PC(R): a decadência do centrismo

Francisco Martins Rodrigues

HÁ PRECISAMENTE dez anos, 160 delegados, jovens na sua maioria, proclamavam numa sala de Lisboa a fundação do PC(R). Apesar do 25 de Novembro, o entusiasmo era grande. Palpitava ainda o ímpeto dos grandes movimentos populares dos meses anteriores. Declarando-se orgulhosamente herdeiro das “tradições revolucionárias do velho PCP de Bento, Alex, Militão e Gregório”, o PC(R) propunha-se ganhar a direcção do movimento operário, criar em torno da UDP uma grande frente popular e avançar para a revolução.

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Lutas internas no PCP (História do PCP 13)

Francisco Martins Rodrigues

No seu último livro, Álvaro Cunhal refere brevemente “cinco situações mais graves” na vida interna do PCP. Foram elas o conflito provocado por Carlos Rates em 1923, a luta contra o “grupelho provocatório” (1940-41), a proposta de 1944 para uma “política de transição”, a linha da “solução pacífica” adoptada em 1956-59 e o surgimento de uma oposição maoísta em 1963.

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Bukarine, o precursor

Francisco Martins Rodrigues

Meio século depois de ter sido condenado e fuzilado como chefe de um bando de espiões e sabotadores ao serviço do imperialismo, Bukarine acaba de ser formalmente reabilitado pelo Supremo Tribunal de Moscovo. As acusações contra ele formuladas eram falsas, as “provas” forjadas. Tudo se resumiu a uma monstruosa maquinação para dar cobertura à sua eliminação política.

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Receitas para controleiros

Francisco Martins Rodrigues

Com estas receitas, coleccionadas através de uma larga experiência, primeiro no PCP, depois no PC(R), tentei recolher alguns dos traços mais salientes daquilo a que esses partidos chamam pomposamente “centralismo democrático” e que mais correcto seria designar por “controlismo demagógico”. Por razões óbvias, os falsos partidos comunistas, na realidade reformistas, não podem sistematizar em compêndios a sua rica experiência em iludir os militantes. Para cobrir essa carência, aqui deixo estas modestas receitas.

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O centrismo como embrião do revisionismo moderno

Francisco Martins Rodrigues

São muito comuns teses que afirmam que a viragem para o revisionismo na União Soviética começou somente no XX Congresso do PCUS, em 1956, ou que esse mesmo processo, na China, teria tido seu início na disputa de poder após a morte de Mao, em 1976. Para essas teses – e para as organizações que as defendem – tudo se passaria como se, subitamente, a política justa se tivesse tornado o seu oposto.

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Introdução a Anti-Dimitrov (*)

 Francisco Martins Rodrigues

 «Há sábios que julgam entrever em tudo isto um recuo das nossas posições de princípio, uma certa viragem à direita no que diz respeito à linha do bolchevismo

DIMITROV

«Unidade a todo o preço para barrar o caminho ao fascismo, à guerra, ao imperialismo!» O apelo lançado por Jorge Dimitrov em 1935 para a unidade de todas as forças operárias, populares e democráticas, faz agora 50 anos. É boa altura para um balanço.

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Sobre Staline

Francisco Martins Rodrigues

  1. “Justiça proletária”

Em 1936-1938, em três grandes processos sucessivos, 90 dirigentes e membros destacados do Partido Bolchevique (Zinoviev, Kamenev, Bukarine, Rikov, Radek, Smirnov, Piatakov, etc.) confessaram publicamente ter organizado dois centros paralelos de espionagem e terrorismo, em ligação com Trotski e com a Gestapo. Foram na quase totalidade fuzilados. Pela mesma altura, num outro julgamento à porta fechada, foram condenados e fuzilados alguns dos principais comandantes do Exército Vermeiho, acusados de traição ao serviço do nazismo.

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O adeus da extrema-esquerda

Entrevista a Francisco Martins Rodrigues

Publicamos nesta edição de sábado [26 de Fevereiro de 2005] uma entrevista com Francisco Martins Rodrigues, o ideólogo e construtor da extrema-esquerda leninista e maoísta entre nós.

Publicamos também uma síntese histórica da génese deste movimento que, a partir da década de 60, na sequência do cisma sino-soviético, alastrou por toda a Europa. Muitas das questões eram bizantinas e quase todos estes grupúsculos queriam matar o pai: o PCP, reformista para uns, revisionista para outros. Mas a importância da extrema-esquerda em Portugal, que se dissolve no próximo fim-de-semana com a desistência como partido do seu último bastião, a UDP, está ainda por estudar, se pensarmos que foi aí que muitos dos actuais dirigentes beberam os seus primeiros conhecimentos políticos, jovens militantes que optaram por caminhos vários.

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A corrente M-L em Portugal

Francisco Martins Rodrigues

 A corrente M-L, nascida há 40 anos e que a certa altura chegou a ser quase um papão para a burguesia, entrou em declínio acelerado a partir de 1978-80 e acabou por se extinguir. A UDP actual, constituinte do Bloco, já não tem nada a ver com a sua origem, a não ser o nome. O saldo que essa corrente deixou não é bonito de se ver, com os seus mais destacados militantes de outros tempos a fazer penitência pelo seu passado, quando não se converteram em porta-vozes da burguesia.

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