Carta a SV

Francisco Martins Rodrigues

Carta a SV

13/5/1992

Caro Amigo:

Registei a renovação da sua assinatura por 10 números (dois anos) e inscrevi o restante do seu cheque como apoio à revista, que agradeço. As dificuldades financeiras são grandes mas tencionamos continuar, graças ao apoio de assinantes e amigos como é o seu caso.

Transcrevemos na próxima «P.O.», na secção de Cartas, a sugestão que faz quanto a uma candidatura de esquerda à presidência. Infelizmente, não creio que seja viável, porque se chegou a uma situação de completa dispersão. Vão passar alguns anos antes que as ideias de esquerda recuperem influência nos trabalhadores.

A propósito, não sei se viu um programa de televisão recente em que o marechal Costa Gomes, ao mesmo tempo que fazia críticas certeiras ao Spínola, falava da sua intervenção pessoal nas guerras coloniais em termos bastante reaccionários, sem qualquer autocrítica pelo papel que teve no tempo da ditadura fascista. São muito poucos hoje os militares de Abril que assumem posições de esquerda.

Mando junto a P.O. nº 34 que suponho que já não recebeu por ter caducado a assinatura. Por agora, é tudo. Aceite as minhas saudações.

 

 

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (3)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (3)

Uma polémica não tão antiga: o reformismo é um beco sem saída

Quando insistimos em conceber a política como um método para ganhar as massas para a ideia do derrube da ordem burguesa, o que implica promover a hegemonia do proletariado pela crítica da pequena burguesia, e portanto combater o oportunismo nas fileiras revolucionárias, e portanto construir um partido capaz de se revolucionarizar permanentemente… suscitamos o escárnio dos representantes da “esquerda moderna”. Consideram a nossa concepção da política como “sectária”, como um “esquema que já não é do nosso tempo”, responsável pelas derrotas da esquerda no passado e cuja única função seria justificar “seitas de iluminados”. Continuar a ler

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

A saída do capitalismo só pode ser encontrada pelo proletariado

A crítica de 1964 pôs o dedo na ferida do reformismo que submetia o proletariado à burguesia liberal, em nome das exigências do antifascismo. Faltou-lhe muito, porém, para ser uma plataforma comunista coerente e essa falta esteve na origem dos problemas que levaram o movimento nascente dos marxistas-leninistas a desagregar-se, duas décadas mais tarde. Continuar a ler

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Duas linhas opostas na luta contra a ditadura de Salazar

Este texto recupera um conjunto de artigos escritos quando do meu abandono do PCP cm 1963, já lá vão 40 anos. Editados no ano seguinte em Paris, na revista Revolução Popular, do Comité Marxista-Leninista Português (à excepção do primeiro, publicado cm panfleto nos finais de 1963), há muito esquecidos, tiveram contudo na altura, apesar da circulação reduzida, uma influência indiscutível nos meios mais radicalizados da resistência, sobretudo entre a juventude. Basicamente, abriram a discussão sobre qual deveria ser a política comunista para o derrubamento da ditadura fascista, quando o início das guerras coloniais anunciava a crise final desta.

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O período dos grupos

Francisco Martins Rodrigues

[i]O período dos grupos[ii]

A partir de 1968, passado o marasmo que se seguiu a destruição da FAF, a influência da “revolução cultural” chinesa, dos movimen­tos de libertação e guevaristas, dos movimentos radicais na Europa, da reanimação da oposição sob o marcelismo (campanha eleitoral da CDE em 1969) provocou a multiplicação de grupos maoístas entre os estudantes avançados que descobriam o reformismo do PCP.

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O corte com o PCP

Francisco Martins Rodrigues

O CORTE COM O PCP [1]

1 – A apreciação do PC(R) sobre os grupos ML só ressaltou os seus aspectos negativos. Para abater os laços grupistas, as barreiras de desconfiança entre os membros dos diferentes grupos e e autori­dade dos seus chefes, apresentou-se esse período como uma aberra­ção pequeno-burguesa. O partido não precisa de denegrir os grupos para se elevar.

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