Francisco Martins Rodrigues
Carta a AV (22)
28/2/1995
Caro Camarada:
Recebi a tua carta e recolhi os dados sobre Sines para uma correspondência a sair no próximo número. Como só fechamos a redacção a 20 de Março, se entretanto tiveres mais informações ainda podes mandar.
Escrevo-te pelo seguinte: soubemos que está aí na tua escola de Sines um professor chamado JR, que nos dizem estar interessado em ler a P.O. Podes abordá-lo e ver se o tornas assinante? Envio junto ficha e envelope de resposta paga, para ajudar a convencê-lo… Além disso, não sei se estás a fazer alguma actividade conjunta com ele. Conta.
Espero que tenhas recebido o n° 48 e que tenha agradado. O lançamento do livro “Coração Forte”, sobre a guerra colonial, foi na Casa de Moçambique em Lisboa e correu muito bem, com bastante gente, moçambicanos e portugueses. Esteve lá a embaixadora de Moçambique e vendemos logo umas dúzias de livros. Segue-se agora a História da Comuna de Paris, cujo lnaçamento será no Io de Maio, espero. E se tu cá viesses nessa data?
Um abraço
Carta a AV (23)
9/5/1995
Caro Camarada:
Estamos neste momento a preparar o n° 50, que completa os dez anos de publicação, pelo que pretendemos seja um número especial, com mais páginas e maior variedade de temas. Dado o interesse com que nos tens acompanhado, fazemos-te um pedido: poderás contribuir para este número, com as tuas habituais notas mas também com críticas, sugestões, proposta de temas a tratar, etc.? Junto uma circular sobre o assunto. Atenção! Para poder ser incluídos, os elementos que nos envies deverão estar na redacção até 25 do corrente, o mais tardar.
A apresentação da “História da Comuna” foi um acontecimento social de esquerda. A imprensa, rádio e televisão não quiseram saber dos nossos convites mas apareceram amigos em barda e estivemos umas horas a comer e a beber e a debater os altos problemas da revolução. E claro que a manifestação do Io de Maio ajudou. Lá fomos, com uma faixa que dizia “Com PS ou PSD quem se lixa é você” – ideia óbvia e elementar mas que surpreendeu o público ao longo da Almirante Reis, só habituado ao paleio seminarista dos pcs e que aderiu frequentemente com aplausos e acompanhando-nos no entoar do estribilho. Fiquei rouco mas valeu a pena.
Quando nos vemos? Aceita um abraço
Carta a AV (24)
12/9/1995
Caro Camarada:
As notícias laborais da tua carta já estão aproveitadas para a próxima P.O. Se entretanto tiveres mais alguma coisa, sobretudo relativa à campanha eleitoral por esses lados, manda. É bom que venhas para Rio Maior, porque permitirá contactarmos. E temos já uma proposta a fazer-te: no dia 22 de Outubro vamos realizar em Lisboa uma sessão comemorativa do 10º aniversário da revista. Constará de um encontro-convívio, com a actuação de algum artista, e uma outra parte, menos concorrida, para as pessoas interessadas em debater a situação e perspectivas do comunismo, trabalho feito pela revista, ctc. Sobre este assunto será distribuído previamente um curto texto. Vamos enviar-to, assim que esteja pronto (em começos de Outubro), com o convite para compareceres, indicação do local e hora, etc. Que dizes? Reserva já o dia, de acordo?
Quanto às eleições, como já calculas, a nossa posição é a mesma de sempre: abstenção, como única maneira de nos demarcarmos da palhaçada a que se resume esta pretensa “escolha democrática dos representantes do povo”. Um abraço.
Carta a AV (25)
31/1/1996
Caro Camarada:
A tua carta veio mesmo a horas para ser incluída no noticiário da P.O., que vais receber dentro de dias.
A nossa vida continua como de costume. O LGo foi afastado do colectivo por termos descoberto que há bastante tempo vinha gastando em proveito próprio dinheiros obtidos na nossa actividade gráfica (ele era o gerente). Fizemos algumas reuniões e já o obrigámos a repor a maior parte do dinheiro. Um caso lamentável, que seria bom que não existisse entre nós, mas o que se lhe há-de fazer? Agora estamos a preparar mais algumas edições Dinossauro.
A tua vida continua na mesma? Manda notícias. Aceita um abraço.
Carta a AV (26)
7/9/1996
Caro Camarada:
Espero que tudo corra bem por aí. A P.O. 56 está a sair mas as tuas informações laborais desta vez ficaram de fora porque houve uma concentração de textos grandes e tiveram que saltar várias colaborações. Se ainda tiverem actualidade, entram no próximo número, mas o melhor era mesmo tu mandares uma nova correspondência lá para meados de Novembro. Apesar da tua escrita hieroglífica, suponho que as tuas aulas agora são em Tomar, que não é de facto terra de muita abertura de ideias. É donde saem os empreiteiros todos deste país e isso basta.
Como verás na revista, a Dinossauro lançou mais um livro, desta vez uma novela do célebre capitão Fernandes sobre a guerra em Angola. Na próxima quinta-feira é a apresentação, na Biblioteca-Museu da Resistência, pelo Pezarat Correia, vamos a ver se não diz muitas asneiras. Da política não te digo nada, está na pior e assim continuará enquanto os desgraçados não se cansarem de amochar e não fizerem por aí algum borborinho.
Aceita um abraço
Carta a AV (27)
14/2/1997
Caro Camarada:
Como habitualmente, agora que mandámos a P.O. 58 para a tipografia (com atraso, diga-se), venho pôr a correspondência em dia. Os teus apontamentos sobre Tomar e as fábricas de Coimbra têm sido aproveitados, como deves ter visto. Contamos com a continuação da tua colaboração, porque a revista precisa de reflectir melhor o “país real”. Sempre que tenhas recortes de jornais regionais com noticias significativas ou comentários manda, alguma coisa se aproveita. Quanto aos livros que pediste, espero que tenham chegado em boa ordem e que te tenham interessado.
O Claude Bitot é uma boa cabeça e o “Inquérito” é um livro com muito interesse. Nesta última P.O. entro em polémica com ele a propósito do outro livro que ele publicou e de que já demos referências em números anteriores da revista (“O comunismo ainda não começou”). Na preocupação de retomar a Marx, o homem deita abaixo tudo o que diz respeito a Lenine, e aí parece-me que entra por maus caminhos. Veremos se ele dá resposta e se a discussão serve para esclarecer alguma coisa.
Como deves ter visto, também tem havido debate entre Ângelo Novo e Manuel Raposo acerca da guerra da Jugoslávia, e embora o tom tenha aquecido um pouco demais entre eles, acho que foi útil. Não queres meter-te ao barulho sobre os assuntos polémicos? Nem que seja com uma simples carta de leitor?
E as tuas actividades sindicais, pararam? Também nesse capítulo, se tiveres jornais ou boletins que não queiras, manda, basta que juntes uma anotações.
Carta a AV (28)
29/12/1997
Caro Camarada:
Tenho aqui várias cartas tuas para responder, espero que me desculpes. O atraso deveu-se à acumulação de trabalho por termos mudado de instalações (agora estamos na R. do (…). tel (…)), além de termos preparado dois livros novos que estão na tipografia e a PO 62, que já deves ter recebido. Como deves ter visto, metemos algum do teu material em vários sítios. E bom que nos mandes sempre notícias e impressões da região, recortes de jornais, etc.
A tourada autárquica chegou ao fim e, para minha surpresa, o PSD ficou com boas posições. Julguei que sofressem mais pela triste exibição que têm dado mas enganei-me: o eleitorado de direita, na falta de melhor opção, mantém-se-lhe fiel. Foi uma campanha vergonhosa. E a confirmação de que não há alternativas políticas em disputa mas apenas equipas de administradores a empurrar-se, a pisar-se e a insultar- se para conseguir dar nas vistas e ser escolhidos para os cargos.
Desta vez, mesmo a anémica extrema-esquerda (?) se deixou arrastar na onda do marketing, até o MRPP abandonou as suas tiradas antiburguesas, e foram castigados por isso, porque a votação baixou: perderam os votos de protesto contra o sistema e não ganharam outros em troca porque toda a gente sabe que, como governo autárquico, são inviáveis. Sei que tem havido lá dentro fortes divergências entre uma “linha negra” a aproximar-se do PS (o Arnaldo e o Garcia Pereira estariam nesta onda) e uma “linha vermelha” a reclamar mais radicalismo; vamos a ver o que dá. Quanto aos tristes do PC, apesar de fazerem o reclame da sua administração honesta, levaram uma banhada de todo o tamanho (Amadora, Vila Franca!).
O que dominou foi a polarização nacional entre PS e PSD como os dois únicos candidatos credíveis à gerência da firma Portugal, SA. Toda a conversa sobre a importância cada vez maior do “poder local” e da “regionalização” é só conversa. O que conta é o aparelho central.
E as tuas actividades sindicais? Conta o que houver de novo. Um abraço.
Carta a AV (29)
30/9/1998
Caro Camarada:
Envio por correio separado o livro “O Império a preto e branco”. O outro ainda está na tipografia, assim que chegar mando um exemplar. Junto também cópia da tua ficha de sócio do Clube onde verás que ficas com um crédito de 1.220500, visto que os preços dos livros são mais baratos para os sócios; saiu errado no anúncio da PO.
Por aqui estamos todos felizes com a nova região que vamos ganhar. E tu não deixes que ponham capital da tua região em Aveiro, Coimbra é que é. Fui ontem assistir a uma sessão do MRPP com o Garcia Pereira, pouca gente e poucas ideias, mas a posição deles pelo “não”[1] não está mal. Se tiveres alguma colaboração para a práxima PO manda até dia 20. Um abraço
Carta a AV (30)
29/12/1998
Caro Camarada:
(…)
Por aqui fala-se na necessidade de tomar alguma iniciativa pública a propósito do 25° aniversário do 25 de Abril, como por exemplo um manifesto assinado por antigos activistas do movimento popular. Que achas? Podes dar alguma contribuição? Também já deves ter visto nos jornais o intenso namoro entre a UDP, PSR e Política XXI, com vistas a concorrer juntos às eleições e, segundo se diz, associarem-se mesmo num único partido. Vão os três realizar congressos em Janeiro. O Fernando Rosas já escreveu dois grandes artigos no “Público” defendendo a “união da esquerda” e parece ser um dos inspiradores do projecto. O que vai sair é uma salada reformista “de esquerda” que não sei se terá longa vida.
Por agora é tudo. Boas entradas em 1999. Um abraço para ti e cumprimentos à tua companheira
Carta a AV (31)
5/5/1998
Caro Camarada:
A segunda reunião correu bem e apareceram mais caras novas. Agora estão a reunir comissões para concretizar as iniciativas. A sessão será na tarde de 24, sábado. Peço que devolvas o texto que aqui te envio em versão definitiva com as assinaturas que puderes recolher até ao fim deste mês.
Como foi a reunião do Bloco da Esquerda? Fiquei surpreendido por escolherem o Miguel Portas para cabeça de lista à Europa, não me parece pessoa para ganhar muitos votos para o Bloco. Falta sobretudo um debate que seria de esperar quando três organizações de esquerda se agrupam, numa época destas e com tudo o que aconteceu. Parece-me claro que a motivação central deles é eleger um deputado por Lisboa, o que até poderá acontecer, mas não sei se com algum proveito para o avanço da esquerda. Diz-se que já está escolhido o Louçã para cabeça de lista. De qualquer maneira, o desafio vai ser duro, com o Bochechas a concorrer na Europa e o duelo PS-AD a polarizar os votos.
Se tiveres mais algumas informações ou comentários para a PO, convém mandares até dia 20 deste mês. Um abraço.
Carta a AV (32)
9/2/2002
Camarada:
As tuas últimas notícias já chegaram depois da PO estar na tipografia, por isso não as pude aproveitar. Mas eu compus com o que me tinhas enviado antes e com notícias dos jornais um artigo sobre a “Hecatombe industrial em Coimbra”, que assinei como de “Correspondente”. Deve chegar-te dentro de dias.
Traz também uma Declaração sobre as eleições justificando porque não propomos o voto em partido nenhum. As pessoas da esquerda mobilizam-se como de costume para ver se conseguem bons resultados para o Bloco. Nós dizemos-lhes que a sua boa vontade as leva a cair numa armadilha porque estão a trabalhar para aquilo que não desejam: tomar o Bloco um partido institucional, que amanhã será chamado a apoiar um governo PS, fazendo o seu discurso de esquerda mas abandonando e mesmo opondo-se à mobilização independente dos trabalhadores.
E não é só com o Bloco. Nos últimos anos, com os subsídios e apoios financeiros a toda a espécie de iniciativas, o sistema tem conseguido domesticar muita gente de esquerda que está ansiosa por fazer qualquer coisa e acaba por se agachar para não perder o direito ao subsídio. Deves conhecer aí casos destes.
Julgo que conheces a folha “Voz do Trabalho”, de que temos transcrito alguns artigos na PO. Tem custado a tomar balanço mas esperamos que se aguente e enraíze. Tem boa venda sobretudo na Margem Sul do Tejo, em algumas grandes empresas. Vou pedir que te mandem o n° 5, que está para sair, e seria bom se fizesses circular entre gente tua conhecida e também enviares para lá algumas notícias de empresas de Coimbra, ou recortes de jornais, como fazes para a PO.
Mando-te o último número que recebemos do jornal “Abrente” dos camaradas galegos, para fazeres uma ideia do estilo deles. Eles são pelo menos bastante activos. Agora nos dias 13-15 Fevereiro há lá uma Cimeira dos ministros da União Europeia sobre a “segurança” e eles promovem uma Contracimeira com debates, manifestações, etc. Vão lá intervir dois camaradas nossos.
E tudo por agora, um abraço, até breve.
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[1] Referendo sobre a regionalização. (Nota de AB)