Francisco Martins Rodrigues
Carta a LC – 4
23/8/1993
Caro Amigo:
Respondo com atraso à tua carta, mas espero que me desculpes. Não sabia que tinhas esse problema tão embrulhado das hérnias. Estás a passar melhor agora? Eu tenho estado bem, fora uns ataques periódicos de reumático. Só agora, no fim de Agosto, me estou a preparar para ir fazer umas pequenas férias, talvez para o Alentejo. Se a tua filha e o namorado dela passarem pela sede da revista, como dizes, correm o risco de bater com o nariz na porta. Mas nos primeiros dias de Setembro já cá estarei, para começarmos a preparar o próximo número da revista.
A nossa propaganda cá continua, mas os frutos vêem-se pouco. A burguesia arranjou uma máquina de comunicação (embrutecimento) social que esmaga tudo. Nas bancas de jornais, a nossa revista fica escondida no meio de montanhas de papel: modas, crime, pornografia, negócios – não dá hipótese. Tu sabes como é, que ai na Alemanha é bem pior. Tenho lido as notícias sobre a crise do desemprego que aí também está a chegar. Aqui fecham fábricas atrás de fábricas e a agricultura e a pesca estão de rastos. Não sei como conseguem ir arrumando os trabalhadores despedidos. Diz-se que lá para o fim do ano vai ser pior. O problema é que as pessoas não vêem nenhuma alternativa política. O PS defende o mesmo programa que o PSD quanto à Europa. Talvez, com a continuação da crise, aqueles que acreditavam que o capitalismo ia dar prosperidade para todos, comecem a abrir os olhos e a dar ouvidos à propaganda revolucionária.
Caro L, estimo as tuas melhoras e que a vida te corra bem. Um abraço