Proposta de Manifesto – 1984 (2) A lição de Abril

Francisco Martins Rodrigues

Reaccionários, liberais e socialistas não se cansam de culpar o “gonçalvismo” e a “indisciplina social” pelo descalabro a que che­gámos. Responde o PCP com hinos às conquistas de Abril e lamentações sobre a falta de unidade dos democratas e o radicalismo esquerdizante, que teriam deitado a perder a “revolução”. Continuar a ler

Proposta de Manifesto  – 1984 (1 ) Capitalismo em crise

Francisco Martins Rodrigues

Não têm faltado aos operários os apelos à luta contra um e ou­tro governo. Os frutos dessa luta têm sido escassos. A Organização Comunista de Portugal (OCP), ao constituir-se; convida os operá­rios e todos os revolucionários a reflectirem sobre as causas das derrotas sofridas e a procurarem novos caminhos para a classe ope­rária. Continuar a ler

Trabalhadores

Em Marcha, 19 de Janeiro de 1983

A imprensa comentou os dados recentemente divulgados pelo Ministério do Trabalho acerca dos salários médios em Março de 1981. Os números vieram desfazer algumas mentiras mantidas pelos meios oficiais acerca do nível de vida dos trabalhadores portugueses. Vejamos quais eram, em Março de 1981, os salários médios por grandes grupos de categorias:

  • 10% eram aprendizes com 8 contos
  • 45% eram não-qualificados com …. 11 contos
  • 40% eram qualificados com 14 contos
  • 5% eram quadros com 25 a 35 contos

O quadro, mesmo desactualizado, mostra aquilo que todos os operários sabem mas nunca é dito em público: há uma sucessão de pequenos degraus entre as categorias operárias e depois um enorme salto para os vencimentos dos quadros. A imagem que se procura criar de uma massa de “colaboradores” da empresa, do aprendiz ao engenheiro e ao chefe, não tem nenhum fundamento.

Os chamados “trabalhadores” da indústria compõem-se de uma enorme massa operária mal paga e uma nata de quadros e especializados, a ganhar 2, 3 e 4 vezes mais. Há dentro das empresas uma elite encarregada de chefiar, enquadrar, controlar e espremer os operários, elite que é recompensada por este serviço com vencimentos muito “interessantes”.

Isto quer dizer que os operários defrontam dentro da empresa dois inimigos: o capitalista, o patrão, e o quadro, agente do capital. Isto quer dizer que os operários, para defenderem os seus interesses imediatos, não podem abrir as suas comissões aos quadros, nem unificar a sua luta com as reivindicações dos quadros. Isto quer dizer que a aliança ou a neutralização daqueles quadros que não querem ser sabujos do patrão tem que se fazer com rigorosa independência dos operários. Perguntem ao PCP o que pensa disto.

Desembaraçar o movimento operário da ideia venenosa de que a nitidez dos contornos das diversas classes seria “sectarismo” é um passo indispensável para qualquer avanço. Para poderem chegar um dia a conduzir a luta de todo o povo, os operários têm que começar por diferenciar-se resolutamente. Essa conversa de “trabalhadores” tem água no bico.

Palavras de amor

Em Marcha, 29 de Dezembro de 1982

PALAVRAS DE AMOR

Atendendo inúmeros pedidos de leitores desejosos de uma trégua no ódio de classes nesta quadra festiva do Natal, troco hoje o “Tiro ao Alvo” por um apelo ao Amor.

Aos operários da Lisnave, Setenave, Messa, etc., que receberam uns escudos por conta dos salários em atraso e que esperam a vez de ser despedidos, aconselho vivamente resignação e paciência. Trabalhai mais e melhor para mostrar ao vossos exmos. gestores e patrões e ao Sr. Presidente da República o vosso desejo de recuperar a economia nacional. Não vos deixeis cair na tentação do protesto, da greve ou da manifestação ruidosa, que semeiam a perturbação na ordem pública. Muito menos vos deixeis arrastar para actos irreflectidos e criminosos como o sequestro dos vossos superiores.

Aos moradores despejados com os seus tarecos pela autoridade, peço moderação e comedimento. Por duro que vos pareça passaras noites ao relento com as crianças debaixo das pontes, lembrai-vos que o direito de propriedade é o mais sólido alicerce desta nossa sociedade democrática.

Aos jovens contratados a prazo, amargurados pela incerteza do dia de amanhã, peço que ponderem as dificuldades dos vossos patrões. Procurai merecer pela vossa diligência o lugar que vos deram e, se tiverdes que ser dispensados, pensai que muitos outros conhecem os horrores do desemprego.

Aos desempregados sem subsídio, forçados a viver à custa de esmolas, aos assalariados do Alentejo, desiludidos dos sonhos vãos na Reforma Agrária, aos camponeses arruinados, a todos exorto a que não se deixem arrastar para marchas da fome e desacatos que ofendem os corações bem formados.

Aguardai serenamente que as instituições democráticas escolham um homem recto para governar o país, seja ele o prof. Victor Crespo, o prof. Mota Pinto ou o prof. Freitas do Amaral. Embora muitos de vós possam descrer, há nesta quadra do Natal quem se debruce com sincera piedade sobre os vossos sofrimentos. Confiai no general Ramalho Eanes e no dr. Álvaro Cunhal.

Por último, pensai que talvez aquilo que hoje sofreis seja a expiação pela vossa soberba e arrogância de 1975, quando julgastes poder ditar a vossa vontade à sociedade estabelecida. Sabei que a voz dos pobres jamais prevaleceu neste mundo. A não ser quando pegaram em armas contra os ricos. Mas isso é um grande pecado. Amén. (Tiro ao alvo, 29 Dez 1982)