Francisco Martins Rodrigues
Carta a MV (13)
6/3/1987
Respondemos à tua carta. Esperamos que a esta hora já tenhas recebido a encomenda com a PO nº 8, a Tribuna Comunista nº 11, a Denúncia nº 3, assim como recortes de imprensa acerca do 1º aniversário da nossa revista.
A nossa última iniciativa foi a realização de dois debates sobre a questão Staline, em Lisboa e no Porto. O de Lisboa, sobretudo, com 30 pessoas, foi bastante participado e deu lugar a um debate animado. Manifestaram-se com certa força tendências anarquizantes que partem da crítica a Staline para pôr em causa o partido, a revolução, etc. Este confronto de opiniões foi muito esclarecedor para a maioria das pessoas presentes, que aprenderam mais assim do que se tivéssemos feito uma palestra “monolítica” à porta fechada. Pretendemos continuar com estes debates, que estabelecem uma ligação mais viva com os amigos da revista.
Neste momento, as nossas capacidades de elaboração de temas estão seriamente reduzidas por termos que nos concentrar no problema financeiro. Como disse antes, o pagamento em poucos meses da máquina de composição obrigou-nos a contrair uma série de empréstimos que ameaça afogar-nos. Felizmente estamos a conseguir bastante trabalho e vamos dar luta para pôr a empresa a flutuar. Mas esta concentração nas actividades técnicas e comerciais vai afectar provavelmente o nível da revista por algum tempo.
lamentavelmente, a tua carta com as notas sobre os estudantes, o artigo sobre o “Carrefour du Développement” e as revistas com bonecos, chegou tudo tarde demais, quando já tínhamos a revista na tipografia. Sei que a tua vida é atarefadíssima mas peço que tenhas em conta as datas-limite para podermos meter a tua colaboração. Se nos puderes mandar alguma coisa para o próximo nº, deve cá estar no próximo dia 19 de Março. Vamos ainda meter o comentário sobre o escândalo do “Carrefour”; embora um pouco atrasado é interessante porque foi aqui pouco conhecido.
Recebi uma carta do JC, antigo companheiro de prisão, que tomou contacto com a PO por teu intermédio. Parece-me sinceramente desejoso de fazer qualquer coisa e já lhe escrevi. Seria bom que discutisses com ele e visses em que nos pode ajudar. Que opinião tens sobre ele? Estará ele disposto a vir cá brevemente para conversarmos? Peço que me escrevas sobre este caso, que pode ser de muito interesse.
Também escreveu o PA, em resposta a uma carta que lhe enviei, com a oferta da PO nº 7. Mostra-se preocupado com o sentido das nossas críticas (Staline, Albânia) e continua a não assinar a revista. Seria bom se lhe escrevesses, para lhe agitar um pouco as ideias e tirar o medo à crítica.
Quanto ao “Albatroz”: temos sabido pelo R do andamento dos trabalhos. Vou entregar-lhe o pequeno texto que pediste sobre o Zeca Afonso, não sei se servirá. Mas, pelo que entendi, o vosso “Albatroz” não dará trabalho de composição para a nossa empresa.
Tomámos nota dos contactos que fizeste com a OCML e o M. Soube há dias, por um comunicado da OCML que já rebentou lá a cisão e que mudam de endereço. Veremos como se desenvolve o caso mas receio que o grupo esteja em crise geral, talvez pela dificuldade em implantar-se, ao fim destes anos de existência. Um perigo que também nós corremos, diga-se. Por enquanto, ainda não conseguimos consolidar as pontas sindicais que nos apareceram. Estamos a iniciar um debate sobre a questão sindical, como poderás ver pela ”Tribuna Comunista” nº 11. Diz o que te parece sobre o assunto.
Do Irão, nunca mais recebemos notícias acerca do seu projecto de um encontro internacional. Continuo à espera de melhor oportunidade para me deslocar aí.
Por agora termino. Estamos assoberbados de trabalho. Até breve, um grande abraço para ti e para a R. Beijos para os pequenos.