Francisco Martins Rodrigues
Distribuído no 1º de Maio de 1994
O regime de Salazar-Caetano foi ou não fascista? A PIDE foi ou não
uma organização de assassinos? Estas parecem ser as grandes questões
em debate, neste 209 aniversário do 25 de Abril. Para avivar a memória
dos “distraídos”, recordamos os nomes de cem vítimas, extraídos de um
folheto publicado em 1974 pela Associação de Ex-Presos Anti-Fascistas.
Com uma pergunta: os que se sacrificaram pela liberdade merecem
o espectáculo vergonhoso a que se assiste de reabilitação do
fascismo?
1931
24 Abril – A PSP mata no Porto o estudante Branco, durante uma manifestação.
1932
Armando Ramos, jovem comunista, morre de tuberculose em consequência de espancamentos da Polícia de Informação.
27 Outubro- Morre o fragateiro Aurélio Dias, após 30 dias de tortura na Polícia de Informação.
7 Novembro – Alfredo Ruas é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa.
1934
- Fevereiro – A PSP mata um operário con- serveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal.
16 Março – Morre incomunicável, na Penitenciária, o operário Américo Gomes, de 21 anos, depois de dois meses de tortura na PVDE.
23 Abril – Assassinado pela PVDE na tortura o dirigente sindical ferroviário Manuel Vieira Tomé, durante a repressão da greve de 18 de Janeiro.
Abril – Morto à pancada por agentes da PVDE o operário Júlio Pinto, durante a repressão do movimento de 18 de Janeiro.
1935
- Maio – Morre no hospital para onde é transferido depois de espancamentos na sede da PVDE, João Ferreira de Abreu, dirigente da Juventude Comunista.
1936
- Junho – Morre na fortaleza de Angra do
Heroísmo, vitima de maus tratos, o operário da Marinha Grande Francisco Cruz, deportado do 18 de Janeiro.
Setembro – Agentes da PVDE assassinam na delegação do Funchal, durante a tortura, o trabalhador Manuel Pestana Garcês.
1937
- Abril – Agentes da PVDE assassinam o operário Ernesto Faustino.
Agosto – Morre na tortura na sede da PVDE o operário anarquisla José Lopes durante a onda de prisões após o atentado a Salazar.
Agosto – Morre no forte de Caxias, em condições suspeitas, o tenente-coronel Manuel Salgueiro Valente.
Setembro – Morrem no Tarrafal seis antifascistas no espaço de 4 dias, vitimas das febres e dos maus tratos: Augusto Costa, da Marinha Grande (dia 21), Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa (dia 22), Francisco Do- mingues Quintas, de Gaia (dia 23), Francisco José Pereira, marinheiro, de Lisboa (dia 23), Pedro Matos Filipe, de Almada (dia 23) e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde (dia 24). É director do campo o capitão Manuel Martins dos Reis.
24 Setembro – É assassinado na sede da PVDE durante a tortura, poucas horas depois de ser preso, o operário Augusto Almeida Martins, de 23 anos de idade.
29 Outubro – Morre no Tarrafal, vítima das febres e maus tratos o operário Abílio Augusto Belchior, do Porto.
1938
Janeiro – Morre no Forte de Peniche o estudante António Mano Fernandes, de
Coimbra. São responsáveis pela sua morte o tenente Marques, director do Forte, e o tenente Mouga, médico, ambos da PVDE, que lhe recusam assistência apesar de saberem que sofre duma doença de coração.
10 Fevereiro – Morre no Aljube Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, três dias depois de ter sido trazido da fortaleza de Angra, agonizante. Preso em Julho de 1936, contraíra a
tuberculose depois de ter sido espancado a cavalo marinho durante oito horas consecu-
tivas pelos agentes da PVDE Paula, Antero, Francisco Dias, José Diogo, Mário e Gomes.
27 Março – Morre no campo do Tarrafal vitima de maus tratos o dirigente anarco-sindicalista Arnaldo Simões Januário.
20 Novembro – Morre na tortura na sede da PVDE o operário Francisco Nascimento
Esteves, de Lisboa.
1 Dezembro – Morre no campo do Tarrafal o pintor Alfredo Caldeira, dirigente comunis-
ta, após prolongada agonia sem assistência médica.
1939
19 Dezembro – Morre no Tarrafal, vitima de doença e maus tratos, Fernando Alcobia.
Tinha 24 anos.
1940
6 Julho – Morre no Tarrafal, vítima de maus tratos, Jaime Fonseca de Sousa.
12 Agosto – Morre no campo do Tarrafal Albino Coelho.
12 Outubro – Morre no Tarrafal sem assistência médica Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista
1941
3 Janeiro – Morre no Tarrafal Jacinto Faria Vilaça.
23 Setembro – Morre no Tarrafal Casimiro Ferreira.
22 Outubro – Morre no Tarrafal Albino de Carvalho.
3 Novembro – Morre no Tarrafal António Guedes Oliveira e Silva.
Dezembro – Morrem no Tarrafal o operário Ernesto José Ribeiro (dia 7) e José Lopes
Dinis (dia 12).
1942
7 Janeiro – Morre no Tarrafal HenriqueDomingues Fernandes.
4 Julho – É assassinado com rajadas de metralhadora no seu consultório em Espi-
nho o médico Carlos Ferreira Soares. Os criminosos, os agentes Laranjeira, Leitão e
Coimbra, alegam “legítima defesa”. É director da PVDE o capitão Agostinho Lourenço.
11 Setembro – Morre no Tarrafal Bento António Gonçalves, operário, dirigente do
Partido Comunista. Tinha já 10 anos de prisões e deportação. É director do campo o capitão Olegário Antunes.
11 Novembro – Morre no Tarrafal Damásio Martins Pereira, marítimo.
20 Dezembro – Morre tuberculoso Fernando Óscar Gaspar, no regresso da deportação.
28 Dezembro – Morre no Tarrafal António de Jesus Branco.
1943
7 Janeiro – A GNR mata a tiro em Ameal (Águeda) a camponesa Rosa Morgado, de
65 anos, e os seus filhos António, Júlio e Constantina.
12 Janeiro – Morre no Tarrafal, tuberculoso,Paulo José Dias.
14 Fevereiro – Morre no Tarrafal, com febre biliosa, Joaquim Montes.
11 Junho – Morre no Tarrafal José Manuel Alves dos Reis.
28 Agosto – Morre o operário Américo Lourenço Nunes, em consequência de
espancamentos sofridos um mês antes no Governo Civil, sob a direcção do inspector
Pedreira, da PVDE, durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa.
15 Novembro – Morre no Tarrafal Francisco do Nascimento Gomes, do Porto.
Dezembro – Morto pela PVDE durante a tortura Francisco Reis Gomes, operário da
Carris do Porto.
1944
Abril – Morre no forte da Trafaria o general José Garcia Godinho, por lhe ser recusado
o internamento hospitalar exigido de urgência pelos médicos. Responsável directo pela sua morte: o general Fernando Santos Costa, ministro da Guerra.
15 Maio – A PVDE entrega na morgue o corpo de Francisco Ferreira Marquês, militante
comunista de Lisboa, após um mês e meio de incomunicabilidade, alegando que se teria enforcado. O relatório da autópsia não revela sinais de asfixia, mas lesões internas na região da bacia e contusões na cabeça, no corpo e num testículo.
14 Junho – Morre no Tarrafal, tuberculoso, Edmundo Gonçalves.
24 Julho – Assassinadas a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente). Mais 40 camponeses são feridos a tiro.
1945
3 Junho – Morre no Tarrafal Manuel Augusto da Costa.
9 Junho – Assassinado depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo o operário comunista Germano Vidigal, de 35 anos de idade, presidente do Sindicato da Construção Civil de Évora. O relatório da autópsia assinala esmagamento dos testículos. Os assassinos são os agentes da PVDE Carrilho
e Barros e os cabos da GNR Pinto e Inácio.
4 Julho – Assassinado a tiro na estrada de Bucelas o operário Alfredo Dinis, de 28 anos de
idade, dirigente do PCP. Os assassinos são o inspector Fernando Gouveia, o chefe de brigada José Gonçalves e os agentes Mário Constâncio e José Baptista da Silva.
Outubro – Morre o operário José António Companheiro, de 24 anos de idade, de Borba, de tuberculose contraída na prisão devido aos maus tratos da PVDE.
1946
19 Maio – Morre de tuberculose após doze anos de prisão e deportação o operário corticeiro de Silves Manuel Simão Júnior.
Agosto – Morre Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, após quinze meses de prisão na PIDE com bárbaros espancamentos.
1947
20 Junho – Morre durante a tortura na sede da PIDE o assalariado rural José Patuleia,
de Vila Viçosa.
1948
Janeiro – Morre na tortura na sede da PIDE o
operário da Marinha Grande António Lopes
de Almeida.
22 Agosto – Morre no Tarrafal Artur de Oliveira. É director do campo o capitão Prates
e Silva.
3 Novembro – Morre no Tarrafal o marinheiro da Armada Joaquim Marreiros, após 12
anos de deportação.
28 Dezembro – Morre no Tarrafal António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde o movimento de 18 de Janeiro de 1934. Encontrando-se gravemente doente e quase cego, fora trazido do Tarrafal para o forte de Caxias, mas, por ordem expressa de Salazar, é novamente enviado para o Tarrafal, onde morre pouco depois.
1950
3 Janeiro – Morre na Penitenciaria de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade, o operário Militão Bessa Ribeiro, dirigente comunista. Cumprira 7 anos no campo do Tarrafal onde contraíra uma grave doença do fígado.
23 Janeiro – Assassinado na tortura na sede da PIDE o operário José Moreira, dois dias após a prisão. O corpo é lançado por uma janela do 4o andar para o pátio, para simular suicídio. A familia verifica na morgue que o corpo se encontra desfigurado pelos espancamentos.
Maio – Morre na tortura na sede da PIDE em Lisboa Venceslau Ferreira.
4Junhê- Assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça o assalariado rural Alfredo Dias Lima. Tinha 21 anos de idade.
1951
Morre vítima -de maus tratos na prisão Gervásio da Costa, operário de Fafe.
1954
19 Maio – Assassinada a tiro em Baleizão a assalariada rural Catarina Eufemia, durante uma greve. Grávida e com uma filha nos braços, é morta à queima-roupa pelo tenente Carrajola, da GNR.
1957
15 Fevereiro – Morre na sede da PI1ÕE no Porto Joaquim Lemos de Oliveira, barbeiro de Fafe, após quinze dias de tortura. A polícia atribuiu a morte a asfixia, mas o cadáver apresentava ferimentos na cabeça e no corpo. Tinha sido torturado com 9 dias de “estátua”, vergastado a cavalo marinho e sovado a pontapé e a soco pelo subdirector Costa Pereira e outros agentes da PIDE.
2 Março – Morre na tortura na sede da PIDE no Porto Manuel da Silva Júnior, de 69
anos, de Viana do Castelo. O corpo, irreconhecível, foi enterrado às escondidas pela PIDE num cemitério do Porto.
Março – Assassinado pela PIDE o assalariado rural José Centeio, de Alpiarça.
1958
23 Junho – Assassinado a tiro pela GNR o assalariado rural José Adelino dos Santos,
durante uma manifestação em Montemor-o-Novo. Vários outros trabalhadores são feridos a tiro.
30 Julho – Lançado por uma janela do 4o andar da sede da PIDE o operário da Póvoa de Santa Iria Raul Alves, após 15 dias de tortura. A esposa do embaixador do Brasil assiste à queda do corpo.
1961
11 Novembro – Assassinado a tiro pela GNR o operário corticeiro de 17 anos de idade Cândido Martins Capilé, durante uma manifestação em Almada.
19 Dezembro – Assassinado a tiro à queima- -roupa numa rua de Lisboa, o escultor José Dias Coelho, militante comunista. O assassino é o agente da PIDE António Domingues e os cúmplices são os agentes Manuel Lavado e Pedro Ferreira.
1962
28 Abril – A GNR assassina a tiro em Aljustrel os mineiros António Graciano Adângio, de 27 anos de idade, e Francisco Madeira.
1 de Maio – A PSP assassina a tiro o operário de Alcochete Estêvão Giro, de 18 anos de idade, durante a manifestação do Is de Maio em Lisboa.
1963
1 de Maio – A PSP assassina a tiro, sob indicação de agentes da PIDE, o tipógrafo Agostinho Fineza, do Funchal, durante uma manifestação em Lisboa.
1964
1 de Maio – Agentes da PIDE assassinam o trabalhador David Almeida Reis durante uma manifestação em Lisboa.
– Uma força da GNR assassina a tiro em Lou- lé o jovem Francisco Brito, desertor da guerra colonial.
1965
12 Fevereiro – Assassinados a tiro numa emboscada em Vila Nueva del Fresno (Espanha) o general Humberto Delgado e a sua secretária, Arajaryr Campos. Os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco, o subinspec- tor Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro.
1967
19 Junho – Morre Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba (Alentejo), vitima de torturas na PIDE.
1968
22 Janeiro – Morre em Caxias o trabalhador de Montemor Luís António Firmino, vitima de maus tratos da PIDE.
Abril – É morto à pancada no posto da PSP de Lamego o trabalhador rural Herculano Augusto, por condenar publicamente as guerras coloniais.
30 Outubro – Morre na incomunicabilidade no forte de Caxias, depois de agonizar durante uma noite sem assistência, o estudante Daniel Teixeira. É director da prisão o inspector da PIDE Gomes da Silva.
1969
Dezembro – Assassinato de Eduardo Mon- dlane, dirigente da Frelimo, através de um atentado organizado pela PIDE.
1972
12 Outubro – É assassinado a tiro em Lisboa o estudante José António Ribeiro Santos. O
assassino, o agente da PIDE Coelho da Rocha, viria a escapar-se na “fuga-libertação” de Alcoentre, em Junho de 1975.
1973
Fevereiro – Assassinato de Amílcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde, por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Calvão.
1974
25 Abril – Os pides acoitados na sua sede, na Rua António Maria Cardoso, abrem fogo sobre o povo, matando Fernando Carvalho Gesteira, de 18 anos, de Montalegre; José James Barneto, de 37 anos, de Vendas Novas; Fernando Barreiros dos Reis, de 24 anos, soldado, de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, de 20 anos, estudante, dos Açores, e causando duas dezenas de feridos. A PIDE acaba como começou, assassinando.
Bom dia. Duas correcções:
1944 – Nos confrontos entre rendeiros da Gouxa e a GNR não resultaram mortos, ao contrário do que é referido. Além disso, o local dos confrontos situa-se no concelho de Alpiarça e não em Benavente.
1950 – Alfredo Lima, assassinado pela GNR, tinha 19 anos.
Cumprimentos,
Ricardo Hipólito
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