Cartas a MV – 32

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (37)

15/9/1992

Caríssimo:

Não recebi resposta às questões que te pus na minha carta de 14 de Julho: colaboração tua para a P.O., renovação da assinatura do Monde Diplomatique, contacto com o Serfaty, notícias sobre o Albatroz. Estou preocupado com a tua falta de notícias mas espero que estejas apenas de férias, numa boa.

Escrevo-te esta para te dizer que renovei aqui a assinatura do Monde Diplomatique; não faças aí uma em duplicado. Estamos a fechar a P.O., se quiseres mandar alguma coisa ainda vem a tempo. Escreve ou tomamos pública a tua irradiação! Além disso, só te escrevo sobre a política cá da terra quando escreveres uma carta em condições.

Um abraço

Carta a MV (38)

9/12/1992

Caro Manuel:

Só agora, depois de enviada para a tipografia a P.O. nº 37, pude meter-me a pôr em dia a vastíssima correspondência que aflui de todos os cantos do mundo… Respondo à tua carta de 28 de Outubro.

A visita do torcionário Hassan II não está marcada, nem oficialmente confirmada. Já foi mais de uma vez anunciada na imprensa, desde Abril ou Maio, mas depois fica tudo em silêncio. Suponho que há dificuldades no estabelecimento da agenda, interesses económicos conflituais (pescas, conservas). Uma coisa parece certa: do lado de cá, o Mário Soares está interessado em promover a visita e tem lançado periodicamente referências simpáticas a Marrocos na imprensa, além de abafar as referências desagradáveis. Uma coisa positiva foi a aparição recente do Abraham Serfaty num programa organizado pela Amnistia Internacional, no novo canal da SIC (Balsemão/«Expresso»), denunciando a situação dos presos marroquinos. De acordo com a tua sugestão, vou escrever ao Serfaty propondo a redacção desse manifesto, para não sermos colhidos de surpresa se a visita for avante dum momento para o outro. Procurei mas não encontrei fotos de visitas dos grandes chefes lusitanos a Marrocos.

A P.O. passou para 32 páginas e está a ampliar a lista de colaboradores regulares, como verás pelo nº 37 que te chegará dentro de dias. Só a «Carta de Paris» não corresponde. Quando te irritas com algum acontecimento e tens um dos teus desabafos, fazes óptimas cartas; o pior é que te irritas poucas vezes… Será desta que vais mandar algo? Ganhámos um novo colaborador, João Paulo Monteiro, do Porto, que parece ter ideias e sabe expô-las. Diz-me o que te parecem os artigos dele.

 A distribuição da revista também deu um «grande salto em frente»: passámos para 120 pontos de venda na região de Lisboa e estamos a alargar também no Porto e a arranjar outras localidades, tudo na base militante. O nosso sonho continua a ser a passagem à publicação mensal, mas só se assegurarmos uma rede maior de colaboradores certos.

Quanto a outras áreas de actividade, continuamos bloqueados. O único campo em que temos feito alguma intervenção tem sido na questão do racismo e colonialismo, através do MAR, Movimento Anti-Racista. Deslocámos uma delegação a Cádiz em Setembro, onde participámos num encontro internacional contra as Comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos; contactos com esquerdas latino-americanas, índios, teologia da libertação, não nos faltam. Continuamos a ir para a rua Augusta fazer agitação anti-racista e anti- descobrimentos. De cada vez, é um êxito quanto à comoção pública que causa, mas, como digo numa crónica que escrevi na última P.O., as reacções de extrema-direita e mesmo abertamente nazis começam a tomar-se descaradas, perante a vacilação e o receio da maioria das pessoas presentes. O ambiente aqui não tem termo de comparação com o do resto da Europa, vai tudo sempre mais devagar, mas, como bons alunos, acabam por lá chegar…

Um teste esclarecedor foram os acontecimentos em Angola, que levantaram na imprensa daqui uma vaga pró-Savimbi que nem queiras saber. Mando-te fotocópia dum artigo que consegui fazer sair no «Público». Agora estou a ver se publicam um outro que para lá enviei, em resposta a um artigo porco do Pacheco Pereira, que me referia entre os rivais infelizes de Cunhal (o velho passou à semi-reforma no congresso do PC que acaba de ter lugar).

Quanto ao terreno propriamente comunista, estamos a bradar no deserto. Espero que não me venham buscar um dia destes para o manicómio. Os nossos contactos internacionais não avançam, recuam. Os norte-americanos andam metidos num debate interno que possivelmente vai dar a divisão em duas ou três partes. Dos iranianos, quase nada sabemos, a não ser que o Mansor Hekmat saiu do partido. E pela tua parte? O último livro do Tom Thomas é interessante, eu tinha preparado um comentário-resumo, mas saltou por falta de espaço, sairá na próxima P.O. Estou a receber o «Monde Diplo».

Pedimos tudo o que vejas por aí de papéis com algum interesse. É tudo, Manel. Abraços de todos nós. Se vieres a Portugal, procura-nos!  

Cartas a MV – 31

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (36)

14/7/1992

M.íssimo:

 Tenho recebido publicações tuas, sinal de que ainda mexes. A principal foi o livro do Tom Thomas, a que faremos referência na próxima P.O.

Recebeste a P.O. 35? Agradou? Vais preparar alguma colaboração para a próxima? Se a P.O. acabar, és tu o responsável! (Está descansado que não acaba). Andamos a debater a necessidade de passar a mensal e as modalidades em que poderemos fazê-lo, mas esbarramos sempre com o escasso número de redactores e colaboradores. Porque não entras para a equipa? As condições são aliciantes… Seria bom discutir o assunto contigo se por cá passares de férias.

Escrevo-te em especial pelo seguinte: recebi um aviso para a renovação da assinatura do «Monde Diplomatique» e fiquei sem saber se te convém transferir para cá o pagamento. Se não te fizer jeito pagá-la aí, tudo bem: eu renovo daqui. Só te peço que me mandes dizer alguma coisa até 30 de Agosto, para não se dar o caso de fazermos duas renovações.

Outro assunto: poderias arranjar-nos o endereço do Abraham Serfaty? Como deves saber, vai haverem 12/16 de Outubro uma reunião internacional em Puerto Real (Cádiz) contra as comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos. A Ana esteve no último fim-de-semana em Madrid numa Contra-Cimeira, fez contactos com os organizadores e estes estariam interessados em incluir o caso de Marrocos na denúncia da agressão a África por parte de Espanha e Portugal. Seria uma oportunidade para divulgar a situação dos presos políticos marroquinos e aqui a presença do Serfaty daria grande projecção ao assunto. Se puderes falar-lhe pessoalmente no caso, seria o melhor de tudo. De qualquer forma, precisávamos da morada dele para lhe dirigir um convite oficial.

Diz o que há com o «Albatroz». Manda as tuas reflexões, sempre bem-vindas neste deserto de debate em que nos movemos. Um abraço

Cartas a MV – 17

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (24)

8/8/1989

Caríssimo M.:

Tenho recebido ultimamente um rio de encomendas da tua parte, o que é muito agradável. Só fico doente quando tu insistes em escrever para te mandar a P.O. quando nós a expedimos pontualmente cada vez que sai. Que número não recebeste? O 18? O 19? O 20? Será que o carteiro, não encontrando ninguém em casa, deita fora a encomenda? Queres que seja expedida para outra morada? Agora o próximo nº vai sair em fins de Setembro, princípio de Outubro. Diz se queres que vá para outro lado. O que te parece a revista?

Temos consciência de que tem evoluído pouco, tem dito poucas coisas novas e vamos fazer um esforço maior nesse sentido, O nosso carácter é de revista de propaganda e não ganhamos nada em ser uma espécie de revista-jornal. Ten­cionamos manter o figurino actual, mais ligeiro que o anterior, mas procurar dar mais conteúdo às secções, fugir ao estilo informativo que não nos compete. Fizemos recentemente um debate inconclusivo so­bre problemas da revolução russa e estou a preparar um artigo nessa base, talvez para o próximo nº. A nossa vida continua dentro de parâ­metros estreitos, numa área de influência reduzida, a participação na FER com os trotskistas foi uma tentativa para nos tornarmos mais conhecidos e alargarmos a influência mas estava de facto “acima das nossas posses” e fomos forçados a desistir.

Quanto à questão que colocas sobre a homenagem no próximo Al­batroz ao militante kanaka que matou Tjibou[i], só sei o que li na im­prensa e no recorte que me mandaste. Parece-me fora de dúvida a jus­teza disso, para trazer ao de cima toda a podridão do processo dos acordos neocoloniais. Mas só tu no terreno francês podes medir os reflexos e a maneira de tratar o problema. Receias que produza um isolamento em relação aos meios de esquerda dai? As tuas impressões sobre a jornada de 8 de Julho na Bastilha estão interessantes e pensamos publicar na próxima P.O., embora saia com atraso. Escreve mais. O boneco também irá sair, só estamos a matar a cabeça em como traduzir a tua piada “A bas la dette! A bas la disette!“.

Escreveu-me um moço francês, PK, a pedir contacto para ti. Dei-lhe a morada da R, não sei se fiz mal. Queres escrever-lhe? Era do Partisan. Um grande abraço e continua a mandar papel

—————-

[i] Djoubelly Wea, militante independentista kanaka da Nova Caledónia que, em 5 de Maio de 1989, executou os líderes Tjibaou e Yeiwene do FLNKS,  movimento local que negociava com os colonos franceses uma solução neocolonial para a nação kanaka. (Nota de AB).

Cartas a JRR

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JRR (1)

25/7/1991

Caro Amigo:

Segue por correio separado o livro que nos pediu. Numa outra encomenda enviamos o últi­mo número da nossa revista, esperando que lhe desperte o interesse e que o leve a tornar-se nosso assinan­te. Os preços de assinatura vêm lá indicados. Seguem também alguns folhetos dos que temos publi­cado, para ter uma ideia das nossas posições. Escusado será dizer que o conteúdo desta segunda en­comenda é grátis.

Na esperança de voltar a ter notícias suas, subscrevemo-nos, com as nossas melhores saudações

 Carta a JRR (2)

14/8/1991

Caro Amigo:

Agradecemos a sua carta e o cheque para assinatura da nossa revista. Se não vir in­conveniente, publicamos extractos da carta na próxima PO, a sair em fins de Setembro.

Esperando que a revista continue a merecer o seu interesse, enviamos as nossas sauda­ções cordiais.

Carta a JRR (3)

26/12/1991

Caro Amigo:

Atendendo o seu pedido, fazemos se­guir em dois pacotes os números disponíveis da P.O., do nº 2 ao 29. Só falta o nº 1, que há muito se encontra esgotado. O valor total consta da fac­tura junta: 3.950$00. Pode enviá-lo por cheque ou vale de correio para o nosso Apartado.

Muito agradecemos as indicações que nos enviou sobre possíveis pontos de venda da re­vista. Já transmitimos cópia da sua car­ta ao nosso núcleo de apoio no Norte, para que aproveitem as suas sugestões e tentem alargar a di­fusão. Também em Lisboa, embora com bastante mais distribuição (cerca de 50 pontos de venda), esta­mos a procurar tornar a revista mais conhecida. É uma condição vital para a nossa sobrevivência, agora que toda a gente parece estar a olhar para outros lados… Não temos dúvidas de que o ambien­te mudará quando certas ilusões se desfizerem; a questão ê mantermo-nos até lá! Um abraço

Pode dar-nos o endereço do “Barcelos Popular”?

 Carta a JRR (4)

20/4/1992

Caro Amigo:

Respondemos à sua carta de 19 de Março, de que publicámos um pequeno extracto no último nº da P.O., que já deve ter recebido e que esperamos lhe tenha agradado.

A sua sugestão de que a influência das nossas ideias poderia aumentar muito se nos transformássemos em partido político é sem dúvida verdadeira, mas infelizmente estamos muito longe de ter forças para isso. Somos apenas um pequeno grupo de propaganda do comunismo e não pretendemos fazer-nos passar pelo que não somos. Houve um tempo em que no nosso país se formavam partidos com a maior facilidade, mas os resultados para a esquerda não foram nada bons. A partir do momento em que um pequeno grupo se arvora em partido revolucionário sem ter forças para uma acção política diária e coerente, afoga-se nas questões organizativas, começa a envolver-se em manobras para aparentar uma força que não tem e perde toda a seriedade.

Por isso, embora consideremos a formação dum partido comunista revolucionário como o nosso objectivo a longo prazo, para já temos objectivos mais modestos: alargar a difusão da nossa revista e melhorar o seu conteúdo, estabelecer contactos com activistas e grupos de esquerda, desenvolver algumas campanhas políticas, como foi no caso da guerra do Golfo… Se a corrente de ideias comunistas se tornar mais forte no nosso país, a formação do partido impor-se-á a um conjunto maior de pessoas e terá uma base sólida para começar. Até lá, e no caso concreto das eleições a que se refere, não teremos outro remédio senão votar no partido que nos pareça menos mau ou abster-nos (é o que nós na P.O. temos feito).

Esperando continuar a receber os seus comentários e informações, aceite as nossas saudações cordiais

 Carta a JRR (5)

11/6/1992

Caro Amigo:

Os comentários da sua carta sobre o partido da Coreia foram aproveitados, com mais uns acrescentos da minha lavra, para um artigo na P.O. nº 35, que deve estar a receber por estes dias. Você verá, mas creio que não alterei a orientação do seu texto. Como não sabia se lhe interessava ter o seu nome na revista, assinei com as iniciais. Mais informações da Coreia ou outras, comentários ou notas suas que ache de interesse para divulgação na revista, críticas, recortes de jornais locais ou estrangeiros — tudo nos interessa. Como já deve ter visto, estamos a procurar alargar a cobertura informativa da revista, para além dos temas ideológicos. Com a falta de publicações de esquerda, a circulação de informações é uma necessidade que todos sentimos.

Ainda quanto ao tema do partido: para além de todos os inconvenientes de que já lhe falei, acresce a dificuldade que representaria para nós, nesta altura, reunir 5.000 assinaturas de eleitores proponentes do novo partido, com os respectivos certificados de eleitores, etc. Foi essa dificuldade que nos levou a entrar em colaboração com a LST (trotskista) há três anos, para concorrer às eleições para o Parlamento Europeu sob a sigla FER. A colaboração correu mal, como é norma entre pequenos grupos, e desistimos a meio da campanha eleitoral, o que foi desagradável para todos.

Vi a sua carta no «Público» de 29 de Abril. É bom furar por onde se possa para romper o unanimismo da asneira que por aí vai. Cordiais saudações.

 Carta a JRR (6)

15/9/1992

Caro Amigo:

Muito gratos pelos materiais que nos enviou e a que vamos dar o melhor aproveitamento. Junto enviamos fotocópia do artigo pedido da P.O. nº 1 sobre o Verão quente. Tomámos boa nota do novo endereço e para aí será já enviada a próxima P.O., a sair em início de Outubro.

Tendo em conta a boa vontade que manifesta em dar-nos colaboração, lembrámo-nos de lhe fazer um pedido: ser-lhe-ia possível preparar um artigo sobre o tema a que se dedica, eleições, para uma das próximas P.O., por exemplo a repartição de forças dos diversos partidos nas autarquias? Ou as deslocações de votos na área da «extrema esquerda» nas últimas legislativas? Isto são sugestões. A nossa única limitação seria quanto à necessidade do artigo não ser demasiado técnico, dado o carácter da nossa revista, mas isso certamente será tomado em consideração por si. Esperamos a sua opinião com o maior interesse. Aceite as nossas saudações cordiais.

Carta a JRR (7)

9/12/1992

Caro Amigo:

Respondo à sua carta de 14 de Novembro e espero que me desculpe pela demora, mas só agora fechámos o último nº da P.O. Alegrou-nos muito a sua disponibilidade para colaborar na revista e a promessa de um artigo já para o nº 38. Como verá pela P.O. 37, que espero chegue às suas mãos no fim da próxima semana, estamos a procurar alargar o número de colaborações. Teremos muito gosto em contar consigo como colaborador regular, na medida das suas possibilidades.

O tema das deslocações de votos à esquerda da CDU é interessante, porque permite sondar qual o estado de espírito da extrema esquerda que resta. Sabemos que isso o obriga a consultar e tratar muitos números, dos quais só os mais significativos ficarão no artigo final, para não sobrecarregar muito a leitura. Pode ser um bocado ingrato para si, mas deixamos ao seu critério ver como conseguirá pôr em relevo as conclusões políticas que se podem extrair dos números. Quanto ao tamanho, não sabemos bem de que espaço precisa; sugerimos não mais de 6.000 caracteres, por motivos de paginação. Como data-limite de entrega propomos 15 de Janeiro. Acha que lhe será possível?

Quanto a futuros artigos; falei nas autarquias por ser assunto que já começa a agitar os partidos, mas não quer dizer que tenha que ser esse o tema. Temos lido alguns artigos e cartas suas no «Público» sobre diversos temas, expondo opiniões com que concordamos no essencial.

Se você tivesse interesse em tratar qualquer outro tema não referente a eleições para o nº 39, estamos de acordo. Só lhe peço que nos diga com alguma antecedência, para fazermos as nossas programações e distribuições de temas entre nós. Você conhece os nossos interesses.

Quanto às suas perguntas;

  1. a) não vemos explicação para a sobrevivência do PCTP/MRPP, até porque, ao que sabemos, não se trata de um grupo com ligações estrangeiras. Por vezes, é frequente nesta área grupos sem qualquer expressão manterem-se em funcionamento devido a subsídios da corrente internacional em que se inserem. Parece não ser este o caso do MRPP. Embora alinhe pelo «marxismo-leninismo-stalinismo-maoísmo», corrente que está organizada internacionalmente em torno de um «Partido Comunista Revolucionário» dos EUA e na qual se inclui o PC do Peru («Sendero Luminoso») e muitos outros pequenos partidos, não nos consta que o MRPP mantenha contactos ou receba apoio dessa corrente. O facto de há muito não publicar imprensa e de os seus órgãos dirigentes estarem paralisados por divergências e «lutas de linhas» ainda torna a sua continuidade mais surpreendente. Julgamos que uma certa recuperação de linguagem de extrema esquerda feita por eles nos últimos anos, depois da desgraçada política de apoio ao PS e PSP contra o «social-fascismo», lhes terá criado aos olhos do eleitorado de esquerda uma imagem dos «últimos revolucionários que não se rendem». As intervenções radicais do Dr. Garcia Pereira, em períodos eleitorais talvez contribuam para alimentar essa imagem. Fica uma dúvida: se daqui a um ano ou dois ou três a situação social se agravar e houver tendências de radicalização, não será que o MRPP ressurgirá em força com o seu discurso radical a servir de capa a uma táctica direitista, como no passado?
  2. b) OCMLP — integrou-se de facto no PCP(R) em 1976, depois de uma assembleia de militantes no Porto, a que eu próprio assisti como convidado por parte do PCP(R), mas uma fracção minoritária recusou aceitar a integração. Era animada pelo antigo secretário-geral Pedro Baptista, e por um indivíduo cujo nome agora não recordo, que era jornalista do «Jornal de Notícias», suponho. A base da divergência era um «anti-socialfascismo» virulento e acusarem o PCP(R) de conluio com o social-imperialismo. Foram utilizados pelo PSD nessa altura. Mantiveram-se como grupo autónomo, numa espécie de hibernação durante vários anos. O seu núcleo forte era na Foz do Douro. Depois de uma tentativa de reanimação eleitoral, acabaram por se dissolver. Pedro Baptista é actualmente um dos animadores do Movimento Pró-Referendo e julgo estar ligado ao grupo de Barros Moura.

Registámos o seu reparo sobre a necessidade de demarcação do PCP na questão angolana e publicámos esse extracto da sua carta na revista que vai sair. (…) Interessa-nos tudo o que nos tem enviado e também esses artigos do Edgar Rodrigues[i], se for possível.

Quanto às possibilidades de colocar a P.O. em duas tabacarias de (…) e (…), interessa-nos muito. Justamente agora estamos a fazer um esforço acrescido na difusão; o nº 36 foi pela primeira vez colocado em mais de 120 bancas na região de Lisboa, número modesto mas que, para a nossa dimensão, é um record. Estamos a tentar que os nossos camaradas do Porto alarguem também a distribuição na cidade.

Proponho o seguinte: mandaremos do próximo nº da P.O., além do seu exemplar, mais 6, 3 para cada tabacaria. Seguem umas guias que usamos na entrega da revista e que você apenas terá que preencher com o nome dos vendedores (isto se eles quiserem as guias, pois há muitas bancas com quem fazemos contas sem papéis). Daqui a dois meses, quando sair a próxima P.O., você passaria por lá a colocá-la e a levantar as sobras. Em princípio, o pagamento de importâncias tão irrisórias dispensa facturas e recibos, mas se eles pedissem passávamos em nome da empresa distribuidora. Você não precisa de nos devolver logo as sobras; pode juntá-las aí e enviar ao fim de seis meses, por exemplo. Não precisa de fazer contas connosco: guarda o dinheiro das eventuais vendas numa conta-corrente, de que nos enviaria o que houvesse ao fim de seis meses, por exemplo. É muito possível que, durante alguns meses, as vendas sejam decepcionantes, até haver alguém que repare na revista; temos essa experiência quando vamos para um local novo. Mesmo nesse caso, gostaríamos que persistisse na distribuição, se isso não lhe causar muito incómodo.

Desconhecíamos esse projecto do «Dicionário da extrema esquerda» do Pacheco Pereira. Vai ser preciso comprar, por muito que nos custe. Não sei se viu um artigo desse tipo no «Público» de 4/12 sobre «Os rivais de Cunhal». Como se metia comigo, respondi-lhe à letra, espero que saia brevemente no «Público».

Por agora é tudo. Teremos muito gosto em receber as suas notícias. Aceite as minhas saudações

 Carta a JRR (8)

16/2/1993

Caro Amigo:

Suponho que já terá recebido a P.O., com mais um pacote de 6 exemplares. O seu artigo ainda veio a tempo de ser incluído. Foca um aspecto geralmente esquecido nas discussões sobre o ensino e penso que valorizou a revista. Ficamos agora à espera de colaboração sua para o próximo número… se os seus afazeres lho permitirem. O fecho da redacção está previsto para 15 de Março e agradecemos que nos diga que tema pensa tratar, para fazermos a nossa programação e evitarmos sobreposição de artigos sobre o mesmo assunto. Esperamos também, como já vai sendo hábito, os boletins e recortes que nos puder obter. Procuramos sempre aproveitar esses elementos, duma forma ou de outra, para tomar a revista mais informativa.

A propósito do grupo ligado ao «Barcelos Popular», foi-nos referido há dias como estando empenhado, com diversos outros membros e ex-membros da UDP e do PC(R), na realização dum encontro, cujo objectivo não parece muito bem clarificado. Suspeitamos que alguns dos antigos dissidentes da UDP com mais aspirações políticas querem aproveitar a crise e o descrédito da organização para formar um grupo-fantasma para, apoiados nele, regatearem lugares em listas do PS ou do PCP nas próximas eleições autárquicas. Veremos.

Por agora é tudo. Continuamos à espera duma oportunidade para conversarmos de viva voz. Aceite as nossas saudações

 Carta a JRR (9)

7/4/1993

Caro Amigo:

Afinal, o seu artigo ainda veio a tempo. É interessante e mostra um conhecimento por dentro do assunto; entrou no nº 39, cujo fecho se atrasou uns dias. Já está na tipografia mas, devido ao feriado da Páscoa, só vai ser expedido provavelmente na segunda-feira. Vamos enviar-lhe, como combinado, mais 6 exemplares. Recebemos o cheque dos exemplares vendidos e as publicações. Citámos na secção Telex o semanário “Opinião Pública” como sendo de Famalicão, mas não temos a certeza. Quando tiver notícias regionais que ache interessantes, pode mandar apenas o recorte para não fazer despesa desnecessária em correio. Quanto à devolução das sobras, não se preocupe porque não temos pressa nenhuma.

Para o próximo número, já sabe, se tiver disponibilidade, estamos interessados na sua colaboração. Podemos manter uma secção sobre temas do ensino, que lhe parece?

Aceite as nossas saudações cordiais

 Carta a JRR (10)

23/8/1993

Caro Amigo:

Recebemos o cheque, que agradecemos, e as publicações. Infelizmente, o artigo «As lições de Courel» já não chegou a tempo de ser incluído no n° de Maio/Junho. Mesmo assim, ainda talvez não fique mal no próximo nQ, porque toca num tema de fundo que não se desactualizou. Se além desse puder enviar o prometido artigo relativo às autárquicas, será óptimo. Quanto ao tema das passagens administrativas, não estou em condições de lhe dar uma opinião por conhecer mal o assunto. Tenciono transmitir as suas opiniões a alguns amigos professores e dir-lhe-ei depois, se recolher alguma ideia. De qualquer forma, se entender escrever algum comentário sobre o assunto, já sabe que estamos interessados em manter uma coluna sobre temas do ensino.

Quanto à cisão da FER, envio-lhe junto um folheto que distribuíram no 1Q de Maio. Apesar da boa apresentação e do nome pomposo, ficaram parados depois disso. Prometeram ir iniciar uma revista, mas até agora não sabemos nada. Pelo que nos informaram, a cisão foi o seguinte: o antigo grupo «Esquerda Revolucionária», que publicava a revista «Versus» (não sei se chegou a ler), e que se tinha fundido com a LST por pressão da LIT (4a Internacional) agora voltou a separar-se. Houve entretanto perdas, devido ao ambiente político desfavorável, e os que saíram (MPS) parecem ser muito poucos. A FER ficou com ligações aos estudantes e com a revista «Alternativa Socialista». O motivo da cisão, segundo nos foi dito, teve a ver com o debate internacional na LIT sobre a “revolução política” no Leste: a FER acharia que houve excesso de optimismo quando da derrocada do poder na URSS, ao passo que o MPS acharia que foram mesmo grandes revoluções e que a situação está mais revolucionária do que nunca. Isto foi o que nos disseram, não lhe posso garantir que seja assim. O que é certo é que o partido-pai da LIT, o MAS argentino, partiu-se em vários bocados e toda a corrente parece atravessar uma grande crise, o que não é de estranhar.

Fomos convidados a assistir à apresentação da nova revista «Manifesto», feita por alguns dissidentes jovens do PCP que formam a ala esquerda da Plataforma de Esquerda: Paulo Varela Gomes, Ivan Nunes, etc. Começa a sair em Setembro e é bimensal. As intervenções só não me pareceram decepcionantes porque já ia mentalizado para uma grande superficialidade. Muita retórica de esquerda, mas muita indefinição nas questões vitais. Enfim, podem fazer uma revista apesar de tudo interessante. Com o panorama fúnebre que vivemos neste pais, algo que apareça na área da esquerda pode servir pelo menos para agitar as cabeças.

E com isto é tudo, não lhe tomo mais tempo. Um abraço e até breve.

 Carta a JRR (11)

6/12/1993

Caro Amigo:

Respondo às suas cartas de 10 e 28 de Novembro, agradecendo o cheque de 1.470$ e a indicação dum possível assinante. Foi pena esta última carta nos chegar às mãos já depois de ter fechado a redacção, pois as suas notas sobre o carnaval autárquico aí na zona tinham todo o cabimento. Talvez se possam incluir junto com outras coisas que reuniremos sobre o balanço das eleições no próximo número. Se entretanto se lhe proporcionar, já sabe que estamos interessados em colaboração sua. A redacção fecha por volta de 20 Janeiro.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Pelo menos, estão convidados. Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar o Mao revolucionário e fazer fogo contra a bronca ironia com que PS e PC falam da revolução chinesa, como se fosse uma anedota.

A P.O. deve sair breve da tipografia. Mando-lhe 3 exemplares extra, como de costume. Um abraço.

 Carta a JRR (12)

14/12/1993

Caro Amigo:

De acordo com o seu pedido telefónico, mando-lhe um livro de guias de remessa. Suponho que terá recebido a minha carta de 6 do corrente e os 6 exemplares da P.O. (na carta, por lapso, eu dizia 3). Mandámos um exemplar como oferta à pessoa cujo nome indicou, com uma carta propondo-lhe tomar-se assinante. Espero que o conteúdo da revista lhe agrade e lhe dê sugestões para uma colaboração sua no próximo número.

 No próximo dia 22 participarei num debate na SIC sobre o centenário de Mao: se tiver oportunidade, veja e diga-me depois a sua opinião. Por agora é tudo. Aceite um abraço e os meus votos de um bom Ano Novo.

Carta a JRR (13)

8/8/1994

Caro Amigo:

Fico-lhe muito grato pelo seu convite e de sua mulher para ir aí passar uns dias, mas creio que não será possível este ano. Problemas familiares difíceis (o falecimento de uma minha irmã) exigem a minha presença aqui e tiram-me a oportunidade e disposição para grandes férias. Vamos a ver se até ao fim do mês consigo tirar dois ou três dias para descontrair, aqui por estas bandas.

Recebi os cheques e registei a renovação da sua assinatura e espero que tenha recebido o livro em boas condições e que lhe esteja a agradar. Quanto à liquidação das P.O.s vendidas aí, de acordo.

 Quanto ao prof. Lages, só soubemos da sua passagem por Lisboa através da sua carta e foi pena, porque justamente nesta altura tínhamos pensado em contactá-lo para tentar obter documentação relativa à guerra colonial. Um grupo de antigos desertores e refractários tem feito algumas reuniões para preparar a formação de uma associação, que teria entre outros objectivos o de divulgar factos e números relativos à guerra. Como você gosta de estar informado sobre estas questões, mando-lhe o projecto inicial, redigido pelo José Mário Branco.

Conto desde já com um artigo seu para a próxima P.O. sobre a participação da extrema-esquerda nas eleições europeias. Quanto ao PT – Partido dos Trabalhadores, ouvimos falar mas não sabemos nada. Se obtiver alguma informação, não deixarei de lha mandar. E por hoje, é tudo. Aceite um abraço e mais uma vez o meu agradecimento pelo seu amável convite.

José Manuel Lages foi o professor que impulsionou a criação de uma extensa exposição e um museu sobre a guerra colonial, em Famalicão, em 1989. (Nota de AB)

Carta a JRR (14)

26/4/1995

Caro Amigo:

Em resposta ao seu pedido por telefone, junto envio 10 guias de remessa da P.O., em duplicado (nº 5/073 a 6/082) e 10 recibos já carimbados (nºs 252 a 261), umas e outros em duplicado, para usar conforme necessário.

Se por acaso vier a Lisboa no 1º de Maio, não deixe de se encontrar connosco na apresentação do último livro Dinossauro, ‘‘História da Comuna de 1873”, de Lissagaray, que vai ter lugar no restaurante “Expresso de Paris”, Avenida de Paris, 12-A (perto da praça do Areeiro), pelas 17 horas.

Aproveito a ocasião para lhe pedir já colaboração para a próxima PO. É o nº 50, completa dez anos de publicação e tencionamos fazer um número com mais páginas e, na medida do possível, com a participação de todos os colaboradores. Como de costume, o assunto do artigo fica ao seu critério.

Por aí tudo bem? Aceite um abraço com as minhas saudações

 Carta a JRR (15)

6/9/1995

Caro Camarada:

Obrigado pela sua carta, devoluções da P.O. e cheques. Está tudo em ordem. Também recebi a sua mensagem telefónica. Depois duma semana de férias (o stalinismo é assim, não dá direito a mais!), retomo actividades e já temos alguns artigos (demasiado extensos e pesados, receio) para organizar o sumário da próxima revista. Contamos dedicar umas 5-6 páginas aos dramas eleitorais, comentados sob várias vertentes. Se estiver para aí virado e quiser mandar-nos alguma coisa sobre isso até dia 30 do corrente, faz-nos jeito. Se a sua colaboração for sobre outra matéria (questões do ensino, por exemplo), aí já lhe peço que nos faça chegar um pouco mais cedo, até dia 22. Vamos tentar fechar a revista por essa data, deixando só as páginas do dossier eleições para os últimos episódios.

Marcámos para 22 de Outubro, domingo, um encontro para comemorar o nosso 10º aniversário. Constará duma parte de confraternização e de outra dedicada a debater um pouco o balanço de dez anos, perspectivas da P.O., situação do movimento marxista internacional, etc. Sobre estes temas será elaborado um texto introdutório do debate, de que lhe enviarei cópia oportunamente (lá para meados de Outubro, não antes, porque até lá a P.O. 51 vai dar-nos trabalho). Se quiser e puder vir a este encontro, dar-nos-á grande satisfação. Diga-nos depois alguma coisa. Aceite um abraço.

 Carta a JRR (16)

12/10/1995

Caro Amigo:

A P.O. já está na tipografia e deve recebê-la no princípio da próxima semana. Verá que o seu artigo foi fortemente cortado. Espero que não me leve a mal mas chegou já no fim e o espaço excedia em muito o que me tinha dito inicialmente (1 pág.). Procurei conservar o fio da exposição, restringindo ao essencial. Também o quadro ficou reduzido aos dois grupos, Trotsquistas e M-L, sem discriminar. Penso ter mantido o interesse do artigo. Você dirá.

O nosso encontro-festa vai por diante, no sábado 21 (e não domingo, como lhe tinha dito). O Fernando Rosas vem participar no debate[ii], assim como o nosso colaborador Ângelo Novo. À noite teremos convívio com intervenção de alguns artistas. Se puder, venha. Um abraço

 ———

[i] Edgar Rodrigues radicou-se no Brasil desde 1951, ano em que deixou Portugal para escapar à perseguição de Salazar. Foi um dos principais responsáveis pela documentação e publicação de boa parte da história recente do anarco-sindicalismo nos dois países. (Nota de AB).

[ii] Fernando Rosas não pôde comparecer. (Nota de AB).

Cartas a AV – 3

Francisco Martins Rodrigues

Carta a AV (22)

28/2/1995

Caro Camarada:

 Recebi a tua carta e recolhi os dados sobre Sines para uma correspondência a sair no próximo número. Como só fechamos a redacção a 20 de Março, se entretanto tiveres mais informações ainda podes mandar.

Escrevo-te pelo seguinte: soubemos que está aí na tua escola de Sines um professor chamado JR, que nos dizem estar interessado em ler a P.O. Podes abordá-lo e ver se o tornas assinante? Envio junto ficha e envelope de resposta paga, para ajudar a convencê-lo… Além disso, não sei se estás a fazer alguma actividade conjunta com ele. Conta.

Espero que tenhas recebido o n° 48 e que tenha agradado. O lançamento do livro “Coração Forte”, sobre a guerra colonial, foi na Casa de Moçambique em Lisboa e correu muito bem, com bastante gente, moçambicanos e portugueses. Esteve lá a embaixadora de Moçambique e vendemos logo umas dúzias de livros. Segue-se agora a História da Comuna de Paris, cujo lnaçamento será no Io de Maio, espero. E se tu cá viesses nessa data?

Um abraço

Carta a AV (23)

9/5/1995

Caro Camarada:

Estamos neste momento a preparar o n° 50, que completa os dez anos de publicação, pelo que pretendemos seja um número especial, com mais páginas e maior variedade de temas. Dado o interesse com que nos tens acompanhado, fazemos-te um pedido: poderás contribuir para este número, com as tuas habituais notas mas também com críticas, sugestões, proposta de temas a tratar, etc.? Junto uma circular sobre o assunto. Atenção! Para poder ser incluídos, os elementos que nos envies deverão estar na redacção até 25 do corrente, o mais tardar.

A apresentação da “História da Comuna” foi um acontecimento social de esquerda. A imprensa, rádio e televisão não quiseram saber dos nossos convites mas apareceram amigos em barda e estivemos umas horas a comer e a beber e a debater os altos problemas da revolução. E claro que a manifestação do Io de Maio ajudou. Lá fomos, com uma faixa que dizia “Com PS ou PSD quem se lixa é você” – ideia óbvia e elementar mas que surpreendeu o público ao longo da Almirante Reis, só habituado ao paleio seminarista dos pcs e que aderiu frequentemente com aplausos e acompanhando-nos no entoar do estribilho. Fiquei rouco mas valeu a pena.

Quando nos vemos? Aceita um abraço

Carta a AV (24)

12/9/1995

Caro Camarada:

As notícias laborais da tua carta já estão aproveitadas para a próxima P.O. Se entretanto tiveres mais alguma coisa, sobretudo relativa à campanha eleitoral por esses lados, manda. É bom que venhas para Rio Maior, porque permitirá contactarmos. E temos já uma proposta a fazer-te: no dia 22 de Outubro vamos realizar em Lisboa uma sessão comemorativa do 10º aniversário da revista. Constará de um encontro-convívio, com a actuação de algum artista, e uma outra parte, menos concorrida, para as pessoas interessadas em debater a situação e perspectivas do comunismo, trabalho feito pela revista, ctc. Sobre este assunto será distribuído previamente um curto texto. Vamos enviar-to, assim que esteja pronto (em começos de Outubro), com o convite para compareceres, indicação do local e hora, etc. Que dizes? Reserva já o dia, de acordo?

Quanto às eleições, como já calculas, a nossa posição é a mesma de sempre: abstenção, como única maneira de nos demarcarmos da palhaçada a que se resume esta pretensa “escolha democrática dos representantes do povo”. Um abraço.

 Carta a AV (25)

31/1/1996

 Caro Camarada:

A tua carta veio mesmo a horas para ser incluída no noticiário da P.O., que vais receber dentro de dias.

A nossa vida continua como de costume. O LGo foi afastado do colectivo por termos descoberto que há bastante tempo vinha gastando em proveito próprio dinheiros obtidos na nossa actividade gráfica (ele era o gerente). Fizemos algumas reuniões e já o obrigámos a repor a maior parte do dinheiro. Um caso lamentável, que seria bom que não existisse entre nós, mas o que se lhe há-de fazer? Agora estamos a preparar mais algumas edições Dinossauro.

A tua vida continua na mesma? Manda notícias. Aceita um abraço.

 Carta a AV (26)

7/9/1996

 Caro Camarada:

Espero que tudo corra bem por aí. A P.O. 56 está a sair mas as tuas informações laborais desta vez ficaram de fora porque houve uma concentração de textos grandes e tiveram que saltar várias colaborações. Se ainda tiverem actualidade, entram no próximo número, mas o melhor era mesmo tu mandares uma nova correspondência lá para meados de Novembro. Apesar da tua escrita hieroglífica, suponho que as tuas aulas agora são em Tomar, que não é de facto terra de muita abertura de ideias. É donde saem os empreiteiros todos deste país e isso basta.

Como verás na revista, a Dinossauro lançou mais um livro, desta vez uma novela do célebre capitão Fernandes sobre a guerra em Angola. Na próxima quinta-feira é a apresentação, na Biblioteca-Museu da Resistência, pelo Pezarat Correia, vamos a ver se não diz muitas asneiras. Da política não te digo nada, está na pior e assim continuará enquanto os desgraçados não se cansarem de amochar e não fizerem por aí algum borborinho.

Aceita um abraço

 Carta a AV (27)

14/2/1997

 Caro Camarada:

 Como habitualmente, agora que mandámos a P.O. 58 para a tipografia (com atraso, diga-se), venho pôr a correspondência em dia. Os teus apontamentos sobre Tomar e as fábricas de Coimbra têm sido aproveitados, como deves ter visto. Contamos com a continuação da tua colaboração, porque a revista precisa de reflectir melhor o “país real”. Sempre que tenhas recortes de jornais regionais com noticias significativas ou comentários manda, alguma coisa se aproveita. Quanto aos livros que pediste, espero que tenham chegado em boa ordem e que te tenham interessado.

O Claude Bitot é uma boa cabeça e o “Inquéri­to” é um livro com muito interesse. Nesta última P.O. entro em polémica com ele a propósito do outro livro que ele publicou e de que já demos referências em números anteriores da revista (“O comunismo ainda não começou”). Na preocupação de retomar a Marx, o homem deita abaixo tudo o que diz respeito a Lenine, e aí parece-me que entra por maus caminhos. Veremos se ele dá resposta e se a discussão serve para esclarecer alguma coisa.

Como deves ter visto, também tem havido debate entre Ângelo Novo e Manuel Raposo acerca da guerra da Jugoslávia, e embora o tom tenha aquecido um pouco demais entre eles, acho que foi útil. Não queres meter-te ao barulho sobre os assuntos polémicos? Nem que seja com uma simples carta de leitor?

E as tuas actividades sindicais, pararam? Também nesse capítulo, se tiveres jornais ou boletins que não queiras, manda, basta que juntes uma anotações.

 Carta a AV (28)

29/12/1997

 Caro Camarada:

Tenho aqui várias cartas tuas para responder, espero que me desculpes. O atraso deveu-se à acumulação de trabalho por termos mudado de instalações (agora estamos na R. do (…). tel (…)), além de termos preparado dois livros novos que estão na tipografia e a PO 62, que já deves ter recebido. Como deves ter visto, metemos algum do teu material em vários sítios. E bom que nos mandes sempre notícias e impressões da região, recortes de jornais, etc.

A tourada autárquica chegou ao fim e, para minha surpresa, o PSD ficou com boas posições. Julguei que sofressem mais pela triste exibição que têm dado mas enganei-me: o eleitorado de direita, na falta de melhor opção, mantém-se-lhe fiel. Foi uma campanha vergonhosa. E a confirmação de que não há alternativas políticas em disputa mas apenas equipas de administradores a empurrar-se, a pisar-se e a insultar- se para conseguir dar nas vistas e ser escolhidos para os cargos.

Desta vez, mesmo a anémica extrema-esquerda (?) se deixou arrastar na onda do marketing, até o MRPP abandonou as suas tiradas antiburguesas, e foram castigados por isso, porque a votação baixou: perderam os votos de protesto contra o sistema e não ganharam outros em troca porque toda a gente sabe que, como governo autárquico, são inviáveis. Sei que tem havido lá dentro fortes divergências entre uma “linha negra” a aproximar-se do PS (o Arnaldo e o Garcia Pereira estariam nesta onda) e uma “linha vermelha” a reclamar mais radicalismo; vamos a ver o que dá. Quanto aos tristes do PC, apesar de fazerem o reclame da sua administração honesta, levaram uma banhada de todo o tamanho (Amadora, Vila Franca!).

O que dominou foi a polarização nacional entre PS e PSD como os dois únicos candidatos credíveis à gerência da firma Portugal, SA. Toda a conversa sobre a importância cada vez maior do “poder local” e da “regionalização” é só conversa. O que conta é o aparelho central.

E as tuas actividades sindicais? Conta o que houver de novo. Um abraço.

 Carta a AV (29)

30/9/1998

 

Caro Camarada:

Envio por correio separado o livro “O Império a preto e branco”. O outro ainda está na tipografia, assim que chegar mando um exemplar. Junto também cópia da tua ficha de sócio do Clube onde verás que ficas com um crédito de 1.220500, visto que os preços dos livros são mais baratos para os sócios; saiu errado no anúncio da PO.

Por aqui estamos todos felizes com a nova região que vamos ganhar. E tu não deixes que ponham capital da tua região em Aveiro, Coimbra é que é. Fui ontem assistir a uma sessão do MRPP com o Garcia Pereira, pouca gente e poucas ideias, mas a posição deles pelo “não”[1] não está mal. Se tiveres alguma colaboração para a práxima PO manda até dia 20. Um abraço

 Carta a AV (30)

29/12/1998

 Caro Camarada:

(…)

Por aqui fala-se na necessidade de tomar alguma iniciativa pública a propósito do 25° aniversário do 25 de Abril, como por exemplo um manifesto assinado por antigos activistas do movimento popular. Que achas? Podes dar alguma contribuição? Também já deves ter visto nos jornais o intenso namoro entre a UDP, PSR e Política XXI, com vistas a concorrer juntos às eleições e, segundo se diz, associarem-se mesmo num único partido. Vão os três realizar congressos em Janeiro. O Fernando Rosas já escreveu dois grandes artigos no “Público” defendendo a “união da esquerda” e parece ser um dos inspiradores do projecto. O que vai sair é uma salada reformista “de esquerda” que não sei se terá longa vida.

Por agora é tudo. Boas entradas em 1999. Um abraço para ti e cumprimentos à tua companheira

Carta a AV (31)

5/5/1998

Caro Camarada:

A segunda reunião correu bem e apareceram mais caras novas. Agora estão a reunir comissões para concretizar as iniciativas. A sessão será na tarde de 24, sábado. Peço que devolvas o texto que aqui te envio em versão definitiva com as assinaturas que puderes recolher até ao fim deste mês.

Como foi a reunião do Bloco da Esquerda? Fiquei surpreendido por escolherem o Miguel Portas para cabeça de lista à Europa, não me parece pessoa para ganhar muitos votos para o Bloco. Falta sobretudo um debate que seria de esperar quando três organizações de esquerda se agrupam, numa época destas e com tudo o que aconteceu. Parece-me claro que a motivação central deles é eleger um deputado por Lisboa, o que até poderá acontecer, mas não sei se com algum proveito para o avanço da esquerda. Diz-se que já está escolhido o Louçã para cabeça de lista. De qualquer maneira, o desafio vai ser duro, com o Bochechas a concorrer na Europa e o duelo PS-AD a polarizar os votos.

Se tiveres mais algumas informações ou comentários para a PO, convém mandares até dia 20 deste mês. Um abraço.

Carta a AV (32)

9/2/2002

Camarada:

As tuas últimas notícias já chegaram depois da PO estar na tipografia, por isso não as pude aproveitar. Mas eu compus com o que me tinhas enviado antes e com notícias dos jornais um artigo sobre a “Hecatombe industrial em Coimbra”, que assinei como de “Correspondente”. Deve chegar-te dentro de dias.

Traz também uma Declaração sobre as eleições justificando porque não propomos o voto em partido nenhum. As pessoas da esquerda mobilizam-se como de costume para ver se conseguem bons resultados para o Bloco. Nós dizemos-lhes que a sua boa vontade as leva a cair numa armadilha porque estão a trabalhar para aquilo que não desejam: tomar o Bloco um partido institucional, que amanhã será chamado a apoiar um governo PS, fazendo o seu discurso de esquerda mas abandonando e mesmo opondo-se à mobilização independente dos trabalhadores.

E não é só com o Bloco. Nos últimos anos, com os subsídios e apoios financeiros a toda a espécie de iniciativas, o sistema tem conseguido domesticar muita gente de esquerda que está ansiosa por fazer qualquer coisa e acaba por se agachar para não perder o direito ao subsídio. Deves conhecer aí casos destes.

Julgo que conheces a folha “Voz do Trabalho”, de que temos transcrito alguns artigos na PO. Tem custado a tomar balanço mas esperamos que se aguente e enraíze. Tem boa venda sobretudo na Margem Sul do Tejo, em algumas grandes empresas. Vou pedir que te mandem o n° 5, que está para sair, e seria bom se fizesses circular entre gente tua conhecida e também enviares para lá algumas notícias de empresas de Coimbra, ou recortes de jornais, como fazes para a PO.

Mando-te o último número que recebemos do jornal “Abrente” dos camaradas galegos, para fazeres uma ideia do estilo deles. Eles são pelo menos bastante activos. Agora nos dias 13-15 Fevereiro há lá uma Cimeira dos ministros da União Europeia sobre a “segurança” e eles promovem uma Contracimeira com debates, manifestações, etc. Vão lá intervir dois camaradas nossos.

E tudo por agora, um abraço, até breve.

—————-

[1] Referendo sobre a regionalização. (Nota de AB)

Cartas a AV – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a AV (11)

6/11/1991

Caro Camarada:

 Com as informações que mandaste nas tuas duas últimas cartas compus uma correspondência a sair no próximo número sobre o fecho das fábricas têxteis. Vamos ter um dossiê razoável so­bre a crise têxtil: entrevista com um operário de lanifícios da Covilhã, entrevista com operárias que ocupam uma fábrica em São Mamede de Infesta, comentário sobre as negociações entre os sindicatos e os industriais no Vale do Ave.

Se tiveres mais alguma coisa interessante com vistas ao próximo número podes enviar até dia 22-23 o mais tardar. A AB e outros camaradas da P.O. estiveram aí na 6ª feira a debater com alguns estudantes as hipóteses de for­marem um núcleo do MAR em Coimbra, seguiram logo para o Porto e não chegaram a contactar-te. É possível que no fim deste mês vão aí de novo e se for fim- de-semana e estiveres em casa poderiam encon­trar-se, não? Há algumas perspectivas de alarga­mento do MAR e bom preciso é, porque a questão do racismo vai ficar quente. Um abraço

 Carta a AV (12)

11/12/1991

Caro Camarada:

 Deves receber por estes dias a PO 32. Traz o teu nome na ficha técnica como colaborador. Só por distracção não te falei no assunto quando nos vimos no Rossio, na manifestação sobre Timor, pelo que peço me desculpes. Julgo que não tens objecção porque na realidade já há bastante tempo és colaborador da revista, Esperamos que continues e intensifiques o envio de notícias, comentários ou recortes, para nos ajudar a tornar a revista mais variada e interessante. Recebemos a tua corta com diversos recortes.

MAR – O lançamento do livro da Ana foi um êxito, com muita gente presente e debate sobre o colonialismo. Veremos o que diz a imprensa, a Ana foi entrevistada pelo Público e TSF, mas não sei se não haverá boicote. No próximo sábado dia 14 há um debate do MAR no Grémio Operário de Coimbra. O JH, activista do MAR em Coimbra, ficou de te contactar. Será importante ires lá. Alguns de nós iremos aqui de Lisboa.

Por agora é tudo. Um abraço

 Carta a AV (13)

11/2/1992

Caro Camarada:

 Já tenho várias cartas tuas a que não respondi, espero que me desculpes. Agora com a PO pronta (sai amanhã) estou a pôr a correspondência em dia. As tuas últimas notícias laborais não vieram a tempo de meter na revista. Manda sempre que possas. Sobre a questão dos professores, talvez pudesses mandar um comentário mais desenvolvido para o próximo número, que fecha na terceira semana de Março. Tu agora estás por dentro da questão. E quanto a entrevistas, não nos sugeres ninguém para o próximo número?

(…)

A Ana foi entrevistada pela televisão no dia 4/2, não sei se viste e esteve numa sessão no Porto, no mesmo dia, para apresentação do livro, apareceu bastante gente e foi entrevistada por três rádios locais. De Espanha, já pediram 20 exemplares do livro e para o Brasil também seguiu. Agora anda-se a combinar uma reunião no Norte do país a que se espera que venham gale­gos, para impulsionar a propaganda contra os 500 anos.

Então e o que me dizes do sucesso” do Cavaco? Julgo que as condições de vida vão apertar para muita gente e talvez o ambiente mude um bocado, bem precisamos.

(…)

Manda sempre notícias. Um abraço

Carta a AV (14)

15/4/1992

Caro Camarada:

 Espero que já tenhas recebido a P.O. 34 e que te tenha agradado. Publicámos como artigo o texto que mandaste sobre os professores porque nos pareceu interessante e veio a propósito dos últimos acontecimentos na área do ensino. Ajeitei-o um pouco mas penso que náo alterei nada do que escreveste. Diz o que te pareceu.

Vais ser delegado ao congresso da Fenprof do próximo mês? Seria interessante se fizesses um artigo para a próxima P.O. sobre as decisões do congresso, luta de tendências, etc., assim como as reacções dos professores às promessas do governo. Desde que chegasse à nossa mão até 20 de Maio, ainda vinha a tempo. O mesmo quanto à situação na União dos Sindicatos de Coimbra, de que falas na última carta. Tens algumas sugestões para o sumário do próximo número?

As nossas actividades vão reduzidas, como deves calcular. Participámos na manifestação da CGTP de 21 de Março, com uma faixa em defesa dos trabalhadores imigrantes africanos. A manifestação foi a mais fraca que eu até hoje vi, o Rossio estava quase vazio. As pessoas estão descontentes com os agravamentos dos preços mas não esperam nada dos sindicatos nem dos partidos.

Mando junto uns postais de propaganda do MAR, pagas quando vieres cá ou tiveres alguma coisa para enviar, é 100$00 a colecção. O livro da Ana está esgotado, está a ser feita edição, até agora rendeu uns 220 contos para o MAR. Tem-se discutido a possibilidade de comemorar o primeiro aniversário do MAR com um encontro-acampamento em 6/7 de Junho, em Guimarães, na quinta do TF. Será oportunidade para conviver e debater ideias. Pensa-se convidar uns galegos que pertencem a uma comissão de propaganda contra o V Centenário. Será que te interessaria (e à tua companheira)? Podiam levar o miúdo, numa boa. Diz depois alguma coisa. Quanto ao grupo “Contra-a-Corrente” do Porto, a Ana e outros camaradas do MAR já estiveram numa iniciativa deles e propuseram colaboração. Também lhes enviamos o boletim do MAR. Veremos se surgem condições para fazer alguma coisa em conjunto.

Por agora é tudo. Um abraço e fico à espera de notícias.

 Carta a AV (15)

21/5/1992

Caro Camarada:

 Não sei se recebeste a minha carta de 15 de Abril. Como estamos a fechar a P.O., preciso de saber com alguma urgência se vais mandar alguma colaboração, particularmente sobre o congresso dos professores. Foste delegado ao congresso? Deve haver coisas para contar. Peço que envies rapidamente o que tiveres, ou que mandes dizer que não há nada da tua parte desta vez, para distribuirmos os materiais.

Fizemos uma boa confraternização no 1º de Maio, na esplanada onde já estiveste uma vez. O MAR cá continua. Deves estar a receber por estes dias o boletim nº 4. Houve um debate na Universidade Lusíada em que a Ana se pegou com o Prof. Borges de Macedo, foi interessante. Vamos amanhã a uma sessão em Alcácer do Sal. O plano do acampamento em Guimarães de que te falava é que teve que ser adiado, porque o local não estará disponível no 10 de Junho.

Sem outro assunto por agora, fico à espera de notícias tuas. Um abraço.

Carta a AV (16)

7/6/1992

Caro Camarada:

Aproveitámos uma série de informações da tua carta para a P.O. n° 40, que sai dentro de uma semana. Estive no Porto no 25 de Abril, a convite da “Inquietação”, para um debate e lá restabeleci contacto com o grupo “Contra-a-Corrente” e recebi o último boletim deles, de que te mando cópia, visto teres mostrado interesse. O debate correu bem, com interesse, embora as ideias dominantes me pareçam altamente derrotistas. Falo disso num artigo que escrevi para a P.O. A festa na Associação de Moradores de Vilar foi animada e notei sobretudo a grande participação de jovens. Mando-te também folhas duma revista francesa sobre questões de ensino, que poderá ter alguma coisa interessante para as tuas actividades sindicais.

A partir de agora, fazemos a pausa de férias habitual e voltaremos com uma nova série em Outubro. Contamos como sempre com a tua colaboração e críticas. Um outro pedido que vamos mandar pelo correio a todos os assinantes e amigos: poderás tu indicar-nos dois ou três nomes e moradas de pessoas possivelmente interessadas em assinar a P.O. para nós lhes escrevermos a fazer proposta?

Se pensares vir a Lisboa, avisa para nos encontrarmos e trocar ideias. Um abraço.

 Carta a AV (17)

23/8/1992

Como está tudo a correr desde o nosso encontro na Bica? Foi um encontro frustrante e eu senti-me responsável por te ter dado falsas perspectivas, mas também fui iludido pela ideia que o MM deu, dum encontro muito amplo e com debate. Afinal, foi tudo mal organizado e o debate nenhum, o que é reflexo das desgraças em que se arrasta a esquerda.

Nós cá estamos a tomar balanço para mais um ano de revista, que desejaríamos fosse mais acutilante, se possível, e mais conhecida do público. Fazemos uma reunião de redacção no domingo 12 de Setembro, à tarde, e se por acaso te calhasse vires a Lisboa ficas desde já convidado. De qualquer modo, quero-te pedir que envies notícias e comentários actualizados sobre a região para o próximo número, até 25 de Setembro, o mais tardar. Se estiveres com pachorra para uma Carta das Beiras, melhor; se não, mesmo informações dispersas sobre a situação nas fábricas, crise da agricultura, lutas na CGTP, etc. Vou ver se ainda se aproveitam algumas das notícias que mandaste na última carta e que chegou já depois da P.O. estar feita, mas a maioria deve estar desactualizada.

Por agora é tudo. Um abraço e desejos de bom trabalho.

 Carta a AV (18)

8/12/1993

 Caro Camarada:

 Espero que tudo corra bem no teu novo “desterro”. Supomos que vais frequentemente a casa e por isso é para aí que continuamos a escrever. Da tua longa carta, extraímos um artigo sobre o Baixo Alentejo. Tomámos em conta as outras considerações que fazes. Nomeadamente, a sugestão quanto a uma candidatura revolucionária ao Parlamento Europeu, embora não tenhamos contactos internacionais que nos permitam pensar numa candidatura conjunta, propomos (na carta-resposta ao MM) a cooperação das forças de esquerda do nosso país para uma candidatura, repetindo a experiência que há anos resultou tão mal com a FER, mas que poderia agora resultar se houvesse mais gente interessada. Temos as nossas dúvidas mas a proposta fica lançada, assim como as outras que verás na carta (a P.O. deve estar a sair da tipografia por estes dias).

A discussão de 7 de Novembro foi interessante e participada, pelo que teve que continuar na semana seguinte. Debateu-se basicamente o artigo sobre o cavaquismo e os seus apoios sociais. Sai na P.O. 42 como o artigo principal. O tema está longe de esgotado e planeamos continuar a discutir outros aspectos da luta de classes nacional, com vista mais artigos em futuros números da revista.

Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Pelo menos, estão convidados. Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar o Mao revolucionário e fazer fogo contra a bronca ironia com que os tipos do PS e PC falam da revolução chinesa, como se fosse uma anedota. Mando-te um convite.

Em relação à preparação do próximo número, ficamos à espera do que nos possas enviar, relativo ao Alentejo, ao movimento dos professores ou a outros temas. Tu decidirás. Convém-nos receber até 20 de Janeiro, o mais tardar. Abraços e desejos de bom começo de ano.

Carta a AV (20)

8/2/1994

 Caro Camarada:

 A P.O. 43 está na tipografia e aproveito para pôr a correspondência em dia. Metemos a teu artigo sobre a situação sindical dos professores mas teve que ser resumido. Também incluímos na correspondência uma passagem da tua carta sobre o Alentejo. As colaborações, felizmente, têm aumentado e temos que fazer cortes para caber tudo. Se quiseres mandar-nos algo para o nº 44, aponta para 15 de Março como limite, certo?

Houve recentemente umas oportunidades de intervenção pública. Falei na série de palestras do Museu República e Resistência (Dezembro) sobre o maoísmo em Portugal. Estava bastante gente, interessada, e as perguntas e respostas prolongaram-se por um bom bocado. No dia seguinte, falou a Ana sobre a revolução chinesa e a mulher, também com bastante interesse. Noutros dias falou o Arnaldo, o Pacheco Pereira (PSD) e o Pedro Baptista (hoje plataformista). Há dias estive noutro debate no Porto, organizado pela Amnistia Internacional, sobre a Democracia, com o Mário Brochado Coelho e uma professora Helena Vilaça. Houve bastante controvérsia e estive entretido a deitar abaixo as bacoradas “pós-modemistas” do rapaz da Amnistia e a falar para espectadores embasbacados sobre a luta de classes e a ditadura da burguesia. Muito estimulante. Quanto ao debate na RTP1 sobre Mao, como creio que já te disse, recusei participar e acho que fiz bem porque só faltava mandarem-me pôr de gatas para ter direito à palavra. Os nossos amigos Louçã, Arnaldo e Baptista é que não se importaram e lá estiveram a palestrar. Falo nisso na P.O., tu verás.

20º aniversário do 25 de Abril – Todos os estados-maiores partidários afiam o dente para capitalizar aquilo que lhes convém da data. Entre nós, temos andado a debater a possibilidade da edição de um livro (que inaugurará as edições Dinossauro), que coleccione depoimentos, artigos e materiais diversos, no sentido de mostrar à nova geração que os 19 meses da “bagunça” foram os mais criadores da nossa história moderna e de contrastar as iniciativas avançadas desse período com a pasmaceira derrotada em que hoje vivemos. Será que podes dar a tua colaboração a esta ideia, com materiais originais ou outros já anteriormente editados e que tivesse interesse dar a conhecer? Será que nos podes indicar pistas, nomes a contactar, dar sugestões de trabalho, etc.? Podes enviar dados para a cronologia e a bibliografia? O problema aqui vai ser a escassez do tempo para coligir os materiais e pôr o livro na rua até ao 25 de Abril. Responde rapidamente, por favor, para sabermos se podemos contar com algo da tua parte.[1]

Também recebemos a notícia da dissolução do MLP dos EUA. Não nos surpreendeu muito porque um dos elementos que cá esteve de visita no ano passado já nos tinha dado a entender que poderiam seguir esse caminho. Poucos dias depois, veio um outro documento do núcleo de Chicago fazendo várias críticas à dissolução e afirmando-se decidido a continuar a actividade e a editar uma revista de debate. Agora, acabamos de receber essa revista. Suponho que te irão mandar para ti também mas se por acaso não receberes poderemos tirar fotocópias. Vamos estudá-la e possivelmente fazer um comentário na próxima P.O.

Por agora é tudo. Um abraço.

 Carta a AV (21)

30/11/1994

Caro Camarada:

:Foi bom ter notícias tuas, após um intervalo tão grande. Espero que esteja tudo a correr bem. Aproveitámos a notícia sobre a fábrica Empele, que sai nas Breves no nº 47 da P.O., deve estar impresso para a semana. Agora que estás colocado numa zona mais industrial, tenho esperança que nos mandes para a próxima P.O. algumas notícias de questões laborais, recortes da imprensa local, etc. Ao que sei, existe em Sines uma certa actividade cultural em tomo da Biblioteca e algumas pessoas interessantes, reunidas em volta do Al Berto no centro cultural Emmerico Nunes, mesmo ao pé do forte. Conta-nos o que descobrires. Soubemos pelos jornais que tem estado a haver uma greve importante aí. Esperamos receber relato e comentários teus a respeito, de preferência com fotos.

Se vieres a Lisboa, não deixes de nos contactar, para irmos beber um copo. As nossas actividades continuam, bastante restritas mas sempre com o mesmo ânimo. Agora, que vem aí um ano político agitado, de guerra anticavaquista, vamos poder unir-nos todos com o Dr. Cunhal, o Dr. Soares, o Dr. Guterres, o dr. Sampaio, o major Tomé, e todos juntos pôr a oposição democrática no Poder. Atenção, estou a brincar!

 Um abraço para ti e cumprimentos para a tua companheira.

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[1] AAVV, “O Futuro Era Agora”, Edições Dinossauro, 1994. (Nota de AB)

Cartas a AL

Francisco Martins Rodrigues

Carta a AL (1)

31/5/1991

 Caro Camarada:

Houve bastantes respostas ao inquérito sobre a UDP[i], algumas extensas, de modo que depois de encher duas páginas da P.O. tivemos que guar­dar algumas para o próximo número.

É o caso da tua, que foi uma das últimas a chegar. Espero que compreendas. Como a próxima P.O. sairá em fins de Setembro, antes das eleições, portanto, ainda irá a tempo a continuação do inquérito. Continuar a ler

Imperialismo e Terceiro Mundo

Francisco Martins Rodrigues

Imperialismo e Terceiro Mundo

Voltando ao problema dos “erros” de Marx, Ellen Meiksins Wood nota que o traço característico do Capital é analisar o capitalismo como se fosse um sistema fechado, e nessa base traçar a sua lógica interna, ao passo que hoje se tornou um sistema universal, com as distorções que isso acarreta (Monthly Review, 2/49, pp. 2-3). Se recordarmos que no tempo em que o Capital foi escrito o capitalismo era um fenómeno localizado à Europa e à América do Norte – e mesmo na Europa a situação ainda levava Marx a avisar os alemães que algum dia teriam que seguir as pisadas da Inglaterra -, teremos uma noção da profundidade da mudança ocorrida desde então.

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A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (2)

A saída do capitalismo só pode ser encontrada pelo proletariado

A crítica de 1964 pôs o dedo na ferida do reformismo que submetia o proletariado à burguesia liberal, em nome das exigências do antifascismo. Faltou-lhe muito, porém, para ser uma plataforma comunista coerente e essa falta esteve na origem dos problemas que levaram o movimento nascente dos marxistas-leninistas a desagregar-se, duas décadas mais tarde. Continuar a ler

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Francisco Martins Rodrigues

A ruptura com o PCP em 1964-1965 (1)

Duas linhas opostas na luta contra a ditadura de Salazar

Este texto recupera um conjunto de artigos escritos quando do meu abandono do PCP cm 1963, já lá vão 40 anos. Editados no ano seguinte em Paris, na revista Revolução Popular, do Comité Marxista-Leninista Português (à excepção do primeiro, publicado cm panfleto nos finais de 1963), há muito esquecidos, tiveram contudo na altura, apesar da circulação reduzida, uma influência indiscutível nos meios mais radicalizados da resistência, sobretudo entre a juventude. Basicamente, abriram a discussão sobre qual deveria ser a política comunista para o derrubamento da ditadura fascista, quando o início das guerras coloniais anunciava a crise final desta.

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