Cartas a MV – 14

Francisco Martins Rodrigues

Carta a MV (19)

12/1/1989

Camarada:

Respondo ao teu cartão (duplo) de 3 de Janeiro, com desejos de que tenhas entrado no ano novo com o pé direito. Por aqui, não entrá­mos mal nem bem, as águas continuam mornas e paradas, apesar de agora os chefes das duas centrais falarem todos os dias na hipótese de nova greve geral. A recuperação económica cavaquista começa a fazer estra­gos e o exemplo da greve geral (a sério) em Espanha obriga a dizer alguma coisa. Mas o ambiente na base e a organização pela base continuam miseráveis e, nestas condições, a greve geral, mesmo que se faça, não aleijará muito o poder. Continua o tal refluxo “peculiar” de que fala­va o velho Arruda, muito mais “peculiar” do que ele podia imaginar. Ao que me consta, a situação, por essa Europa fora, é semelhante. E em Ju­nho, eleições para o Parlamento Europeu. Temos estado a discutir as possibilidades de, em associação com os outros grupos de esquerda (à esquerda de UDP e do PC(R)) lançarmos uma candidatura, para dizer algumas verdades na televisão. Talvez seja possível. O caso está em estudo, não convém por enquanto falar em nada. Vamos fazer no próximo dia 29 a nossa Assembleia anual, para, entre outras questões, discutir esta e decidir. Queres vir cá? Suponho que não poderás, mas seria uma óp­tima ocasião para nos reencontrarmos.

A nova PO teve uma saída razoável (pela primeira vez desde o nº 1 foi toda distribuída) e neste momento estamos a lutar para que o nº 17, que acaba de sair não baixe a venda. Para teres uma noção de como as coisas aqui vão envio-te a informação que serviu de base à discus­são que sobre o assunto tivemos em 25 de Novembro (não foi para come­morar a data!). Pelo teu cartão, deduzo que não recebeste o 16, pe­lo que meti no correio uma remessa de 10 exemplares, assim como 10 ex. do nº 17. Espero que desta voz recebas tudo. Precisamos muito da tua opinião crítica sobre este novo modelo. Estamos neste momento a nego­ciar com uma distribuidora e vamos elevar a tiragem para uns 2.500, mas é uma aposta arriscada, se não conseguirmos tornar o nosso produto atraente! O que se pode melhorar, sem concessão nos princípios? Dá-nos uns palpites!

Consegues alguma coisa quanto a distribuição aí? Vi algures que existe uma Librairie Lusophone, em 22 rue du Sommerard, 75005 Paris. Será que se pode lá colocar a revista? Vê se podes fazer aí algo para furar a emigração.

Quanto aos teus envios: é muito importante para a nossa cultura geral que nos continues a mandar o Monde diplomatique, aprendese lá umas coisas. Quanto aos livros que referes, ainda não apareceram, o que me faz recear extravio. As revistas “Sous le drapeau du socialisme” e do “Courant Communiste Alternatif” nao vale a pena mandares mais, já estamos elucidados do género. Em vez dessas, gostaria de conhecer, se te for possível, estas, por exemplo:

Critique Communiste, mensal, 20 F

2 rue Richard Renoir

93100 Montreuil-sous-Bois

Communisme, nº 17, ler trimestre 88  75

L’Age d’Homme, 3 rue Férou 73006 Paris

Un monde à gagner (revista do movimento internac. maoísta)

  1. G.
  2. 21

79221 Paris Cedex 09

– ainda o seguinte livro:

Moshe Lewin, La formation du Système Soviétique,

Gallimard, 1987

0 ZM já entrou em contacto connosco e vamos encontrar-nos um dia destes para ele entregar os 300 F para a SCR. Foi uma óptima iniciativa. Não sabia que houvesse aí ambiente para juntar 200 pessoas em torno deste assunto. Recebeste o “Denúncia” nº 9? As actividades de solidariedade prosseguem em lume brando, estamos agora a preparar uma sessão na Amadora, onde existe urna comissão local. Pelo menos, os pre­sos e famílias parece que se estão a convencer de que a saída não é para breve. Veremos como aguentam a desilusão. Sempre se fez a entre­ga das assinaturas na embaixada? Conta o que houver de interesse (ses­são, assinaturas, para publicarmos no próximo “Denúncia”.

Confirma-se a seriedade da crise do Albatroz? E nesse caso, qual vai ser a tua alternativa? Tenho uma óptima sugestão: vires para o pátrio lar, dar o teu esforço à recuperação económica cavaquista.

Fora de brincadeiras, não admites a hipótese de te fixares aqui? Arranjava-se com certeza algo em que te ocupasses. Pensa nisso e diz algo.

O ZM tem feito uns telefonemas de vez em quando, sempre alvoroçado com iniciativas entre mãos, desta vez umas reuniões alar­gadas de emigrantes para debater reivindicações. Adiou a ida a Paris e não sei se tem hipótese de ir aí proximamente. Vou-lhe escrever de seguida.

Até breve e um grande abraço deste teu camarada

 

 

 

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