O Futuro Era Agora

Agora em https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/futuro/index.htm

O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril

Edições Dinossauro


Primeira Edição: 1994
Coordenador: Francisco Martins Rodrigues

Colaboraram na recolha e tratamento dos textos : Ana Barradas; Angelo Novo; António Barata; António Castela; Beatriz Tavares; Filipe Gomes e Rogério Dias Sousa

Capa: António Barata

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: © Edições Dinossauro


Índice

capa
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Os 580 dias

Prefácio

Cronologia

Molotovs no Palácio de Cristal, Rogério Dias de Sousa

O mestre disse que a Pide tinha fugido, Maria Luísa Ernesto

As perdizes, Cândido Ferreira

Durante três dias mandámos no quartel, Manuel Figueira

Toda a gente empenhada em mudar a vida, Jorge Falcato Simões

Obrigámos o Jaime Neves a recuar, Manuel Monteiro

Da JUC para a fábrica, Berta Macias

O assalto à esquadra das Antas, José Carretas

Sindicalismos em conflito, Custódio Lourenço

Foi a minha universidade, Maria de Lurdes Torres

A “revolução” no Estado Maior, António S

Autogestão na Sogantal, José Maria Carvalho Ferreira

Assobiámos o Spínola no 25 de Abril, Amílcar Sequeira

Um jornal diferente, Júlio Henriques

Sem o 25 de Abril seria uma patetinha, Helena Faria

Revistar os carros da polícia, Luís Chambel

Meu saudoso PREC, João Azevedo

Despertar dum sindicato, Vítor Hugo Marcela

Ambição era tomar o poder, Joaquim Martins

Alegria e candura, José Manuel Rodrigues da Silva

Tudo era tratado na comissão, Maria da Graça Duarte Silva

O “Che” a falar na praça, pendurado num eléctrico, Paulo Esperança

Alegria nos arrabaldes, Fernando Dias Martins

Confrontos nas ruas do Porto, Alberto Gonçalves

Os partidos não me diziam grande coisa, Maria Amélia da Silva

Passámos de caçados a caçadores, António José Vinhas

Não soubemos explorar a crise de poder, Mariano Castro

O único perigo era para a direita, Vitorino Santos

Primeiros passos da Reforma Agrária

Fazer frente aos pcs não era pêra doce, José Paiva

Lisboa – Luanda, Orlando Sérgio

Foi uma descoberta, Bárbara Guerra

Reunião de prédio, Pedro Alves

O Pires Veloso dormia na cave, José Guedes Mendes

A militância era uma festa, Nela

Os soldados não ligavam aos oficiais, Manuel Borges

Vivi por antecipação a derrocada, Helena Carmo

Sempre atrasados, José Manuel Vasconcelos Rodrigues

Uma estranha liberdade, Rita Gonçalves

Falharam os três D, Mário Viegas

O povo à porta do quartel a pedir armas, José Manuel Ferreira

Despertei no 25 de Novembro, Altamiro Dias

O povo em armas? Uma fraude, Tino Flores

Como entrei nas “catacumbas”, “Brezelius”

Andei a vasculhar a sede da PIDE, Avelino Freitas

Comecei a pensar no que poderia vir, Maria da Glória R. Borges

Dormir ao relento à porta da fábrica, Maria Luísa Campina Segundo

O poder parecia tão próximo…, Fernando Reis Júnior

Um cabo-verdiano em Lisboa, Álvaro Apoio Pereira

Os polícias de braços no ar, António Castela

Uma burguesa entre operários, Marta Matos

Recordando o soldado Luís, Valdemar Abreu

Greve aos bilhetes, João Marques

Falar de Abril

25 de Abril: transformações nas escolas e nos professores, Eduarda Dionísio….

25 de Novembro: como a esquerda foi encurralada, Francisco Rodrigues

Autonomia dos trabalhadores, Estado e mercado mundial, João Bernardo

Brandos costumes & maus hábitos antigos, Manuel Vaz

Siglas

Bibliografia


Cartas a MV – 16

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (21)

8/5/1989

Caro M:

Respondo às tuas cartas de 30/3 e 16/4. Estranho muito não teres mais uma vez recebido a P.O. Será que não está ninguém em casa da R durante o dia e o correio deita a encomenda fora? Enviei-te mais 4 ex. da PO 18 e 10 ex. da PO 19, espero que já tenhas recebido, assim co­mo a minha carta de 30/3 e alguns papéis da PER.

A candidatura está a andar. Compreendo que seria difícil a tua deslocação. Se pudesses en­viar-nos imagens (vídeo) da vida dos imigrantes aí para incluirmos no tempo de antena da TV se­ria bem bom. Quaisquer sugestões ou tópicos para metemos nos programas rádio e TV serão de grande valor, mas seria precise mandares com urgência.

Tenho recebido livros e jornais teus. O ZM telefonou há dias, está tudo bem mas difi­culdades financeiras impedem-no de ir a Paris.

A tradução francesa do Anti-Dimitrov está pronta, vou fazer uma revisão e depois edita-se. Tudo tão lento! Quando isto acalmar escrevo uma carta mais detalhada. Tivemos aqui um encontro com camara­das da Voie Prolétarienne. Confusos, pareceu-me.

Carta a MV (22)

15/5/1989

Camarada:

Um acrescento à minha carta de dia 8. Peço-te que nos informes rapidamente se tiveste conhecimento de que tenha estado alguma banca em nome da FER na festa da “Lutte Ouvrière” que se realizou em 15, 14 e 15 (acaba hoje). Isto porque nós aqui afirmámos não que­rer participar mas não temos a certeza de que os grupos trotskistas com que estamos a cola­borar na FER não nos preguem a partida de ir usar o nome da FER. Diz alguma coisa rapida­mente se puderes. E se puderes mandar algum vídeo sobre situação dos imigrantes em França mete-o no correio sem demora, para ver se ain­da incluímos no programa que estamos a prepa­rar para a campanha eleitoral.

Vamos fazer aqui um almoço anti-Salazar no dia 28 de Maio, está a haver uma recupera­ção descarada do fascismo. O Varela Gomes dis­cursa, eu se calhar também. Queres cá vir?

Um abraço

 Carta a MV (23)

14/6/1989

 Caro Camarada:

Só uma carta breve para te informar da nosso saída da frente da Esquerda Revolucionária que disputa as eleições ao Parlamento Europeu. Foi uma decisão difícil porque sabemos o descrédito que arrasta em torno da esquerda, mas não tivemos outra alternativa porque os nossos só­cios trotskistas são desleais em extremo e estavam a violar todos os acordos assinados, procurando servir-se de nós como muleta para a propaganda do seu “partido” em formação e para apresentar uma oposição moderada, reformista, que não correspondia nada ao que pretendíamos desta campanha. Como não tínhamos força para os meter na ordem (a Frente é legalmente propriedade deles), tivemos que sair. Envio comunicados e em breve poderás ver na PO 20 a análise que fazemos do incidente.

De resto, a nossa “guerra” conti­nua. E tu? Não tens mandado jornais nem livros. Não te esqueças de nós. Um abraço

 

 

 

Carta a SV

Francisco Martins Rodrigues

Carta a SV

13/5/1992

Caro Amigo:

Registei a renovação da sua assinatura por 10 números (dois anos) e inscrevi o restante do seu cheque como apoio à revista, que agradeço. As dificuldades financeiras são grandes mas tencionamos continuar, graças ao apoio de assinantes e amigos como é o seu caso.

Transcrevemos na próxima «P.O.», na secção de Cartas, a sugestão que faz quanto a uma candidatura de esquerda à presidência. Infelizmente, não creio que seja viável, porque se chegou a uma situação de completa dispersão. Vão passar alguns anos antes que as ideias de esquerda recuperem influência nos trabalhadores.

A propósito, não sei se viu um programa de televisão recente em que o marechal Costa Gomes, ao mesmo tempo que fazia críticas certeiras ao Spínola, falava da sua intervenção pessoal nas guerras coloniais em termos bastante reaccionários, sem qualquer autocrítica pelo papel que teve no tempo da ditadura fascista. São muito poucos hoje os militares de Abril que assumem posições de esquerda.

Mando junto a P.O. nº 34 que suponho que já não recebeu por ter caducado a assinatura. Por agora, é tudo. Aceite as minhas saudações.

 

 

Cartas a JRR

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JRR (1)

25/7/1991

Caro Amigo:

Segue por correio separado o livro que nos pediu. Numa outra encomenda enviamos o últi­mo número da nossa revista, esperando que lhe desperte o interesse e que o leve a tornar-se nosso assinan­te. Os preços de assinatura vêm lá indicados. Seguem também alguns folhetos dos que temos publi­cado, para ter uma ideia das nossas posições. Escusado será dizer que o conteúdo desta segunda en­comenda é grátis.

Na esperança de voltar a ter notícias suas, subscrevemo-nos, com as nossas melhores saudações

 Carta a JRR (2)

14/8/1991

Caro Amigo:

Agradecemos a sua carta e o cheque para assinatura da nossa revista. Se não vir in­conveniente, publicamos extractos da carta na próxima PO, a sair em fins de Setembro.

Esperando que a revista continue a merecer o seu interesse, enviamos as nossas sauda­ções cordiais.

Carta a JRR (3)

26/12/1991

Caro Amigo:

Atendendo o seu pedido, fazemos se­guir em dois pacotes os números disponíveis da P.O., do nº 2 ao 29. Só falta o nº 1, que há muito se encontra esgotado. O valor total consta da fac­tura junta: 3.950$00. Pode enviá-lo por cheque ou vale de correio para o nosso Apartado.

Muito agradecemos as indicações que nos enviou sobre possíveis pontos de venda da re­vista. Já transmitimos cópia da sua car­ta ao nosso núcleo de apoio no Norte, para que aproveitem as suas sugestões e tentem alargar a di­fusão. Também em Lisboa, embora com bastante mais distribuição (cerca de 50 pontos de venda), esta­mos a procurar tornar a revista mais conhecida. É uma condição vital para a nossa sobrevivência, agora que toda a gente parece estar a olhar para outros lados… Não temos dúvidas de que o ambien­te mudará quando certas ilusões se desfizerem; a questão ê mantermo-nos até lá! Um abraço

Pode dar-nos o endereço do “Barcelos Popular”?

 Carta a JRR (4)

20/4/1992

Caro Amigo:

Respondemos à sua carta de 19 de Março, de que publicámos um pequeno extracto no último nº da P.O., que já deve ter recebido e que esperamos lhe tenha agradado.

A sua sugestão de que a influência das nossas ideias poderia aumentar muito se nos transformássemos em partido político é sem dúvida verdadeira, mas infelizmente estamos muito longe de ter forças para isso. Somos apenas um pequeno grupo de propaganda do comunismo e não pretendemos fazer-nos passar pelo que não somos. Houve um tempo em que no nosso país se formavam partidos com a maior facilidade, mas os resultados para a esquerda não foram nada bons. A partir do momento em que um pequeno grupo se arvora em partido revolucionário sem ter forças para uma acção política diária e coerente, afoga-se nas questões organizativas, começa a envolver-se em manobras para aparentar uma força que não tem e perde toda a seriedade.

Por isso, embora consideremos a formação dum partido comunista revolucionário como o nosso objectivo a longo prazo, para já temos objectivos mais modestos: alargar a difusão da nossa revista e melhorar o seu conteúdo, estabelecer contactos com activistas e grupos de esquerda, desenvolver algumas campanhas políticas, como foi no caso da guerra do Golfo… Se a corrente de ideias comunistas se tornar mais forte no nosso país, a formação do partido impor-se-á a um conjunto maior de pessoas e terá uma base sólida para começar. Até lá, e no caso concreto das eleições a que se refere, não teremos outro remédio senão votar no partido que nos pareça menos mau ou abster-nos (é o que nós na P.O. temos feito).

Esperando continuar a receber os seus comentários e informações, aceite as nossas saudações cordiais

 Carta a JRR (5)

11/6/1992

Caro Amigo:

Os comentários da sua carta sobre o partido da Coreia foram aproveitados, com mais uns acrescentos da minha lavra, para um artigo na P.O. nº 35, que deve estar a receber por estes dias. Você verá, mas creio que não alterei a orientação do seu texto. Como não sabia se lhe interessava ter o seu nome na revista, assinei com as iniciais. Mais informações da Coreia ou outras, comentários ou notas suas que ache de interesse para divulgação na revista, críticas, recortes de jornais locais ou estrangeiros — tudo nos interessa. Como já deve ter visto, estamos a procurar alargar a cobertura informativa da revista, para além dos temas ideológicos. Com a falta de publicações de esquerda, a circulação de informações é uma necessidade que todos sentimos.

Ainda quanto ao tema do partido: para além de todos os inconvenientes de que já lhe falei, acresce a dificuldade que representaria para nós, nesta altura, reunir 5.000 assinaturas de eleitores proponentes do novo partido, com os respectivos certificados de eleitores, etc. Foi essa dificuldade que nos levou a entrar em colaboração com a LST (trotskista) há três anos, para concorrer às eleições para o Parlamento Europeu sob a sigla FER. A colaboração correu mal, como é norma entre pequenos grupos, e desistimos a meio da campanha eleitoral, o que foi desagradável para todos.

Vi a sua carta no «Público» de 29 de Abril. É bom furar por onde se possa para romper o unanimismo da asneira que por aí vai. Cordiais saudações.

 Carta a JRR (6)

15/9/1992

Caro Amigo:

Muito gratos pelos materiais que nos enviou e a que vamos dar o melhor aproveitamento. Junto enviamos fotocópia do artigo pedido da P.O. nº 1 sobre o Verão quente. Tomámos boa nota do novo endereço e para aí será já enviada a próxima P.O., a sair em início de Outubro.

Tendo em conta a boa vontade que manifesta em dar-nos colaboração, lembrámo-nos de lhe fazer um pedido: ser-lhe-ia possível preparar um artigo sobre o tema a que se dedica, eleições, para uma das próximas P.O., por exemplo a repartição de forças dos diversos partidos nas autarquias? Ou as deslocações de votos na área da «extrema esquerda» nas últimas legislativas? Isto são sugestões. A nossa única limitação seria quanto à necessidade do artigo não ser demasiado técnico, dado o carácter da nossa revista, mas isso certamente será tomado em consideração por si. Esperamos a sua opinião com o maior interesse. Aceite as nossas saudações cordiais.

Carta a JRR (7)

9/12/1992

Caro Amigo:

Respondo à sua carta de 14 de Novembro e espero que me desculpe pela demora, mas só agora fechámos o último nº da P.O. Alegrou-nos muito a sua disponibilidade para colaborar na revista e a promessa de um artigo já para o nº 38. Como verá pela P.O. 37, que espero chegue às suas mãos no fim da próxima semana, estamos a procurar alargar o número de colaborações. Teremos muito gosto em contar consigo como colaborador regular, na medida das suas possibilidades.

O tema das deslocações de votos à esquerda da CDU é interessante, porque permite sondar qual o estado de espírito da extrema esquerda que resta. Sabemos que isso o obriga a consultar e tratar muitos números, dos quais só os mais significativos ficarão no artigo final, para não sobrecarregar muito a leitura. Pode ser um bocado ingrato para si, mas deixamos ao seu critério ver como conseguirá pôr em relevo as conclusões políticas que se podem extrair dos números. Quanto ao tamanho, não sabemos bem de que espaço precisa; sugerimos não mais de 6.000 caracteres, por motivos de paginação. Como data-limite de entrega propomos 15 de Janeiro. Acha que lhe será possível?

Quanto a futuros artigos; falei nas autarquias por ser assunto que já começa a agitar os partidos, mas não quer dizer que tenha que ser esse o tema. Temos lido alguns artigos e cartas suas no «Público» sobre diversos temas, expondo opiniões com que concordamos no essencial.

Se você tivesse interesse em tratar qualquer outro tema não referente a eleições para o nº 39, estamos de acordo. Só lhe peço que nos diga com alguma antecedência, para fazermos as nossas programações e distribuições de temas entre nós. Você conhece os nossos interesses.

Quanto às suas perguntas;

  1. a) não vemos explicação para a sobrevivência do PCTP/MRPP, até porque, ao que sabemos, não se trata de um grupo com ligações estrangeiras. Por vezes, é frequente nesta área grupos sem qualquer expressão manterem-se em funcionamento devido a subsídios da corrente internacional em que se inserem. Parece não ser este o caso do MRPP. Embora alinhe pelo «marxismo-leninismo-stalinismo-maoísmo», corrente que está organizada internacionalmente em torno de um «Partido Comunista Revolucionário» dos EUA e na qual se inclui o PC do Peru («Sendero Luminoso») e muitos outros pequenos partidos, não nos consta que o MRPP mantenha contactos ou receba apoio dessa corrente. O facto de há muito não publicar imprensa e de os seus órgãos dirigentes estarem paralisados por divergências e «lutas de linhas» ainda torna a sua continuidade mais surpreendente. Julgamos que uma certa recuperação de linguagem de extrema esquerda feita por eles nos últimos anos, depois da desgraçada política de apoio ao PS e PSP contra o «social-fascismo», lhes terá criado aos olhos do eleitorado de esquerda uma imagem dos «últimos revolucionários que não se rendem». As intervenções radicais do Dr. Garcia Pereira, em períodos eleitorais talvez contribuam para alimentar essa imagem. Fica uma dúvida: se daqui a um ano ou dois ou três a situação social se agravar e houver tendências de radicalização, não será que o MRPP ressurgirá em força com o seu discurso radical a servir de capa a uma táctica direitista, como no passado?
  2. b) OCMLP — integrou-se de facto no PCP(R) em 1976, depois de uma assembleia de militantes no Porto, a que eu próprio assisti como convidado por parte do PCP(R), mas uma fracção minoritária recusou aceitar a integração. Era animada pelo antigo secretário-geral Pedro Baptista, e por um indivíduo cujo nome agora não recordo, que era jornalista do «Jornal de Notícias», suponho. A base da divergência era um «anti-socialfascismo» virulento e acusarem o PCP(R) de conluio com o social-imperialismo. Foram utilizados pelo PSD nessa altura. Mantiveram-se como grupo autónomo, numa espécie de hibernação durante vários anos. O seu núcleo forte era na Foz do Douro. Depois de uma tentativa de reanimação eleitoral, acabaram por se dissolver. Pedro Baptista é actualmente um dos animadores do Movimento Pró-Referendo e julgo estar ligado ao grupo de Barros Moura.

Registámos o seu reparo sobre a necessidade de demarcação do PCP na questão angolana e publicámos esse extracto da sua carta na revista que vai sair. (…) Interessa-nos tudo o que nos tem enviado e também esses artigos do Edgar Rodrigues[i], se for possível.

Quanto às possibilidades de colocar a P.O. em duas tabacarias de (…) e (…), interessa-nos muito. Justamente agora estamos a fazer um esforço acrescido na difusão; o nº 36 foi pela primeira vez colocado em mais de 120 bancas na região de Lisboa, número modesto mas que, para a nossa dimensão, é um record. Estamos a tentar que os nossos camaradas do Porto alarguem também a distribuição na cidade.

Proponho o seguinte: mandaremos do próximo nº da P.O., além do seu exemplar, mais 6, 3 para cada tabacaria. Seguem umas guias que usamos na entrega da revista e que você apenas terá que preencher com o nome dos vendedores (isto se eles quiserem as guias, pois há muitas bancas com quem fazemos contas sem papéis). Daqui a dois meses, quando sair a próxima P.O., você passaria por lá a colocá-la e a levantar as sobras. Em princípio, o pagamento de importâncias tão irrisórias dispensa facturas e recibos, mas se eles pedissem passávamos em nome da empresa distribuidora. Você não precisa de nos devolver logo as sobras; pode juntá-las aí e enviar ao fim de seis meses, por exemplo. Não precisa de fazer contas connosco: guarda o dinheiro das eventuais vendas numa conta-corrente, de que nos enviaria o que houvesse ao fim de seis meses, por exemplo. É muito possível que, durante alguns meses, as vendas sejam decepcionantes, até haver alguém que repare na revista; temos essa experiência quando vamos para um local novo. Mesmo nesse caso, gostaríamos que persistisse na distribuição, se isso não lhe causar muito incómodo.

Desconhecíamos esse projecto do «Dicionário da extrema esquerda» do Pacheco Pereira. Vai ser preciso comprar, por muito que nos custe. Não sei se viu um artigo desse tipo no «Público» de 4/12 sobre «Os rivais de Cunhal». Como se metia comigo, respondi-lhe à letra, espero que saia brevemente no «Público».

Por agora é tudo. Teremos muito gosto em receber as suas notícias. Aceite as minhas saudações

 Carta a JRR (8)

16/2/1993

Caro Amigo:

Suponho que já terá recebido a P.O., com mais um pacote de 6 exemplares. O seu artigo ainda veio a tempo de ser incluído. Foca um aspecto geralmente esquecido nas discussões sobre o ensino e penso que valorizou a revista. Ficamos agora à espera de colaboração sua para o próximo número… se os seus afazeres lho permitirem. O fecho da redacção está previsto para 15 de Março e agradecemos que nos diga que tema pensa tratar, para fazermos a nossa programação e evitarmos sobreposição de artigos sobre o mesmo assunto. Esperamos também, como já vai sendo hábito, os boletins e recortes que nos puder obter. Procuramos sempre aproveitar esses elementos, duma forma ou de outra, para tomar a revista mais informativa.

A propósito do grupo ligado ao «Barcelos Popular», foi-nos referido há dias como estando empenhado, com diversos outros membros e ex-membros da UDP e do PC(R), na realização dum encontro, cujo objectivo não parece muito bem clarificado. Suspeitamos que alguns dos antigos dissidentes da UDP com mais aspirações políticas querem aproveitar a crise e o descrédito da organização para formar um grupo-fantasma para, apoiados nele, regatearem lugares em listas do PS ou do PCP nas próximas eleições autárquicas. Veremos.

Por agora é tudo. Continuamos à espera duma oportunidade para conversarmos de viva voz. Aceite as nossas saudações

 Carta a JRR (9)

7/4/1993

Caro Amigo:

Afinal, o seu artigo ainda veio a tempo. É interessante e mostra um conhecimento por dentro do assunto; entrou no nº 39, cujo fecho se atrasou uns dias. Já está na tipografia mas, devido ao feriado da Páscoa, só vai ser expedido provavelmente na segunda-feira. Vamos enviar-lhe, como combinado, mais 6 exemplares. Recebemos o cheque dos exemplares vendidos e as publicações. Citámos na secção Telex o semanário “Opinião Pública” como sendo de Famalicão, mas não temos a certeza. Quando tiver notícias regionais que ache interessantes, pode mandar apenas o recorte para não fazer despesa desnecessária em correio. Quanto à devolução das sobras, não se preocupe porque não temos pressa nenhuma.

Para o próximo número, já sabe, se tiver disponibilidade, estamos interessados na sua colaboração. Podemos manter uma secção sobre temas do ensino, que lhe parece?

Aceite as nossas saudações cordiais

 Carta a JRR (10)

23/8/1993

Caro Amigo:

Recebemos o cheque, que agradecemos, e as publicações. Infelizmente, o artigo «As lições de Courel» já não chegou a tempo de ser incluído no n° de Maio/Junho. Mesmo assim, ainda talvez não fique mal no próximo nQ, porque toca num tema de fundo que não se desactualizou. Se além desse puder enviar o prometido artigo relativo às autárquicas, será óptimo. Quanto ao tema das passagens administrativas, não estou em condições de lhe dar uma opinião por conhecer mal o assunto. Tenciono transmitir as suas opiniões a alguns amigos professores e dir-lhe-ei depois, se recolher alguma ideia. De qualquer forma, se entender escrever algum comentário sobre o assunto, já sabe que estamos interessados em manter uma coluna sobre temas do ensino.

Quanto à cisão da FER, envio-lhe junto um folheto que distribuíram no 1Q de Maio. Apesar da boa apresentação e do nome pomposo, ficaram parados depois disso. Prometeram ir iniciar uma revista, mas até agora não sabemos nada. Pelo que nos informaram, a cisão foi o seguinte: o antigo grupo «Esquerda Revolucionária», que publicava a revista «Versus» (não sei se chegou a ler), e que se tinha fundido com a LST por pressão da LIT (4a Internacional) agora voltou a separar-se. Houve entretanto perdas, devido ao ambiente político desfavorável, e os que saíram (MPS) parecem ser muito poucos. A FER ficou com ligações aos estudantes e com a revista «Alternativa Socialista». O motivo da cisão, segundo nos foi dito, teve a ver com o debate internacional na LIT sobre a “revolução política” no Leste: a FER acharia que houve excesso de optimismo quando da derrocada do poder na URSS, ao passo que o MPS acharia que foram mesmo grandes revoluções e que a situação está mais revolucionária do que nunca. Isto foi o que nos disseram, não lhe posso garantir que seja assim. O que é certo é que o partido-pai da LIT, o MAS argentino, partiu-se em vários bocados e toda a corrente parece atravessar uma grande crise, o que não é de estranhar.

Fomos convidados a assistir à apresentação da nova revista «Manifesto», feita por alguns dissidentes jovens do PCP que formam a ala esquerda da Plataforma de Esquerda: Paulo Varela Gomes, Ivan Nunes, etc. Começa a sair em Setembro e é bimensal. As intervenções só não me pareceram decepcionantes porque já ia mentalizado para uma grande superficialidade. Muita retórica de esquerda, mas muita indefinição nas questões vitais. Enfim, podem fazer uma revista apesar de tudo interessante. Com o panorama fúnebre que vivemos neste pais, algo que apareça na área da esquerda pode servir pelo menos para agitar as cabeças.

E com isto é tudo, não lhe tomo mais tempo. Um abraço e até breve.

 Carta a JRR (11)

6/12/1993

Caro Amigo:

Respondo às suas cartas de 10 e 28 de Novembro, agradecendo o cheque de 1.470$ e a indicação dum possível assinante. Foi pena esta última carta nos chegar às mãos já depois de ter fechado a redacção, pois as suas notas sobre o carnaval autárquico aí na zona tinham todo o cabimento. Talvez se possam incluir junto com outras coisas que reuniremos sobre o balanço das eleições no próximo número. Se entretanto se lhe proporcionar, já sabe que estamos interessados em colaboração sua. A redacção fecha por volta de 20 Janeiro.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Pelo menos, estão convidados. Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar o Mao revolucionário e fazer fogo contra a bronca ironia com que PS e PC falam da revolução chinesa, como se fosse uma anedota.

A P.O. deve sair breve da tipografia. Mando-lhe 3 exemplares extra, como de costume. Um abraço.

 Carta a JRR (12)

14/12/1993

Caro Amigo:

De acordo com o seu pedido telefónico, mando-lhe um livro de guias de remessa. Suponho que terá recebido a minha carta de 6 do corrente e os 6 exemplares da P.O. (na carta, por lapso, eu dizia 3). Mandámos um exemplar como oferta à pessoa cujo nome indicou, com uma carta propondo-lhe tomar-se assinante. Espero que o conteúdo da revista lhe agrade e lhe dê sugestões para uma colaboração sua no próximo número.

 No próximo dia 22 participarei num debate na SIC sobre o centenário de Mao: se tiver oportunidade, veja e diga-me depois a sua opinião. Por agora é tudo. Aceite um abraço e os meus votos de um bom Ano Novo.

Carta a JRR (13)

8/8/1994

Caro Amigo:

Fico-lhe muito grato pelo seu convite e de sua mulher para ir aí passar uns dias, mas creio que não será possível este ano. Problemas familiares difíceis (o falecimento de uma minha irmã) exigem a minha presença aqui e tiram-me a oportunidade e disposição para grandes férias. Vamos a ver se até ao fim do mês consigo tirar dois ou três dias para descontrair, aqui por estas bandas.

Recebi os cheques e registei a renovação da sua assinatura e espero que tenha recebido o livro em boas condições e que lhe esteja a agradar. Quanto à liquidação das P.O.s vendidas aí, de acordo.

 Quanto ao prof. Lages, só soubemos da sua passagem por Lisboa através da sua carta e foi pena, porque justamente nesta altura tínhamos pensado em contactá-lo para tentar obter documentação relativa à guerra colonial. Um grupo de antigos desertores e refractários tem feito algumas reuniões para preparar a formação de uma associação, que teria entre outros objectivos o de divulgar factos e números relativos à guerra. Como você gosta de estar informado sobre estas questões, mando-lhe o projecto inicial, redigido pelo José Mário Branco.

Conto desde já com um artigo seu para a próxima P.O. sobre a participação da extrema-esquerda nas eleições europeias. Quanto ao PT – Partido dos Trabalhadores, ouvimos falar mas não sabemos nada. Se obtiver alguma informação, não deixarei de lha mandar. E por hoje, é tudo. Aceite um abraço e mais uma vez o meu agradecimento pelo seu amável convite.

José Manuel Lages foi o professor que impulsionou a criação de uma extensa exposição e um museu sobre a guerra colonial, em Famalicão, em 1989. (Nota de AB)

Carta a JRR (14)

26/4/1995

Caro Amigo:

Em resposta ao seu pedido por telefone, junto envio 10 guias de remessa da P.O., em duplicado (nº 5/073 a 6/082) e 10 recibos já carimbados (nºs 252 a 261), umas e outros em duplicado, para usar conforme necessário.

Se por acaso vier a Lisboa no 1º de Maio, não deixe de se encontrar connosco na apresentação do último livro Dinossauro, ‘‘História da Comuna de 1873”, de Lissagaray, que vai ter lugar no restaurante “Expresso de Paris”, Avenida de Paris, 12-A (perto da praça do Areeiro), pelas 17 horas.

Aproveito a ocasião para lhe pedir já colaboração para a próxima PO. É o nº 50, completa dez anos de publicação e tencionamos fazer um número com mais páginas e, na medida do possível, com a participação de todos os colaboradores. Como de costume, o assunto do artigo fica ao seu critério.

Por aí tudo bem? Aceite um abraço com as minhas saudações

 Carta a JRR (15)

6/9/1995

Caro Camarada:

Obrigado pela sua carta, devoluções da P.O. e cheques. Está tudo em ordem. Também recebi a sua mensagem telefónica. Depois duma semana de férias (o stalinismo é assim, não dá direito a mais!), retomo actividades e já temos alguns artigos (demasiado extensos e pesados, receio) para organizar o sumário da próxima revista. Contamos dedicar umas 5-6 páginas aos dramas eleitorais, comentados sob várias vertentes. Se estiver para aí virado e quiser mandar-nos alguma coisa sobre isso até dia 30 do corrente, faz-nos jeito. Se a sua colaboração for sobre outra matéria (questões do ensino, por exemplo), aí já lhe peço que nos faça chegar um pouco mais cedo, até dia 22. Vamos tentar fechar a revista por essa data, deixando só as páginas do dossier eleições para os últimos episódios.

Marcámos para 22 de Outubro, domingo, um encontro para comemorar o nosso 10º aniversário. Constará duma parte de confraternização e de outra dedicada a debater um pouco o balanço de dez anos, perspectivas da P.O., situação do movimento marxista internacional, etc. Sobre estes temas será elaborado um texto introdutório do debate, de que lhe enviarei cópia oportunamente (lá para meados de Outubro, não antes, porque até lá a P.O. 51 vai dar-nos trabalho). Se quiser e puder vir a este encontro, dar-nos-á grande satisfação. Diga-nos depois alguma coisa. Aceite um abraço.

 Carta a JRR (16)

12/10/1995

Caro Amigo:

A P.O. já está na tipografia e deve recebê-la no princípio da próxima semana. Verá que o seu artigo foi fortemente cortado. Espero que não me leve a mal mas chegou já no fim e o espaço excedia em muito o que me tinha dito inicialmente (1 pág.). Procurei conservar o fio da exposição, restringindo ao essencial. Também o quadro ficou reduzido aos dois grupos, Trotsquistas e M-L, sem discriminar. Penso ter mantido o interesse do artigo. Você dirá.

O nosso encontro-festa vai por diante, no sábado 21 (e não domingo, como lhe tinha dito). O Fernando Rosas vem participar no debate[ii], assim como o nosso colaborador Ângelo Novo. À noite teremos convívio com intervenção de alguns artistas. Se puder, venha. Um abraço

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[i] Edgar Rodrigues radicou-se no Brasil desde 1951, ano em que deixou Portugal para escapar à perseguição de Salazar. Foi um dos principais responsáveis pela documentação e publicação de boa parte da história recente do anarco-sindicalismo nos dois países. (Nota de AB).

[ii] Fernando Rosas não pôde comparecer. (Nota de AB).

Cartas a JCC

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JCC (1)

22/3/1989

Camarada:

Correu muito bem o Encontro de sábado na Casa da Imprensa, com mais de uma centena de pessoas. Foi decidido avançar com a Frente da Esquerda Revolucionária para as próximas eleições, como talvez já tenhas sabido pela imprensa ou pela rádio. Mando junto o Apelo lá aprovado, com um pedido: caso estejas de acor­do, assinares e recolheres assinaturas de apoio, para dar um impulso a esta candidatura que se vai ver cercada pela hostilidade da UDP e do PSR, além dos outros, mas que pode dar saída a umas afirmações de esquerda que estão a fazer falta. Temos uma sessão marcada para a Voz do Operário na noite de 24- de Abril, seria bom se cá estivesses a apoiar. Também, evidentemen­te, te peço apoio financeiro, o que esteja ao teu alcance. Diz-me o que pensas disto tudo.

Com um abraço e esperando ir em breve visitar-te aí

 Carta a JCC (2)

1/4/1989

Camarada:

Como te disse o Lgo e terás visto nos jornais, vamos para as eleições com uma fren­te da Esquerda Revolucionária, cujo objectivo é fazer um ataque forte à CEE. e ao governo, assim como à oposição paralítica. Estamos a discutir o manifesto-programa e a lista dos candidatos. Será que tu ou os teus camaradas daí propõem al­gum nome como independente para fazer parte da lista? Precisamos de saber urgentemente. Que es­pécie de colaboração estão dispostos a dar? Poderão mandar uma delegação com uma mensagem ao comício na Voz do Operário de 24 Abril? Seria muito importante.

Mando-te o texto de apoio que está a circular e será publicado nos jornais em anúncio. Podes recolher assinaturas, tanto de no­mes conhecidos como de apoiantes em geral? O li­mite para a devolução é 20 Abril. Outra coisa, mas que poderemos preparar com mais tempo, é a recolha de denúncias fortes, depoimentos, etc., para lançar no tempo de antena. Espero poder ir aí conversar convosco antes de dia 24. Um abraço

 Carta a JCC (3)

15/5/1989

Caro Camarada:

Espero que tenhas recebido uma encomen­da que te enviámos com manifestos da FER. Preve­mos a ida aí do camarada SG, no próxi­mo domingo dia 21, para discutir as possibilida­des de apoio vosso à campanha eleitoral da FEE, em especial a possibilidade de fazer uma sessão de propaganda ou até criar uma comissão local de apoio.

Escrevo-te também pele seguinte: marcá­mos para o dia 28 de Maio, domingo, um almoço de apoio à FER que será simultaneamente de protesto contra a recuperação do Salazar e dos faxos. Ha­verá uma intervenção do Varela Gomes e vamos pro­curar obter cobertura da TV, rádio e imprensa. Seria importante que estivesses presente com ou­tros camaradas daí, ou pelo menos enviassem uma mensagem para tornar público. Que dizes? 0 SG discutirá contigo todos os problemas. Vis­te na televisão a queima do boneco que fizemos na Praça da Figueira? Vamos enviar mais material. Um abraço

 Carta a JCC (4)

14/6/1989

Caro Camarada:

Deves estar surpreendido e confuso pelas notícias sobre a nossa saída da FER. Foi muito chato mas não tivemos outra alternativa porque os golpes eram constantes e não tínhamos força para obrigar os tipos da LST a respeitar os acordos que tinham assinado connosco. O nosso erro foi acreditar que haveria um mínimo de lealdade. Dentro de dias receberás a PO com informações e um artigo sobre o assunto.

De qualquer maneira, gostaria na mesma do fazer aí una reunião convosco depois disto passado. O S irá aí logo que possa.

Um abraço do camarada

 Carta a JCC (5)

20/12/1990

Caro Camarada:

Espero que já tenhas recebido a PO 27 e visto a “Resposta aos comunistas americanos”, produto final dos debates que vínhamos fazendo uns meses, Que achas? Fizemos uma sessão no dia 14 contra a guerra do Golfo o que não teve di­reito a notícia na imprensa mas que foi boa, com 100 pessoas presentes. Pensa-se em convocar uma manifestação, porque os riscos aumentam e as pessoas estão insensíveis. Haverá condições para uma sessão sobre o assunto aí (…)? Poderia aí ir eu com mais alguma pessoa da CCIG[i]. Por favor escreve ou telefona e diz o que pensas.

Atenção: o nosso telefone agora já não é (…) . A melhor hora ê das 17 às 20 heras todos os dias úteis.

Abraços para ti e para todos os camaradas

PS – Segue encomenda com boletim “Denúncia”.

Carta a JCC (6)

12/6/1991

Camarada:

Envio pele carreira da Rodoviária um envelope contendo 5 ex. da PO 30, para a hipótese de poderes vender (ou oferecer) aí a pessoas conhecidas. Segue também um boletim duma comissão lançada por nossa iniciativa com a colaboração de outras pessoas, para fazer campanha contra o nacionalismo e o racismo. Tu verás o que te pare­ce. Pensamos na hipótese de recolher assinaturas para o texto ou para uma versão melhorada. Esta­rias interessado em assinar e recolher assinatu­ras? Diz alguma coisa.

Anteontem, 10 de Junho, fizemos uma exposição no Parque Eduardo VII, à entrada da Feira do Livro, desmascarando os Des­cobrimentos. Foi um êxito. Vamos continuar. Conse­gues que a exposição vá aí (…), a uma escola ou à biblioteca?

Foi pena não teres vindo ao lanche do 1º de Maio, juntaram-se uns 40, bastantes dos velhos tempos, numa de confraternização. Não deixes de dar notícias. Um abraço

 Carta a JCC (7)

7/11/1991

Camarada:

Li a tua mininota que deixaste na cai­xa do correio. Foi pena não nos apanhares. Estáva­mos & contar contigo para animares o debate sobre a URSS mas não apareceste.

Que tal te pareceu a última PO? Vamos fazer assim: como tu não tens pachorra para escrever, um dia que venhas a Lisboa telefonas para o (…) (eu agora paro aqui bas­tante), vens cá e ditas-me os teus palpites que eu escrevo directamente no computador. Podes falar sobre tudo o que quiseres, desde as broncas do Monterroso[ii] até à crise do marxismo. E já agora fazes uma assinatura da P.O. para mostrares a tua sim­patia por esta excelente revista. Agora a sério, precisamos de assinantes.

Quando vocês acharem que vale a pena eu ir aí para um papo, digam. Leste o boletim do MAR? Poderia fazer-se aí uma pequena reunião com pessoas interessadas nas questões do racismo? Temos tido alguns contactos interessantes em Coimbra e no Porto. Um abraço. Telefona.

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[i] Comissão Contra a Intervenção no Golfo, que mais tarde se chamaria CCG (Comissão Contra a Guerra). (Nota de AB).

[ii] O antigo presidente socialista da Câmara da Nazaré, Luís Monterroso,  com vários outros autarcas, mantinha`na altura laços duvidosos e nunca devidamente esclarecidos pelas autoridades judiciárias com a Gitap/Oficina de Eventos, empresa controlada e administrada pelos irmãos José e Álvaro Geraldes Pinto – dois engenheiros e militantes socialistas originários da zona da Covilhã, de onde são também naturais os dirigentes António Guterres e Luís Patrão. O Partido Socialista recebeu importantes apoios para as eleições da parte da Gitap, que controlava o mercado de estudos e projectos das câmaras do PS. (Nota de AB).

 

Cartas a HN

 Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN (1)

6/2/1998

Exmo Senhor:

Foi-me completamente impossível corresponder ao seu amável convite para estar presente no lançamento do seu livro[i] e espero que me desculpe por só agora responder ao seu cartão. Não vi até agora na imprensa de Lisboa referências ao seu trabalho, o que de resto não é de estranhar, dados os critérios e os gostos em vigor. Se entender enviar-me um exemplar para recensão na “Política Operária”, terei muito gosto em dar a conhecer o seu livro.

Sem outro assunto e na expectativa de uma outra oportunidade para nos encontrarmos, envio as minhas cordiais saudaçôes.

Carta a HN (2)

24/2/1998

Caro Amigo:

Agradeço o envio dos seus livros, que já estou a ler com interesse e de que farei recensão na próxima P.O., a sair em princípio de Abril. Verifico pela sua carta que tem em prepara­ção um novo livro sobre o 18 de Janeiro para o próximo ano e que procura materiais relativos à Marinha Grande. Contudo, pela bibliografia referida no fim do seu livro, vejo que consultou prati­camente todos os livros que conheço relativos ao assunto. Poderei talvez conseguir-lhe alguns artigos ou documentos internos, de carácter mais ideológico e de menor valor histórico. Um exem­plo é um artigo que publiquei na Política Operária há anos e que aqui lhe envio com muito gosto. Se entretanto encontrar outros, prometo enviar-lhe fotocópia. Ocorre-me também o livro de Gil­berto de Oliveira Memória viva do Tarrafal, das edições Avante, que faz referência a vários depor­tados da Marinha Grande, António Guerra, etc., e que não vejo mencionado na sua bibliografia. Se estiver interessado, poderei emprestar-lho.

Quando se lhe proporcionar vir a Lisboa, terei muito gosto em encontrar-me consi­go para trocarmos impressões. O meu contacto, além do que vai indicado no cabeçalho, pode ser pelo telefone (…). Sem mais por agora, envio cordiais cumprimentos

Carta a HN (3)

9/2/2002

Caro Amigo:

Estou a responder às suas duas últimas cartas, pedindo desde já desculpa pelo atraso. Registámos a sua assinatura e mando-lhe aqui junto os nº 63 e 64 da revista. Quanto aos números atrasados, temos todos excepto o nº 1. Poderíamos fornecer-lhos se estivesse interessado.

No que se refere à hipótese de colaboração sua, nomeadamente sobre a situação do operariado da Marinha Grande, posso desde já dizer-lhe que nos agradaria muito. Como talvez já tenha notado, a revista inclui sempre artigos enviados por leitores. Preocupa-nos apenas que tenham uma índole de denúncia do capitalismo. Como também decerto compreende, sendo uma revista de tipo militante, não comercial, não nos é possível retribuir monetariamente a colaboração. Posto isto, se tiver notícias, comentários, entrevistas, nomeadamente a respeito da situação do operariado da Marinha Grande, teremos gosto em publicá-las.

Faço votos pelo progresso do seu trabalho de investigação de história do movimento, que me parece escrupuloso. Gostaria de poder fazer o mesmo, mas as limitações da minha vida não mo permitem. Duas notas sobre o caso António Guerra:

Sobre a data da fuga de António Guerra — Procurei no Avante desses anos qualquer referência a essa fuga mas não encontrei nada. O meu único ponto de referência foi o testemunho de Joaquim Campino, que cita no seu folheto “18 de Janeiro Rostos”. Campino foi para Peniche em 1947, segundo diz ali. Durante esse ano falou com Guerra sobre a necessidade de “acabar com a paz podre” que ali se vivia, com o que este não concordou. “Mais tarde — escreve — “aproveitando aquele afrouxamento de vigilância, o António Guerra… tentou evadir-se”. Isto levou-me a situar a data da tentativa de fuga em começos de 1948, E uma data aproximada, reconheço, mas que permite excluir, penso, essa informação de que tivesse sido em 1946. Não concorda?

Quanto aos outros nomes que cita que teriam participado na fuga, nada sei.

Sobre a saúde de Guerra Não referi no meu artigo a informação de que ele sofreria de distúrbios mentais. A ficha prisional refere uma passagem de poucos dias pelo Hospital Júlio de Matos, após a vinda do Tarrafal, o que só por si não basta para pensar que ele tivesse perturbações mentais, a não ser que haja outras informações. Poderia vir em greve da fome, por exemplo, o que, sei por outros casos, era motivo para o preso ser levado pela Pide ao Júlio de Matos para ser alimentado à força. Terá sido esse o caso? Quais eram os padecimentos de Guerra para além da perda de visão? A rapidez da sua morte depois de regressar ao campo de concentração sugere que o seu estado de saúde estaria bastante debilitado, mas poderia não ser mais do que isso. Muitos outros foram ceifados em pouco tempo pelas febres.

Fico a aguardar as suas notícias. Caso tenha colaboração para o nº 66, que só sai em começos de Outubro (paramos sempre nas férias), peço-lhe que a faça chegar até 15-20 de Setembro. Aceite as minhas saudações

Carta a HN (4)

8/7/1998

Caro Amigo:

Agradeço o artigo que me enviou sobre o 18 de Janeiro. Este ano não preparámos nada na PO para assinalar a data. Se a revista não estivesse já na tipografia ainda poderíamos ter posto algo a partir do seu artigo mas recebi-o demasiado tarde. Vai receber a PO dentro de dias e espero que continue a interessar-lhe. Suponho que terá rçcebido a proposta de renovação da sua assinatura, visto que esta caducou no n° 79, há já bastantes meses. Em todo o caso, mando-lhe aqui um novo boletim.

Conto sempre com as suas notícias e informações para enriquecer a revista.

Um abraço

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[i] Hermínio Nunes, “Augusto Costa, um vidreiro no Tarrafal. Memórias do 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande”. (Nota de AB).

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

A saída do capitalismo só pode ser encontrada pelo proletariado

A crítica de 1964 pôs o dedo na ferida do reformismo que submetia o proletariado à burguesia liberal, em nome das exigências do antifascismo. Faltou-lhe muito, porém, para ser uma plataforma comunista coerente e essa falta esteve na origem dos problemas que levaram o movimento nascente dos marxistas-leninistas a desagregar-se, duas décadas mais tarde. Continuar a ler

O período dos grupos

Francisco Martins Rodrigues

[i]O período dos grupos[ii]

A partir de 1968, passado o marasmo que se seguiu a destruição da FAF, a influência da “revolução cultural” chinesa, dos movimen­tos de libertação e guevaristas, dos movimentos radicais na Europa, da reanimação da oposição sob o marcelismo (campanha eleitoral da CDE em 1969) provocou a multiplicação de grupos maoístas entre os estudantes avançados que descobriam o reformismo do PCP.

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O corte com o PCP

Francisco Martins Rodrigues

O CORTE COM O PCP [1]

1 – A apreciação do PC(R) sobre os grupos ML só ressaltou os seus aspectos negativos. Para abater os laços grupistas, as barreiras de desconfiança entre os membros dos diferentes grupos e e autori­dade dos seus chefes, apresentou-se esse período como uma aberra­ção pequeno-burguesa. O partido não precisa de denegrir os grupos para se elevar.

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