O Futuro Era Agora

Agora em https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/futuro/index.htm

O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril

Edições Dinossauro


Primeira Edição: 1994
Coordenador: Francisco Martins Rodrigues

Colaboraram na recolha e tratamento dos textos : Ana Barradas; Angelo Novo; António Barata; António Castela; Beatriz Tavares; Filipe Gomes e Rogério Dias Sousa

Capa: António Barata

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: © Edições Dinossauro


Índice

capa
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Os 580 dias

Prefácio

Cronologia

Molotovs no Palácio de Cristal, Rogério Dias de Sousa

O mestre disse que a Pide tinha fugido, Maria Luísa Ernesto

As perdizes, Cândido Ferreira

Durante três dias mandámos no quartel, Manuel Figueira

Toda a gente empenhada em mudar a vida, Jorge Falcato Simões

Obrigámos o Jaime Neves a recuar, Manuel Monteiro

Da JUC para a fábrica, Berta Macias

O assalto à esquadra das Antas, José Carretas

Sindicalismos em conflito, Custódio Lourenço

Foi a minha universidade, Maria de Lurdes Torres

A “revolução” no Estado Maior, António S

Autogestão na Sogantal, José Maria Carvalho Ferreira

Assobiámos o Spínola no 25 de Abril, Amílcar Sequeira

Um jornal diferente, Júlio Henriques

Sem o 25 de Abril seria uma patetinha, Helena Faria

Revistar os carros da polícia, Luís Chambel

Meu saudoso PREC, João Azevedo

Despertar dum sindicato, Vítor Hugo Marcela

Ambição era tomar o poder, Joaquim Martins

Alegria e candura, José Manuel Rodrigues da Silva

Tudo era tratado na comissão, Maria da Graça Duarte Silva

O “Che” a falar na praça, pendurado num eléctrico, Paulo Esperança

Alegria nos arrabaldes, Fernando Dias Martins

Confrontos nas ruas do Porto, Alberto Gonçalves

Os partidos não me diziam grande coisa, Maria Amélia da Silva

Passámos de caçados a caçadores, António José Vinhas

Não soubemos explorar a crise de poder, Mariano Castro

O único perigo era para a direita, Vitorino Santos

Primeiros passos da Reforma Agrária

Fazer frente aos pcs não era pêra doce, José Paiva

Lisboa – Luanda, Orlando Sérgio

Foi uma descoberta, Bárbara Guerra

Reunião de prédio, Pedro Alves

O Pires Veloso dormia na cave, José Guedes Mendes

A militância era uma festa, Nela

Os soldados não ligavam aos oficiais, Manuel Borges

Vivi por antecipação a derrocada, Helena Carmo

Sempre atrasados, José Manuel Vasconcelos Rodrigues

Uma estranha liberdade, Rita Gonçalves

Falharam os três D, Mário Viegas

O povo à porta do quartel a pedir armas, José Manuel Ferreira

Despertei no 25 de Novembro, Altamiro Dias

O povo em armas? Uma fraude, Tino Flores

Como entrei nas “catacumbas”, “Brezelius”

Andei a vasculhar a sede da PIDE, Avelino Freitas

Comecei a pensar no que poderia vir, Maria da Glória R. Borges

Dormir ao relento à porta da fábrica, Maria Luísa Campina Segundo

O poder parecia tão próximo…, Fernando Reis Júnior

Um cabo-verdiano em Lisboa, Álvaro Apoio Pereira

Os polícias de braços no ar, António Castela

Uma burguesa entre operários, Marta Matos

Recordando o soldado Luís, Valdemar Abreu

Greve aos bilhetes, João Marques

Falar de Abril

25 de Abril: transformações nas escolas e nos professores, Eduarda Dionísio….

25 de Novembro: como a esquerda foi encurralada, Francisco Rodrigues

Autonomia dos trabalhadores, Estado e mercado mundial, João Bernardo

Brandos costumes & maus hábitos antigos, Manuel Vaz

Siglas

Bibliografia


Cartas a MV – 11

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (15)

22/3/1988

Caro M:

Tenho recebido os teus bilhetes. Quanto à publicação da carta aberta aos ex-presos políticos, tudo bem. Por mim, alivia-me muito essa solução, pois estou tão sobrecarregado de tarefas que não pode­ria cumprir a promessa do artigo sobre salários em atraso. Estamos a preparar o nº 14 da P.O., para sair em meados de Abril e desta vez queremos dar maior cobertura às questões do trabalho, o que exige me­xermo-nos mais. Deves ter lido na imprensa que por aqui há uma certa agitação contra o pacote laboral do governo e está tudo em marcha pa­ra uma greve geral no dia 28, convocada pelas duas centrais, pela pri­meira vez unidas. Vai ser provavelmente bastante seguida mas sem com­batividade, uma espécie de protesto simbólico para pressionar o Mário Soares a não assinar a lei. a situação do movimento operário continua difícil, muita desmoralização e falta de confiança nas próprias forças. O PCP parece ainda mais paralisado devido às divergências internas, e assim deve continuar até ao congresso, em Dezembro. O Cunhal mais uma vez faz papel de “esquerdista contra os renovadores e o sentimento da base operária é de acreditar nele. Uma miséria portuguesa.

O nosso trabalho continua a romper contra ventos e marés, mas sempre os mesmos. Equilibrámos a situação financeira, que se estava a tornar uma preocupação absorvente, e estamos a tentar abrir-nos um pouco mais. Apesar do ambiente de derrotismo, há algumas pontas a ex­plorar. É preciso porque a expansão da revista continua bloqueada e a nossa influência não sai dum círculo muito restrito de amigos.

Recebeste a P.O. 10 que te faltava? Quanto às contas que pedis­te, a situação é a seguinte: (…). Agora, desta importân­cia deverias deduzir as revistas não vendidas, assim como despesas que tens feito com o envio do “Monde”, etc. Conclusão: tu verás se podes mandar mais alguma massa. (…).

Quanto a encomendas: poderias obter-nos “L’état du Monde” 1987? Envia sempre o “Monde”, tem interesse. O ZM telefonou-me a di­zer que vai aí no fim deste mês, será uma oportunidade de fazerem o ponto da situação na emigração. Um abraço

 

 

Cartas a MV – 3

 Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (5)

18/10/1985

Como vão de saúde? Esperamos que não vos tenha desiludido o nº 1 da PO, de que enviámos 13 exemplares. Para a venda aí vocês verão o preço a fixar, tendo em conta despesas de correio. Se houver aí pessoas a quem vos pareça que vale a pena fazer uma oferta, propondo que se tornem assinantes, não hesitem em fazê-lo. Oferecemos aqui umas dezenas, até para levar a revista ao conhecimento de pessoas que nos interessa tocar. Seguem junto alguns exemplares da carta de oferta e boletins de assinatura. Se precisarem de mais exemplares, apressem-se a fazer a vossa encomenda porque a tiragem está quase esgotada. Temos feito uma boa venda militante em Lisboa e Perto, em empresas e locais de passagem. A saída nas livrarias também tem sido boa, graças às notícias que saíram na imprensa (junto fotocópia).

Seguiu para todos os partidos e grupos M-L, com proposta de permuta, mas até agora sem reposta, à excepção do grupo americano (“Workers’ Advocate”).

A opinião geral dos camaradas e amigos foi bastante favorável. Fizemos no passado dia 12 um encontro a que comparecem, além de membros da OCPO, 15 amigos, sobretudo operários. Discutimos a orientação da revista, as eleições legislativas e problemas do movimento operário. Agora falta vocês também darem as vossas críticas, sugestões e colaborações.

Estamos a preparar o nº 2, a sair em fim de Novembro. Inclui artigos sobre a crise e reconstituição da família na União Soviética, papel dos comités de fábrica e dos sovietes na revolução russa, lutas internas no PCP, crítica à política do PC do Brasil, a restauração do capitalismo na China, actualidade política, entrevista com operários dos STCP, etc. Traz também o segundo artigo sobre a imi­gração em França, adaptado pelo MC a partir do que mandaste. Parece-nos muito interessante incluir uma carta de Paris, comentando questões da actualidade política em França. Pode ser? Seria necessário que cá estivesse até 7-10 Novembro, o mais tardar. Pedimos também ao PA uma carta de Londres mas até agora não temos resposta.

Vamos iniciar neste nº 2 uma secção de cartas, aberta a opiniões polémicas, críticas, sugestões. Se nos puderem enviar as vossas ideias sobre o nº 1 em carta, seria óptimo para publicar. Outro pe­dido urgente: consta aqui, segundo várias fontes bem informadas, que o M é bom caricaturista: será possível contarmos para o nº 2 com alguma caricatura ou desenho teu? Caso seja possível para já, também nos interessaria se nos enviasses bonecos recolhidos na imprensa aí. Queremos muito melhorar o aspecto gráfico e a qualidade das fotografias.

Outros materiais – Recebemos os jornais e revistas do PC do B, que estamos a aproveitar para um artigo. Tudo o que nos possam enviar da imprensa ML é do máximo interesse, para nossa informação e para alimentar a secção do Debate internacional. Lembramos a necessida­de de reatarem o envio dos cadernos de Kessel. Quanto à “Afrique-Asie”, não nos parece que justifique a despesa, porque tem uma in­formação limitada e uma orientação estreita. Se nos puderem mandar alguma coisa com documentação para artigos internacionais, nem que seja o “Monde Diplomatique”, valeria mais a pena.

Quanto a livros, pedimos que o M retome logo que possa o envio das fotocópias de textos da IC, como vinha fazendo. Mando junto uma lista do que recebemos, até agora, para evitar repetições. Além disso, dois títulos em que estamos interessados, se não for muita despesa:

  • biografia de Bukarine pelo prof. Cohen (EUA) – Galimard
  • Robert Linhart – Lénine, les paysans, Taylor – la Brèche, 9, rue Tunis.

Finanças – O RO entregou 2 contos vossos. A nossa empresa gráfica está a andar e temos algumas boas encomendas em perspectiva. Mas para tirarmos todo o rendimento da máquina de composição temos de lhe adaptar um disco especial, que permite gravar todo o texto, fazer emendas, etc., antes de passar ao papel. São mais 500 contos que vamos ter de gastar e estamos a apelar ao apoio de todos os camaradas. Contamos com a vossa boa vontade, na medida das vossas pos­sibilidades. Como a compra do offset parece não se concretizar, pedimos que nos canalizem para cá as vossas quotas ou outras contribuições sempre que possível. As assinaturas da revista são outra forma importante de ajuda e tem que ser feito um grande esforço porque ainda só vamos em 50 assinaturas, o que é ridículo.

OCPO- em reunião recente da direcção verificou-se que a absorção das tarefas de redacção e técnicas-comerciais, embora fosse inevitável, tem provocado um certo esvaziamento da frente da actividade política, sindical, etc., que não têm ganho corpo. Só com tarefas ideológicas e técnicas não se motivam muitos camaradas para uma actividade militante. Decidimos dar maior apoio político aos núcleos e tomar iniciativas para furar no terreno sindical, sem deixar de manter o centro dos esforços na saída e melhoria da revista.

Acerca das eleições legislativas,contamos enviar-vos uma apreciação em breve, assim como perspectivas quanto às presidenciais.

Um abraço

 

LIVROS EM FOTOCÔPIA (já recebidos)

  • Actas do I congresso da IC
  • Actas, resoluções, etc., entre o I e II congressos
  • Programme de 1’IC (VI congresso)
  • Resoluções da IX sessão plenária do CEIC, 60 pág.
  • X sessão plenária, 88 pág.
  • Teses e resoluções da XI sessão plenária, 42 pág.
  • Les PC et la crise du capitalisme, Manuilski, XI sessão plenária, 14-4 pág.
  • Correspondence Internationale, nº especial VI congresso
  • Correspondence Internationale, nº especial VII congresso
  • Le chemin de l’IC, 1934,54 pág.
  • Le fascisme, la social-démocratie et les communistes, Knorine, 1934, 55 pág.
  • L’IC et ses sections, Bewer, 1932, 102 pág.
  • Questions d’organisation, Kaganovitch, 1934,116 pág.
  • L’lC, Georges Cogniot, 1969, 158 pág.
  • Cahiers d’Histoire de l’Institut Maurice Thorez, nº 34 e nº 12
  • Histoire du bolchévisme, Arthur Rosenherg
  • Les bolchéviks et la lutte pour le pouvoir, B.Nikolaievski
  • Colloque International Karx-marxismes, Agosti, etc.,

 

Cartas a VCS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a VCS (1)

20/5/1994

Caro Amigo:

Agradeço a sua carta e a assinatura. Como já foi distribuída a P.O. n° 44, envio-lha junto, ficando a assinatura válida até ao n° 48 inclusive. Quanto à crítica que faz pela minha não comparência no programa da SIC, eu dar-lhe-ia razão se à partida tivesse alguma esperança de poder expor seriamente opiniões durante o debate. Mas sei que, na maioria das “mesas redondas” que se fazem actualmente na televisão, não é dada nenhuma oportunidade de debater ideias. O “moderador” interrompe quando muito bem entende, salta dum assunto para outro, faz perguntas imbecis, etc. Aquilo a que assistimos todos os dias na televisão é mais a combates de boxe ou touradas do que a verdadeiros debates. E é natural que assim seja, porque a única coisa que interessa às empresas é fugir aos problemas políticos de fundo e sobretudo fazer escândalo para aumentar a audiência e venderem mais publicidade. Foi o que se viu há dias com o inspector da P1DE convidado a ir à SIC em vésperas do 25 de Abril.

Admito que uma pessoa com muito calo, sangue frio e reflexos muito rápidos possa, mesmo assim, só com pequenas intervenções e apartes, transmitir a mensagem aos espectadores, mas sei que, infelizmente, não tenho essas qualidades, de maneira que só me resta aguardar a hipótese de me convidarem algum dia para um debate com o mínimo de decência (?).

Tenciono publicar a sua carta no próximo número da revista, se não vir inconveniente, e espero que a revista lhe interesse. Aceite as minhas saudações

 Carta a VCS (2)

16/1/1995

Caro Amigo:

Inteiramente de acordo consigo quanto ao significado da luta dos vidreiros da Marinha Grande. Estamos a procurar dar-lhe o devido destaque na próxima P.O., assim como à luta dos mineiros do Pejão. Em conjunto, dão indícios de que alguma coisa pode estar a mudar no ambiente social, de modo a tirar a classe operária do gueto em que foi lançada pela ofensiva burguesa.

Em resposta à sua pergunta, informamos que a sua assinatura termina no próximo n° da revista ( (48), pelo que lhe enviamos junto um boletim de renovação. Agradecendo os votos de longa vida que faz à nossa revista, enviamos as nossas saudações.

 Carta a VCS (3)

31/3/1996

Caro Amigo:

Muito agradeço o cuidado que teve em informar-me do falecimento do nosso querido amigo Pedro Silva. Ainda pude deslocar-me à igreja para apresentar pêsames à família. Infelizmente, não encontrei alguns dos seus amigos de há vários anos que o acompanharam nas actividades sindicais e políticas e que, por desconhecimento da notícia, não lhe puderam prestar a sua homenagem.

A sua carta, assim como a nota dele, saem no próximo n° da revista, muito em breve, espero. Tomei boa nota da renovação da sua assinatura e agradeço, em nome do colectivo, o apoio que nos enviou.

Esperando continuar a merecer o seu interesse, aceite as minhas saudações.

Carta a VCS (4)

15/10/1998

Caro Amigo:

Receberá dentro de dias a PO. Como verá, tomámos a liberdade de publicar apenas uma parte do seu artigo. Deveu-se isto ao facto de já termos um artigo sobre o assunto da regionalização, da responsabilidade da redacção, e de o espaço não chegar para tudo. Apesar de tudo, creio que conservámos o essencial da sua opinião sobre o assunto, que coincide aliás com a nossa: vamos apelar à abstenção. O desenrolar da campanha e dos argumentos apresentados por uma parte e outra só nos confirma na ideia de que esta “batalha” fictícia é completamente estranha aos interesses dos trabalhadores e do povo em geral. E é uma boa maneira de fazer passar desper­cebido o novo pacote laboral, que não interessa ao Governo nem à oposição de direita que seja discutido.

Aceite as nossas saudações

 

 

Cartas a FPD

Francisco Martins Rodrigues

Carta a FPD (1)

31/8/1998

Exmª Senhora

Com algum atraso, de que desde já pedimos desculpa, respondemos à sua carta de 21 de Julho. Gostaríamos de corresponder à sua proposta de intercâmbio e colaboração, mas existe um mal-entendido: não somos anarquistas. Somos mencionados na revista “Utopia” apenas porque fazemos permuta com essa revista. Do mesmo modo, a editora a que estamos ligados, edições Dinossauro, e a sua publicação “Contraponto”, não são de orientação anarquista. A propósito, podemos esclarecer que a “Utopia” continua a publicar-se.

Sem outro assunto, somos, com os melhores cumprimentos,

Carta a FPD (2)

15/10/1998

Cara Amiga:

Correspondendo ao seu interesse em conhecer mais sobre as nossas posições envi­amos-lhe, a título de oferta, o último número da nossa revista. Se estiver interessada em assiná-la, poderá preencher a ficha que juntamos, devolvendo-a com cheque ou vale postal ao nosso endere­ço. Enviamos também um catálogo das edições Dinossauro, a que estamos ligados, para lhe permi­tir conhecer o tipo de livros que editamos.

Com os nossos melhores cumprimentos

Carta a FPD (3)

9/3/1999

Cara Amiga:

Respondemos com atraso às suas duas cartas, esperando que não nos leve a mal, mas isso deve-se às nossas dificuldades já conhecidas neste tipo de publicações. Agrada-nos saber que tem apreciado as revistas que lhe enviámos. A propósito, um esclarecimento: a secção “Livro negro do capitalismo” não tem nada a ver com o livro do mesmo nome que foi há tempo publicado; resolvemos chamar assim a uma série de artigos de nossa autoria, depois de ter saído o “Livro negro do comunismo”. Vamos continuar nos próximos números, porque a lista dos crimes do capitalismo é realmente inesgotável.

No que se refere à sua produção poética, agradecemos a oferta, mas, como terá visto, não temos na revista uma secção de poesia, a não ser a divulgação que fazemos na contracapa de poesias de autores célebres. Se tiver interesse em colaborar com quaisquer apreciações ou comentários políticos, por exemplo, sobre a situação na Madeira, teremos muito gosto em apreciar o seu trabalho

Quanto à sua pergunta sobre a nossa filiação política: somos um pequeno núcleo de antigos membros do PC(R) e da UDP, que abandonámos cm 1984 e a nossa actividade está por agora bastante limitada à edição da revista e pouco mais. Por acaso, estamos neste momento a participar numa comissão para a comemoração do 25 de Abril popular, em contraponto com as comemorações oficiais, carregadas de muita hipocrisia, como decerto sabe. Como base para a nossa iniciativa, elaborámos um Apelo de que lhe mando cópia. Destina-se a ser publicado com assinaturas de apoio. Se por acaso estiver de acordo com ele e conhecer outras pessoas interessadas, poderia devolvê-lo para o nosso endereço até ao fim deste mês com as assinaturas recolhidas.

Por agora é tudo. Aceite as nossas saudações amigas.

Carta a FPD (4)

6/7/1999

Estimada Amiga:

Devo-lhe desculpas por estar a responder a três cartas suas e não ter acusado recepção das assinaturas que com tão boa vontade recolheu para o apelo do 25 de Abril. Aconteceu que o nosso empenhamento na comemoração do 25 de Abril e, logo a seguir, numa campanha contra a intervenção da NATO nos Balcãs, nos obrigou, dado as nossas reduzidas forças, a deixar para trás outras coisas. Entre elas, a correspondência, que se foi amontoando, e não foi só o seu caso.

Mando-lhe junto os dois últimos números da P.O., que julgo ainda não conhece. Por eles verá que a sua assinatura e as que recolheu não constam do Apelo que foi divulgado. Lamentavelmente, para imprimirmos e divulgarmos o Apelo com a devida antecedência, não pudemos esperar pelas assinaturas todas, pelo que muitas enviadas de fora pelo correio não foram incluídas. Pensamos fazer oportunamente uma reedição incluindo todas as assinaturas que não entraram na primeira. De qualquer modo, o objectivo principal, que era levar ao conhecimento de mais pessoas o documento e ganhar a sua adesão, não foi perdido. Ficamos-lhe gratos pelo esforço que desenvolveu para divulgar aí (…) este Apelo. Talvez lhe permita abordar futuramente algumas dessas pessoas para outras iniciativas ou dar-lhes a conhecer a nossa revista.

Mando também junto uns folhetos editados pelos colectivos “Acção contra a Guerra”, constituídos por diversas pessoas de esquerda aqui em Lisboa e que têm desenvolvido propaganda contra os bombardeamentos “humanitários” da NATO: fizemos sessões públicas, distribuímos panfletos, colámos cartazes, etc. Este grupo de pessoas tenciona agora dar continuidade ao trabalho de contra-informação editando uma folha com notícias acerca dos crimes do imperialismo americano e europeu. Quem sabe, talvez possa vir a formar aí (…) um colectivo para divulgar esta folha? Logo que houver mais publicações enviar-lhe-ei.

Por hoje ê tudo. Se tiver algumas informações daí, recortes da imprensa, etc., que lhe pareçam úteis para comentar na nossa revista, agradeço que mos envie. Renovando as minhas desculpas pelo atraso, aceite as minhas saudações

                                                                                                                                                        

 

A Revolução Russa e os seus equívocos

Francisco Martins Rodrigues

A Revolução Russa e os seus equívocos[i]

Numa situação revolucionária que estava longe de existir na Europa, o facto de a revolução russa ser conduzida pelos operários não lhe alterava o carácter burguês, etapa essa já ultrapassada na quase totalidade dos países europeus. O imperialismo acarretava na Europa a proliferação cm larga escala de forças contra-revolucionárias, levantando entraves imprevistos à revolução socialista.

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A arma do ódio de classe

Francisco Martins Rodrigues

“A organização é a arma dos oprimidos”. Falso. A organização é um instrumento indispensável, mas se fosse essa a nossa arma para vencer os opressores estávamos bem lixados. A arma dos oprimidos é o ódio aos opressores, e não há outra, nem nunca houve.

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A ruptura com o PCP em 1964-1965 (3)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (3)

Uma polémica não tão antiga: o reformismo é um beco sem saída

Quando insistimos em conceber a política como um método para ganhar as massas para a ideia do derrube da ordem burguesa, o que implica promover a hegemonia do proletariado pela crítica da pequena burguesia, e portanto combater o oportunismo nas fileiras revolucionárias, e portanto construir um partido capaz de se revolucionarizar permanentemente… suscitamos o escárnio dos representantes da “esquerda moderna”. Consideram a nossa concepção da política como “sectária”, como um “esquema que já não é do nosso tempo”, responsável pelas derrotas da esquerda no passado e cuja única função seria justificar “seitas de iluminados”. Continuar a ler

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

A saída do capitalismo só pode ser encontrada pelo proletariado

A crítica de 1964 pôs o dedo na ferida do reformismo que submetia o proletariado à burguesia liberal, em nome das exigências do antifascismo. Faltou-lhe muito, porém, para ser uma plataforma comunista coerente e essa falta esteve na origem dos problemas que levaram o movimento nascente dos marxistas-leninistas a desagregar-se, duas décadas mais tarde. Continuar a ler

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Duas linhas opostas na luta contra a ditadura de Salazar

Este texto recupera um conjunto de artigos escritos quando do meu abandono do PCP cm 1963, já lá vão 40 anos. Editados no ano seguinte em Paris, na revista Revolução Popular, do Comité Marxista-Leninista Português (à excepção do primeiro, publicado cm panfleto nos finais de 1963), há muito esquecidos, tiveram contudo na altura, apesar da circulação reduzida, uma influência indiscutível nos meios mais radicalizados da resistência, sobretudo entre a juventude. Basicamente, abriram a discussão sobre qual deveria ser a política comunista para o derrubamento da ditadura fascista, quando o início das guerras coloniais anunciava a crise final desta.

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