Francisco Martins Rodrigues
Carta a HN – 10
16/6/1997
Caro Camarada:
A P.O. está na tipografia e, como de costume, meto-me a pôr em dia a correspondência, escandalosamente atrasada. Nos últimos meses, para complicar as coisas, os meus problemas familiares (mãe com 91 anos e três irmãos doentes, todos velhos e solteiros) têm-se embrulhado de tal maneira que a minha produção tem sido muito dificultada. Mesmo assim, nesta P.O. enfiei dois artigos grandes, um de história do PC e outro de resposta ao AN, acerca do tema do imperialismo. Acho que ele está influenciado por certa teorias que minimizam o papel do imperialismo, julgam ver o centro da revolução mundial na Europa e encaram com superioridade os países atrasados do “terceiro mundo”. É uma perspectiva perigosa porque abre a porta ao reformismo, como se viu com os velhos Pcs. Enfim, vocês verão o que acham.
Na parte da vossa colaboração, vão ter razões para ficar zangados comigo, pois guardei tão bem os dois textos que enviaste que lhes perdi o esconderijo e não puderam ser incluídos. Só agora, depois da P.O. pronta e quando fiz uma limpeza geral à papelada consegui descobri-los. Irão entrar na próxima P.O., um como carta (resposta a C. Nunes) e o outro como artigo (resposta a Af. Gonçalves). Desculpem o mau jeito mas foi resultado da acumulação de trabalho. Entretanto, podem mandar mais colaboração para o próximo número, que só sai no começo de Outubro (fecho da redacção = 20 de Setembro), visto que fazemos as habituais férias de Verão. Seria conveniente, em minha opinião, que as vossas colaborações localizem melhor o tema central e procurem aprofundar a argumentação em tomo dele, evitando as demasiadas generalizações que alongam o texto tirando força à argumentação. Claro que vocês me deixam sempre à vontade para fazer cortes e adaptações mas eu gostaria de evitá-lo, pode-se deturpar sem querer aquilo que o autor queria transmitir.
O 1º de Maio correu normalmente, entrámos na manifestação da CGTP com a nossa faixa e o nosso manifesto, que despertou interesse. Em seguida fizemos o lanche de confraternização, com 30 pessoas, e que deu para vender livros e recolher alguns fundos. Uma semana depois, fizemos um colóquio no teatro da Comuna (só apareceram 20), que decorreu com interesse, vários participantes pedem continuação. Talvez marquemos outro debate antes de começarem as férias.
A troca de cartas que houve entre a redacção e um grupo de camaradas foi um pouco agreste no tom mas não me parece que tivesse gravidade de maior. O núcleo redactorial não gostou das críticas feitas por alguns camaradas que muito pouco têm colaborado e que apareceram de repente a dizer que “devia ser assim e devia ser assado”. Mas depois de algumas explicações o diferendo aplanou-se e continuamos a trabalhar em conjunto porque os pontos de vista políticos são semelhantes. O lº de Maio foi uma oportunidade para desfazer quaisquer ressentimentos. O MV prometeu fazer o Contraponto nº 3 antes de voltar para Paris (volta para lá definitivamente em Setembro), mas está a andar devagarinho. Não o deixo ir embora sem dar o trabalho como pronto.
O Zé Morais passou por aqui como um foguete, só deu para irmos beber um copo juntos. E que tal de planos de férias? Manda notícias vossas, que nos dão sempre muito prazer. E mais publicações, recortes, etc. Um grande abraço.