O Futuro Era Agora

Agora em https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/futuro/index.htm

O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril

Edições Dinossauro


Primeira Edição: 1994
Coordenador: Francisco Martins Rodrigues

Colaboraram na recolha e tratamento dos textos : Ana Barradas; Angelo Novo; António Barata; António Castela; Beatriz Tavares; Filipe Gomes e Rogério Dias Sousa

Capa: António Barata

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: © Edições Dinossauro


Índice

capa
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Os 580 dias

Prefácio

Cronologia

Molotovs no Palácio de Cristal, Rogério Dias de Sousa

O mestre disse que a Pide tinha fugido, Maria Luísa Ernesto

As perdizes, Cândido Ferreira

Durante três dias mandámos no quartel, Manuel Figueira

Toda a gente empenhada em mudar a vida, Jorge Falcato Simões

Obrigámos o Jaime Neves a recuar, Manuel Monteiro

Da JUC para a fábrica, Berta Macias

O assalto à esquadra das Antas, José Carretas

Sindicalismos em conflito, Custódio Lourenço

Foi a minha universidade, Maria de Lurdes Torres

A “revolução” no Estado Maior, António S

Autogestão na Sogantal, José Maria Carvalho Ferreira

Assobiámos o Spínola no 25 de Abril, Amílcar Sequeira

Um jornal diferente, Júlio Henriques

Sem o 25 de Abril seria uma patetinha, Helena Faria

Revistar os carros da polícia, Luís Chambel

Meu saudoso PREC, João Azevedo

Despertar dum sindicato, Vítor Hugo Marcela

Ambição era tomar o poder, Joaquim Martins

Alegria e candura, José Manuel Rodrigues da Silva

Tudo era tratado na comissão, Maria da Graça Duarte Silva

O “Che” a falar na praça, pendurado num eléctrico, Paulo Esperança

Alegria nos arrabaldes, Fernando Dias Martins

Confrontos nas ruas do Porto, Alberto Gonçalves

Os partidos não me diziam grande coisa, Maria Amélia da Silva

Passámos de caçados a caçadores, António José Vinhas

Não soubemos explorar a crise de poder, Mariano Castro

O único perigo era para a direita, Vitorino Santos

Primeiros passos da Reforma Agrária

Fazer frente aos pcs não era pêra doce, José Paiva

Lisboa – Luanda, Orlando Sérgio

Foi uma descoberta, Bárbara Guerra

Reunião de prédio, Pedro Alves

O Pires Veloso dormia na cave, José Guedes Mendes

A militância era uma festa, Nela

Os soldados não ligavam aos oficiais, Manuel Borges

Vivi por antecipação a derrocada, Helena Carmo

Sempre atrasados, José Manuel Vasconcelos Rodrigues

Uma estranha liberdade, Rita Gonçalves

Falharam os três D, Mário Viegas

O povo à porta do quartel a pedir armas, José Manuel Ferreira

Despertei no 25 de Novembro, Altamiro Dias

O povo em armas? Uma fraude, Tino Flores

Como entrei nas “catacumbas”, “Brezelius”

Andei a vasculhar a sede da PIDE, Avelino Freitas

Comecei a pensar no que poderia vir, Maria da Glória R. Borges

Dormir ao relento à porta da fábrica, Maria Luísa Campina Segundo

O poder parecia tão próximo…, Fernando Reis Júnior

Um cabo-verdiano em Lisboa, Álvaro Apoio Pereira

Os polícias de braços no ar, António Castela

Uma burguesa entre operários, Marta Matos

Recordando o soldado Luís, Valdemar Abreu

Greve aos bilhetes, João Marques

Falar de Abril

25 de Abril: transformações nas escolas e nos professores, Eduarda Dionísio….

25 de Novembro: como a esquerda foi encurralada, Francisco Rodrigues

Autonomia dos trabalhadores, Estado e mercado mundial, João Bernardo

Brandos costumes & maus hábitos antigos, Manuel Vaz

Siglas

Bibliografia


Cartas a MV – 22

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (25)

5/6/1991

Caríssimo:

Os teus materiais têm chegado em ordem. Vi­mos o teu apelo para apoios para a saída do “Al­batroz” e, a título mais simbólico do que outra coisa, dada a nossa escassez de meios, decidimos enviar 5.000$00. Foram num vale postal para essa morada (a Ana juntou mais 1.000$00 pela despesa do livro que lhe mandaste). Ficamos à espera do material. Já chegou aí a PO 29? Enviei para as três moradas.

Estamos a preparar um pequeno manifesto para o 25 Abril / 1º Maio e um encontro do pessoal. Também pensamos fazer uma assembleia em meados de Junho, será possível contar com a tua presença?

Em breve te escrevo com mais vagar. Um abraço

Carta a MV (26)

5/6/1991

M:

Tens razão, estou bravo contigo e vou cortar todas as relações: fizeste-me outra vez a partida de passar por cá e não me passar cartão. Só tens uma desculpa, foi essa das três frentes de combate simultâneas. £ pesado para qualquer um. Da próxima, tens denúncia pública na P.O. como “elemento suspeito anarco-trotskizante”, pelo menos. O “Albatroz” está mais sumarento que os anteriores e mais politizado, pareceu-me. Fiz uma nota à pressa na última P.O. (põe-te alerta, deve estar aí a chegar!), hão conheço nada dos meios da esquerda real aí de Paris, mas parece-me que o “Albatroz” se po­de tornar um ponto de encontro de sensibilidades variadas, convivendo aí em boa paz. Pelo menos não há dúvida de que te tornaste mais atrevido nos teus contactos; agora já preparas uma colaboração do Bettelheim! Oxalá a distribuidora (…) faça alguma coisa pela revista aqui, criar um certo público aqui na parvónia seria um apoio para ter a continuidade assegurada. Nos meios da imigração por­tuguesa aí, calculo que não tenha saída, até pela pouca colaboração sobre temas que lhes digam directamente respeito. A minha colabora­ção, diz-me para quando será precisa; por acaso fiz para a P.O. um comentário justamente sobre o Papa e a religião, mas não impede que escreva outro, num registo um pouco diferente.

Esteve cá o V: interrogámo-lo sobre a saída do “Albatroz” mas ele, sempre sem querer fazer críticas, foi dizendo que tu monopolizas muito a condução das coisas. Deve ter uma parte de razão porque tu mesmo o reconheces na tua carta. A outra parte, que ele não diz, é a falta de genica dele para trabalhos desses. Só mes­mo leninistas-stalinistas-maoístas-enveristas-kimilsunguistas como nós são capazes de fazer revistas subversivas num tempo destes.

A P.O. vai na mesma, apenas um pouco mais aberta também nas colaborações,o que não nos faz mal nenhum. Romper o cerco, é a palavra de ordem do presidente Mao. Ou melhor: combinar a guerra de subterrâneos com umas sortidas fulminantes para desorientar o inimigo! Agora vamos entrar na pausa de férias e eu vou aproveitar para trabalhar dois artigos que tenho andado a adiar por falta de tempo mas que tocam em pontos sensíveis: 1) Será que o descalabro do Leste prova que os anarquistas tinham alguma razão e que o Lenine era um autoritário e o próprio Marx teria aberto a porta ao triunfo dos burocratas? 2) Será que a evolução económico-social contemporânea está a dar o golpe de misericórdia na teoria da hegemonia operária e da dita­dura do proletariado?

Atrevimento não me falta, como vês e o pior é que neste momento não faço ainda bem ideia de como responder a estas ideias. Ando a ler e a meditar, vamos a ver se daqui até Setembro não me embaraço em interrogações. Fora disto, agito-me em remorsos cíclicos por não avançar com o tão falado li­vro sobre o PCP e, como já é costume, todos os anos à entrada do Verão ponho-me a pensar que talvez tivesse tempo para…

De resto, cá vamos. O núcleo da P.O., depois de ter mirrado a olhos vistos, parece ter-se consolidado na sua travessia do deserto. Até quando? Financeiramente, acho que vamos sobrevivendo, com menos angústias do que antes.

Escreveu-nos o Paul, da “Voie Prolétarienne”, dizendo que está traduzir para francês a “Resposta aos comunistas americanos”. Tens contacto com ele? Seria bom fazermos um suplemento com este artigo e tu distribuíres aí pela tua lista de possíveis interessados.

Óptimo pela cassete do filme da Intifada, estamos a pensar numa sessão pública de aniversário lá para fins de Setembro e seria interessante. Piquei chateadíssimo com es­sa de se ter perdido o livro de Las Casas, a etiqueta ia co­lada, o que deve haver é muitos roubos nos correios aí em França. Agora não tenho nenhum outro exemplar para te man­dar mas vou pedir ao editor. Andamos a animar uma comissão contra a histeria nacionalista em torno dos Descobrimentos, contra o “regresso a África” (palavras do presidente Boche­chas) e contra a exploração dos imigrantes africanos e o racismo. Vamos a ver se singra. Depois mando-te os papéis que houver.

Quanto à eleição do Tomé na lista da CDU, em lugar cedido pelo PCP, sem comentários… O Pires deu uma entrevista ao “Expresso” justificando o acordo porque o PCP mudou, embora ainda não saiba que mudou! Autêntico! Eu a pensar que o tipo tinha entrado em depressão e eis que aí apa­rece o velho Pires todo risonho e optimista. Sou mesmo ingénuo!

Esta folha em que escrevo acabou. Não deves dinheiro nenhum à Ana. Um abraço

 

Cartas a MV – 10

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (14)

16/9/1987

Caro M:

Respondo à tua carta de 9/9, que recebi hoje, pedindo também desculpas por este silêncio tão prolongado que te terá causado estra­nheza. A causa única é a grande sobrecarga de trabalho que caiu sobre mim e sobre todos os camaradas mais activos, devido à situação finan­ceira difícil da empresa gráfica. Como já te tinha dito na última car­ta, a acumulação das dívidas estava a tomar-se ameaçadora, pelo que decidimos, em fins de Junho, concentrar todas as forças disponíveis na produção. Neste momento, felizmente, já pagámos cerca de metade da dí­vida e, continuando assim neste ritmo por mais uns meses, ficaremos com a situação normalizada.

É claro que isto cria uma situação preocupante quanto ao nível da revista e quanto à nossa actividade organizada, porque as pessoas me­nos activas são precisamente as que ficam sem assistência política e em risco de fazer a sua crise geral ideológica, que é coisa agora muito em moda. Mas não vemos alternativa porque, sem base gráfica própria, a re­vista ficaria tão cara que teríamos que a suspender. Para já, interrom­pemos a publicação da folha sindical “Tribuna Operária” e reduzimos os nossos contactos ao mínimo (o que também se proporcionou, naturalmente, pelo período das férias).Até ao fim do ano, teremos que fazer o ponto da situação e tomar novas medidas, até porque a assembleia que deveria ter sido realizada em Junho ficou adiada.

Com tudo isto, não pretendo fazer-te crer que não tivesse uma hora para me sentar a máquina e escrever-te (até tive tempo para uma semana na praia…), mas o facto é que a mudança de ocupações levou-me a deixar de lado toda a correspondência que habitualmente mantinha. Es­tou neste momento a ver se ponho as coisas em ordem.

Acerca do “Albatroz”Foi especialmente chato da minha parte não te ter dito uma palavra sobre o trabalho em que puseste tanto empenho. Mas con­fesso que, além das razões acima mencionadas, fiquei desnorteado pelo tipo da revista e sem saber muito bem que apreciação fazer. Esperava uma coisa mais empenhada na crítica política e social, mais séria, o que não quer dizer que não fosse mordaz. Sou muito pouco competente para fazer apreciações a textos literários, mas a impressão que me ficou foi duma certa exibição de irreverência e agressividade que se pretende de­molidora, mas que na realidade fica muito pela superfície, é muito mais uma atitude do que um ataque. Depois, pergunto-me: que espécie de públi­co esperam vocês atingir com a vossa literatura de aguarrás? Não será precisamente o tipo de público que neste momento já renunciou a troçar do sistema e que redescobre os encantos da ordem estabelecida? É claro que não tenho ilusões de que fosse possível uma revista para a massa dos emigrantes. Esses, na melhor das hipóteses, papam as “Peregrinações”.

Mas não será que, ao rebelares-te contra a estreiteza mental da “Peregrinação”, foste para um tipo de divertimento gratuito que faz pouca mossa?

Estas são, com toda a franqueza, as minhas reservas, sobre o vosso trabalho. Gostaria que vocês fizessem denúncias concretas, certeiras, com vistas a construir uma corrente de crítica ao que existe. É possível que esteja inteiramente desfasado das vossas preocupações, nas, já sabes, sou de ideias fixas.

Sobre a colaboração que me pedes, e à parte as minhas tremendas dificuldades de tempo, não tenho nenhuma objecção e pelo contrário tenho mui­to gosto em colaborar nessa questão dos salários em atraso. Tentarei escrever alguma coisa mas terás que me avisar com antecedência do prazo.

E já agora, troca por troca, porque não nos mandas tu uma carta de Paris para o próximo nº da PO? O prazo é até ao fim de Setembro, impreterivelmente.

Tenho recebido o Monde e outros materiais teus com certa regularidade. Estou a ler o livro que me mandaste em fotocópia, mas não faço ideia de quem é aquele homem (era do Libération?) e acho-o muito declamatório e moralista. Os outros até se riem dele. Quanto à PO 9, de que só recebeste um exemplar, vou dizer para te mandarem, mas julgo que tenha havido extravio dos correios por­que os nossos serviços de expedição são (quase) infalíveis. Os ditos serviços pedem para te perguntar se queres que continuem a enviar a PO para (…).

Quanto à próxima PO, a sair até meados de Outubro, terá um dossier re­lativo ao 70º aniversário da revolução russa, com artigos do PC do Irão, do PCR do Brasil e de um grupo italiano, que me parecem interessantes. Além dis­so, comentários às últimas eleições portuguesas e a situação nacional e inter­nacional. Infelizmente não vai haver bagagem para nenhum estudo ou artigo mais profundo e assim teremos que continuar até ao fim do ano. Temos trocado ideias entre nós sobre uma possível mudança de figurino da PO, tornando-a mais política e acessível, para tentar captar um público operário que até agora se ma­nifesta pouco receptivo às nossas elaborações ideológicas. De qualquer modo, o assunto terá que ser maduramente discutido.

Tive encontros, com pequeno intervalo, com dois franceses que por aqui passaram de férias: um, muito jovem, do Partisan “dissidente” (…); e outro, que não deu o nome, do Partisan maioritário. Conversei com eles, sobretudo com o último, mas não fi­quei muito esclarecido sobre as causas da cisão e o que lhes vai acontecer, quer um quer outro mostraram-se interessados em contactar-te, tu verás o que podes dizer-lhes. Fora disso, os nossos contactos internacionais estão todos conge­lados, à excepção da Suécia, donde nos escreveram, quase simultaneamente, dois partidos ML a propor contactos. Como dizia o Enver Hoxha, “o movimento cresce e fortalece-se…”

Há mais notícias e pontos a discutir mas ficará para a próxima, que espero seja em breve. Um grande abraço para ti e para todos aí em casa

 

Cartas a MV – 3

 Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (5)

18/10/1985

Como vão de saúde? Esperamos que não vos tenha desiludido o nº 1 da PO, de que enviámos 13 exemplares. Para a venda aí vocês verão o preço a fixar, tendo em conta despesas de correio. Se houver aí pessoas a quem vos pareça que vale a pena fazer uma oferta, propondo que se tornem assinantes, não hesitem em fazê-lo. Oferecemos aqui umas dezenas, até para levar a revista ao conhecimento de pessoas que nos interessa tocar. Seguem junto alguns exemplares da carta de oferta e boletins de assinatura. Se precisarem de mais exemplares, apressem-se a fazer a vossa encomenda porque a tiragem está quase esgotada. Temos feito uma boa venda militante em Lisboa e Perto, em empresas e locais de passagem. A saída nas livrarias também tem sido boa, graças às notícias que saíram na imprensa (junto fotocópia).

Seguiu para todos os partidos e grupos M-L, com proposta de permuta, mas até agora sem reposta, à excepção do grupo americano (“Workers’ Advocate”).

A opinião geral dos camaradas e amigos foi bastante favorável. Fizemos no passado dia 12 um encontro a que comparecem, além de membros da OCPO, 15 amigos, sobretudo operários. Discutimos a orientação da revista, as eleições legislativas e problemas do movimento operário. Agora falta vocês também darem as vossas críticas, sugestões e colaborações.

Estamos a preparar o nº 2, a sair em fim de Novembro. Inclui artigos sobre a crise e reconstituição da família na União Soviética, papel dos comités de fábrica e dos sovietes na revolução russa, lutas internas no PCP, crítica à política do PC do Brasil, a restauração do capitalismo na China, actualidade política, entrevista com operários dos STCP, etc. Traz também o segundo artigo sobre a imi­gração em França, adaptado pelo MC a partir do que mandaste. Parece-nos muito interessante incluir uma carta de Paris, comentando questões da actualidade política em França. Pode ser? Seria necessário que cá estivesse até 7-10 Novembro, o mais tardar. Pedimos também ao PA uma carta de Londres mas até agora não temos resposta.

Vamos iniciar neste nº 2 uma secção de cartas, aberta a opiniões polémicas, críticas, sugestões. Se nos puderem enviar as vossas ideias sobre o nº 1 em carta, seria óptimo para publicar. Outro pe­dido urgente: consta aqui, segundo várias fontes bem informadas, que o M é bom caricaturista: será possível contarmos para o nº 2 com alguma caricatura ou desenho teu? Caso seja possível para já, também nos interessaria se nos enviasses bonecos recolhidos na imprensa aí. Queremos muito melhorar o aspecto gráfico e a qualidade das fotografias.

Outros materiais – Recebemos os jornais e revistas do PC do B, que estamos a aproveitar para um artigo. Tudo o que nos possam enviar da imprensa ML é do máximo interesse, para nossa informação e para alimentar a secção do Debate internacional. Lembramos a necessida­de de reatarem o envio dos cadernos de Kessel. Quanto à “Afrique-Asie”, não nos parece que justifique a despesa, porque tem uma in­formação limitada e uma orientação estreita. Se nos puderem mandar alguma coisa com documentação para artigos internacionais, nem que seja o “Monde Diplomatique”, valeria mais a pena.

Quanto a livros, pedimos que o M retome logo que possa o envio das fotocópias de textos da IC, como vinha fazendo. Mando junto uma lista do que recebemos, até agora, para evitar repetições. Além disso, dois títulos em que estamos interessados, se não for muita despesa:

  • biografia de Bukarine pelo prof. Cohen (EUA) – Galimard
  • Robert Linhart – Lénine, les paysans, Taylor – la Brèche, 9, rue Tunis.

Finanças – O RO entregou 2 contos vossos. A nossa empresa gráfica está a andar e temos algumas boas encomendas em perspectiva. Mas para tirarmos todo o rendimento da máquina de composição temos de lhe adaptar um disco especial, que permite gravar todo o texto, fazer emendas, etc., antes de passar ao papel. São mais 500 contos que vamos ter de gastar e estamos a apelar ao apoio de todos os camaradas. Contamos com a vossa boa vontade, na medida das vossas pos­sibilidades. Como a compra do offset parece não se concretizar, pedimos que nos canalizem para cá as vossas quotas ou outras contribuições sempre que possível. As assinaturas da revista são outra forma importante de ajuda e tem que ser feito um grande esforço porque ainda só vamos em 50 assinaturas, o que é ridículo.

OCPO- em reunião recente da direcção verificou-se que a absorção das tarefas de redacção e técnicas-comerciais, embora fosse inevitável, tem provocado um certo esvaziamento da frente da actividade política, sindical, etc., que não têm ganho corpo. Só com tarefas ideológicas e técnicas não se motivam muitos camaradas para uma actividade militante. Decidimos dar maior apoio político aos núcleos e tomar iniciativas para furar no terreno sindical, sem deixar de manter o centro dos esforços na saída e melhoria da revista.

Acerca das eleições legislativas,contamos enviar-vos uma apreciação em breve, assim como perspectivas quanto às presidenciais.

Um abraço

 

LIVROS EM FOTOCÔPIA (já recebidos)

  • Actas do I congresso da IC
  • Actas, resoluções, etc., entre o I e II congressos
  • Programme de 1’IC (VI congresso)
  • Resoluções da IX sessão plenária do CEIC, 60 pág.
  • X sessão plenária, 88 pág.
  • Teses e resoluções da XI sessão plenária, 42 pág.
  • Les PC et la crise du capitalisme, Manuilski, XI sessão plenária, 14-4 pág.
  • Correspondence Internationale, nº especial VI congresso
  • Correspondence Internationale, nº especial VII congresso
  • Le chemin de l’IC, 1934,54 pág.
  • Le fascisme, la social-démocratie et les communistes, Knorine, 1934, 55 pág.
  • L’IC et ses sections, Bewer, 1932, 102 pág.
  • Questions d’organisation, Kaganovitch, 1934,116 pág.
  • L’lC, Georges Cogniot, 1969, 158 pág.
  • Cahiers d’Histoire de l’Institut Maurice Thorez, nº 34 e nº 12
  • Histoire du bolchévisme, Arthur Rosenherg
  • Les bolchéviks et la lutte pour le pouvoir, B.Nikolaievski
  • Colloque International Karx-marxismes, Agosti, etc.,

 

Cartas a OS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a OS (1)

1/8/1989

Caro Amigo:

Desculpe a demora a responder à sua car­ta, mas foi devido ao período de férias. Rece­bi c dinheiro e segue por correio separado o livro Anti-Dimitrov. Gostaria que me comunicas­se mais tarde a sua opinião, assim como sobre os temas tratados na revista. Registámos a as­sinatura por 9 números a partir do nº 21 inclusive) e os 50$00 restantes entram como apoio à P.O. Apesar de a situação não ser nada favorá­vel para quem tem ideias comunistas (é o meu caso há muitos anos), penso que há muito que analisar e reflectir sobre as derrotas passa­das, para estarmos à altura de novos aconteci­mentos revolucionários que forçosamente surgi­rão. O capitalismo gostaria de dormir descan­sado mas faz tantos crimes que não pode. Quan­to aos revolucionários que se viram para os ta­chos, que lhes faça bom proveito! Por mim, já estou velho para virar a casaca. Por aí pode estar descansado. Um abraço

 Carta a OS (2)

23/8/1993

Caro Amigo:

Obrigado pela sua carta e pela renovação da assinatura. Mas quanto a esta tenho a dizer-lhe que deve haver engano da sua parte, pois a sua assinatura está válida até ao nº 45 da revista. Fiz o seguinte com o seu dinheiro: registei mais uma renovação por cinco números (até ao nº 50) e inscrevi o restante como apoio à revista. Se não achar bem, diga-nos, por favor.

Quanto às suas considerações políticas, tenciono transcrever um largo extracto na próxima revista, na secção das cartas dos leitores, se não vir inconveniente. Penso que há concordância entre nós no seguinte: os países que se apregoavam como socialistas afinal eram ditaduras governadas por uma cambada de privilegiados, dando ordens a toda a gente em nome do comunismo. Para manter o seu regime, arregimentavam, impunham a lei da rolha, prendiam, matavam, etc. Os trabalhadores de todo o mundo que julgavam ver no Leste uma alternativa ao capitalismo sentem-se burlados e desmoralizados.

Agora não posso concordar consigo quando escreve que o mal está no colectivismo, que o homem é egoísta e individualista por natureza, etc. É que se não defendemos o colectivismo, teremos que aceitar como inevitável que a maioria da humanidade trabalhe à jorna para os capitalistas, e que os destinos de todos nós andem ao sabor dos interesses do Capital. O amigo Orlando, como operário, certamente não apoia isso. É certo que todo o ser humano defende a sua individualidade mas isso não impede que se crie uma organização social em que ninguém possa ser proprietário de fábricas, empresas, terras, em que ninguém viva do trabalho alheio e todos trabalhem para o bem comum. À burguesia é que interessa convencer-nos de que isso é impossível.

Digo-lhe mais: a sucessão de crises económicas, escravização, fomes, guerras, que o capitalismo provoca vai levar-nos à necessidade absoluta de acabarmos com ele, se não queremos que ele acabe connosco. O capitalismo, esse é que é o grande problema por resolver. Por isso, eu, que fui durante anos militante do PCP e depois do PC(R), que apoiei a União Soviética, a China, a Albânia, hoje digo: é verdade que me enganei e tenho muita pena de me ter enganado. Mas durante esses anos em que apoiei um falso comunismo, estive sempre a lutar contra o capitalismo, contra o fascismo de Salazar, contra o imperialismo americano, etc. Por isso, não dou o meu tempo por perdido. Muito pior seria se não tivesse feito nada contra o capitalismo.

Estou plenamente convicto que da experiência dos falsos caminhos destes 50 anos o movimento operário há-de tirar lições para fazer melhor na próxima. Se calhar, já não será no nosso tempo, mas será um pouco o resultado de tudo aquilo que fizemos, com todos os nossos erros, para acabar com o capitalismo. Isto para lhe dizer em poucas palavras o que penso do assunto.

Quanto à sua pergunta sobre Jean-Paul Sartre, confesso que não sei muito. Penso que teve de facto posições muito firmes e independentes em certos casos, mas noutros não tanto. Vou procurar na nossa biblioteca alguma obra que lhe possa emprestar para sua informação.

Já agora, gostaria de lhe pedir uma informação, se possível. A nossa revista teve em tempos um assinante aí de (…), chamado (…), metalúrgico, que morava na Rua (…). Perdemos o contacto com ele já há bastante tempo, mas gostaríamos que ele renovasse a assinatura da revista. Escrevemos e não recebemos resposta. Será que o amigo por acaso o conhece? Desculpe fazer-lhe este pedido, mas nós tentamos alargar a distribuição da revista, arranjar novos assinantes, novos postos de venda, etc. Se puder ajudar-nos nisto, fico-lhe muito grato. Será um contributo para a revista continuar e melhorar.

 Carta a OS (3)

8/12/1993

Caro Amigo:

Caro amigo:Antes de mais, temos que lhe agradecer o interesse com que correspondeu ao pedido para indicar possíveis novos assinantes. Vamos enviar a P.O. n9 42 (a sair dentro de dias) para as pessoas que indicou com uma proposta para se tomarem assinantes. Veremos se alguns aceitam.

Quanto à sua opinião sobre a necessidade de mudar o nome da revista para ter mais aceitação, embora eu pessoalmente discorde, reconheço que a proposta já tem sido levantada por outras pessoas e que há alguns argumentos nesse sentido. Publicamos essa passagem da sua carta na P.O. 42 e tenciono fazer um artigo sobre o assunto no número seguinte, se for capaz.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar os aspectos revolucionários de Mao, sobretudo nos anos da luta contra Chiang Kai-chek, os japoneses e os americanos. A revolução chinesa não deu o socialismo que muitos de nós esperávamos mas arrancou o povo mais numeroso do planeta à miséria e à ignorância feudal e deu um grande impulso às lutas anti-imperialistas em todo o mundo. Como estaria hoje o mundo se não tivesse havido revolução popular na China? É isto mais ou menos que tentaremos dizer.

Não esqueci o seu pedido sobre Sartre mas não encontrei nada na nossa biblioteca e tento conseguir junto de pessoas amigas. Por hoje é tudo. Aceite um abraço e desejos de um ano novo melhor que este.

Carta a OS (4)

14/2/1997

Caro Amigo:

Só agora respondo às suas cartas, devido à acumulação de trabalho. A P.O. nº 58 está finalmente na tipografia e em breve a receberá. Julgo que terá recebido o livro “Os meus anos com o Che”, pago por seu cheque em Dezembro passado e que o relato lhe tenha interessado. Fica-se com uma ideia viva da força dos sentimentos anti-imperialistas na América Latina, onde não há país que não tenha sofrido interferências e golpes militares inspirados pelos Estados Unidos. Quanto a futuras edições nossas, as perspectivas não são boas. São raros os livros que não dão prejuízo e não temos capacidade financeira para aguentar. Possivelmente iremos suspender por alguns meses a edição de livros para manter só a revista.

Sem outro assunto, envio as minhas cordiais saudações.

 

 

 

 

Notas para discussão

Francisco Martins Rodrigues

Notas para discussão

Partimos há dez anos com a convicção de iniciar a marcha para um novo partido comunista e um novo movimento comunista internacional; julgávamos que bastaria corrigir o desvio centrista que assaltara a corrente M-L para retomar os carris do leninismo e da revolução russa.

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A Internacional Comunista na Europa

Francisco Martins Rodrigues

A Internacional Comunista na Europa

A primeira coisa que salta à vista é que as perspectivas revolucionárias da Europa neste século foram simplesmente inexistentes. A luta abnegada dos comunistas europeus (é só destes que falamos aqui) serviu para obter melhorias materiais, afrouxar por vezes a canga da exploração, derrubar ditaduras… mas não acumulou forças para a revolução anticapitalista. Pelo contrário, todos reconhecem que as massas trabalhadoras, se são hoje incomparavelmente menos miseráveis e ignorantes do que no princípio do século, estão contudo mais integradas no espírito da ordem burguesa.

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Redescobrir o comunismo

Francisco Martins Rodrigues

Redescobrir o comunismo

Nem todos os que acompanham o percurso desta revista estão satisfeitos com o trabalho realizado, longe disso. Segundo alguns,  a PO, depois de certos avanços iniciais, está a patinar, quase reduzida ao papel de agitação em torno dos problemas diários.

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Notas sobre a linha sindical

Francisco Martins Rodrigues

Notas sobre a linha sindical

  1. Objeções ao trabalho sindical dos comunistas

A política comunista face aos sindicatos deve ter em conta as trans­formações do último meio-século. Havia uma luta entre a corrente sindi­cal reformista e a corrente sindical revolucionária, animada pelos co­munistas. Agora há só uma disputa entre diversas correntes reformistas rivais, alinhadas em última análise com o imperialismo ocidental ou com o sociai-imperialismo soviético. Não existe corrente sindical revo­lucionária internacional.

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