Cartas a JV – 5

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 5

11/6/1991

Caro Amigo:

Só depois de nos termos separado, e ao reler a sua carta, vi que ficou por reparar uma falta: o livro de Dawn Raby sobre “A Resistência Antifascista em Portugal”, que se perdeu nesses tenebrosos correios franceses. A única solução segura tinha sido entregar-lhe outro exemplar, porque os extravios são frequentes. Há dias o MV queixou-se que, de um outro livro que lhe enviei, só lá chegou… a etiqueta do embrulho! Os envios da P.O. já mais de uma vez se perdem, mas só em França! Vou ver se arranjo um exemplar e mando-lho… rezando à senhora de Fátima, que é boa para estas coisas.

Na P.O. a sair dentro de dias publicamos a primeira parte da sua carta (Golfo), guardando por razões de espaço a segunda parte para o nº seguinte. A. não ser que você entretanto dispare mais umas das suas bombardas que tenham prioridade. Gostámos muito da conversa convosco. Abraços para si e para a S.

Cartas a JV – 4

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 4

7/10/1990

Caro V:

Não se terá esquecido do livro do [Oskar] Anweiler que me tinha prometido? Eu não desisto e estou bastante interessado em ler mais sobre o assunto. Estou a preparar um artigo paro a próxima PO. No nº 26 que acaba de sair publicámos e sua curta sobre a revolução russa.

Mando-lhe junto alguns artigos que publiquei recentemente na imprensa. A crise do Golfo está a pôr-me em brasa, você não faz ideia do alinhamento dócil de toda a gente com os americanos. Ainda se isto fosse um país imperialista, percebia-se, mas nesta piolheira cheia de fome, aprovar a “defesa da ordem internacional” é sintoma de degenerescência mental. Os socialistas querem um envolvimento maior! Só visto!

Fico a aguardar as suas notícias. E o livro!

Um abraço

Cartas a JV – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 2

22/10/1989

Caro Amigo:

Já lá vai mais de um ano que não temos contacto. Isso foi devido em parte à perspectiva que chegou a haver de que um amigo nosso (…) pudesse passar por Paris (…) levar-lhe uma carta minha, perspectiva que infelizmente não chegou a concretizar-se. Eu, pela minha parte, também planeio periodicamente ir aí, mas acabo sempre por ter que adiar.

Espero que esteja a receber regularmente a nossa revista e que ela não tenha desapontado as suas expectativas quanto à discussão dos problemas postos ao marxismo pela falência das sociedades de Leste. Sem dúvida temos um desacordo fundamental quanto ao leninismo, o papel do partido político da classe operária, etc. Estou convencido de que a liquidação final do tipo de regime a que nos habituámos a chamar comunista e o que virá a seguir contribuirão para fazer avançar as polémicas em torno desta questão. Uma coisa me parece indiscutível: é que foi Lenine que chefiou a revolução real que até hoje levou mais longe a expropriação da burguesia e isso parece-me um bom critério para me considerar leninista.

Mesmo com atraso, tenciono fazer uma referência crítica aos seus livros que teve a gentileza de me oferecer e que levantam muitos problemas interessantes. Por correio separado mando três suplementos da PO com traduções em francês de alguns artigos nossos, o que talvez lhe permita levá-los ao conhecimento de camaradas franceses.

Sem mais por agora, envio as minhas saudações cordiais

Cartas a JV – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 1

2/7/1988

Caro Amigo:

Obrigado pela sua carta de 16 de Maio. Li com muito interesse o seu artigo na “Temps Modernes” e tomei a liberdade de publicar um extracto na última “Política Operária”. Envio, por correio separado, um exemplar da revista, assim como alguns números atrasados, onde se tratam temas que pensei lhe possam interessar.

Acredito, como diz, que nos coloquemos em terrenos políticos diferentes e que lhe seja estranha a perspectiva de militância comunista que anima o colectivo da “Política Operária”. Mas verifico pelo seu artigo que temos em comum a preocupação de uma crítica social levada até às últimas consequências, no espírito do marxismo. Foi precisamente a consciência de que estávamos a deixar perder as inesgotáveis potencialidades críticas do marxismo que nos levou a fundar esta revista. Sei que pouco fizemos até agora, mas aprendemos pelo menos a enfrentar sem medo os fenómenos novos que lançaram a confusão no campo dos marxismos “oficiais”. O problema dos regimes pseudo-socialistas e das causas da sua evolução tem-nos preocupado pnrticularmente e temos avançado algumas tentativas de interpretação. Hoje já não fazem sentido para nós as polémicas pró ou contra Staline, Trotsky, etc. Vemos sim o afundamento inevitável de um projecto de socialismo, condenado por não dispor do seu alicerce necessário – o poder real dos trabalhadores, “mil vezes mais democrático do que a mais democrática república burguesa”. Acreditamos que a ressaca reaccionária causada pelo fracasso dessa experiência (na URSS, na China, etc,) acabará por ser superada e que novas tentativas, mais avançados, virão repor a dinâmica do processo histórico, agora obscurecida.

Cabe-nos remar contra a maré das renegações e manter agrupado um núcleo crítico e revolucionário, por mínimo que seja. Digo-lhe que o espectáculo da rendição incondicional, aqui no nosso país, é dos mais baixos que se possam imaginar. Apetece zurzir, nem que seja só para termos a certeza de que estamos vivos.

Espero poder ler mais trabalhos seus. E que me dê, com toda a franqueza, as impressões que lhe deixam os que aí lhe mando.

Com as minhas melhores saudações

Cartas a HN – 17

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 17

9/2/2002

Velho H

Tenho aqui duas cartas tuas recentes e vou tentar responder às questões que colocas e dar-te algumas notícias.

Teu artigo – Parece-me extenso mas ainda não tive oportunidade de o estudar. Vou ler e dir-te-ei depois o que penso.

Curso de marxismo em Bruxelas – O MV já me falou com interesse desse curso onde esteve há dois anos, julgo. Leio aqui o jornal desse partido, que é de facto radical, dentro da área dos “revisas duros”, muito mais consistente por exemplo do que o Avante do meu amigo Cunhal. De qualquer modo, sendo claramente anti-imperialistas, não temos dúvidas de que são reformistas e que têm uma ideia muito sinistra do que seja o socialismo. Isso basta para sabermos que não são do nosso campo. Terá interesse o curso? Eu, se tivesse disponibilidade, ia assistir, pela curiosidade de ver como expõem as questões centrais do marxismo e até para activar as objecções e críticas do nosso lado. Nesta época de deserto quase total no campo do marxismo, tudo o que proporcione debate e luta de ideias pode ser frutuoso. Era bem bom se tu ou o Manuel, ou os dois, redigirem um comentário sobre o que viram, o que vos pareceu aceitável e o que acham errado, etc. Era uma boa malha para a PO. Agora tu é que verás se compensa a deslocação, a despesa e o tempo gasto.

Voz do Trabalho – São naturais as tuas preocupações com o andamento do projecto. De facto, as coisas têm patinado um bocado, houve uma doença e ausência do M (já voltou), afastamento (temporário?) dos elementos ligados ao Bloco de Esquerda e que se meteram a fundo na campanha eleitoral deles (e agora já estão metidos noutra) e uma certa indefinição sobre o carácter da folha, com discussões sobre se devia ser mais política ou mais dedicada às lutas económicas.

Por tudo isto a correspondência, os envios do jornal, etc., têm andado um bocado ao deus-dará. Saiu em Dezembro o n° 4 (que pelos vistos não recebeste) e está a sair o n° 5. Vou fal ar com eles para transmitir as tuas preocupações e pedir que te enviem exemplares do 4 e do 5.

Af, Leo – Numa reunião de redacção da PO, em Novembro, foram feitas algumas criticas a artigos que eles tinham escrito: o do Leo sobre o 11 de Setembro, e o do Af sobre um subsídio de Natal igual para todos. Os camaradas reagiram mal às críticas e não quiseram alterar os artigos. Depois disso não vieram a mais reuniões. Lamentamos e esperamos que reconsiderem. São poucos os que participam no colectivo e não gostamos de ver camaradas afastarem-se mas não podemos prescindir de discutir abertamente as colaborações de cada um.

 Entrevista Argentina – É pena que não se consiga. Como verás na PO 83, que aí chegará dentro de uma semana, juntámos um comentário vindo do Brasil com um artigo que a Ana fez a partir de textos que nos chegaram pela Internet. O assunto ainda talvez mereça mais análise na próxima PO.

(…)

Leituras – Não conheço nenhum dos dois livros que estás a ler sobre a I Internacional e o movimento operário francês. Também não prevejo tão cedo disponibilidade para me dedicar ao assunto. São tantos os livros, artigos, etc. que vão ficando para trás que às vezes desespero, mas sou obrigado a fazer opções todos os dias entre o que gostaria e o que posso fazer.

PO – Vais recebê-la por estes dias. Tem uma declaração do colectivo sobre as eleições, justificando por que não votamos, a política que vai ser seguida já está feita pelas “instâncias superiores”    e os partidos  são  os comissários políticos ás ordens de Bruxelas. A possibilidade de mudança não está no voto, está na intervenção directa dos trabalhadores, e essa é que tem faltado de há bastantes anos para cá, etc.

Galiza – Nos dias 13-15 Fevereiro reúne-se na Galiza uma Cimeira dos ministros da Justiça e do Interior da UE para tratar da “segurança”. Os camaradas galegos do NÓS Unidade Popular (que vieram ao nosso encontro de Dezembro) organizam uma contracimeira nos mesmos dias, com debates e manifestações. Vão estar presentes 2 ou 3 camaradas nossos para intervir no terceiro dia, sobre questões laborais. Mando-te aqui o último número que recebemos do jornal do partido ML deles, para teres uma ideia. São pelo menos bastante activos.

Por agora é tudo. Um abraço e até breve  

Cartas a HN – 16

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 16

25/9/2001

Caro Camarada:

Os acontecimentos estrondosos de 11 de Setembro puseram tudo em polvorosa, aí como aqui, certamente. E a P.O. também foi fortemente abalada, porque tivemos que nos pôr a escrever à pressa sobre as lições a tirar do que se passou e de que modo vai afectar a nossa actividade futura. Estamos a esforçar-nos por não deixar atrasar a saída da revista, que espero seja em meados de Outubro. Resulta daqui que uma boa parte dos materiais que estavam para entrar tiveram que ser metidos em carteira, entre eles o teu artigo.

De resto, eu estava para te escrever acerca do artigo, porque nos pareceu (não só a mim) que precisa de alguma reformulação. Estou inteiramente de acordo com a tese central que defendes – a urgência de uma educação política e filosófica do proletariado para que este tome consciência do poço em que está metido e se lance numa luta não só estreitamente económica mas sobretudo política e organizada em Partido – mas isto está dito de uma forma pesada, abstracta, demasiado alongada, que não convida o leitor a chegar até ao fim. Numa palavra, os poucos argumentos que desenvolves não correspondem à extensão do texto. Por isso te propomos que trabalhes o artigo um pouco mais, para publicação futura, ou, se isso não te for possível de imediato, que abordes outro tema. De uma maneira geral, acho que deverias escolher exemplos, casos concretos como ponto de partida para a tese que queres defender. É isso que desperta o interesse do leitor e lhe permite captar a mensagem que queres transmitir.

Sei que não levarás a mal esta crítica, já nos conhecemos o suficiente para trocar ideias em perfeita franqueza. Pelas razões já atrás expostas, o capítulo do Tom Thomas que te deste ao trabalho de traduzir também não será publicado, ao menos por agora. Falas na possibilidade de uma entrevista a uma camarada: manda a cassete quando quiseres. Quanto à “Voz do Trabalho”, está a dar os primeiros passos e, por agora, a preocupação principal é conseguir que a criança não morra à nascença. Todo o apoio ou divulgação que possas dar será bom, pois o núcleo redactorial luta com grandes dificuldades.

Trabalhos práticos: 1) Dirigimos uma carta ao Bloco, UDP, PSR, FER, MRPP e outros grupos da esquerda propondo um encontro urgente para se formar um comité unitário capaz de fazer agitação contra o assalto americano em preparação contra os árabes; não estamos optimistas quanto a respostas porque andam todos empenhados na porcaria das eleições autárquicas e não lhes sobeja tempo para se ocuparem de casos “menores” como este; além disso, receiam queimar-se como “extremistas” e perder votos nas eleições. A esta miséria chegou a esquerda.

2)      Estamos a convocar uma reunião de pessoas mais próximas de nós para ver se lançamos esse tal comité, mesmo que não envolva partidos. Será a 13 de Outubro.

3)      Dia 28 de Setembro vamos a uma concentração promovida pelo Conselho da Paz (revisa) frente à embaixada de Israel. Vamos a ver se aparecer gente. Os revisas, pelo mesmo motivo dos outros, estão encolhidos. Além disso, a sua crise interna tem-se agravado e estão com dificuldades de mobilização. Há em Lisboa uma luta acirrada entre os cunhalistas e o sector intelectual.

4)      Projectamos fazer em Novembro um encontro pelo aniversário da P.O., que gostaríamos de transformar num encontro anual de debate da nossa corrente. Já começámos a fazer convites mas por enquanto não sabemos o que se vai conseguir. O tema central, claro, teria que ser este do “antiterrorismo” dos maiores terroristas que já houve à face da terra, os americanos.

De tudo te darei mais notícias à medida que as coisas se confirmarem. Caro camarada, um abraço e votos de saúde  

Cartas a HN – 15

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 15

17/10/2000

Caro Camarada:

Tive pena de não nos termos encontrado quando por aqui passaste. A situação quanto à sessão é a seguinte: no seguimento de uma série de contactos, concluímos que a sessão-debate a propósito dos 15 anos de publicação da PO tem que ser desdobrada em duas: a primeira é no dia 4 de Novembro, na Biblioteca-Museu República e Resistência (Estrada de Benfica. 419) com a participação de João Bernardo (anarco-comunista) e de João Ricardo, um trotskista brasileiro. Não se pode dizer que não somos pluralistas! Espero que dê um debate animado. Em 2 (ou 9) de Dezembro faremos outra sessão, para que convidámos o Samir Amin e o Tom Thomas. Será completada com um espectáculo à noite: Zé Mário Branco, etc. Claro que contamos contigo, só não sei se podes vir já a esta primeira sessão ou só à segunda. Se puder vir daí mais alguém, como se tinha falado, tanto melhor.

A nossa situação financeira continua na mesma, temos em vista uma hipótese de vender a empresa gráfica para pagar algumas dívidas e continuar a fazer a PO e os livros em bases (ainda) mais modestas. Mas parar está fora de questão. Escrevi à livraria que me indicaste, estou à espera de resposta. A PO, atrasada como de costume, sai para a semana. O artigo que mandaste ficou de fora desta vez, não te chateies mas houve bastantes colaborações e algumas grandes que tiveram que ser cortadas ao meio por não caberem. Recebeste os livros que tinhas pedido? Intelizmente ainda não tive ocasião de pegar no livro de Osborne que mandaste. Estão para sair mais dois títulos da Dinossauro, que depois te enviarei, um do Samir Amin e outro do Thomas. E o teu programa de rádio, como vai?

Tenho uma dúvida que peço esclareças: as POs atrasadas que pediste há meses, cheguei a enviá-las ou não?

Para já. é tudo. Vamos amanhã a uma manifestação anti-sionista por causa dos massacres na Palestina. O MV diz-me que participou em duas em Paris. E aí, houve algo de jeito? Um abraço

 

Cartas a HN – 14

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 14

9/3/1999

Caro Camarada:

Espero que estejas de saúde, especialmente a tua mão. Algumas linhas, para pôr a escrita em dia. O teu artigo sairá na próxima P.O. Aproveitarei a tua autorização para fazer algumas condensações e pôr em destaque no título o concreto da tua proposta: um encontro de debate ideológico. Pode ser que, à força de insistir, se consiga motivar umas dezenas de camaradas para a ideia. Temos tido agora umas reuniões bastante concorridas (40 a 50 participantes) para tratar da comemoração do movimento popular do 25 de Abril. A ideia é pôr a falar numa sessão, para os jovens, sobretudo, alguns dos activistas das ocupações e manifestações daquela época. Será na tarde de 24, sábado. Vamos a ver o que se consegue. Peço que me devolvas o Apelo com as assinaturas que tiveres (mesmo que sejam só a tua e a do Z) até ao fim do mês. Tencionamos publicar e apresentá-lo numa conferência de imprensa, para incomodar os comemoradores oficiais, que preparam festas de espavento.

E quanto à Carta da Suíça, vamos ter alguma coisa? Se tiveres, manda até dia 20 o mais tardar. Ou recortes, se não tiveres artigo redigido. Para já, é tudo. Um abraço.

Cartas a HN – 13

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 13

29/12/1998

Caro Camarada:

Respondo à tua carta de 2 de Dezembro, esperando que as festas de Fim de Ano te estejam a correr bem. Por aqui tudo na forma do costume, nem bem nem mal, antes pelo contrário. Seguiu a P.O. 67 que já deves ter recebido a esta hora, como verás faço uma crítica ao Samir Amin porque as novas perspectivas dele vão dar a velhas receitas do reformismo. Espero que o homem não leve a mal e que possamos continuar a contar com colaborações dele. A Ana está a traduzir um livro dele, “O Eurocentrismo”, que é uma crítica ao imperialismo europeu, será o próximo lançamento Dinossauro. A respeito do Lafargue, trocámos ideias sobre o assunto e achamos melhor não avançar, pelo menos por agora. Receamos que não tenha saída e já sofremos alguns duros reveses que nos deixam de tanga. Estou a mandar-te em correio separado 3 exemplares da “Breve história do Indivíduo” (por agora não há mais disponíveis) e um exemplar do livro de Galeano, que é esse que leste em tempos. Aos preços especiais para assinantes da P.O. fica tudo por 7.400$00. (…)

 Por agora é tudo. Espero que entres bem no ano 1999. Um abraço

 

Cartas a HN – 12

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 12

7/5/1998

Caro Camarada:

Respondo à tua carta de 27 de Abril e, o que é grave, também às de 6 de Fevereiro e 12 de Janeiro, que ficaram por responder. Resultados da sobrecarga de trabalho que tu certamente compreenderás. Agora com a PO nº 64 despachada e o 1º de Maio passado, dedico-me a pôr a correspondência em dia. No 1º de Maio desfilámos (poucos, como sempre) com uma faixa dizendo “Já só falta pedir desculpa aos pides pelo 25 de Abril”. Foi bastante aplaudida porque as pessoas estão motivadas com o escândalo do pide Rosa Casaco, fugido há anos e que veio a Lisboa dar uma entrevista à imprensa, deves ter sabido. Também distribuímos um manifesto intitulado “sinais de perigo” (vem na próxima PO) e um outro sobre “Cem vítimas da PIDE” que fez sucesso Em seguida, fizemos o lanche de confraternização com 40 pessoas e… até para o ano! Vou agora dedicar algum tempo para preparar artigos para a PO, é essa a minha vida. E quanto à preparação de algum material de fundo, com vista a um livro, como tu sugeres, vai ficando eternamente adiado.

Recebi o vale postal de 4.000S00 (além dos 50 francos anteriores). Tenho recebido os diversos materiais que tens mandado, nomeadamente a “Rcvue Internationale” e o livro sobre “La révolution manquée”, de que fiz uma recensão na PO, deves ter visto. A encomenda com os livros que pediste segue dentro de dias, porque o Brecht está atrasado na tipografia. Só segue um exemplar do Thomas porque de momento não dispomos de mais, estão todos distribuídos; fica registado e logo que houver mais mandamos-te, certo? E fico à espera do livro de Lafargue de que falas, será que dava para uma edição em português? A Dinossauro está a postos, embora quase falida…

Espero que a tua actividade associativa te dê boas possibilidades de contactos, pelo que contas parece que sim. Calculo que o meio da emigração seja em geral muito pouco politizado, de resto aqui é o mesmo. Tomei parte recentemente em três debates (dois deles de estudantes) e pude constatar como os defensores das teses reaccionárias se movem à vontade e os defensores de ideias marxistas são incompreendidos ou mal vistos pela assistência. Faz dó ver os jovens, sem audácia nenhuma, a repetir as baboseiras capitalistas que lhes ensinam, como se fossem verdades incontroversas. Mas vai-se à luta e são obrigados a ouvir umas tantas verdades. Será que podemos programar um encontro lá mais para o fim do ano? Bem gostaria mas vejo as tropas muito desmobilizadas. pouco a pouco vão-se todos retirando para a sua vida pessoal.

Bem, mas não quero acabar em tom de lamentação. A disposição de prosseguir é firme cá pelo lado da PO. Estou a preparar um artigo para a próxima, que se chamará possivelmente “Partido: cuidado com os partos prematuros”, que vai ao encontro da vossa ideia do Centro Marxista. Estamos numa fase de germinação e não compensa querer queimar etapas. Temos é que saber cumprir as tarefas próprias desta etapa: jornais, debates, núcleos, etc. Só daí poderá surgir uma corrente de ideias suficientemente forte para dar base ao partido. Esforçamo-nos por que a PO cumpra a sua parte nesse trabalho preparatório, mas são precisas muitas mais iniciativas. Foi essa ideia que procurei transmitir na curta alocução que fiz no lanche do 1º de Maio.

Por agora c tudo. Desejo êxitos no vosso trabalho. Aceitem abraços de todos