Francisco Martins Rodrigues
Carta a MV (50)
8/8/1994
Caríssimo:
Será que o selo [1] não vale mesmo ou és tu que queres ficar com o tesouro só para ti? Eis a dúvida pungente que não me deixa dormir. Mas eu vou aí a Paris tirar a coisa a limpo, podescrer! Quando menos esperares, bato-te à porta. E quando te vir a viver à grande e à francesa, já sei que foi o fruto do meu selo.
Por aqui, tudo calmo. De novo, apenas uma tentativa para formar uma Associação de
Antigos Desertores da Guerra Colonial, de que te mando o texto convocatório, feito pelo Zé Mário Branco. Se tiveres aí possíveis interessados, informa-os. Bem se precisam apoios, porque a iniciativa por enquanto está muito restrita. Poderia ser uma boa plataforma para fazer fogo contra a faxaria que não desperdiça nenhuma ocasião para refazer a história, dizer que “a guerra estava quase ganha”, “os cabo-verdianos não queriam a independência”, o “Conselho da Revolução foi uma cambada de traidores”, etc.
As minhas actividades têm estado reduzidas ao mínimo, infelizmente por causa da doença de uma minha irmã, que acabou por falecer recentemente. Estou a ver se me relanço ao trabalho mas primeiro quero arranjar meia dúzia de dias de férias, que estas últimas semanas têm sido bem pesadas.
Recebeste os 5 volumes do “Futuro”? Penso meter as tuas “bocas” ao Sousa Tavares nas cartas dos leitores do próximo número, mas, à parte disso, não me arranjas uma carta de Paris? Cá fico à espera. Um abraço.
[1] Segundo MV, em carta de 21/6/94: