Cartas a HN – 11

Francisco Martins Rodrigues

Carta a HN – 11

29/12/1997

Caro Camarada:

A resma das tuas cartas por responder já começa a ser assustadora, pelo que não sei como justificar a falta de resposta atempada. Mas no fundo considero-me ilibado, porque os últimos dois meses tiveram, além dos trabalhos habituais, a sobrecarga da mudança, com transporte de montanhas de papelada, classificação, arquivo, destruição Tudo isto a descer dum quarto andar e a subir para um quinto. De tal maneira que apanhei uma das minhas crises reumáticas, mas felizmente já passou. Quem tem feito força, é claro, tem sido o Bntónio Barata, que é rapaz novo e possante. Agora, com a mudança a chegar ao fim, a PO 62 expedida (recebeste?) e dois livros novos na tipografia, posso preparar-me para entrar no novo ano com espírito tranquilo.

Teus materiais – Aproveitei passagens duma carta tua sobre as actividades dos portugueses em Genève, mas, na dúvida sobre se te causaria problemas ter o teu nome por baixo, visto que agora és vice-presidente federativo (parabéns!), resolvi assinar com um pseudónimo. Fiz mal? Do artigo teu e do Z “Os caminhos difíceis do marxismo-leninismo” que já cá está desde Setembro, por não ter cabido no nº anterior, preparei agora uma condensação que sairá no próximo número. Creio que respeita a ideia central da vossa crítica. Esse problema da distância entre o que a OCPO se propôs fazer no início e o que é actualmente a PO preocupa-nos a todos, evidentemente, mas ainda não vejo meios de sair do impasse. Procurei tocar o assunto nesta última PO (“Acção comunista em tempo de maré baixa”) e penso continuar na próxima, para tentar clarificar um problema que muito tem contribuído para a paralisia dos antigos militantes saídos do PC(R): o que estava certo e o que estava errado na nossa prática anterior, nomeadamente na intervenção sindical, alianças, combate ao PC, táctica eleitoral, e sobretudo métodos de edificação do partido? Há quem pense, e ou sou um deles, que as ideias antigas sobre táctica comunista têm que ser passadas a pente fino, porque se infiltrou muito contrabando oportunista nos partidos comunistas, desde os anos 30, a coberto da Internacional Comunista. Por onde passa o esquerdismo e onde começa o oportunismo? Esta questão esteve sempre em aberto no PC(R) e aeho que nunca ficou esclarecida. Continuem a mandar as vossas colaborações, com muitas críticas, que isso faz faliu à evolução colectiva.

Anti-Dimitrov — A ideia de o traduzir foi posta de parte há muito, embora já houvesse uma tradução francesa bastante avançada[i]. A causa fundamental é as limitações que eu e todos nós aqui reconhecemos hoje ao trabalho. Foi importante sobretudo para o colectivo que rompeu com o PC(R) mas a visão que eu tinha na altura sobre as lutas internas na URSS e na Internacional Comunista era ainda muito superficial, não tínhamos compreendido a impossibilidade do socialismo na URSS e o carácter de capitalismo de Estado do regime, toda a nossa crítica girava à volta de “erros” dos dirigentes, “burocratizaçâo do partido”, quando isso eram apenas manifestações de uma estrutura burguesa. Por isso, hoje, o Anti-Dimitrov, embora não me envergonhe, porque tem muitas críticas justas, já não satisfaz. Tenho estado sempre à espera de poder redigir uma nova síntese mais avançada, mas não tem sido possível. Ainda agora pensámos editar em livro o conjunto dos artigos que publiquei na PO sobre a revolução russa mas acabei por desistir porque teriam que ser trabalhados, melhorados e o tempo não dá. No fim de contas, a minha produção tem que ser de artigos e não de livros, mas se os artigos forem fazendo alguns avanços úteis para a reconstrução de um partido comunista, tudo bem, dou-me por satisfeito.

Debates — Estava de facto previsto um para Outubro mas a acumulação de trabalho relacionada com a mudança levou-nos a adiar para data mais oportuna. Também é verdade que não vimos muita motivação do círculo de pessoas mais próximas, toda a gente anda envolvida nos seus problemas pessoais, profissionais, etc., e não sobeja muita disponibilidade. Pode ser que algum acontecimento político nacional ou internacional desperte as pessoas para a necessidade de debater ideias.

Livros Dinossauro – Temos na tipografia dois volumes novos, anunciados na última PO. Sobretudo o do Thomas é importante, embora nada fácil, porque é tudo tratado em termos filosóficos. Ele tem estudado Marx a fundo e faz uma desmontagem das loas que por aí se vendem acerca das liberdades e dos direitos humanos. Quando estiverem prontos, envio-vos uma encomenda de 5 exemplares de cada, para possíveis vendas aí. Os que não venderem, podem devolver. De acordo? Morada do ZB – Ele está a trabalhar na Beira, na Junta Autónoma das Estradas, lá para o lado de Penacova. mas vem aos fins de semana a casa. Temo-nos visto de longe em longe e ele continua rijo. A morada: (…)

Entrevista com o Alberto Pereira-Cem porcento de acordo, se puder vir já para este número melhor. Até 20 de Janeiro!

Revistas — Perguntas-me a opinião sobre duas revistas que vocês assinaram, Revue Internationale e Révolution Internationale, mas eu não conheço nem uma nem outra. Importas-te de me mandar os números já lidos para eu dar uma vista?

Vossa contribuição — Chegou em boa ordem , a dificuldade é trocar os francos suíços, no banco cobram uma taxa exorbitante, é um roubo, por isso vou-os conservando à espera de alguém conhecido que vá à Suíça e queira comprar francos à taxa de câmbio.

E por agora é tudo. Sempre vens cá em Janeiro como tinhas previsto? Não deixes de nos procurar. Envio-te a ti e ao Z um forte abraço e para ti em particular parabéns pelos progressos acelerados que tens feito com o computador. Ninguém te agarra. Abraços de todos nós.

 

[i] Existe a versão em francês, corrigida por FMR. Haja quem a edite. (Nota de AB)

Cartas a JM – 11

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 11

20/10/1989

Caro Camarada

Respondemos â tua carta de 19 de Agosto. Recebemos as fotocópias da tradução do Anti-Dimitrov, que precisam de facto de muitas correcções, que temos estado a fazer. Esperamos que esteja pronto muito em breve e enviaremos para a Elisabeth. Não estamos a ver muito bem as possibilidades da edição. Por isso pensamos que seria bom se pudesses contactar mais com ela, para ver como correm as coisas e para dares uma ajuda, se necessário.

Também recebemos a fotocópia que nos mandaste sobre os bolcheviques. Já conhecíamos, e pareceu-nos um livro muito importante[i], mas como não temos nenhum exemplar, este faz-nos muito jeito para continuar o estudo.

Enviámos-te recentemente a PO 21 e suplementos em francês na esperança que isso te permita fazer aí mais propaganda das nossas posições. Em breve enviaremos alguns outros suplementos em francês. Não mandámos à V, como era nosso desejo, porque perdemos a morada. Agradecemos que nos indiques qual é, para mandarmos os próximos. A nossa actividade continua bastante restrita. Temos pena de não ter mais notícias das tuas actividades sindicais (ou políticas, ou outras).  Continuam de pé os teus planos de regressares um dia? Cá te esperamos.

É tudo. Ficamos à espera de carta tua. Um abraço.

[i] Actas das reuniões do CC do Partido Bolchevique no período de Agosto de 1917 a Fevereiro de 1918, com apresentação de Giuseppe Boffa. (Nota de AB)

Cartas a JM – 10

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 10

14/6/1989

Caro Z.:

Os nossos contactos continuem demasiado espaçados, não será possível escreveres ou telefonares de vez em quando? A frente eleitoral de que te falei naufragou, tivemos que nos retirar já depois de iniciada a campanha eleitoral por não conseguirmos manter em respeito os nossos “sócios” trotskistas, que se aproveitavam de ter o 1º candidato para nos dar golpes sucessivos e darem um tom moderado e frouxo, reformista, à campanha. Fui ingénuo em julgar possível, com as nossas curtas forças, neutralizar o oportunismo dos tipos. Apesar do descrédito que causam estes incidentes, tivemos que nos decidir a sair. Apelamos à abstenção num comunicado.

5oube que tens em teu poder as provas do “Anti-Dimitrov” [tradução em francês]. Podes enviar para cá a diskete da Elisabeth para eu fazer a correcção finai que for precisa?

Não te esqueças de dar notícias. Receberás em breve a PO 20. Um abraço

Cartas a JM – 7

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 7

20/11/1988

Caro Z.:

Enquanto aguardamos notícias tuas, algumas informações:

A festa da P.O. na Voz do Operário, a 12 de Novembro, foi um êxito pois, apesar da escassez das nossas forças, reunimos 200 pessoas que não foram apenas assistir a um espectáculo (como se tornou hábito ultimamente nas coisas de esquerda) mas também a uma sessão política. Fiz uma intervenção sobre os nossos objectivos e falaram dois camaradas de duas grandes empresas onde há movimentações operárias com intervenção da nossa parte (STCP e Sorefame). Houve um lanche de confraternização, venda de publicações, poemas de Brecht e no final o José Mário Branco, que expressou publicamente a sua simpatia pela P.O. Estamos satisfeitos porque o ambiente continua difícil e receávamos pouca adesão.

Ainda não sabemos quais as tuas impressões sobre o novo figurino da P.O. (recebeste os 20 exemplares que anunciei na carta de 15/10?). Pela nossa parte, embora lhe achemos várias fraquezas a corrigir, estamos animados porque pela primeira vez conseguimos distribuir toda a tiragem (1000 exemplares) em menos de um mês. Fizemos l14 bancas de venda militante, na maioria à porta de empresas, e conseguimos alguma venda. Também aumentámos bastante a colocação em barcas comerciais e quiosques. Estamos agora a. trabalhar no nº 17 (a sair para a rua só no início de Janeiro, devido aos feriados do Natal que impedem a distribuição comercial) e, para já, vamos editar mais um suplemento gratuito dedicado sobretudo ao congresso do PCP.

Sempre fizeste a viagem a Paris? Que resultados deu? 0 que viste com o MV sobre o alargamento da distribuição na emigrarão? Ficamos a espera das tuas notícias. A Elizabeth veio cá à festa, acho que levou boa impressão. Propusemos encarregar-nos da composição do “Anti-Dimitrov” em francês mas ela diz que prefere fazê-la pelos seus meios. Pensas que o calsal [sic] terá alguma possibilidade de ajudar a difusão da P.O. entre os emigrantes portugueses? Será bom, quando possas, ires conversar um pouco com eles. Entre outras coisas, poderias propor-lhes que passassem a dar uma quotização regular de apoio que sairia publicada na P.O. E não te esqueças que também tens que fixar e enviar a tua quota. E como vão os ML suiços?

Prevemos a reunião de uma assembleia em Janeiro. Seguirão mais notícias brevemente. Abraços para ti e para a V

Cartas a JM – 2

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 2

8/5/1986

Caro Z.:

Recebemos o pagamento (1.990$00 = 30 francos) das publicações que te enviámos, e agradecemos. Falta-nos agora saber o que pensas daquilo que leste e estranhamos não ter recebido carta tua.

Como poderás verificar quando receberes a PO nº 4 – que sai nesta semana – tomámos a liberdade de publicar extratos da tua carta de 16 de Dezembro.

Gostaríamos de ter colaboração tua, quer no que diz respeito a contactos aí, quer em artigos, notícias, envio de publicações que aches interessantes, etc. Tu dirás aquilo que achas que podes fazer. Para já, sugerimos-te como hipótese uma entrevista aos m-l suíços em que se refiram questões como:

– situação do movimento operário, emigrantes, corrente m-l e caminho para o partido.

“Pour le Communisme” – escrevemos a propor troca de publicações, ainda não tivemos resposta. Achámos os documentos deles, que nos enviaste, um pouco confusos quanto à questão do partido. A distinção entre partido-frente e partido-partido, ultrapassa-nos, parece-nos uma fuga à tarefa. Também se detecta uma fraca ligação à classe operária, o que nos faz supor que se trata de um grupo de intelectuais. No entanto, é de todo o interesse para nós manter contactos, e gostaríamos de saber o que eles pensam da PO, particularmente das questões levantadas quanto ao movimento comnista internacional.

Tradução do Anti-Dimitrov – achamos a ideia interessante, mas neste momento não vemos quem a possa fazer, mesmo em Paris.[i]

Um dos nossos camaradas, o ZB, está temporariamente aí na Suíça, a trabalhar, perto de Genève. Saiu daqui há dias e ainda não temos o endereço dele, mas assim que possível informamos-te, para vocês se poderem encontrar. Se tiveres algum nº de telefone onde possas ser contactado, é conveniente mandá -lo, para o indicarmos ao B. Ele tem o teu endereço.

 Já tens notícias da Elisabeth Étienne ? Ficamos à espera de notícias tuas, entretanto, recebe um abraço do Francisco Martins.


NOTA

[i] A tradução para francês do Anti-Dimitrov acabou por ser feita por Elisabeth Étienne. Foi revista por FMR e Ana Barradas e está pronta para edição. Só falta o editor. (Nota de AB)

Cartas a JM – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a JM – 1

30/12/1985

Caro Camarada Z.:

Deu-nos muita satisfação a tua carta, por reencontrarmos um camarada de quem nada sabíamos e por saber que a revista te agradou. Não somos muitos mas temos um grupo constituído há cerca de um ano, com núcleos na região de Lisboa e no Porto. Somos a Organização Comunista “Política Operária”, cuja tarefa principal é a edição da revista, mas também intervimos na acção sindical, fazemos debates, editamos manifestos, etc. 0 nosso objectivo, como já viste, é preparar as condições para se poder organizar um partido que seja comunista e não meio-comunista, como é o PC(R). Vai ser um trabalho longo e difícil mas estamos convencidos de que esta fase de propaganda que agora começámos dará os seus frutos. Agrupamos, além de um conjunto de camaradas que saiu do PC(R) em fins de 84, alguns outros que entretanto tinham ficado desorganizados.

Correspondendo ao teu pedido, enviamos hoje mesmo, 30, uma encomenda com: PO nº 1 e 2, Anti-Dimitrov, Manifesto da OCPO, e 3 cartas enviadas ao CC do PC(R) pelos camaradas José Borralho, Ana Barradas e Paulo Meneses, pouco antes de se demitirem. Por estes documentos já ficarás com uma informação mais completa a nosso respeito. Julgo que já deves saber que o principal animador da campanha para nos expulsar do PC(R) foi o Frederico Carvalho (Fred) que há meses acabou por aderir ao PCP revisa.

E tu, como vais? Manda-nos notícias tuas e diz o que pensas de tudo isto. Poderás colocar aí algumas revistas entre camaradas portugueses ou suíços? Vamos escrever ao grupo “Pour le Communisme” a propor troca de publicações. Temos uma assinante aí na Suíça: Elisabeth Étienne (…). Parece que tem uma livraria. Sabes quem é?

Quanto ao pagamento das publicações que enviamos, tu verás a melhor forma de o fazer. Vai a factura junto. Sugerimos que envies em notas dentro de uma carta, é o mais simples.

Aceita um grande abraço meu e dos restantes camaradas Quando pensas vir a Portugal?

 

Cartas a JC – 1

Francisco Martins Rodrigues

Carta a LC – 1

26/2/1987

Caro J:

Claro que me lembro de ti e tive grande satisfação em receber a tua carta, por ver que não perdeste o norte, apesar destes anos de pausa, Quando se esteve envolvido na luta de classes, directa e brutal, sem disfarces, como foi o nosso caso no tempo da Pide, é muito difícil iludirmo-nos com histórias sobre a “importância de cada um viver a sua vida”. Viver a nossa vida, plenamente, é trabalhar por virar esta organização social, porque é isso que os tempos pedem. Ninguém pode escolher a época da sua vida e a nossa época tem esse problema em aberto, que lhe havemos de fazer? Se lhe virarmos costas, não nos libertamos de nada, estaremos apenas a desperdiçar a nossa vida. É por isso que eu não sinto a militância comunista como um sacrifício: faço aquilo de que realmente gosto e que me faz sentir vivo. Já há gente demais reduzida ao papel de joguetes cegos do capital, não tenho vontade nenhuma de lhe seguir o exemplo.

É claro que os nossos velhos planos de batalha estavam cheios de erros e isso contribuiu para muitas derrotas e para a actual fase de dispersão. Mas não serve de nada cairmos por isso no pessimismo e na amargura, lamentar “os anos perdidos”, como por aí se faz agora. A revolução é uma longa aprendizagem, não há outra forma de descobrir o caminho.

Se passares os olhos pelos números já publicados da nossa revista, verás as interrogações que nos colocamos e as respostas que procuramos. No eixo de tudo vejo esta ideia: a corrente ML revoltou-se com a passagem dos revisas para o campo da burguesia, mas teve medo de levar a crítica até ao fim e tentou salvar um pouco do compromisso operário-pequeno-burguês, que já vinha muito de trás. Foi um corte a 50%, que tentou combinar as ideias revolucionárias com um bocado da herança reformista. Por isso nos era impossível explicar a União Soviética de Staline, a IC, o maoísmo, a luta de classes em Portugal e no mundo. Por isso nos agarrávamos a citações e fórmulas feitas em vez de olharmos abertamente o presente e o passado com olhos marxistas. É muito estimulante poder fazê-lo agora. No “Anti-Dimitrov” (… poderá arranjar-to) comecei essa reflexão, que ainda está nos primeiros passos e que prosseguimos na revista.

Já deves saber pelo (…) o que somos: um pequeno grupo de propaganda que procura lançar as bases para um programa comunista e para um partido comunista, combinando a teoria e a prática. Edita- mos a revista, que é o nosso esforço principal, mas também vamos intervindo na acção política e sindical. (Começámos a publicar um pequeno jornal sindical, a “Tribuna Operária”). As condições actuais no nosso país não são nada favoráveis a este esforço, porque o movimento operário está amachucado pela derrota das ilusões de Abril (Povo-MFA) e a pequena burguesia intelectual atravessa uma fase de carreirismo, cinismo e descrença absoluta na classe operária. Mas isto não nos impede de reagrupar um núcleo de vanguarda que passe ao ataque quando a conjuntura mudar e possa formar uma corrente sólida capaz de influir nos acontecimentos.

No plano internacional, não descuramos nenhum contacto com grupos que se orientem num sentido semelhante ao nosso e já temos relações com comunistas dos EUA, Irão, Brasil, França, Itália. Todos fracos como nós, excepto os do Irão, mas todos dispostos a limpar o marxismo-leninismo de lixos reformistas. No que se refere à OCML de França, estamos interessados em conhecer melhor as suas análises e o seu percurso e encaramos a hipótese de uma deslocação minha a Paris para um debate organizado. Vamos estudar esses números da “Cause du Communisme” que mos envias, só conhecemos o “Partisan”, que recebemos regularmente.

Inteiramente de acordo em que publiquem artigos traduzidos da “PO”, o que aliás já lhes propusemos. Podes pois dar-lhes a tradução que fizeste para que eles corrijam a ortografia e mesmo suprimam partes que lhes pareçam de menos interesse para o leitor francês. Seguem junto as notas que pediste[i]. Publicámos no nº 8 da “PO” uma tradução condensada de um artigo do “Partisan”, seria bom mostrar-lhes. Mais importante que tudo: gostaria que te informasses junto do MV sobre o que é a OCPO, que criámos há cerca de dois anos e que nos dissesses em que aspectos estás interessado em colaborar. Ele pode dar-te diversos documentos, para teres uma ideia do que pretendemos e como funcionamos. Conheces “Para a história de uma cisão”? Ê um conjunto de cartas de diversos camaradas em que estão resumidas as razões da nossa ruptura com o PC(R). Também lhe podes pedir o Manifesto inicial da OCPO e outros documentos.

Para além da nossa correspondência, que espero se mantenha, seria muito bom termos uma discussão directa. Como a minha ida a Paris está por enquanto indefinida, seria muito bom se pudesses vir cá (em Junho seria o ideal). Diz-me como pensas que poderás colaborar na nossa actividade.

Uma forma de apoiares a revista, além da tradução de artigos, será enviares-nos algumas colaborações ou materiais para artigos, fazeres uma assinatura, angariares assinantes. Lutamos com grandes dificuldades financeiras, como calculas.

E por agora é tudo. Fico à espera de notícias tuas. Aceita um abraço do camarada

[i] NOTAS

Carlos Brito – líder parlamentar do PCP revisionista.

FP-25 (Forças Populares 25 de Abril) – grupo clandestino inspi rado nas ideias do “poder popular de base” que nos últimos 6 anos praticou uma série de atentados contra capitalistas, latifundiários, contra a NATO, etc. Desmantelado pela polícia, os seus activistas estão e ser julgados como “terroristas”, junta- mente com Otelo Saraiva de Carvalho, acusado de ser o “mentor” da organização.

ORA (Organização Revolução Armada) – grupo dissidente das FP-25 surgido em 1986 e que pretende dar continuidade às acções armadas “excitativas”.

SIS (Serviço de Informações de Segurança) – embrião de uma nova polícia política, que tem na chefia um colaborador da antiga PIDE de Salazar.

FAP (Frente de Acção Popular) – primeiro grupo maoista surgido em Portugal em 1964, de tendência guerrilheirista. Destruído pela polícia em 1966.

LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária) – grupo armado surgido em 1968, liderado por socialistas radicais. Dissolveu-se algum tempo depois do 25 de Abril.

ARA (Acção Revolucionária Armada) – destacamento criado pelo PCP em 1970, levou a cabo atentados e sabotagens à guerra colonial.

BR (Brigadas Revolucionárias) – braço armado do PRP (Partido Revolucionário do Proletariado), de tendência anarquizante, actuaram no início dos anos 70.

 

[1] NOTAS

Carlos Brito – líder parlamentar do PCP revisionista.

FP-25 (Forças Populares 25 de Abril) – grupo clandestino inspi rado nas ideias do “poder popular de base” que nos últimos 6 anos praticou uma série de atentados contra capitalistas, latifundiários, contra a NATO, etc. Desmantelado pela polícia, os seus activistas estão e ser julgados como “terroristas”, junta- mente com Otelo Saraiva de Carvalho, acusado de ser o “mentor” da organização.

ORA (Organização Revolução Armada) – grupo dissidente das FP-25 surgido em 1986 e que pretende dar continuidade às acções armadas “excitativas”.

SIS (Serviço de Informações de Segurança) – embrião de uma nova polícia política, que tem na chefia um colaborador da antiga PIDE de Salazar.

FAP (Frente de Acção Popular) – primeiro grupo maoista surgido em Portugal em 1964, de tendência guerrilheirista. Destruído pela polícia em 1966.

LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária) – grupo armado surgido em 1968, liderado por socialistas radicais. Dissolveu-se algum tempo depois do 25 de Abril.

ARA (Acção Revolucionária Armada) – destacamento criado pelo PCP em 1970, levou a cabo atentados e sabotagens à guerra colonial.

BR (Brigadas Revolucionárias) – braço armado do PRP (Partido Revolucionário do Proletariado), de tendência anarquizante, actuaram no início dos anos 70.

 

Cartas a PA – 5

Francisco Martins Rodrigues

Carta a PA (5)

25/9/1985

Caro Camarada:

Não respondi mais cedo à tua carta de 20 de Junho porque estava à espera da ocasião para te dar a boa notícia: saiu finalmente (hoje mesmo) o nº 1 da “Política Operária”. Embora esteja ainda longe do que desejamos, é um. passo importante pare o avanço do nosso projecto, Mando em correio separado uns exemplares, para tu veres se consegues arranjar compradores ou assinantes. E espero, claro, que tu próprio te tornes assinante, o que é uma boa forma de apoio.

Fico à espera da tua opinião e sugestões sobre a revista. Espero também que te resolvas a escrever a tua “Carta de Londres”” como te tinha proposto antes, para publicar no nº 2. Deveria estar cá até 10 de Novembro. O tema da carta ficaria ao teu critério, naturalmente: panorama do movimento sindical inglês neste momento, actualidade política, Irlanda, etc. Como poderás ver, o MV já fez umacolaboração para o nº 1.

Agradeço as revistas que mandaste. Se não existir aí algo acessível sobre o movimento operário, parece-me que a única de interesse, apesar da orientação trotskista, é a “New Left Review” e nesse caso poderias fazer-me uma assinatura dela? A dos revisionistas é francamente má, não se aprende ali nada.

Não cheguei a ter notícias do amigo a quem tinhas pedido para entregar aqui as 10 libras. Se te for possível enviar o dinheiro por outra via, seria importante para nós, pois, como calculas, as dificuldades financeiros são muitas. Organizámos uma pequena empresa de artes gráficas e é com o dinheiro dela que vamos sustentar a revista, mas os encargos são pesados, sobretudo enquanto tivermos as prestações das máquinas para pagar.

Quando vires o Brandão dá-lhe as minhas saudações e peço que lhe entregues o “Anti-Dimitrov” e a revista, para ele ver se lhe interessa tornar-se assinante. Se quiser escrever-me, terei muito gosto em responder-lhe. E tu, quando vens cá, nem que seja só de fugida? Gostaria de podermos conversar e veres directamente o andamento dos nossos trabalhos. As nossas actividades cá prosseguem, enfrentando as naturais dificuldades destes tempos. Fizemos sair um manifesto aconselhando a abstenção nas eleições, de que mando cópias. As organizações ML para quem enviamos o nº 1 da revista são as seguintes (ver folha junto). Se quiseres mandar para cá outras moradas que aches de interesse, nós encarregamo-nos de a expedir directamente.

Um grande abraço e fico a espera da Carta de Londres!

Cartas a PA – 5

Francisco Martins Rodrigues

Carta a PA (5)

23/6/1985

Caro Amigo:

Como vais? Aqui estou a dar-te algumas notícias dos nossos trabalhos e a pedir de novo a tua colaboração no que te for possível.

Revista – Temos estado a montar as infraestruturas essenciais: temos formada uma empresa de composição e montagem de artes gráficas, com uma máquina de fotocomposição por nós comprada que nos vai servir para fazer a revista pelos nossos meios e obter receitas com trabalhos comerciais. É um projecto ambicioso, que nos obrigou a juntar todos os dinheiros disponíveis, empréstimos, etc., mas creio que vai singrar. Sem ele, a revista não teria hipótese de sobrevivência.

A saída do nº 1 está prevista para fins de Setembro-princípios de Outubro. Artigos de fundo em preparação neste momento:

– Portugal: revolução democrática e nacional ou revolução socialista?

– Disciplina e liberdade de discussão no Partido Bolchevique – um exemplo.

– Lições do Verão quente de 197b no seu 102 aniversário.

– 0 Partido Bolchevique e o movimento operário russo as vésperas da revolução de Outubro.

– Cometna: um exemplo das novas realidades da luta de classes nas empresas.

– A viragem à direita do PCE e o começo da guerrq de Espanha.

– Situação política – tendências de classe por detrás dos alinhamentos dos partidos.

Para além destes artigos principais, haverá um Editorial, comentários curtos, crítica de livros e revistas, etc. Pergunta: poderemos contar com uma carta de Londres feita por ti, sobre um tema à tua escolha? Para ser actual, deveria ser redigida em Setembro e enviada para cá até 13 de Setembro o mais tardar. Decerto compreendes a importância que terá para este começo da revista o aparecimento da tua colaboração. Espero que venças as tuas ideias de incapacidade e nos mandes um comentário sobre temas aqui desconhecidos.

Também seria importante para nós receber, como te pedi há tempos, jornais daí, ML ou outros, recortes da imprensa, uma revista de noticiário internacional que enriqueça a nossa informação, etc. Não te esqueças de que contamos com a tua ajuda para que a nossa revista ganhe público nos meios operários e no público avançado que, embora reduzido, ainda subsiste. Há um espaço para nós.

Mando junto alguns boletins de assinatura antecipada, que é uma forma de apoiar financeiramente o lançamento da revista. Peço-te que vejas o que podes fazer para angariar uma ou outra assinatura. Os preços, como vês, são excepcionalmente baixos reste período de promoção .

“Anti-Dimitrov” – Gostaria de saber se já leste e qual a tua opinião. Aqui não passou despercebido, foi bastante referido na imprensa e vendeu-se já praticamente toda a edição, o que deu uma fonte de receita apreciável para a revista. Podes vender aí algum exemplar ou fazer chegar a gente da emigração?

Actualmente, o meu plano é começar a trabalhar na preparação de um livro, a publicar no Outono do ano que vem, acerca da evolução do PCP, para fazer a tal crítica concreta às origens do revisionismo, que o PC(R) nunca consentiu que se fizesse.

PC(R) – Os dois últimos acontecimentos espectaculares desta banda são a estrondosa adesão do Frederico Carvalho (c pequeno Fred) ao PCP de Alvaro Cunhal e a demissão colectiva de 37 membros da UDP do Porto, quase todos operários. O núcleo central desses operários, encabeçado polo ex-membro do CC do PC(R), José Magalhães, aderiu à nossa organização c constituiu-se em núcleo de apoio da revista .

Seguem junto recortes de imprensa sobre um e outro caso, assim como uma carta por nós dirigida aos membros do , C(R) sobre o caso Fred, lembrando-lhes que ele foi o nosso principal inimigo no 4º congresso e o promotor da nossa expulsão. Afinal quem tinha razão?

Organização – Fizemos a 12 de Maio um encontro para debater a nossa intervenção operária e sindical, çue nos abre algumas perspectivas. A 2 de Junho fizemos a nossa Assembleia, para tomar decisões sobre a constituição do empresa gráfica, que envolve grandes responsabilidades financeiras, e para debater o andamento geral do nosso trabalho. A 16 de Junho realizámos um Encontro, aberto a diversos amigos, onde debatemos o balanço da experiência do PC(R) e da corrente ML em Portugal. Continuará no dia 30 e será transformado num artigo para o nº 2 da revista. Publicamos um boletim interno de debate, “Tribuna Comunista”, de que já saíram três números.

Movimento ML internacional – Segue junto cópia de uma carta aos partidos e grupos ML informando sobro o caso de Frederico Carvalho. Poderás endereçá-la a partidos e grupos ingleses ou de outros países de que tenhas o endereço? rodes mandar-nos os endereços de todos os partidos e grupos ML que conheças?

Até breve, camarada, escreve-nos. Um abraço

Cartas a PA – 4

Francisco Martins Rodrigues

Carta a PA (4)

7/5/1985

Amigo P:

Algumas informações sobre a nossa actividade e perspectivas:

“Anti-Dimitrov” – Está praticamente todo vendido, estamos a pensar em reeditar. Não sei se tens aí algum comprador em perspectiva. Já leste? Que te pareceu? Estamos a realizar algumas reuniões de debate para agitar as ideias do livro e tentar criar corrente de ideias. Junto dois recortes dos muitos que saíram nos jornais daqui.

“Política Operária” – é o nome da futura revista de crítica marxista, a começar em Outubro. Segue junto o manifesto de lançamento e o estatuto editorial. Vão também algumas folhas para subscrição antecipada. Estamos a preparar as condições técnicas, financeiras e de redacção para assegurar a revista a partir de Outubro, bimensal. Vamos fazer um número experimental, no mês próximo, que não será impresso e servirá só para nos treinarmos. Como já te pedi anteriormente, será muito importante a tua ajuda: recortes da imprensa, jornais ou revistas, livros ou folhetos, artigos ou notas tuas. 0 ideal era seres o nosso correspondente em Londres, o que implicava mandares-nos de dois em dois meses um comentário sobre questões em foco aí (na política interna, na política externa, ou na corrente ML). Poderemos contar contigo? Lembrámo-nos de que poderias fazer aí uma assinatura para nós de uma revista que nos ponha ao par dos debates na corrente ML. Falaram-nos na “New Left Review”, mas não sabemos se é essa a mais interessante. Tu estás em melhores condições para decidir. Podemos contar?

Organização – Inaugurámos a nossa sede no 12 de Maio, com uma confraternização e debate que reuniu cerca de 70 camaradas e amigos. Participámos com as nossas faixas e palavras de ordem próprias nas manifestações do 25 de Abril e do 1º de Maio. Estamos agrupados em núcleos, temos uma direcção constituída e vamos fazer debates amplos periódicos. Para já, um sobre intervenção sindical, para o mês que vem haverá outro sobre a experiência do PC(R) e da corrente ML em Portugal.

Partidos ML – enviámos a 25 partidos e grupos ML, incluindo o PTA e PC do Brasil, uma carta em que expomos resumidamente a nossa plataforma política e as razões do nosso corte com o PC(R). Segue junta uma cópia traduzida em inglês. Talvez tu pudesses enviá-la a partidos ou grupos (Inglaterra, índia, Canadá, etc.) de que tenhas referência. Podes fazer-nos chegar os endereços de partidos ou grupos ML para completarmos o nosso ficheiro? Pretendemos enviar a revista para todos os que estejam interessados em fazer troca de publicações.

PC(R) – Depois de alguns artigos no “BV” a chamar-nos anarco-trotskistas, têm feito silêncio a nosso respeito. Sabemos que prometeram aos militantes uma resposta ao “Anti-Dimitrov” numa Conferência que vão realizar em breve, mas temos fortes dúvidas de que se metam nisso. A táctica do PC(R) para “um candidato único das oposições contra a reacção” nas eleições presidenciais, ou seja, na prática, o apoio à candidatura de Lurdes Pintasilgo, está a provocar algum descontentamento nas fileiras, ao mesmo tempo que reforça as tendências mais direitistas. Isto reforça a nossa convicção de que o PC(R) se irá afastando gradualmente e cada vez mais do campo revolucionário, depois da ruptura que fez com a sua ala esquerda (nós).

Manifesto – Tirámos 1.000 exemplares do manifesto inaugural da OC-PO (Organização Comunista “Política Operária”), que estamos a usar para debates em torno das nossas posições e para ganhar novas adesões. Gostaria que mandasses a tua opinião e que digas se há alguma possibilidade de traduzir em inglês para divulgação aí. Mando também uma carta que temos estado aqui a enviar a militantes do PC(R).

Finanças – Apoiando-nos nos nossos recursos financeiros e num empréstimo, vamos comprar uma máquina de fotocomposição em segunda mão, que nos servirá não só para fazer a revista como para trabalhos comerciais que a financiem. Esperamos ter a funcionar dentro dos próximos dois meses um ateliê de composição, fotografia e montagem, pois vieram do PC(R) vários camaradas especializados nestes trabalhos. Como decerto compreendes, a questão financeira é a mais premente. Haverá aí algumas condições para recolheres verbas de apoio para o lançamento deste projecto? Peço-te que faças todo o possível neste campo, pois as dificuldades são enormes. Neste sentido escrevi também ontem ao MV.

Contando com notícias tuas logo que possível e com todo o apoio que possas dar ao nosso projecto, aceita um abraço