Cartas a MV – 6

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (9)

26/6/1986

Camaradas:

Temos recebido livros, revistas e bonecos do M, mas só uns pequenos bilhetes a acompanhá-los e não a carta detalhada que postaríamos de ter da vossa parte, para nos apercebermos melhor dos vossos problemas e perspectivas de actividade. Soubemos pelo R que pensam vir aqui em fins de Julho e esperamos nessa al­tura ter um dia para uma discussão a sério de todos os nossos problemas. Seria bom que nos avisassem com antecedência do dia que terão disponível para estar em Lisboa connosco.

A seguir damos as notícias mais importantes sobre o que es­tamos a fazer.

PO nº 5 – Enviamos pelo R apenas 3 exemplares porque sa­bemos que têm bastante dificuldade em colocá-la aí. Se estiverem de acordo, será esta quantidade que pastaremos a enviar. Este número saiu com algumas semanas de atraso por dificuldades de to­da a ordem, mas parece-nos que mantém o nível dos anteriores; ainda não é desta que entramos nos grandes problemas de fundo, mas a pressão dos acontecimentos e o quadro reduzido dos nossos redactores não nos deixou fazer melhor. Como verão, temos um novo colaborador, MC, de quem vocês se devem lembrar. Está disposto a fazer uma série de artigos e a sua perspectiva parece-nos correcta. E colaborações do M? Não compreendemos por que não mandas nada, nem que seja a Carta de Paris. Só se é por não gostar de nós.

Decidimos adiar o nº que calhava no período de férias porque a venda seria muito difícil. O nº 6 sairá em fins de Setembro-princípios de Outubro e tentaremos aproveitar este intervalo maior para trabalhar alguns artigos mais de fundo e, se possí­vel, fazer um nº melhorado para comemorar este primeiro aniver­sário. Discutiremos convosco o sumário e a v/colaboração.

Pensamos também fazer na altura uma campanha de publicidade para tornar a revista mais conhecida. As vendas têm tido uma certa quebra, que aliás esperávamos: houve um movimento inicial de curiosidade que levou a esgotar o nº 1. Mas à medida que um certo número de pessoas de tendência social-democrata se aperceberam da orientação da revista, deixaram de a comprar. Estamos a colocá-la numas 25 livrarias de Lisboa, mais umas 20 na provín­cia, mas a venda principal é a venda militante. Temos umas 100 a 150 de sobras, que se vão vendendo depois lentamente. Aproveita­mos manifestações, Feira do livro, etc., para mostrar a revista a público. O desafio que temos pela frente é descobrir os leito­res de esquerda que ainda ignoram a nossa existência e isso de­pende sobretudo da acção militante.

Assembleia – depois de vários adiamentos, realiza-se em definitivo nos próximos dias 5 e 6 de Julho. Já conhecem o relatório de actividade da direcção que vai ser discutido. Seguem junto as Tribunas nº 6 e 7 e, se possível, ainda vos enviaremos antes da­quela data outras duas que devem sair com materiais para discus­são. A Assembleia está a ser preparada por uma comissão organi­zadora com dois elementos da direcção e três dos núcleos para assegurar completa democracia. Temos feito diversas reuniões preparatórias envolvendo a maioria dos camaradas. Principais problemas em debate, para além dos que estão no relatório;

  • definição da situação de diversos camaradas que têm fun­cionado na prática mais como simpatizantes do que como membros da OCPO. Lutamos pela aplicação do artº 1º dos estatutos, tentando ganhar todos os camaradas como mem­bros activos, mas não conseguiremos evitar que alguns pas­sem a simpatizantes, porque é esse o seu desejo. Ê o caso do R. Como não há perspectivas imediatas de recruta­mento e entretanto já perdemos alguns outros camaradas, esta situação preocupa-nos. O principal é mentalizar o conjunto dos camaradas para a ideia de que não há nada de dramático na situação de sermos um pequeno grupo, combater o pânico. Há épocas para estar num partido e há épocas pa­ra estar num grupo.
  • a atitude perante as eleições (as que houve e as que pode­rá voltar a haver dentro de meses) tem gerado bastante po­lémica. Embora todos concordem em que essa não é neste mo­mento uma questão prioritária para nós, dada a nossa es­cassíssima influência, o certo é que em torno da abstenção ou não abstenção se geram divergências. A direcção não foi capaz de apresentar um balanço de sua autoria e iremos con­frontar opiniões pessoais; em todo o caso, não pensamos que as divergências sobre esse assunto se tornem graves,pelo menos nos tempos mais próximos.

Quanto à futura direcção, procede-se a consultas e a co­missão organizadora apresentará uma lista de candidatos à Assembleia. O G saiu da direcção há já meses por razões que todos consideraram injustificadas; na realidade, segundo pensamos, porque nunca se sentiu bem com essa res­ponsabilidade; o ZB teve que emigrar para a Suíça à procura de trabalho por se encontrar em situação aflitiva; está agora connosco (partiu um pé e veio-se tratar cá) mas voltará para lá mais 3 meses, a cumprir um contrato. Está moralizado e garante-nos que estará aqui de vez em Outubro. Os restantes continuam a funcionar, mas muito as­soberbados com trabalho, sobretudo desde que nos começámos a meter mais na intervenção política.

A vossa participação na Assembleia poderá fazer-se, de acor­do com os estatutos, através do voto por correspondência, com quaisquer declarações que entendam úteis e que serão levadas ao conhecimento da Assembleia. Achamos de bastante interesse que o façam, tanto sobre o relatório da direcção como sobre outros as­suntos. Se ainda nos for possível, enviar-vos-emos os projectos de moções que vão ser postos à votação, para que se pronunciem por carta. Achamos que o vosso afastamento não deverá impedir a vossa participação no essencial dos trabalhos.

Internacional – como tínhamos informado, estiveram entre nós dois dirigentes do MLP dos EUA, com quem tivemos uma semana de discussões bastante frutuosas; quando nos encontrarmos em Julho poderemos informar detalhadamente do que se tratou. Para já, re­sumidamente, podemos dizer que há um acordo no essencial; o en­tendimento do marxismo-leninismo como a demarcação nítida dos interesses do proletariado e portanto, a crítica às correntes burguesas democráticas, nacionais, etc., a crítica à linha do 7º congresso da IC, a crítica ao rumo da União Soviética desde os anos 30, a crítica ao PTA, a crítica às revoluções tipo sandinistas, etc. Alguns pontos em que fazemos apreciações diferentes: a corrente ML é ML com erros (tese deles) ou é apenas centrista? centralismo de­mocrático significa monolitismo (tese deles) ou esse conceito deve ser rejeitado? Os últimos 50 anos tiveram grandes vitórias (tese deles) ou devem considerar-se 50 anos de derrotas? não in­teressa destrinçar qual dos dois blocos é mais perigoso (tese deles) ou deve-se dizer que o imperialismo EUA é o principal inimigo?

Vamos continuar a debater mas ficámos com uma impressão geral bastante boa. Eles publicaram recentemente um longo artigo no jornal deles a nosso respeito. Infelizmente não temos cópia feita para vos enviar, mostrar-vos-emos quando cá vierem.

Quanto ao PC do Irão, como já dissemos antes, entrou em con­tacto connosco e mandou-nos muito material que estamos a estudar. Parece-nos ter algumas fraquezas teóricas, como poderão ver pelos extractos do programa que publicamos na PO 5 mas é um partido com real base de massas e que se bate de arrumas na mão contra o Khomeiny. Do PC da Nicarágua (ex-MAPML) é que ainda não obtivemos nada mas, pelo que temos lido, parece-nos ser um partido sério, que conjuga uma posição anti-imperialista inequívoca com uma crí­tica aberta aos sandinistas e às suas incoerências.

Tribuna Operária – seguem junto 3 exemplares do nº 0, que temos estado a fazer circular entre sectores operários que toca­mos, para ver se ganhamos base de apoio para a sua edição defi­nitiva. Só por nós não podemos fazer um jornal destes: precisamos de recolher notícias e informações de muitas empresas e ter uma rede de difusores. Vamos usar estes meses do Verão para tentar criar uma equipa de redacção e difusão, com vistas a iniciar pu­blicação regular em Outubro. Está em preparação um encontro sin­dical com activistas de vários pontos do país (alguns deles ex-UDPs) para Setembro. A dificuldade aqui resulta do facto de a ini­ciativa ser disputada por outros agrupamentos e nós não queremos fazer um consórcio de grupos, que acaba sempre em guerras.

O almoço comemorativo do centenário do 1º de Maio, de que já tínhamos falado, fez-se com 130 pessoas, na maioria operários, e intervenções dos representantes dos vários grupos promotores. Teve um efeito positivo na ideia de que se pode começar a reagru­par a esquerda.

Técnico/finanças – acabamos de dar um novo “grande salto em frente” com a troca da máquina da composição por outra mais evo­luída que nos permitirá agarrar encomendas de livros e trabalhos de mais vulto. Evidentemente, empenhámo-nos até a raiz dos cabe­los (mais uma vez) mas pensamos não estar a ser aventureiros. SÓ o futuro o dirá, e o nosso esforço, evidentemente; discutiremos também este assunto convosco quando cá estiverem. Recebemos os dois vales que mandaram (…) que saldaram as vossas dívidas em publicações. Vocês dir-nos-ão em Julho se têm possibilidade de manter uma quotização regular.

Bonecos Zav – receamos que Zav esteja desgostoso com o pouco apro­veitamento que temos dado aos bonecos. Isto não resulta de de­sinteresse da nossa parte. Pelo contrário, temo-los apreciado atentamente porque sentimos muito a necessidade de comentários gráficos; os reparos que têm sido feitos aos bonecos são os se­guintes; o humor amargo e por vezes brutal (o que  é um de­feito) torna-se em muitos casos difícil de apreender pelo lei­tor comum; as críticas a acontecimentos nacionais surgem com muito atraso, perdendo actualidade; há um certo número de piadas relativas à emigração que só se justificariam como ilustração a um artigo sobre o assunto (ex: a excelente venda de emigrantes às postas) mas a dificuldade é que não temos cartas de Paris.

Propomos pois que o Zav se procure inspirar em temas (nacio­nais ou internacionais) tratados na revista, que não sejam de mera conjuntura eleitoral, para não sofrerem com a perda de ac­tualidade. Sugestões: o povo espera pacientemente na bicha da sopa dos pobres que Cavaco, Soares, Eanes, etc. decidam nos seus congressos se vão aliar-se ou guerrear; parabéns ao gene­ral Pedro Cardoso, super-comandante da nova PIDE; 183 novos de­sempregados em cada dia – avançamos aceleradamente para níveis europeus; Cunhal nega terminantemente que existam divergências no PCP, enquanto atrás da cortina se esmurram eurocomunistas e “ortodoxos”; etc, etc. Também as questões internacionais poderiam ser tema para bonecos: como o massacre dos presos políticos no Peru pelo social-democrata Alan Garcia, na presença da social-democracia internacional; os massacres de negros na Africa do Sul, etc, etc.

Por agora é tudo. Acabamos esta carta para a entregar ao R, que vai partir. Até breve, abraços para vocês de todos nós.

Carta a MV (10)

28/8/1986

Caros camaradas:

Recebemos ultimamente, além do “Monde” e da “Afrique-Asie”, cinco números da revista ’’Cause du Communisme” e as outras publicações.

A questão principal que gostaríamos de ver em andamento são os contactos directos com o OCML-VP e com os representantes do PCI, conforme debatemos no nosso encontro.

Em relação aos primeiros, estamos a estudar a revista e podere­mos depois pôr algumas questões por escrito. Para já, gostaríamos de conhecer a razão por que não se referem ao movimento ML e ao PTA e se têm alguma posição definida a esse respeito. Não sabemos se esse silêncio, da parte de um grupo já estabilizado e com vários anos de existência, significa desinteresse ou vacilações no corte. Mandamos junto um resumo da nossa opinião sobre o movimento ML, que poderias pôr em francês e que serviria também para o teu contacto com os apoiantes do PCI. Seria bom se conseguisses, a partir desse resumo, ter uma discussão com alguém responsável da OCML.

Vemos também que a OCML faz ura apreciação muito positiva da revolução cultural chinesa. Gostaríamos de ler algum trabalho que tenham sobre o assunto. Outra sugestão: estariam eles interessados em publicar no “Partisan” ou na “Cause du Communisme” algum artigo da PO que tu ou a R lhes traduzissem? Nós encaramos a hipó­tese de publicar alguma coisa deles.

O objectivo essencial seria, através de um debate com alguém responsável da OCML e falando tu como representante da OCPO, ficar­mos com uma ideia mais precisa do que são e abrirmos caminho a um encontro formal de delegações, que se poderia fazer aqui ou em Pa­ris. Seria bom também que averiguasses se têm conhecimento e o que pensam dos posições do MLP, EUA.

Quanto ao grupo de apoio ao PCI, deverias dizer-lhes que rece­bemos a carta deles, que estamos a receber os materiais do comité exterior em Estocolmo (“Bolshevik Messsge” e “Report”), dar-lhes o mesmo resumo das nossas opiniões sobre a corrente MI. (fizeram-nos perguntas a esse respeito) e procurar travar debate com eles.

A preparação da PO 6 está atrasada. Cá estamos à espera da certa de Paris (urgente!) e de bonecos do Zav. Enviaremos 10 ex. como pediste. Da lista de livros que te entregámos, destacamos o Castoriadis, que valeria a pena comprar (usado?).

E é tudo. Abraços para os três. Vemo-nos em Dezembro?

 Sobre a corrente ML

Desde a nossa constituição como grupo independente, há cerca de 18 meses, informámos os partidos ML das razões da nossa ruptura com o PC(R) e propusemos a troca de publicações e o debate. Apenas com uma excepção, não nos responderam.

Verificamos que o conjunto dos partidos ML não admitem qualquer investigação crítica ao processo de degeneração da União Soviética, a Staline, ao 7º– congresso da IC, à teoria das “democracias populares”, à política do PTA, etc. Temos conhecimento de que numa reunião de 10 partidos ML realizada em Outubro de 1935 em Quito (Equador), o MLP/EUA e a OCPO foram denunciados como forças “provocatórias” por terem abordado publicamente estas questões.

Nestas condições, parece-nos irrealista esperar que os partidos da chamada corrente  ML possam evoluir para posições revolucionárias consequentes. Em nossa opinião, trata-se de uma corrente centrista decadente que de marxista-leninista só tem o nome e que se mantém à sombra do PTA, como sua força dc apoio externo.

A chamada corrente ML constitui-se herdeira de todos os des­vios do movimento comunista internacional que nos anos 30-50 es­tiveram na origem do revisionismo moderno. Defende em palavras a política leninista de hegemonia do proletariado mas aplica na prá­tica a política stalinista-dimitrovista de “frente popular” e de “democracia popular”, visando a formação dum bloco operário-pequeno-burguês. Denuncia o maoísmo mas adopta a política  maoísta de apoio às burguesias nacionais dependentes. Proclama o marxismo-leninismo como “doutrina sempre jovem e científica” mas mantém uma atitude dogmático-praticista face à evolução da luta de classes. Declara-se fiel ao centralismo democrático mas suprime a democra­cia interna no Partido para defender o seu oportunismo.

Apesar do esforço para ocultar as divergências crescentes, a corrente ML está a ficar dividida em duas alas: uma, mais acentuadamente oportunista, constituída pelos “incondicionais” do PTA: PC do Brasil, PC(R) de Portugal, PC da Dinamarca, etc. Destaca-se nesta corrente o PC do Brasil, pela força com que exporta as suas próprias posições extremamente oportunistas de aliança com a bur­guesia liberal. 0 PC do Brasil teve um papel preponderante na de­generação oportunista do PC(R) e na nossa expulsão desse partido. Possuímos documentação, de que podemos ceder fotocópias, sobre a política do PC do Brasil.

A outra, ala, que agrupa actualmente a maioria dos partidos (PCs de Espanha, França, Suécia, Equador, México, Japão, Colômbia, etc.) faz algumas demarcações indirectas e cautelosas em relação ao nacionalismo da política albanesa, mas nenhuma crítica de princípios ao oportunismo, como se constata pela revista internacional que editam, “Teoria e Prática”. Nesta ala, o PC de Espanha (m-l) tem sido o mais agressivo no esforço para isolar as posições de esquerda.

O PC da Nicarágua (ex-MAP-ML), que tem aparecido associado a esta corrente, mantém ao mesmo tempo relações com o MLP/EUA e, no terreno de política interna, faz uma crítica à pequena burguesia sandinista que nos parece correcta. O PC do Japão (Esquerda), tam­bém associado a esta corrente, parece ter desistido por completo das análises críticas que há anos iniciara ao passado do movimento comunista internacional.

Concluímos que a actual corrente ML não pode dar origem a uma nova corrente comunista. Só a afirmação e a ampla divulgação de posições narxistas-leninistas consequentes pode tornar-se um pólo de atracção das forças revolucionárias, cortar caminho à prolife­ração do oportunismo e precipitar a crise do centrismo pseudo-ML.

Por isso atribuímos a maior importância ao debate e à troca de documentos entre os partidos e grupos que iniciaram a crítica às origens do revisionismo moderno. No que se refere aos artigos até agora publicados na nossa revista “Política Operária”, não nos é possível de momento traduzi-los mas procuraremos, na medida do possível, fornecer-vos resumos do que nos parece mais importante.

Propomos pois à vossa organização a troca de documentos e o início dum debate sobre as grandes questões do Movimento ML, como a tarefa mais urgente para a elaboração de uma plataforma comunista internacional, sem a qual é impossível a reorganização do movimento comunista.

 

 

Cartas a OS

Francisco Martins Rodrigues

Carta a OS (1)

1/8/1989

Caro Amigo:

Desculpe a demora a responder à sua car­ta, mas foi devido ao período de férias. Rece­bi c dinheiro e segue por correio separado o livro Anti-Dimitrov. Gostaria que me comunicas­se mais tarde a sua opinião, assim como sobre os temas tratados na revista. Registámos a as­sinatura por 9 números a partir do nº 21 inclusive) e os 50$00 restantes entram como apoio à P.O. Apesar de a situação não ser nada favorá­vel para quem tem ideias comunistas (é o meu caso há muitos anos), penso que há muito que analisar e reflectir sobre as derrotas passa­das, para estarmos à altura de novos aconteci­mentos revolucionários que forçosamente surgi­rão. O capitalismo gostaria de dormir descan­sado mas faz tantos crimes que não pode. Quan­to aos revolucionários que se viram para os ta­chos, que lhes faça bom proveito! Por mim, já estou velho para virar a casaca. Por aí pode estar descansado. Um abraço

 Carta a OS (2)

23/8/1993

Caro Amigo:

Obrigado pela sua carta e pela renovação da assinatura. Mas quanto a esta tenho a dizer-lhe que deve haver engano da sua parte, pois a sua assinatura está válida até ao nº 45 da revista. Fiz o seguinte com o seu dinheiro: registei mais uma renovação por cinco números (até ao nº 50) e inscrevi o restante como apoio à revista. Se não achar bem, diga-nos, por favor.

Quanto às suas considerações políticas, tenciono transcrever um largo extracto na próxima revista, na secção das cartas dos leitores, se não vir inconveniente. Penso que há concordância entre nós no seguinte: os países que se apregoavam como socialistas afinal eram ditaduras governadas por uma cambada de privilegiados, dando ordens a toda a gente em nome do comunismo. Para manter o seu regime, arregimentavam, impunham a lei da rolha, prendiam, matavam, etc. Os trabalhadores de todo o mundo que julgavam ver no Leste uma alternativa ao capitalismo sentem-se burlados e desmoralizados.

Agora não posso concordar consigo quando escreve que o mal está no colectivismo, que o homem é egoísta e individualista por natureza, etc. É que se não defendemos o colectivismo, teremos que aceitar como inevitável que a maioria da humanidade trabalhe à jorna para os capitalistas, e que os destinos de todos nós andem ao sabor dos interesses do Capital. O amigo Orlando, como operário, certamente não apoia isso. É certo que todo o ser humano defende a sua individualidade mas isso não impede que se crie uma organização social em que ninguém possa ser proprietário de fábricas, empresas, terras, em que ninguém viva do trabalho alheio e todos trabalhem para o bem comum. À burguesia é que interessa convencer-nos de que isso é impossível.

Digo-lhe mais: a sucessão de crises económicas, escravização, fomes, guerras, que o capitalismo provoca vai levar-nos à necessidade absoluta de acabarmos com ele, se não queremos que ele acabe connosco. O capitalismo, esse é que é o grande problema por resolver. Por isso, eu, que fui durante anos militante do PCP e depois do PC(R), que apoiei a União Soviética, a China, a Albânia, hoje digo: é verdade que me enganei e tenho muita pena de me ter enganado. Mas durante esses anos em que apoiei um falso comunismo, estive sempre a lutar contra o capitalismo, contra o fascismo de Salazar, contra o imperialismo americano, etc. Por isso, não dou o meu tempo por perdido. Muito pior seria se não tivesse feito nada contra o capitalismo.

Estou plenamente convicto que da experiência dos falsos caminhos destes 50 anos o movimento operário há-de tirar lições para fazer melhor na próxima. Se calhar, já não será no nosso tempo, mas será um pouco o resultado de tudo aquilo que fizemos, com todos os nossos erros, para acabar com o capitalismo. Isto para lhe dizer em poucas palavras o que penso do assunto.

Quanto à sua pergunta sobre Jean-Paul Sartre, confesso que não sei muito. Penso que teve de facto posições muito firmes e independentes em certos casos, mas noutros não tanto. Vou procurar na nossa biblioteca alguma obra que lhe possa emprestar para sua informação.

Já agora, gostaria de lhe pedir uma informação, se possível. A nossa revista teve em tempos um assinante aí de (…), chamado (…), metalúrgico, que morava na Rua (…). Perdemos o contacto com ele já há bastante tempo, mas gostaríamos que ele renovasse a assinatura da revista. Escrevemos e não recebemos resposta. Será que o amigo por acaso o conhece? Desculpe fazer-lhe este pedido, mas nós tentamos alargar a distribuição da revista, arranjar novos assinantes, novos postos de venda, etc. Se puder ajudar-nos nisto, fico-lhe muito grato. Será um contributo para a revista continuar e melhorar.

 Carta a OS (3)

8/12/1993

Caro Amigo:

Caro amigo:Antes de mais, temos que lhe agradecer o interesse com que correspondeu ao pedido para indicar possíveis novos assinantes. Vamos enviar a P.O. n9 42 (a sair dentro de dias) para as pessoas que indicou com uma proposta para se tomarem assinantes. Veremos se alguns aceitam.

Quanto à sua opinião sobre a necessidade de mudar o nome da revista para ter mais aceitação, embora eu pessoalmente discorde, reconheço que a proposta já tem sido levantada por outras pessoas e que há alguns argumentos nesse sentido. Publicamos essa passagem da sua carta na P.O. 42 e tenciono fazer um artigo sobre o assunto no número seguinte, se for capaz.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar os aspectos revolucionários de Mao, sobretudo nos anos da luta contra Chiang Kai-chek, os japoneses e os americanos. A revolução chinesa não deu o socialismo que muitos de nós esperávamos mas arrancou o povo mais numeroso do planeta à miséria e à ignorância feudal e deu um grande impulso às lutas anti-imperialistas em todo o mundo. Como estaria hoje o mundo se não tivesse havido revolução popular na China? É isto mais ou menos que tentaremos dizer.

Não esqueci o seu pedido sobre Sartre mas não encontrei nada na nossa biblioteca e tento conseguir junto de pessoas amigas. Por hoje é tudo. Aceite um abraço e desejos de um ano novo melhor que este.

Carta a OS (4)

14/2/1997

Caro Amigo:

Só agora respondo às suas cartas, devido à acumulação de trabalho. A P.O. nº 58 está finalmente na tipografia e em breve a receberá. Julgo que terá recebido o livro “Os meus anos com o Che”, pago por seu cheque em Dezembro passado e que o relato lhe tenha interessado. Fica-se com uma ideia viva da força dos sentimentos anti-imperialistas na América Latina, onde não há país que não tenha sofrido interferências e golpes militares inspirados pelos Estados Unidos. Quanto a futuras edições nossas, as perspectivas não são boas. São raros os livros que não dão prejuízo e não temos capacidade financeira para aguentar. Possivelmente iremos suspender por alguns meses a edição de livros para manter só a revista.

Sem outro assunto, envio as minhas cordiais saudações.

 

 

 

 

Segunda carta ao MLP (3)

Francisco Martins Rodrigues

Segunda carta ao MLP (3)

  1. Situação no movimento ML

Enviámos o nosso Manifesto e a revista a 25 partidos ML, propondo a troca de publicações e de pontos de vista, mas, a não ser da vossa parte doe  “Progressive Labor Party”, não obtivemos resposta. O PC do Brasil devolveu-nos os documentos classificando-nos de trotskistas.

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Segunda carta ao MLP – 2

Francisco Martins Rodrigues

Segunda carta ao MLP – 2

  1. Luta interna no Partido

Manifestam na vossa carta preocupações quanto à nossa crítica à concepção do partido “monolítico”. Não temos dúvidas de que é uma questão vital, que precisa de um exame ponderado no espírito do leninismo e sem quaisquer concessões à social-democracia, ao trotskismo e ao anarquismo. Gostaríamos de conhecer materiais vossos sobre o assunto.

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A Revolução Russa e os seus equívocos

Francisco Martins Rodrigues

A Revolução Russa e os seus equívocos[i]

Numa situação revolucionária que estava longe de existir na Europa, o facto de a revolução russa ser conduzida pelos operários não lhe alterava o carácter burguês, etapa essa já ultrapassada na quase totalidade dos países europeus. O imperialismo acarretava na Europa a proliferação cm larga escala de forças contra-revolucionárias, levantando entraves imprevistos à revolução socialista.

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Carta ao PRC (Brasil), PC do B, PTA

Francisco Martins Rodrigues

Carta ao PRC (Brasil), PC do B, PTA

Ao Comité Central

Caros Camaradas:

No seguimento da mensagem que vos enviámos em Abril, comunican­do a constituição da Organização Comunista “Política Operária” [e propondo o estabelecimento de relações entre as nossas organizações], trazemos ao vosso conhecimento um novo episódio da degeneração ideológica do PC(R), que comprova a justeza da ruptura por nós efectua­da com esse partido. Continuar a ler

O corte com o PCP

Francisco Martins Rodrigues

O CORTE COM O PCP [1]

1 – A apreciação do PC(R) sobre os grupos ML só ressaltou os seus aspectos negativos. Para abater os laços grupistas, as barreiras de desconfiança entre os membros dos diferentes grupos e e autori­dade dos seus chefes, apresentou-se esse período como uma aberra­ção pequeno-burguesa. O partido não precisa de denegrir os grupos para se elevar.

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Proposta de Manifesto, 1984 (9)      Portugal precisa duma revolução

Francisco Martins Rodrigues

Portugal precisa duma revolução

0 capitalismo levou Portugal aos umbrais da revolução socia­lista. Só a revolução socialista pode resolver a contradição fun­damental da sociedade portuguesa, a contradição entre o proleta­riado e a burguesia. A actual ditadura de classe da burguesia não pode ser corrigida ou melhorada. Há que derrubá-la para estabelecer em seu lugar um regime de ditadura do proletariado. Continuar a ler

Proposta de Manifesto – 1984 (8) Tarefas da revolução mundial

Francisco Martins Rodrigues

Tarefas da revolução mundial

Encerrado em derrota o segundo ciclo da revolução proletária mundial iniciado com a revolução russa, um novo ciclo começa a perfilar-se no horizonte. Continuar a ler

Proposta de Manifesto – 1984 (7) O comunismo não desarma

Francisco Martins Rodrigues

O comunismo não desarma

A crise do movimento marxista serviu para mostrar a ausência de alternativa ao marxismo. O pensamento burguês, espraiando-se livremente sobre o refluxo das ideias marxistas, produziu uma enorme variedade de escolas e correntes obscurantistas, utópicas, desesperadas, mas nenhuma teoria social coerente. Continuar a ler