros foram ceifados em pouco tempo pelas febres.

Fico a aguardar as suas notícias. Caso tenha colaboração para o nº 66, que só sai em começos de Outubro (paramos sempre nas férias), peço-lhe que a faça chegar até 15-20 de Setembro. Aceite as minhas saudações

Carta a HN (4)

8/7/1998

Caro Amigo:

Agradeço o artigo que me enviou sobre o 18 de Janeiro. Este ano não preparámos nada na PO para assinalar a data. Se a revista não estivesse já na tipografia ainda poderíamos ter posto algo a partir do seu artigo mas recebi-o demasiado tarde. Vai receber a PO dentro de dias e espero que continue a interessar-lhe. Suponho que terá rçcebido a proposta de renovação da sua assinatura, visto que esta caducou no n° 79, há já bastantes meses. Em todo o caso, mando-lhe aqui um novo boletim.

Conto sempre com as suas notícias e informações para enriquecer a revista.

Um abraço

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[i] Hermínio Nunes, “Augusto Costa, um vidreiro no Tarrafal. Memórias do 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande”. (Nota de AB).

Resolução sobre a defesa do Partido

Francisco Martins Rodrigues

Resolução sobre a defesa do Partido

A defesa da organização dos comunistas contra as investidas da burguesia e um dever permanente. As condições de legalidade e esta­bilidade relativas da democracia parlamentar não devem desarmar a vigilância contra os perigos de infiltração ideológica ou policial no presente, e de passagem súbita dos métodos brandos para os méto­dos brutais por parte da burguesia rio futuro. Continuar a ler