O revisionismo é imbatível?

Francisco Martins Rodrigues

Está a classe operária a abandonar o PCP e a deslocar-se para as posições do nosso Partido? Esta é a pedra de toque para saber se trilhamos o caminho iusto. Enquanto um forte núcleo operário não se deslocar para posições revolucionárias, destruindo a actual hegemo­nia revisionista sobre o movimento operário e sindi­cal, todas as nossas preten­sões a fazer uma “política para milhões”, amplas alian­ças, etc., não passarão de folclore.

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“Caminho do 25 de Abril do Povo” — o germe do oportunismo

Francisco Martins Rodrigues

Lè-se no informe político do CC: “O PC(R), tal como assinalaram o 2° e 3º Con­gressos, mantêm viva a pos­sibilidade de, no decurso de uma nova ofensiva de mas­sas, se criarem as condições para a imposição de um governo de características populares, antifascistas, patrióticas e revolucioná­rias. Tal governo de unidade popular poderá ser um degrau transitório no pro­cesso revolucionário em desenvolvimento, rumo à democracia popular e ao socialismo”.

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Intervenção a 8 de Dezembro de 1984

Francisco Martins Rodrigues

O nosso encontro não é um jantar de despedida de arrependidos da esquerda. Não viemos aqui fazer um saldo das nossas convicções revolucionarias. Não temos nada a ver com os grupos que anterior­mente abandonaram o PC(R) e que hoje se pavoneiam no Expresso e no Clube da Esquerda Liberal, â procura de tachos. Estamos no cam­po oposto a essa gente. Por isso mesmo, não estamos interessados em ir lavar roupa suja para a imprensa burguesa. Encaramos a nossa saída do PC(R) como um passo em frente na nossa vida de militantes comunistas, para responder melhor às exigências que coloca a revo­lução em Portugal.

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PC(R): Perestroica e hara-kiri

Francisco Martins Rodrigues

Quando o PC(R) anunciou um congresso para Março, para modificar o programa e os estatutos, houve quem desconfiasse. Em fins de Janeiro, talvez para poupar as expectativas, a direcção veio anunciar que se trata de mudar de nome e de sigla, cancelar a inscrição no re­gisto partidário e passar a associação política — concretamente, liquidar o partido. Não podemos excluir que a dissolução do partido tenha sido uma das condições postas pelo PCP para aceitar a UDP na CDU.

‘Extremismo” moderado

Não nos surpreende este suicídio. Abandonámos o PC(R), em 1984, após um debate esgotante mas elucidativo que não nos deixou dúvidas sobre o que viria a acontecer. De facto, o partido, que se constituíra em Dezembro de 1975 como defensor do marxismo-leninismo e da revolução, começava a revelar uma doença incurável, que só a animação do movimento popular tinha mantido oculta nos primeiros anos: a doença do centrismo.

Na acção diária, pretendia ser um exemplo de ‘radicalização das lutas”; mas na linha política ficava-se por um tímido meio-termo em todos os terrenos: caminho da revolução em Portugal, causas da degeneração da

URSS e do movimento comunista, programa da ditadura do proletariado, construção do partido. A linha geral do partido tendia para opor às taras do revisionismo as taras do stalinismo — era um beco sem saída.

Atitude que se compreende se tivermos em conta o carácter invulgarmente pacífico e moderado da crise de 74-75, que fez convergir para dentro do PC(R) uma amálgama de tendências revolucionárias e de radicalismos exasperados que em breve iriam revelar o seu fundo reformista.

O naufrágio

Quando a China maoísta entrou em bancarrota e as ilusões num “novo 25 de Abril do povo” se esfumaram, o “bolchevismo” fanfarrão do PC(R) veio abaixo.

Assim, depois de ter chegado a fazer sombra pela esquerda ao aparelho do PCP nos anos iniciais, a organização começou a sofrer a pressão crescente da sua ala direita (duas cisões, em 1979 e 1982), aterrada com o perigo de isolamento, e acabou por ceder aos ventos dominantes.

Para fazer esquecer a sua imagem “vermelha” dos primeiros anos e tentar ser aceite pela opinião democrática burguesa, o PC(R) saneou a sua ala esquerda no congresso de 1983 e, livre de resistências internas, pôs-se em busca de propostas políticas que lhe ganhassem mais audiência. Num período de recuo como o que vivemos, a “política para milhões” foi o passaporte certo para a capitulação reformista.

A defesa da “unidade dos democratas contra a direita” traduziu-se no abandono de todas as posições anticapitalistas e em ofertas de mediação entre o PCP e o PS, entre a CGTP e a UGT. Ao descrédito assim obtido somou-se o descrédito de ter continuado a apoiar até à última o “socialismo” albanês quando este já estava transformado numa farsa trágica.

Bóia salva-vidas

Resta a UDP. O plano dos dirigentes do partido era, já de há muito, mudar-se com armas e bagagens para a UDP, onde viam possibilidades de fazer o seu “trabalho amplo”. Só que a UDP, encostada ao PCP e faltando-lhe a âncora do PC(R), vai perder os poucos activistas que lhe restam.

O último Bandeira Vermelha assegurava com descaramento que a UDP “conquistou” um deputado “por direito próprio”, visto que “tem acumulado forças constantes”. É uma mentira ridícula: todos sabem que o major Tomé só “conquistou” o seu lugar no parlamento depois de Eduardo Pires ter feito na imprensa declarações simpáticas sobre o “novo carácter popular e patriótico” do PCP.

A verdade crua é que a UDP pode ter ganho um deputado mas, como corrente política, acabou. Renegada a sua imagem de marca, que era o desmascaramento do falso comunismo, perde a razão de ser. Assim o entendeu uma grande parte dos antigos votantes da organização, que preferiram abster-se ou votar no PSR ou no MRPP.

Assim se verifica o alerta que demos em 84: ao tentar fundar-se numa fusão dos interesses divergentes do proletariado e da pequena burguesia, o PC(R) condenava- se à dissolução porque deixava de ter préstimo tanto para um lado como para o outro. Só lamentamos que um tão grande número de militantes tenha sido destruído nesta desgraçada experiência.

Política Operária nº 33 Jan-Fev 1991

Tudo pelo Congresso

Francisco Martins Rodrigues

(O presente artigo foi recusado na última semana pela Comissão da Tribuna, com argumentos que considero injustificados e atentatórios do Regulamento. Pelo facto, já apresentei um protesto por escrito à Comissão, a que aguardo resposta).

A convocação de eleições antecipadas veio complicar em extremo o processo do Congresso. Não só pela acumulação de tarefas que acarreta mas sobretudo porque vem dar enorme alento às tendências que procuram fugir a uma clara demarcação de posições. É um perigo que tem que ser denunciado e combatido sem demora por todo o Partido. Disso depende o êxito ou o fracasso do Congresso e com ele todo o destino do Partido.

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A batalha ainda não está ganha

Francisco Martins Rodrigues

A aprovação pelo CC das novas teses para o Congresso é o começo de uma viragem que pode ser histórica no nosso Partido. Pela primeira vez, o Partido demarca os interesses próprios da classe operária no campo da política e da táctica e ousa dizer que eles são diferentes dos da pequena burguesia. Pela primeira vez, o Partido traça um plano para concentrar de facto forças na conquista da classe operária. Pela primeira vez, é feita uma crítica firme às vozes que, em nome de uma política “ampla”, do combate ao sectarismo e das alternativas flexíveis, têm vindo a adiar a tarefa central, o pilar central da política comunista: ganhar a hegemonia para o proletariado.

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Outra vez a pequena burguesia

Francisco Martins Rodrigues

Uma coisa à primeira vista desconcertante está a acontecer com o debate na Tribuna: à onda de críticas de esquerda, que põem em causa o caminho até hoje seguido pelo Partido, responderam escassas vozes em defesa do 2° e 3º Congressos e mesmo essas cada menos seguras. O camada Raul, que começou por considerar as minhas opiniões “delirantes”, acaba reconhecendo-lhes o mérito de “pôr o dedo na ferida” de males reais. Os camaradas Zé Alves e Luís Costa prometeram passar das lições de moral e outras miudezas à discussão política, mas ficaram-se pela promessa. A maioria do CC e dos quadros dirigentes do Partido mantém um silêncio prudente.

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Sectarismo na Reforma Agrária

Francisco Martins Rodrigues

Quando se diz que é preciso acabar com o sectarismo no nosso Partido, naturalmente toda a gente está de acordo. O pior é que, para certos camaradas, o combate ao sectarismo é entendido mais no sentido de nos ligarmos a intelectuais do PS, a grupos de cristãos ou a militares democratas, do que no sentido de nos ligarmos às grandes massas proletárias e semiproletárias, aquelas que hão-de fazer a revolução e que esperam por nós. Da carta que em Abril entreguei ao CC, transcrevo a parte referente à nossa acção na Reforma Agrária — um exemplo de sectarismo que até agora parece ter passado despercebido ao CC. Continuar a ler

Sem o apoio da classe não somos nada

Francisco Martins Rodrigues

A polémica interminável em torno da necessidade de resposta flexível às conjunturas, que tem servido de bandeira sucessivamente a todos os camaradas arrastados para posições de direita, esconde uma posição de classe que é preciso pôr a claro. Transcrevo duas passagens da carta que enviei ao CC em Abril:

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