Francisco Martins Rodrigues
Carta a AV (11)
6/11/1991
Caro Camarada:
Com as informações que mandaste nas tuas duas últimas cartas compus uma correspondência a sair no próximo número sobre o fecho das fábricas têxteis. Vamos ter um dossiê razoável sobre a crise têxtil: entrevista com um operário de lanifícios da Covilhã, entrevista com operárias que ocupam uma fábrica em São Mamede de Infesta, comentário sobre as negociações entre os sindicatos e os industriais no Vale do Ave.
Se tiveres mais alguma coisa interessante com vistas ao próximo número podes enviar até dia 22-23 o mais tardar. A AB e outros camaradas da P.O. estiveram aí na 6ª feira a debater com alguns estudantes as hipóteses de formarem um núcleo do MAR em Coimbra, seguiram logo para o Porto e não chegaram a contactar-te. É possível que no fim deste mês vão aí de novo e se for fim- de-semana e estiveres em casa poderiam encontrar-se, não? Há algumas perspectivas de alargamento do MAR e bom preciso é, porque a questão do racismo vai ficar quente. Um abraço
Carta a AV (12)
11/12/1991
Caro Camarada:
Deves receber por estes dias a PO 32. Traz o teu nome na ficha técnica como colaborador. Só por distracção não te falei no assunto quando nos vimos no Rossio, na manifestação sobre Timor, pelo que peço me desculpes. Julgo que não tens objecção porque na realidade já há bastante tempo és colaborador da revista, Esperamos que continues e intensifiques o envio de notícias, comentários ou recortes, para nos ajudar a tornar a revista mais variada e interessante. Recebemos a tua corta com diversos recortes.
MAR – O lançamento do livro da Ana foi um êxito, com muita gente presente e debate sobre o colonialismo. Veremos o que diz a imprensa, a Ana foi entrevistada pelo Público e TSF, mas não sei se não haverá boicote. No próximo sábado dia 14 há um debate do MAR no Grémio Operário de Coimbra. O JH, activista do MAR em Coimbra, ficou de te contactar. Será importante ires lá. Alguns de nós iremos aqui de Lisboa.
Por agora é tudo. Um abraço
Carta a AV (13)
11/2/1992
Caro Camarada:
Já tenho várias cartas tuas a que não respondi, espero que me desculpes. Agora com a PO pronta (sai amanhã) estou a pôr a correspondência em dia. As tuas últimas notícias laborais não vieram a tempo de meter na revista. Manda sempre que possas. Sobre a questão dos professores, talvez pudesses mandar um comentário mais desenvolvido para o próximo número, que fecha na terceira semana de Março. Tu agora estás por dentro da questão. E quanto a entrevistas, não nos sugeres ninguém para o próximo número?
(…)
A Ana foi entrevistada pela televisão no dia 4/2, não sei se viste e esteve numa sessão no Porto, no mesmo dia, para apresentação do livro, apareceu bastante gente e foi entrevistada por três rádios locais. De Espanha, já pediram 20 exemplares do livro e para o Brasil também seguiu. Agora anda-se a combinar uma reunião no Norte do país a que se espera que venham galegos, para impulsionar a propaganda contra os 500 anos.
Então e o que me dizes do ”sucesso” do Cavaco? Julgo que as condições de vida vão apertar para muita gente e talvez o ambiente mude um bocado, bem precisamos.
(…)
Manda sempre notícias. Um abraço
Carta a AV (14)
15/4/1992
Caro Camarada:
Espero que já tenhas recebido a P.O. 34 e que te tenha agradado. Publicámos como artigo o texto que mandaste sobre os professores porque nos pareceu interessante e veio a propósito dos últimos acontecimentos na área do ensino. Ajeitei-o um pouco mas penso que náo alterei nada do que escreveste. Diz o que te pareceu.
Vais ser delegado ao congresso da Fenprof do próximo mês? Seria interessante se fizesses um artigo para a próxima P.O. sobre as decisões do congresso, luta de tendências, etc., assim como as reacções dos professores às promessas do governo. Desde que chegasse à nossa mão até 20 de Maio, ainda vinha a tempo. O mesmo quanto à situação na União dos Sindicatos de Coimbra, de que falas na última carta. Tens algumas sugestões para o sumário do próximo número?
As nossas actividades vão reduzidas, como deves calcular. Participámos na manifestação da CGTP de 21 de Março, com uma faixa em defesa dos trabalhadores imigrantes africanos. A manifestação foi a mais fraca que eu até hoje vi, o Rossio estava quase vazio. As pessoas estão descontentes com os agravamentos dos preços mas não esperam nada dos sindicatos nem dos partidos.
Mando junto uns postais de propaganda do MAR, pagas quando vieres cá ou tiveres alguma coisa para enviar, é 100$00 a colecção. O livro da Ana está esgotado, está a ser feita 2ª– edição, até agora rendeu uns 220 contos para o MAR. Tem-se discutido a possibilidade de comemorar o primeiro aniversário do MAR com um encontro-acampamento em 6/7 de Junho, em Guimarães, na quinta do TF. Será oportunidade para conviver e debater ideias. Pensa-se convidar uns galegos que pertencem a uma comissão de propaganda contra o V Centenário. Será que te interessaria (e à tua companheira)? Podiam levar o miúdo, numa boa. Diz depois alguma coisa. Quanto ao grupo “Contra-a-Corrente” do Porto, a Ana e outros camaradas do MAR já estiveram numa iniciativa deles e propuseram colaboração. Também lhes enviamos o boletim do MAR. Veremos se surgem condições para fazer alguma coisa em conjunto.
Por agora é tudo. Um abraço e fico à espera de notícias.
Carta a AV (15)
21/5/1992
Caro Camarada:
Não sei se recebeste a minha carta de 15 de Abril. Como estamos a fechar a P.O., preciso de saber com alguma urgência se vais mandar alguma colaboração, particularmente sobre o congresso dos professores. Foste delegado ao congresso? Deve haver coisas para contar. Peço que envies rapidamente o que tiveres, ou que mandes dizer que não há nada da tua parte desta vez, para distribuirmos os materiais.
Fizemos uma boa confraternização no 1º de Maio, na esplanada onde já estiveste uma vez. O MAR cá continua. Deves estar a receber por estes dias o boletim nº 4. Houve um debate na Universidade Lusíada em que a Ana se pegou com o Prof. Borges de Macedo, foi interessante. Vamos amanhã a uma sessão em Alcácer do Sal. O plano do acampamento em Guimarães de que te falava é que teve que ser adiado, porque o local não estará disponível no 10 de Junho.
Sem outro assunto por agora, fico à espera de notícias tuas. Um abraço.
Carta a AV (16)
7/6/1992
Caro Camarada:
Aproveitámos uma série de informações da tua carta para a P.O. n° 40, que sai dentro de uma semana. Estive no Porto no 25 de Abril, a convite da “Inquietação”, para um debate e lá restabeleci contacto com o grupo “Contra-a-Corrente” e recebi o último boletim deles, de que te mando cópia, visto teres mostrado interesse. O debate correu bem, com interesse, embora as ideias dominantes me pareçam altamente derrotistas. Falo disso num artigo que escrevi para a P.O. A festa na Associação de Moradores de Vilar foi animada e notei sobretudo a grande participação de jovens. Mando-te também folhas duma revista francesa sobre questões de ensino, que poderá ter alguma coisa interessante para as tuas actividades sindicais.
A partir de agora, fazemos a pausa de férias habitual e voltaremos com uma nova série em Outubro. Contamos como sempre com a tua colaboração e críticas. Um outro pedido que vamos mandar pelo correio a todos os assinantes e amigos: poderás tu indicar-nos dois ou três nomes e moradas de pessoas possivelmente interessadas em assinar a P.O. para nós lhes escrevermos a fazer proposta?
Se pensares vir a Lisboa, avisa para nos encontrarmos e trocar ideias. Um abraço.
Carta a AV (17)
23/8/1992
Como está tudo a correr desde o nosso encontro na Bica? Foi um encontro frustrante e eu senti-me responsável por te ter dado falsas perspectivas, mas também fui iludido pela ideia que o MM deu, dum encontro muito amplo e com debate. Afinal, foi tudo mal organizado e o debate nenhum, o que é reflexo das desgraças em que se arrasta a esquerda.
Nós cá estamos a tomar balanço para mais um ano de revista, que desejaríamos fosse mais acutilante, se possível, e mais conhecida do público. Fazemos uma reunião de redacção no domingo 12 de Setembro, à tarde, e se por acaso te calhasse vires a Lisboa ficas desde já convidado. De qualquer modo, quero-te pedir que envies notícias e comentários actualizados sobre a região para o próximo número, até 25 de Setembro, o mais tardar. Se estiveres com pachorra para uma Carta das Beiras, melhor; se não, mesmo informações dispersas sobre a situação nas fábricas, crise da agricultura, lutas na CGTP, etc. Vou ver se ainda se aproveitam algumas das notícias que mandaste na última carta e que chegou já depois da P.O. estar feita, mas a maioria deve estar desactualizada.
Por agora é tudo. Um abraço e desejos de bom trabalho.
Carta a AV (18)
8/12/1993
Caro Camarada:
Espero que tudo corra bem no teu novo “desterro”. Supomos que vais frequentemente a casa e por isso é para aí que continuamos a escrever. Da tua longa carta, extraímos um artigo sobre o Baixo Alentejo. Tomámos em conta as outras considerações que fazes. Nomeadamente, a sugestão quanto a uma candidatura revolucionária ao Parlamento Europeu, embora não tenhamos contactos internacionais que nos permitam pensar numa candidatura conjunta, propomos (na carta-resposta ao MM) a cooperação das forças de esquerda do nosso país para uma candidatura, repetindo a experiência que há anos resultou tão mal com a FER, mas que poderia agora resultar se houvesse mais gente interessada. Temos as nossas dúvidas mas a proposta fica lançada, assim como as outras que verás na carta (a P.O. deve estar a sair da tipografia por estes dias).
A discussão de 7 de Novembro foi interessante e participada, pelo que teve que continuar na semana seguinte. Debateu-se basicamente o artigo sobre o cavaquismo e os seus apoios sociais. Sai na P.O. 42 como o artigo principal. O tema está longe de esgotado e planeamos continuar a discutir outros aspectos da luta de classes nacional, com vista mais artigos em futuros números da revista.
Aqui, de novo apenas um convite que recebemos, a Ana Barradas e eu, para intervirmos numa semana de debates sobre o centenário de Mao, realizada pela Biblioteca-Museu da Resistência, organismo dependente da Câmara de Lisboa. Outros participantes (em dias diferentes!) são o Arnaldo Matos, Pacheco Pereira e Pedro Baptista (ex-OCMLP). Pelo menos, estão convidados. Decidimos aceitar, embora o público seja restrito, para valorizar o Mao revolucionário e fazer fogo contra a bronca ironia com que os tipos do PS e PC falam da revolução chinesa, como se fosse uma anedota. Mando-te um convite.
Em relação à preparação do próximo número, ficamos à espera do que nos possas enviar, relativo ao Alentejo, ao movimento dos professores ou a outros temas. Tu decidirás. Convém-nos receber até 20 de Janeiro, o mais tardar. Abraços e desejos de bom começo de ano.
Carta a AV (20)
8/2/1994
Caro Camarada:
A P.O. 43 está na tipografia e aproveito para pôr a correspondência em dia. Metemos a teu artigo sobre a situação sindical dos professores mas teve que ser resumido. Também incluímos na correspondência uma passagem da tua carta sobre o Alentejo. As colaborações, felizmente, têm aumentado e temos que fazer cortes para caber tudo. Se quiseres mandar-nos algo para o nº 44, aponta para 15 de Março como limite, certo?
Houve recentemente umas oportunidades de intervenção pública. Falei na série de palestras do Museu República e Resistência (Dezembro) sobre o maoísmo em Portugal. Estava bastante gente, interessada, e as perguntas e respostas prolongaram-se por um bom bocado. No dia seguinte, falou a Ana sobre a revolução chinesa e a mulher, também com bastante interesse. Noutros dias falou o Arnaldo, o Pacheco Pereira (PSD) e o Pedro Baptista (hoje plataformista). Há dias estive noutro debate no Porto, organizado pela Amnistia Internacional, sobre a Democracia, com o Mário Brochado Coelho e uma professora Helena Vilaça. Houve bastante controvérsia e estive entretido a deitar abaixo as bacoradas “pós-modemistas” do rapaz da Amnistia e a falar para espectadores embasbacados sobre a luta de classes e a ditadura da burguesia. Muito estimulante. Quanto ao debate na RTP1 sobre Mao, como creio que já te disse, recusei participar e acho que fiz bem porque só faltava mandarem-me pôr de gatas para ter direito à palavra. Os nossos amigos Louçã, Arnaldo e Baptista é que não se importaram e lá estiveram a palestrar. Falo nisso na P.O., tu verás.
20º aniversário do 25 de Abril – Todos os estados-maiores partidários afiam o dente para capitalizar aquilo que lhes convém da data. Entre nós, temos andado a debater a possibilidade da edição de um livro (que inaugurará as edições Dinossauro), que coleccione depoimentos, artigos e materiais diversos, no sentido de mostrar à nova geração que os 19 meses da “bagunça” foram os mais criadores da nossa história moderna e de contrastar as iniciativas avançadas desse período com a pasmaceira derrotada em que hoje vivemos. Será que podes dar a tua colaboração a esta ideia, com materiais originais ou outros já anteriormente editados e que tivesse interesse dar a conhecer? Será que nos podes indicar pistas, nomes a contactar, dar sugestões de trabalho, etc.? Podes enviar dados para a cronologia e a bibliografia? O problema aqui vai ser a escassez do tempo para coligir os materiais e pôr o livro na rua até ao 25 de Abril. Responde rapidamente, por favor, para sabermos se podemos contar com algo da tua parte.[1]
Também recebemos a notícia da dissolução do MLP dos EUA. Não nos surpreendeu muito porque um dos elementos que cá esteve de visita no ano passado já nos tinha dado a entender que poderiam seguir esse caminho. Poucos dias depois, veio um outro documento do núcleo de Chicago fazendo várias críticas à dissolução e afirmando-se decidido a continuar a actividade e a editar uma revista de debate. Agora, acabamos de receber essa revista. Suponho que te irão mandar para ti também mas se por acaso não receberes poderemos tirar fotocópias. Vamos estudá-la e possivelmente fazer um comentário na próxima P.O.
Por agora é tudo. Um abraço.
Carta a AV (21)
30/11/1994
Caro Camarada:
:Foi bom ter notícias tuas, após um intervalo tão grande. Espero que esteja tudo a correr bem. Aproveitámos a notícia sobre a fábrica Empele, que sai nas Breves no nº 47 da P.O., deve estar impresso para a semana. Agora que estás colocado numa zona mais industrial, tenho esperança que nos mandes para a próxima P.O. algumas notícias de questões laborais, recortes da imprensa local, etc. Ao que sei, existe em Sines uma certa actividade cultural em tomo da Biblioteca e algumas pessoas interessantes, reunidas em volta do Al Berto no centro cultural Emmerico Nunes, mesmo ao pé do forte. Conta-nos o que descobrires. Soubemos pelos jornais que tem estado a haver uma greve importante aí. Esperamos receber relato e comentários teus a respeito, de preferência com fotos.
Se vieres a Lisboa, não deixes de nos contactar, para irmos beber um copo. As nossas actividades continuam, bastante restritas mas sempre com o mesmo ânimo. Agora, que vem aí um ano político agitado, de guerra anticavaquista, vamos poder unir-nos todos com o Dr. Cunhal, o Dr. Soares, o Dr. Guterres, o dr. Sampaio, o major Tomé, e todos juntos pôr a oposição democrática no Poder. Atenção, estou a brincar!
Um abraço para ti e cumprimentos para a tua companheira.
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[1] AAVV, “O Futuro Era Agora”, Edições Dinossauro, 1994. (Nota de AB)