Francisco Martins Rodrigues
Carta a HN – 16
25/9/2001
Caro Camarada:
Os acontecimentos estrondosos de 11 de Setembro puseram tudo em polvorosa, aí como aqui, certamente. E a P.O. também foi fortemente abalada, porque tivemos que nos pôr a escrever à pressa sobre as lições a tirar do que se passou e de que modo vai afectar a nossa actividade futura. Estamos a esforçar-nos por não deixar atrasar a saída da revista, que espero seja em meados de Outubro. Resulta daqui que uma boa parte dos materiais que estavam para entrar tiveram que ser metidos em carteira, entre eles o teu artigo.
De resto, eu estava para te escrever acerca do artigo, porque nos pareceu (não só a mim) que precisa de alguma reformulação. Estou inteiramente de acordo com a tese central que defendes – a urgência de uma educação política e filosófica do proletariado para que este tome consciência do poço em que está metido e se lance numa luta não só estreitamente económica mas sobretudo política e organizada em Partido – mas isto está dito de uma forma pesada, abstracta, demasiado alongada, que não convida o leitor a chegar até ao fim. Numa palavra, os poucos argumentos que desenvolves não correspondem à extensão do texto. Por isso te propomos que trabalhes o artigo um pouco mais, para publicação futura, ou, se isso não te for possível de imediato, que abordes outro tema. De uma maneira geral, acho que deverias escolher exemplos, casos concretos como ponto de partida para a tese que queres defender. É isso que desperta o interesse do leitor e lhe permite captar a mensagem que queres transmitir.
Sei que não levarás a mal esta crítica, já nos conhecemos o suficiente para trocar ideias em perfeita franqueza. Pelas razões já atrás expostas, o capítulo do Tom Thomas que te deste ao trabalho de traduzir também não será publicado, ao menos por agora. Falas na possibilidade de uma entrevista a uma camarada: manda a cassete quando quiseres. Quanto à “Voz do Trabalho”, está a dar os primeiros passos e, por agora, a preocupação principal é conseguir que a criança não morra à nascença. Todo o apoio ou divulgação que possas dar será bom, pois o núcleo redactorial luta com grandes dificuldades.
Trabalhos práticos: 1) Dirigimos uma carta ao Bloco, UDP, PSR, FER, MRPP e outros grupos da esquerda propondo um encontro urgente para se formar um comité unitário capaz de fazer agitação contra o assalto americano em preparação contra os árabes; não estamos optimistas quanto a respostas porque andam todos empenhados na porcaria das eleições autárquicas e não lhes sobeja tempo para se ocuparem de casos “menores” como este; além disso, receiam queimar-se como “extremistas” e perder votos nas eleições. A esta miséria chegou a esquerda.
2) Estamos a convocar uma reunião de pessoas mais próximas de nós para ver se lançamos esse tal comité, mesmo que não envolva partidos. Será a 13 de Outubro.
3) Dia 28 de Setembro vamos a uma concentração promovida pelo Conselho da Paz (revisa) frente à embaixada de Israel. Vamos a ver se aparecer gente. Os revisas, pelo mesmo motivo dos outros, estão encolhidos. Além disso, a sua crise interna tem-se agravado e estão com dificuldades de mobilização. Há em Lisboa uma luta acirrada entre os cunhalistas e o sector intelectual.
4) Projectamos fazer em Novembro um encontro pelo aniversário da P.O., que gostaríamos de transformar num encontro anual de debate da nossa corrente. Já começámos a fazer convites mas por enquanto não sabemos o que se vai conseguir. O tema central, claro, teria que ser este do “antiterrorismo” dos maiores terroristas que já houve à face da terra, os americanos.
De tudo te darei mais notícias à medida que as coisas se confirmarem. Caro camarada, um abraço e votos de saúde