Francisco Martins Rodrigues
Carta a JC – 3
10/1/1993
Caro Camarada:
Antes de mais, parabéns a ti e à tua companheira pela bebé. Encontrei o teu pai e soube por ele que está tudo bem com vocês. Só está mal não teres telefonado para nos encontrarmos. E a passagem do ano, foi boa? Recebi há dias o nº 19 da «Lutte de Classe» e notei a maior variedade e politização dos artigos, dando a ideia de que os vossos contactos têm progredido. Estou enganado? Se conseguissem imprimir o boletim, isso ajudaria decerto à expansão. Tens recebido a P.O.? Tens tido tempo de dar uma vista pelos nossos artigos? Não temos feito grandes avanços teóricos, mas manter e fundamentar uma plataforma comunista nos tempos que correm já não é mau. Também temos estado a ganhar alguns novos colaboradores, talvez porque, ao fim destes anos, e no vazio a que chegou a esquerda, pessoas que anteriormente nos olhavam com desconfiança agora tomam apreço pela nossa persistência. Também temos alargado a distribuição, em Lisboa e no Porto.
Estou a fazer uma série de artigos sobre os primeiros anos da URSS, passagem do poder de Lenine para Staline, etc., que ainda era um buraco na nossa explicação para a perda da revolução. Continuamos leninistas a cem por cento mas já não acreditamos que se possa dizer que a URSS ia bem até cair nas mãos de Staline. Estava tudo perdido, ainda em vida de Lenine, mas a culpa também não pode ser atribuída a ele. Se a leitura dos artigos te sugerir algum comentário, gostaríamos de o conhecer e de o publicar, se isso te interessasse.
Um pedido: lemos e apreciámos o último livro de Tom Thomas sobre ecologia, que foi editado pelo Albatroz. Fiz um resumo-comentário que sairá na próxima P.O. e gostava de entrar em correspondência com o Thomas. Como julgo que estás em contacto com ele, peço que me mandes a morada, para eu lhe escrever.
Escreve alguma coisa, mesmo que sejam só duas linhas. Abraços.