Cartas a MV – 3

 Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (5)

18/10/1985

Como vão de saúde? Esperamos que não vos tenha desiludido o nº 1 da PO, de que enviámos 13 exemplares. Para a venda aí vocês verão o preço a fixar, tendo em conta despesas de correio. Se houver aí pessoas a quem vos pareça que vale a pena fazer uma oferta, propondo que se tornem assinantes, não hesitem em fazê-lo. Oferecemos aqui umas dezenas, até para levar a revista ao conhecimento de pessoas que nos interessa tocar. Seguem junto alguns exemplares da carta de oferta e boletins de assinatura. Se precisarem de mais exemplares, apressem-se a fazer a vossa encomenda porque a tiragem está quase esgotada. Temos feito uma boa venda militante em Lisboa e Perto, em empresas e locais de passagem. A saída nas livrarias também tem sido boa, graças às notícias que saíram na imprensa (junto fotocópia).

Seguiu para todos os partidos e grupos M-L, com proposta de permuta, mas até agora sem reposta, à excepção do grupo americano (“Workers’ Advocate”).

A opinião geral dos camaradas e amigos foi bastante favorável. Fizemos no passado dia 12 um encontro a que comparecem, além de membros da OCPO, 15 amigos, sobretudo operários. Discutimos a orientação da revista, as eleições legislativas e problemas do movimento operário. Agora falta vocês também darem as vossas críticas, sugestões e colaborações.

Estamos a preparar o nº 2, a sair em fim de Novembro. Inclui artigos sobre a crise e reconstituição da família na União Soviética, papel dos comités de fábrica e dos sovietes na revolução russa, lutas internas no PCP, crítica à política do PC do Brasil, a restauração do capitalismo na China, actualidade política, entrevista com operários dos STCP, etc. Traz também o segundo artigo sobre a imi­gração em França, adaptado pelo MC a partir do que mandaste. Parece-nos muito interessante incluir uma carta de Paris, comentando questões da actualidade política em França. Pode ser? Seria necessário que cá estivesse até 7-10 Novembro, o mais tardar. Pedimos também ao PA uma carta de Londres mas até agora não temos resposta.

Vamos iniciar neste nº 2 uma secção de cartas, aberta a opiniões polémicas, críticas, sugestões. Se nos puderem enviar as vossas ideias sobre o nº 1 em carta, seria óptimo para publicar. Outro pe­dido urgente: consta aqui, segundo várias fontes bem informadas, que o M é bom caricaturista: será possível contarmos para o nº 2 com alguma caricatura ou desenho teu? Caso seja possível para já, também nos interessaria se nos enviasses bonecos recolhidos na imprensa aí. Queremos muito melhorar o aspecto gráfico e a qualidade das fotografias.

Outros materiais – Recebemos os jornais e revistas do PC do B, que estamos a aproveitar para um artigo. Tudo o que nos possam enviar da imprensa ML é do máximo interesse, para nossa informação e para alimentar a secção do Debate internacional. Lembramos a necessida­de de reatarem o envio dos cadernos de Kessel. Quanto à “Afrique-Asie”, não nos parece que justifique a despesa, porque tem uma in­formação limitada e uma orientação estreita. Se nos puderem mandar alguma coisa com documentação para artigos internacionais, nem que seja o “Monde Diplomatique”, valeria mais a pena.

Quanto a livros, pedimos que o M retome logo que possa o envio das fotocópias de textos da IC, como vinha fazendo. Mando junto uma lista do que recebemos, até agora, para evitar repetições. Além disso, dois títulos em que estamos interessados, se não for muita despesa:

  • biografia de Bukarine pelo prof. Cohen (EUA) – Galimard
  • Robert Linhart – Lénine, les paysans, Taylor – la Brèche, 9, rue Tunis.

Finanças – O RO entregou 2 contos vossos. A nossa empresa gráfica está a andar e temos algumas boas encomendas em perspectiva. Mas para tirarmos todo o rendimento da máquina de composição temos de lhe adaptar um disco especial, que permite gravar todo o texto, fazer emendas, etc., antes de passar ao papel. São mais 500 contos que vamos ter de gastar e estamos a apelar ao apoio de todos os camaradas. Contamos com a vossa boa vontade, na medida das vossas pos­sibilidades. Como a compra do offset parece não se concretizar, pedimos que nos canalizem para cá as vossas quotas ou outras contribuições sempre que possível. As assinaturas da revista são outra forma importante de ajuda e tem que ser feito um grande esforço porque ainda só vamos em 50 assinaturas, o que é ridículo.

OCPO- em reunião recente da direcção verificou-se que a absorção das tarefas de redacção e técnicas-comerciais, embora fosse inevitável, tem provocado um certo esvaziamento da frente da actividade política, sindical, etc., que não têm ganho corpo. Só com tarefas ideológicas e técnicas não se motivam muitos camaradas para uma actividade militante. Decidimos dar maior apoio político aos núcleos e tomar iniciativas para furar no terreno sindical, sem deixar de manter o centro dos esforços na saída e melhoria da revista.

Acerca das eleições legislativas,contamos enviar-vos uma apreciação em breve, assim como perspectivas quanto às presidenciais.

Um abraço

 

LIVROS EM FOTOCÔPIA (já recebidos)

  • Actas do I congresso da IC
  • Actas, resoluções, etc., entre o I e II congressos
  • Programme de 1’IC (VI congresso)
  • Resoluções da IX sessão plenária do CEIC, 60 pág.
  • X sessão plenária, 88 pág.
  • Teses e resoluções da XI sessão plenária, 42 pág.
  • Les PC et la crise du capitalisme, Manuilski, XI sessão plenária, 14-4 pág.
  • Correspondence Internationale, nº especial VI congresso
  • Correspondence Internationale, nº especial VII congresso
  • Le chemin de l’IC, 1934,54 pág.
  • Le fascisme, la social-démocratie et les communistes, Knorine, 1934, 55 pág.
  • L’IC et ses sections, Bewer, 1932, 102 pág.
  • Questions d’organisation, Kaganovitch, 1934,116 pág.
  • L’lC, Georges Cogniot, 1969, 158 pág.
  • Cahiers d’Histoire de l’Institut Maurice Thorez, nº 34 e nº 12
  • Histoire du bolchévisme, Arthur Rosenherg
  • Les bolchéviks et la lutte pour le pouvoir, B.Nikolaievski
  • Colloque International Karx-marxismes, Agosti, etc.,

 

Cartas a SL

Francisco Martins Rodrigues

 Carta a SL (1)

 7/11/1991

 Caro Amigo L:

 Agradeço-te o interesse que te levou a escrever a úl­tima longa carta. Gostaria de responder brevemente. Francamente, não vejo razões para divisares “sintomas alarmantes” no nosso ali­nhamento político-ideológico. O problema não é querermos permanecer “cristalinos e puros” como tu dizes, mas estarmos atentos a uma muito real e muito brutal pressão de direita, contra-revolucionária, que hoje tenta varrer, cilindrar ou corromper tudo o que seja comunista ou próximo. O debate em torno da revolução russa e do leninismo inscreve-se nessa batalha. Muito francamente, também, acho que os teus argumentos revelam falta de vigilância da tua par­te quanto ao que está em jogo neste debate. Quer isto dizer que eu, para não ceder terreno à reacção, vou defender Lenine à viva força? Não. Não penso que os artigos da P.O. contenham nada disso. Dá-me a impressão do que tu os leste muito pela rama, pois tu próprio dás argumentos já expostos anteriormente nesses artigos. Achas muito es­tranho que se diga que os bolcheviques, ao não vir a revolução da Europa, aplicaram, em situação de emergência, um programa de sobre­vivência alheio ao seu programa inicial? Nesse caso peço que me digas, concretamente, na Rússia de 1918 tal como era nesse momento, como concebes que se pudesse levar por diante a ditadura do proleta­riado, a sério, com democracia de massas, sovietes com poder real, etc. Parece-me deduzir da tua argumentação que achavas preferível que a Rússia dos sovietes se tivesse deixado ir ao fundo sem ceder um palmo nos princípios do comunismo, que isso seria melhor do que acabar por ir ao fundo na mesma, apodrecida pelo capitalismo de Es­tado, a burocracia, o terror, etc. Hoje podemos fazer essa compara­ção, mas em 1920 ninguém podia fazê-la. Os homens que estavam à fren­te da Rússia pensavam: “fazemos uma série de entorses ao que deveria ser a ditadura do proletariado mas é a única forma de mantermos o poder de pé e, quem sabe, talvez dentro de um ano ou dois, venha uma revolução na Alemanha, que nos permita depois endireitar a nossa”. Tentavam ganhar tempo. Explica-me então qual teria sido a política de princípios neste caso. Mas em concreto; porque tu dizes sempre que nós não fazemos análises concretas mas dás opi­niões muito no abstracto.

Capitalismo de Estado – Não sabia que tu tinhas objecções a esse conceito. Marx e Engels não o usaram porque era desconhecido no seu tempo. Foi usado na Alemanha bismarckiana, e depois em escala crescente por outras burguesias que precisavam de se apoiar nos capitais do Estado por insuficiência de acumulação privada. Lenine não disfarçou a dura realidade e disse que pôr a economia a fun­cionar na Rússia (houve uma fome em que morreu um milhão de pes­soas no Volga devido à guerra civil e à desorganização total da economia) tinha que se recorrer ao capitalismo de Estado. Mostrou a sua atitude de princípio: não disfarçar de “socialismo” uma coi­sa que não o era. Mais tarde, foi esse sistema que ficou a vigorar na URSS, assim como nos países da Europa de Leste, etc. Não perce­bo o teu reparo. Não chamamos a esses regimes pura e simplesmente capitalistas porque não tinham apropriação privada dos capitais, concorrência, etc. A burguesia “comunista” desfrutava-se da mais-valia através do capital do Estado. Parece-me um conceito claro, que já demonstrou a sua aplicação. O crescimento e apodrecimento desse regime, com todas as suas taras, é uma coisa; a sua aplicação inicial, como recurso de emergência num país devastado que não con­segue organizar a produção socialista, é outra. Se não fosse isso, que alternativa ficava? Devolver as fábricas e as terras à burgue­sia?’ Deduzo dos teus argumentos que vês uma certa justificação na “propriedade privada fundada no trabalho pessoal”. Mas não sabemos nós que o pequeno burguês gera diariamente o médio e o grande, que o processo de acumulação capitalista reproduz sempre os mesmos fe­nómenos?

Imperialismo soviético – Acusas-me de o “camuflar” e mais uma vez foges à análise concreta da situação concreta do que foi esse tal imperialismo que ruiu como um castelo de cartas. Temos sobre o as­sunto artigos publicados e dispenso-me de os repetir. Sou eu que te alerto para um desvio de que pareces não ter consciência: ao repetir as histórias infundadas postas a correr pelo imperialismo ocidental acerca do “império soviético” perdes contacto com a realidade e co­laboras involuntariamente numa barragem de propaganda destinada a amortecer a oposição ao imperialismo.

Pensas ver espírito de seita da nossa parte quando dizemos que “tínhamos razão”. Mas, caro         L, não achas que temos motivos para sentir algum orgulho por ter dito há anos que o “império soviético” era um mito porque não tinha base económica e portanto era vulnerável? Tu, por exemplo, acreditavas que a URSS tinha um poderio terrível, estava em igualdade ou até acima do Ocidente… Somos nós que temos espírito de seita ou és tu, neste caso, que resistes a dar um balanço a ideias que tinhas e que se comprova­ram erradas?

Conhecemo-nos há bastantes anos e por isso não hesito em falar-te com toda a franqueza, sem rodeios, como tu, aliás, fazes em relação a mim.

A tua carta termina com uma proposta concreta: colaborares na revista com um estatuto independente, para expores as tuas opiniões sobre a URSS, a evolução actual do capitalismo, etc. Levei esta proposta ao conhecimento da redacção e considerámos unanimemente que não deve haver esse estatuto de colaborador indepen­dente. Os artigos passam todos pela discussão na redacção e, em­bora tenham uma margem de pontos de vista individuais, saem quan­do a redacção considera que não vão contra a sua linha geral.

O que não quer dizer que recusemos publicar artigos que nos man­des. Já os temos publicado e estamos interessados em continuar a fazê-lo, teus e de outros leitores da revista, como tens vis­to. Só que essas pessoas não são colaboradores independentes, mas leitores que enviam trabalhos que nós publicamos ou não con­forme entendemos. Vários têm sido publicados, outros têm sido recusados por não lhes acharmos interesse. O que não podemos é assumir qualquer compromisso contigo de passarmos a considera-te nosso colaborador independente e de publicarmos o que tu nos envies. Julgo que a nossa atitude é perfeitamente clara e não foge às normas habituais em qualquer revista de opinião, como a nossa. Continuamos portanto abertos e interessados em publicar textos que nos envies, pondo em questão as nossas posições, apenas com a reserva quanto à oportunidade e espaço para o fazermos.

E é tudo, caro  L. Fico à espera de uma ocasião para prosse­guirmos o nosso debate de viva voz. Um abraço

Carta a SL (2)

 28/4/1994

 Caro Amigo:

Não sei se teremos oportunidade de nos ver na apresentação do livro[i], no Clube dos Jornalistas, sábado, dia 30, a partir das 18.30, e por isso respondo já por este meio à tua carta. No que diz respeito à necessidade duma avaliação ponderada do PREC, para destrinçar entre o que nele foi autenticamente revolucionário e o que foi folclore “revolucionarista” pequeno-burguês, estou de acordo contigo. Mas já nos exemplos que evocas, se concordo inteiramente em que a palavra de ordem do “não à guerra civil” teve um conteúdo capitulacionista, já quanto a ter sido erro o começar, naquela situação concreta, pela formação da UDP, tenho as minhas dúvidas; e quanto ao assalto à embaixada de Espanha ter sido anarqueirada estudantil, já não concordo nada contigo – pensa só na escassez de acções de confronto com a ordem que todo o PREC registou – não houve um desastroso excesso de moderação? Não nos devemos regozijar com um dos raros actos violentos – inteiramente justificado, aliás, dada a barbaridade do crime franquista, e que foi imitado noutras capitais?

Mas se o que importa é uma avaliação política reflectida desse período, penso que o livro que fizemos só ajudará a avançar-se nesse sentido, na medida em que reúne testemunhos de intervenientes directos e desenterra experiências que têm vindo há vinte anos a ser cobertas de entulho. Romper com a prática do silêncio e da calúnia gratuita que por aí se fazem é do interesse da esquerda, parece-me. Não sei se tencionas promover alguma referência da Lusa à edição, mas, se for esse o caso, peço que tenhas em consideração o mérito que representa darmos voz aos que estão privados dela há longos anos. Se não fores ao lançamento, vou enviar-te um exemplar para poderes ajuizar por ti e veres se é possível chamar a atenção para esta iniciativa.

A segunda parte da tua carta, relativa à apreciação da revolução russa à luz do marxismo de Marx, retoma uma polémica que vimos fazendo há anos, sem aproximação dos nossos pontos de vista. Só posso responder às tuas notas repetindo as opiniões que já expus noutras oportunidades e que, pelos vistos, não te convencem. Eu acho que há um erro metodológico na tua perspectiva, que é admitires que as revoluções russa, chinesa, cubana, poderiam ter sido socialistas, se os seus dirigentes tivessem sido melhores marxistas. Isso parece-me puro idealismo. Não tomas em consideração que o nível económico-social desses países impossibilitava a instauração do socialismo, por muito que os líderes revolucionários, os partidos ou as massas o desejassem; só permitiam a passagem ao capitalismo – que foi o que aconteceu. O leninismo, que tu culpas pelo fracasso, foi justamente a aplicação viva do marxismo que permitiu o êxito inicial dessas revoluções, o cumprimento das suas tarefas antifeudais, anti-imperialistas, burguesas, da forma mais radical e acelerada. Sem leninismo, não teríamos tido revoluções nenhumas porque teriam sido afogadas pela reacção logo à partida.

Isto, para te apontar brevemente como encaro a tua conclusão de que “a estreiteza revolucionária actual está na hesitação em romper definitivamente com o leninismo”. Do meu ponto de vista, uma tal atitude só poderia levar a recuarmos para trás de Lenine e a afastarmo-nos do marxismo. Enfim, este é um debate para continuar entre nós. Chegaste a ler a série de artigos que publiquei na P.O. sobre a revolução russa? Não lhe encontraste nenhum argumento que abalasse as tuas convicções?

Se não me disseres nada em contrário, publicarei na próxima P.O. a primeira parte da tua carta, relativa ao PREC (assinada com iniciais). A segunda parte repete opiniões tuas que já temos publicado noutras ocasiões e por isso penso omiti-la, para não ocupar muito espaço. Em todo o caso, se entenderes fazer-nos chegar algum texto nesse sentido, de crítica ao leninismo, não como carta, mas como artigo, estamos abertos a publicá-lo.

Um abraço

 

[i] “O futuro era agora”, ed. Dinossauro, 1994. (Nota de AB).

Carta a PS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a PS

7/3/1993

Caro Camarada:

Não sei explicar por que razão não recebeste a P.O. de Janeiro/Fevereiro (nº 38), pois ela foi expedida na primeira semana de Fevereiro, para ti como para todos os assinantes. Só vejo como explicação que se tenha extraviado nos correios. Vou enviar-te outro exemplar, que te deve chegar quase ao mesmo tempo que o nº 39 (Março/Abril), prestes a sair. A tua assinatura está válida ainda por mais um ano, e mesmo que tivesse caducado, eu não deixaria de te enviar a revista.

Compreendo que, no ambiente que existe, possas ter pensado que a falta da revista era sinal de desistência da nossa parte, mas posso-te tranquilizar. Cá continuamos com a nossa pedalada habitual e não temos vontade nenhuma de desistir. O capitalismo faz-nos tanto nojo que isso só por si é um estímulo para continuar a condená-lo e a dizer aos trabalhadores que é preciso perderem o medo a experimentar outra organização social, sem explorados nem exploradores. Por muitos erros que os trabalhadores façam, seria sempre melhor do que a desgraça que por aí vai.

Espero visitar-te muito breve, o que já deveria ter feito. Dá os meus cumprimentos a tua companheira e aceita um abraço deste camarada que te estima

Cartas a OS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a OS (1)

1/8/1989

Caro Amigo:

Desculpe a demora a responder à sua car­ta, mas foi devido ao período de férias. Rece­bi c dinheiro e segue por correio separado o livro Anti-Dimitrov. Gostaria que me comunicas­se mais tarde a sua opinião, assim como sobre os temas tratados na revista. Registámos a as­sinatura por 9 números a partir do nº 21 inclusive) e os 50$00 restantes entram como apoio à P.O. Apesar de a situação não ser nada favorá­vel para quem tem ideias comunistas (é o meu caso há muitos anos), penso que há muito que analisar e reflectir sobre as derrotas passa­das, para estarmos à altura de novos aconteci­mentos revolucionários que forçosamente surgi­rão. O capitalismo gostaria de dormir descan­sado mas faz tantos crimes que não pode. Quan­to aos revolucionários que se viram para os ta­chos, que lhes faça bom proveito! Por mim, já estou velho para virar a casaca. Por aí pode estar descansado. Um abraço

 Carta a OS (2)

23/8/1993

Caro Amigo:

Obrigado pela sua carta e pela renovação da assinatura. Mas quanto a esta tenho a dizer-lhe que deve haver engano da sua parte, pois a sua assinatura está válida até ao nº 45 da revista. Fiz o seguinte com o seu dinheiro: registei mais uma renovação por cinco números (até ao nº 50) e inscrevi o restante como apoio à revista. Se não achar bem, diga-nos, por favor.

Quanto às suas considerações políticas, tenciono transcrever um largo extracto na próxima revista, na secção das cartas dos leitores, se não vir inconveniente. Penso que há concordância entre nós no seguinte: os países que se apregoavam como socialistas afinal eram ditaduras governadas por uma cambada de privilegiados, dando ordens a toda a gente em nome do comunismo. Para manter o seu regime, arregimentavam, impunham a lei da rolha, prendiam, matavam, etc. Os trabalhadores de todo o mundo que julgavam ver no Leste uma alternativa ao capitalismo sentem-se burlados e desmoralizados.

Agora não posso concordar consigo quando escreve que o mal está no colectivismo, que o homem é egoísta e individualista por natureza, etc. É que se não defendemos o colectivismo, teremos que aceitar como inevitável que a maioria da humanidade trabalhe à jorna para os capitalistas, e que os destinos de todos nós andem ao sabor dos interesses do Capital. O amigo Orlando, como operário, certamente não apoia isso. É certo que todo o ser humano defende a sua individualidade mas isso não impede que se crie uma organização social em que ninguém possa ser proprietário de fábricas, empresas, terras, em que ninguém viva do trabalho alheio e todos trabalhem para o bem comum. À burguesia é que interessa convencer-nos de que isso é impossível.

Digo-lhe mais: a sucessão de crises económicas, escravização, fomes, guerras, que o capitalismo provoca vai levar-nos à necessidade absoluta de acabarmos com ele, se não queremos que ele acabe connosco. O capitalismo, esse é que é o grande problema por resolver. Por isso, eu, que fui durante anos militante do PCP e depois do PC(R), que apoiei a União Soviética, a China, a Albânia, hoje digo: é verdade que me enganei e tenho muita pena de me ter enganado. Mas durante esses anos em que apoiei um falso comunismo, estive sempre a lutar contra o capitalismo, contra o fascismo de Salazar, contra o imperialismo americano, etc. Por isso, não dou o meu tempo por perdido. Muito pior seria se não tivesse feito nada contra o capitalismo.

Estou plenamente convicto que da experiência dos falsos caminhos destes 50 anos o movimento operário há-de tirar lições para fazer melhor na próxima. Se calhar, já não será no nosso tempo, mas será um pouco o resultado de tudo aquilo que fizemos, com todos os nossos erros, para acabar com o capitalismo. Isto para lhe dizer em poucas palavras o que penso do assunto.

Quanto à sua pergunta sobre Jean-Paul Sartre, confesso que não sei muito. Penso que teve de facto posições muito firmes e independentes em certos casos, mas noutros não tanto. Vou procurar na nossa biblioteca alguma obra que lhe possa emprestar para sua informação.

Já agora, gostaria de lhe pedir uma informação, se possível. A nossa revista teve em tempos um assinante aí de (…), chamado (…), metalúrgico, que morava na Rua (…). Perdemos o contacto com ele já há bastante tempo, mas gostaríamos que ele renovasse a assinatura da revista. Escrevemos e não recebemos resposta. Será que o amigo por acaso o conhece? Desculpe fazer-lhe este pedido, mas nós tentamos alargar a distribuição da revista, arranjar novos assinantes, novos postos de venda, etc. Se puder ajudar-nos nisto, fico-lhe muito grato. Será um contributo para a revista continuar e melhorar.

 Carta a OS (3)

8/12/1993

Caro Amigo:

Caro amigo:Antes de mais, temos que lhe agradecer o interesse com que correspondeu ao pedido para indicar possíveis novos assinantes. Vamos enviar a P.O. n9 42 (a sair dentro de dias) para as pessoas que indicou com uma proposta para se tomarem assinantes. Veremos se alguns aceitam.

Quanto à sua opinião sobre a necessidade de mudar o nome da revista para ter mais aceitação, embora eu pessoalmente discorde, reconheço que a proposta já tem sido levantada por outras pessoas e que há alguns argumentos nesse sentido. Publicamos essa passagem da sua carta na P.O. 42 e tenciono fazer um artigo sobre o assunto no número seguinte, se for capaz.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar os aspectos revolucionários de Mao, sobretudo nos anos da luta contra Chiang Kai-chek, os japoneses e os americanos. A revolução chinesa não deu o socialismo que muitos de nós esperávamos mas arrancou o povo mais numeroso do planeta à miséria e à ignorância feudal e deu um grande impulso às lutas anti-imperialistas em todo o mundo. Como estaria hoje o mundo se não tivesse havido revolução popular na China? É isto mais ou menos que tentaremos dizer.

Não esqueci o seu pedido sobre Sartre mas não encontrei nada na nossa biblioteca e tento conseguir junto de pessoas amigas. Por hoje é tudo. Aceite um abraço e desejos de um ano novo melhor que este.

Carta a OS (4)

14/2/1997

Caro Amigo:

Só agora respondo às suas cartas, devido à acumulação de trabalho. A P.O. nº 58 está finalmente na tipografia e em breve a receberá. Julgo que terá recebido o livro “Os meus anos com o Che”, pago por seu cheque em Dezembro passado e que o relato lhe tenha interessado. Fica-se com uma ideia viva da força dos sentimentos anti-imperialistas na América Latina, onde não há país que não tenha sofrido interferências e golpes militares inspirados pelos Estados Unidos. Quanto a futuras edições nossas, as perspectivas não são boas. São raros os livros que não dão prejuízo e não temos capacidade financeira para aguentar. Possivelmente iremos suspender por alguns meses a edição de livros para manter só a revista.

Sem outro assunto, envio as minhas cordiais saudações.

 

 

 

 

Cartas a AS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a AS (1)

25/5/1991

Caro Camarada:

(…)

Estamos a preparar já o nº 31, a sair nos primeiros dias de Outubro. Escusado será di­zer que se tiver algum tema que ache interessante pode escrever-nos e, uma vez apreciado pela redacção, pode ser publicado como correspondência ou de outra forma, com ou sem o seu nome, como lhe convier melhor. Também quaisquer dados ou informação ue possamos incluir em artigos da redacção, etc.

O nosso desejo é tornar a revista mais viva e mais concreta nas suas denúncias deste totalitarismo capitalista que se faz passar por cordeiro democrata. Saudações

Carta a AS (2)

6/12/1993

Caríssimo Camarada:

Por esta altura já deve ter recebido o n® 41 da nossa revista que lhe tinha faltado e que enviámos assim que recebemos a sua queixa. Não sabemos a que se deveu a falta porque a expedição foi à volta de 10 de Outubro e, como sempre, verificamos pelo ficheiro para que não falhe nenhum assinante em dia. Deve ter-se extraviado. Agora vamos expedir o nº 42, talvez no fim de semana.

Estamos a fazer o possível por que não se verifique o seu receio de irmos a pique por dificuldades financeiras. E verdade que as dificuldades existem desde o primeiro dia que começámos, mas mantemos uma equipa que põe muito do seu trabalho para poupar ao máximo as despesas. Só graças a isso nos temos aguentado sem nos encostarmos a apoios partidários que nos retirariam independência.

É claro que não temos nada contra os partidos em si e gostaríamos muito se houvesse um partido a que nos pudéssemos ligar, mas não dos que por aí se dizem de esquerda, todos tão instalados no sistema que já têm medo que ele venha abaixo. Não temos dúvida de que uma revolução socialista surgirá, mais tarde ou mais cedo, em qualquer parte do mundo. A burguesia deita foguetes com o descrédito do marxismo mas tem vistas curtas. Nem repara que é ela própria que deita as sementes da revolução todos os dias e vai cavando alegremente a sua sepultura. Agora se isso será nos nossos dias é que é mais difícil de dizer.

Esperamos que a revista continue a merecer o seu interesse. Ficamos como sempre abertos a informações ou colaborações que nos queira mandar. Aceite o nosso abraço.

Segunda carta ao MLP (3)

Francisco Martins Rodrigues

Segunda carta ao MLP (3)

  1. Situação no movimento ML

Enviámos o nosso Manifesto e a revista a 25 partidos ML, propondo a troca de publicações e de pontos de vista, mas, a não ser da vossa parte doe  “Progressive Labor Party”, não obtivemos resposta. O PC do Brasil devolveu-nos os documentos classificando-nos de trotskistas.

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Imperialismo e Terceiro Mundo

Francisco Martins Rodrigues

Imperialismo e Terceiro Mundo

Voltando ao problema dos “erros” de Marx, Ellen Meiksins Wood nota que o traço característico do Capital é analisar o capitalismo como se fosse um sistema fechado, e nessa base traçar a sua lógica interna, ao passo que hoje se tornou um sistema universal, com as distorções que isso acarreta (Monthly Review, 2/49, pp. 2-3). Se recordarmos que no tempo em que o Capital foi escrito o capitalismo era um fenómeno localizado à Europa e à América do Norte – e mesmo na Europa a situação ainda levava Marx a avisar os alemães que algum dia teriam que seguir as pisadas da Inglaterra -, teremos uma noção da profundidade da mudança ocorrida desde então.

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A Revolução Russa e os seus equívocos

Francisco Martins Rodrigues

A Revolução Russa e os seus equívocos[i]

Numa situação revolucionária que estava longe de existir na Europa, o facto de a revolução russa ser conduzida pelos operários não lhe alterava o carácter burguês, etapa essa já ultrapassada na quase totalidade dos países europeus. O imperialismo acarretava na Europa a proliferação cm larga escala de forças contra-revolucionárias, levantando entraves imprevistos à revolução socialista.

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Notas para discussão

Francisco Martins Rodrigues

Notas para discussão

Partimos há dez anos com a convicção de iniciar a marcha para um novo partido comunista e um novo movimento comunista internacional; julgávamos que bastaria corrigir o desvio centrista que assaltara a corrente M-L para retomar os carris do leninismo e da revolução russa.

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