Francisco Martins Rodrigues
Carta a MV (15)
22/3/1988
Caro M:
Tenho recebido os teus bilhetes. Quanto à publicação da carta aberta aos ex-presos políticos, tudo bem. Por mim, alivia-me muito essa solução, pois estou tão sobrecarregado de tarefas que não poderia cumprir a promessa do artigo sobre salários em atraso. Estamos a preparar o nº 14 da P.O., para sair em meados de Abril e desta vez queremos dar maior cobertura às questões do trabalho, o que exige mexermo-nos mais. Deves ter lido na imprensa que por aqui há uma certa agitação contra o pacote laboral do governo e está tudo em marcha para uma greve geral no dia 28, convocada pelas duas centrais, pela primeira vez unidas. Vai ser provavelmente bastante seguida mas sem combatividade, uma espécie de protesto simbólico para pressionar o Mário Soares a não assinar a lei. a situação do movimento operário continua difícil, muita desmoralização e falta de confiança nas próprias forças. O PCP parece ainda mais paralisado devido às divergências internas, e assim deve continuar até ao congresso, em Dezembro. O Cunhal mais uma vez faz papel de “esquerdista” contra os renovadores e o sentimento da base operária é de acreditar nele. Uma miséria portuguesa.
O nosso trabalho continua a romper contra ventos e marés, mas sempre os mesmos. Equilibrámos a situação financeira, que se estava a tornar uma preocupação absorvente, e estamos a tentar abrir-nos um pouco mais. Apesar do ambiente de derrotismo, há algumas pontas a explorar. É preciso porque a expansão da revista continua bloqueada e a nossa influência não sai dum círculo muito restrito de amigos.
Recebeste a P.O. 10 que te faltava? Quanto às contas que pediste, a situação é a seguinte: (…). Agora, desta importância deverias deduzir as revistas não vendidas, assim como despesas que tens feito com o envio do “Monde”, etc. Conclusão: tu verás se podes mandar mais alguma massa. (…).
Quanto a encomendas: poderias obter-nos “L’état du Monde” 1987? Envia sempre o “Monde”, tem interesse. O ZM telefonou-me a dizer que vai aí no fim deste mês, será uma oportunidade de fazerem o ponto da situação na emigração. Um abraço