Cartas a JV – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JV – 2

22/10/1989

Caro Amigo:

Já lá vai mais de um ano que não temos contacto. Isso foi devido em parte à perspectiva que chegou a haver de que um amigo nosso (…) pudesse passar por Paris (…) levar-lhe uma carta minha, perspectiva que infelizmente não chegou a concretizar-se. Eu, pela minha parte, também planeio periodicamente ir aí, mas acabo sempre por ter que adiar.

Espero que esteja a receber regularmente a nossa revista e que ela não tenha desapontado as suas expectativas quanto à discussão dos problemas postos ao marxismo pela falência das sociedades de Leste. Sem dúvida temos um desacordo fundamental quanto ao leninismo, o papel do partido político da classe operária, etc. Estou convencido de que a liquidação final do tipo de regime a que nos habituámos a chamar comunista e o que virá a seguir contribuirão para fazer avançar as polémicas em torno desta questão. Uma coisa me parece indiscutível: é que foi Lenine que chefiou a revolução real que até hoje levou mais longe a expropriação da burguesia e isso parece-me um bom critério para me considerar leninista.

Mesmo com atraso, tenciono fazer uma referência crítica aos seus livros que teve a gentileza de me oferecer e que levantam muitos problemas interessantes. Por correio separado mando três suplementos da PO com traduções em francês de alguns artigos nossos, o que talvez lhe permita levá-los ao conhecimento de camaradas franceses.

Sem mais por agora, envio as minhas saudações cordiais

Cartas a JM – 11

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 11

20/10/1989

Caro Camarada

Respondemos â tua carta de 19 de Agosto. Recebemos as fotocópias da tradução do Anti-Dimitrov, que precisam de facto de muitas correcções, que temos estado a fazer. Esperamos que esteja pronto muito em breve e enviaremos para a Elisabeth. Não estamos a ver muito bem as possibilidades da edição. Por isso pensamos que seria bom se pudesses contactar mais com ela, para ver como correm as coisas e para dares uma ajuda, se necessário.

Também recebemos a fotocópia que nos mandaste sobre os bolcheviques. Já conhecíamos, e pareceu-nos um livro muito importante[i], mas como não temos nenhum exemplar, este faz-nos muito jeito para continuar o estudo.

Enviámos-te recentemente a PO 21 e suplementos em francês na esperança que isso te permita fazer aí mais propaganda das nossas posições. Em breve enviaremos alguns outros suplementos em francês. Não mandámos à V, como era nosso desejo, porque perdemos a morada. Agradecemos que nos indiques qual é, para mandarmos os próximos. A nossa actividade continua bastante restrita. Temos pena de não ter mais notícias das tuas actividades sindicais (ou políticas, ou outras).  Continuam de pé os teus planos de regressares um dia? Cá te esperamos.

É tudo. Ficamos à espera de carta tua. Um abraço.

[i] Actas das reuniões do CC do Partido Bolchevique no período de Agosto de 1917 a Fevereiro de 1918, com apresentação de Giuseppe Boffa. (Nota de AB)

Cartas a JM – 10

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 10

14/6/1989

Caro Z.:

Os nossos contactos continuem demasiado espaçados, não será possível escreveres ou telefonares de vez em quando? A frente eleitoral de que te falei naufragou, tivemos que nos retirar já depois de iniciada a campanha eleitoral por não conseguirmos manter em respeito os nossos “sócios” trotskistas, que se aproveitavam de ter o 1º candidato para nos dar golpes sucessivos e darem um tom moderado e frouxo, reformista, à campanha. Fui ingénuo em julgar possível, com as nossas curtas forças, neutralizar o oportunismo dos tipos. Apesar do descrédito que causam estes incidentes, tivemos que nos decidir a sair. Apelamos à abstenção num comunicado.

5oube que tens em teu poder as provas do “Anti-Dimitrov” [tradução em francês]. Podes enviar para cá a diskete da Elisabeth para eu fazer a correcção finai que for precisa?

Não te esqueças de dar notícias. Receberás em breve a PO 20. Um abraço

Cartas a JM – 7

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 7

20/11/1988

Caro Z.:

Enquanto aguardamos notícias tuas, algumas informações:

A festa da P.O. na Voz do Operário, a 12 de Novembro, foi um êxito pois, apesar da escassez das nossas forças, reunimos 200 pessoas que não foram apenas assistir a um espectáculo (como se tornou hábito ultimamente nas coisas de esquerda) mas também a uma sessão política. Fiz uma intervenção sobre os nossos objectivos e falaram dois camaradas de duas grandes empresas onde há movimentações operárias com intervenção da nossa parte (STCP e Sorefame). Houve um lanche de confraternização, venda de publicações, poemas de Brecht e no final o José Mário Branco, que expressou publicamente a sua simpatia pela P.O. Estamos satisfeitos porque o ambiente continua difícil e receávamos pouca adesão.

Ainda não sabemos quais as tuas impressões sobre o novo figurino da P.O. (recebeste os 20 exemplares que anunciei na carta de 15/10?). Pela nossa parte, embora lhe achemos várias fraquezas a corrigir, estamos animados porque pela primeira vez conseguimos distribuir toda a tiragem (1000 exemplares) em menos de um mês. Fizemos l14 bancas de venda militante, na maioria à porta de empresas, e conseguimos alguma venda. Também aumentámos bastante a colocação em barcas comerciais e quiosques. Estamos agora a. trabalhar no nº 17 (a sair para a rua só no início de Janeiro, devido aos feriados do Natal que impedem a distribuição comercial) e, para já, vamos editar mais um suplemento gratuito dedicado sobretudo ao congresso do PCP.

Sempre fizeste a viagem a Paris? Que resultados deu? 0 que viste com o MV sobre o alargamento da distribuição na emigrarão? Ficamos a espera das tuas notícias. A Elizabeth veio cá à festa, acho que levou boa impressão. Propusemos encarregar-nos da composição do “Anti-Dimitrov” em francês mas ela diz que prefere fazê-la pelos seus meios. Pensas que o calsal [sic] terá alguma possibilidade de ajudar a difusão da P.O. entre os emigrantes portugueses? Será bom, quando possas, ires conversar um pouco com eles. Entre outras coisas, poderias propor-lhes que passassem a dar uma quotização regular de apoio que sairia publicada na P.O. E não te esqueças que também tens que fixar e enviar a tua quota. E como vão os ML suiços?

Prevemos a reunião de uma assembleia em Janeiro. Seguirão mais notícias brevemente. Abraços para ti e para a V

Cartas a MV – 22

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (25)

5/6/1991

Caríssimo:

Os teus materiais têm chegado em ordem. Vi­mos o teu apelo para apoios para a saída do “Al­batroz” e, a título mais simbólico do que outra coisa, dada a nossa escassez de meios, decidimos enviar 5.000$00. Foram num vale postal para essa morada (a Ana juntou mais 1.000$00 pela despesa do livro que lhe mandaste). Ficamos à espera do material. Já chegou aí a PO 29? Enviei para as três moradas.

Estamos a preparar um pequeno manifesto para o 25 Abril / 1º Maio e um encontro do pessoal. Também pensamos fazer uma assembleia em meados de Junho, será possível contar com a tua presença?

Em breve te escrevo com mais vagar. Um abraço

Carta a MV (26)

5/6/1991

M:

Tens razão, estou bravo contigo e vou cortar todas as relações: fizeste-me outra vez a partida de passar por cá e não me passar cartão. Só tens uma desculpa, foi essa das três frentes de combate simultâneas. £ pesado para qualquer um. Da próxima, tens denúncia pública na P.O. como “elemento suspeito anarco-trotskizante”, pelo menos. O “Albatroz” está mais sumarento que os anteriores e mais politizado, pareceu-me. Fiz uma nota à pressa na última P.O. (põe-te alerta, deve estar aí a chegar!), hão conheço nada dos meios da esquerda real aí de Paris, mas parece-me que o “Albatroz” se po­de tornar um ponto de encontro de sensibilidades variadas, convivendo aí em boa paz. Pelo menos não há dúvida de que te tornaste mais atrevido nos teus contactos; agora já preparas uma colaboração do Bettelheim! Oxalá a distribuidora (…) faça alguma coisa pela revista aqui, criar um certo público aqui na parvónia seria um apoio para ter a continuidade assegurada. Nos meios da imigração por­tuguesa aí, calculo que não tenha saída, até pela pouca colaboração sobre temas que lhes digam directamente respeito. A minha colabora­ção, diz-me para quando será precisa; por acaso fiz para a P.O. um comentário justamente sobre o Papa e a religião, mas não impede que escreva outro, num registo um pouco diferente.

Esteve cá o V: interrogámo-lo sobre a saída do “Albatroz” mas ele, sempre sem querer fazer críticas, foi dizendo que tu monopolizas muito a condução das coisas. Deve ter uma parte de razão porque tu mesmo o reconheces na tua carta. A outra parte, que ele não diz, é a falta de genica dele para trabalhos desses. Só mes­mo leninistas-stalinistas-maoístas-enveristas-kimilsunguistas como nós são capazes de fazer revistas subversivas num tempo destes.

A P.O. vai na mesma, apenas um pouco mais aberta também nas colaborações,o que não nos faz mal nenhum. Romper o cerco, é a palavra de ordem do presidente Mao. Ou melhor: combinar a guerra de subterrâneos com umas sortidas fulminantes para desorientar o inimigo! Agora vamos entrar na pausa de férias e eu vou aproveitar para trabalhar dois artigos que tenho andado a adiar por falta de tempo mas que tocam em pontos sensíveis: 1) Será que o descalabro do Leste prova que os anarquistas tinham alguma razão e que o Lenine era um autoritário e o próprio Marx teria aberto a porta ao triunfo dos burocratas? 2) Será que a evolução económico-social contemporânea está a dar o golpe de misericórdia na teoria da hegemonia operária e da dita­dura do proletariado?

Atrevimento não me falta, como vês e o pior é que neste momento não faço ainda bem ideia de como responder a estas ideias. Ando a ler e a meditar, vamos a ver se daqui até Setembro não me embaraço em interrogações. Fora disto, agito-me em remorsos cíclicos por não avançar com o tão falado li­vro sobre o PCP e, como já é costume, todos os anos à entrada do Verão ponho-me a pensar que talvez tivesse tempo para…

De resto, cá vamos. O núcleo da P.O., depois de ter mirrado a olhos vistos, parece ter-se consolidado na sua travessia do deserto. Até quando? Financeiramente, acho que vamos sobrevivendo, com menos angústias do que antes.

Escreveu-nos o Paul, da “Voie Prolétarienne”, dizendo que está traduzir para francês a “Resposta aos comunistas americanos”. Tens contacto com ele? Seria bom fazermos um suplemento com este artigo e tu distribuíres aí pela tua lista de possíveis interessados.

Óptimo pela cassete do filme da Intifada, estamos a pensar numa sessão pública de aniversário lá para fins de Setembro e seria interessante. Piquei chateadíssimo com es­sa de se ter perdido o livro de Las Casas, a etiqueta ia co­lada, o que deve haver é muitos roubos nos correios aí em França. Agora não tenho nenhum outro exemplar para te man­dar mas vou pedir ao editor. Andamos a animar uma comissão contra a histeria nacionalista em torno dos Descobrimentos, contra o “regresso a África” (palavras do presidente Boche­chas) e contra a exploração dos imigrantes africanos e o racismo. Vamos a ver se singra. Depois mando-te os papéis que houver.

Quanto à eleição do Tomé na lista da CDU, em lugar cedido pelo PCP, sem comentários… O Pires deu uma entrevista ao “Expresso” justificando o acordo porque o PCP mudou, embora ainda não saiba que mudou! Autêntico! Eu a pensar que o tipo tinha entrado em depressão e eis que aí apa­rece o velho Pires todo risonho e optimista. Sou mesmo ingénuo!

Esta folha em que escrevo acabou. Não deves dinheiro nenhum à Ana. Um abraço

 

Cartas a MV – 16

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (21)

8/5/1989

Caro M:

Respondo às tuas cartas de 30/3 e 16/4. Estranho muito não teres mais uma vez recebido a P.O. Será que não está ninguém em casa da R durante o dia e o correio deita a encomenda fora? Enviei-te mais 4 ex. da PO 18 e 10 ex. da PO 19, espero que já tenhas recebido, assim co­mo a minha carta de 30/3 e alguns papéis da PER.

A candidatura está a andar. Compreendo que seria difícil a tua deslocação. Se pudesses en­viar-nos imagens (vídeo) da vida dos imigrantes aí para incluirmos no tempo de antena da TV se­ria bem bom. Quaisquer sugestões ou tópicos para metemos nos programas rádio e TV serão de grande valor, mas seria precise mandares com urgência.

Tenho recebido livros e jornais teus. O ZM telefonou há dias, está tudo bem mas difi­culdades financeiras impedem-no de ir a Paris.

A tradução francesa do Anti-Dimitrov está pronta, vou fazer uma revisão e depois edita-se. Tudo tão lento! Quando isto acalmar escrevo uma carta mais detalhada. Tivemos aqui um encontro com camara­das da Voie Prolétarienne. Confusos, pareceu-me.

Carta a MV (22)

15/5/1989

Camarada:

Um acrescento à minha carta de dia 8. Peço-te que nos informes rapidamente se tiveste conhecimento de que tenha estado alguma banca em nome da FER na festa da “Lutte Ouvrière” que se realizou em 15, 14 e 15 (acaba hoje). Isto porque nós aqui afirmámos não que­rer participar mas não temos a certeza de que os grupos trotskistas com que estamos a cola­borar na FER não nos preguem a partida de ir usar o nome da FER. Diz alguma coisa rapida­mente se puderes. E se puderes mandar algum vídeo sobre situação dos imigrantes em França mete-o no correio sem demora, para ver se ain­da incluímos no programa que estamos a prepa­rar para a campanha eleitoral.

Vamos fazer aqui um almoço anti-Salazar no dia 28 de Maio, está a haver uma recupera­ção descarada do fascismo. O Varela Gomes dis­cursa, eu se calhar também. Queres cá vir?

Um abraço

 Carta a MV (23)

14/6/1989

 Caro Camarada:

Só uma carta breve para te informar da nosso saída da frente da Esquerda Revolucionária que disputa as eleições ao Parlamento Europeu. Foi uma decisão difícil porque sabemos o descrédito que arrasta em torno da esquerda, mas não tivemos outra alternativa porque os nossos só­cios trotskistas são desleais em extremo e estavam a violar todos os acordos assinados, procurando servir-se de nós como muleta para a propaganda do seu “partido” em formação e para apresentar uma oposição moderada, reformista, que não correspondia nada ao que pretendíamos desta campanha. Como não tínhamos força para os meter na ordem (a Frente é legalmente propriedade deles), tivemos que sair. Envio comunicados e em breve poderás ver na PO 20 a análise que fazemos do incidente.

De resto, a nossa “guerra” conti­nua. E tu? Não tens mandado jornais nem livros. Não te esqueças de nós. Um abraço

 

 

 

Lettre sur le courant ML

Francisco Martins Rodrigues

Lettre sur le courant ML

Depuis notre constitution en tant que groupe indépendant il y a environ 18 mois, nous avons informé les partis ML des raisons de notre rupture avec le PC(R). Nous les avons sollicité pour en débattre et un échange de publications. Seul l’un d’entre eux nous a répondu. Continuar a ler