Francisco Martins Rodrigues
Segunda carta ao MLP (3)
- Situação no movimento ML
Enviámos o nosso Manifesto e a revista a 25 partidos ML, propondo a troca de publicações e de pontos de vista, mas, a não ser da vossa parte doe “Progressive Labor Party”, não obtivemos resposta. O PC do Brasil devolveu-nos os documentos classificando-nos de trotskistas.
Não estranhámos esta reacção porque estamos conscientes de que esses partidos (com uma ou outra excepção) não admitem que se discuta a questão das origens do revisionismo e da degeneração da URSS, China e Democracias Populares, a questão Staline, a IC, etc. Dominados inicialmente pelo maoísmo (como foi também o nosso caso, em Portugal), romperam com o maoísmo, no essencial pela direita, na esteira do PTA, e foram perdendo e vigor crítico dos primeiros anos. Trata-se, em nossa opinião, de uma corrente centrista, na medida em que procura situar-se a meia distância entre o leninismo e o revisionismo, entre o proletariado e a pequena burguesia.
Isto conduz inevitavelmente os partidos ML a deslocarem-se pouco a pouco para a direita, sob a pressão da luta de classes e a saírem da órbita do revisionismo ou da social-democracia, de “esquerda”, trotskistas, etc. Vão opor-se por todos os meios ao desmantelamento da sua plataforma de compromisso.
Nestas condições, pensamos que as considerações tácticas, tendo em vista dar tempo a que um ou outro partido evoluam, e cheguem a conclusões, não devem sobrepor-se a uma luta aberta de princípios, que chame o centrismo pelo seu nome e demarque os campos entre a velha corrente dos anos 60, semi-ML, amarrada por mil laços ao revisionismo, e a nova corrente, disposta a fazer um corte total com o revisionismo e a retomar a via revołucionária leninista, não com juras ocas de fidelidade, como faz o PC(R), mas em todas as esferas da ideologia, dá política, da edificação do Partido.
Em particular, parece=nos indispensável uma crítica pública ao PTA e ao socialismo albanês, data a autoridade de que desfruta na condução da chamada corrente ML. A inflexão nacionalista da política albanesa no campo externo; o embelezamento das burguesias nacionalistas, o apoio que o PTA passou a dar à acção oportunista nefasta do PC do Brasil, o caso Mehmet Shehu, o vazio ideológico das últimas obras de Enver Hoxha, não permitem em nossa opinião que se mantenha por mais tempo a abstenção da crítica, sob pena a de se perderem anos no ressurgimento da corrente comunista internacional.
Por estes motivos, temos apreciado a corajosa crítica de princípios que o MLP tem vindo a fazer nas suas publicações, sem recear ver-se alvo de campanhas de isolamento e difamação. Estamos ao vosso lado nessa luta de princípios e tencionamos, na medida das nossas forças, contribuir para pôr a claro o compromisso de classe que está arruinando a corrente ML. Consideramos que é este o factor decisivo para estreitar o campo do centrismo, ganhar os vacilantes que possam ser ganhos e abrir espaço à existência da nova corrente ML.
“Teoria e Prática” – temos uma opinião semelhante à vossa sobre esta revista, em que cabe um papel preponderante, segundo julgamos, o PC Espanha (ML). A revista não foi lançada com o objectivo de suscitar o debate sobre as questões de princípio em aberto na corrente ML, mas como plataforma para alguns partidos se oporem à hegemonia do PC do Brasil, que procura moldar todo o movimento às suas concepções direitistas. Representa uma reacção ao ramo mais oportunista do movimento, mas sem sair do quadro centrista em que ele está aprisionado. Por isso não existe na revista qualquer debate sobre questões de princípio.
Além do mais, com a iniciativa desta revista pretendeu o PC de Espanha, segundo julgamos, abrir espaço para a sua campanha pela reconstrução de Internacional. Em nossa opinião, a campanha por uma nova Internacional Comunista, que é a bandeira preferida do PCE (ml) e do PC do Japão (E), não está posta em bases sérias. A reconstrução da IC, que também nós consideramos tarefa central para os comunistas de todo o mundo, só sairá do aprofundamento do debate entre partidos e grupos ML, do trabalho realizado por cada um no seu próprio país para organizar, a vanguarda da classe operária, das respostas encontradas para os problemas da revolução. Avançar para uma “nova Internacional” como uma manobra de prestígio seria um factor de degenerescência, que colocaria os partidos ML ao nível das seitas trotskistas.
PC Nicarágua (ex-MAPml) – temos tonado conhecimento pelas vossas publicações das posições políticas deste partido, que nos parecem revolucionárias, e das relações fraternas que existem entre os vossos dois partidos. Publicámos no nº 3 de “Política Operária” extractos de documentos dos MAPml. Gostaríamos também nós de estabelecer contacto e trocar opiniões com este partido, mas até à data as cartas e publicações que lhe enviámos (…) não tiveram resposta. Enviamos nesta data um exemplar do livro “Anti-Dimitrov” e a “PO” para a morada referida. Poderão ajudar-nos por uma recomendação vossa a conseguir contacto?
PC Irão – temos o maior interesse em estabelecer relações com os canaradas iranianos e agradecemos as vossas informações nesse sentido. Gostaríamos que nos esclarecessem se este partido tem alguma relação com o anterior PTI – Partido do Trabalho do Irão, que publicava o jornal “Tufan”, sofreu uma cisão e tem um representante em França, ligado ao PCOF (“La Forge”).
Brasil — devido a informações de que houvera uma cisão de esquerda no PC do Brasil, enviámos a nossa revista e uma carta a José Genoíno Neto, deputado federal pelo PT – Partido do Trabalho, o representando nele o PRC- Partido Revolucionário Comunista. Enviaram-nos uma publicação mas não responderam à nossa carta e não sabemos qual a sua real posição. Acaso nos poderão informar a este respeito?
KPD (Alemanha) – Lemos na imprensa que este partido, depois da cisão que levou ao afastamento do seu antigo presidente Ernst Aust, acabou por se fundir recentemente com um grupo trotskista, o GIM, e estaria em vias de aderir à Internacional trotskista. O PC(R), como seria de prever, mantém absoluto silêncio a este respeito, tal como fez há anos quando da passagem do PC de Itália (ml) para os revisionistas.
Índia – tomámos conhecimento, quando ainda estávamos no PCR), de uma revista de um grupo ML indiano, “Proletarian Path” (1932), que nos pareceu orientar-se num sentido correcto. Podem dar-nos algumas informações a este respeito?
Progressive Labor Party – agradecemos os vossos esclarecimentos, que nos elucidaram acerca da trajectória deste partido. A nossa base de referência inicial foi um estudo por eles publicado há anos e que só em 1985 chegou à nossa mão, no qual faziam uma crítica de princípio ao 7º congresso la IC. Temos feito troca de publicações com este partido e parece-nos claro o seu esvaziamento ideológico e a sua evolução em sentido anarquizante. Existiram grupos desse tipo em Portugal, que foram pouco a pouco absorvidos pela social-democracia.
PC Japão (Esquerda) – também concordamos com as vossas observações acerca da influência maoísta que se revela nas análises deste partido. Continuaremos a estudar as suas publicações que nos chegam com certa regularidade.
- Relações bilaterais
Dar-nos-á muita satisfação que publiquem materiais nossos, indicando com toda a franqueza as vossas eventuais divergências, em espírito de camaradagem. Pela nossa parte, tencionamos proceder da mesma forma. Consideramos que é o único método para estreitarmos relações numa base de princípios e aprofundarmos os difíceis #problemas de orientação da corrente MI.
Quanto à hipótese de um encontro entre representantes das nossas organizações, embora nos pareça do maior interesse, dados os limites da discussão por correspondência, terá que aguardar melhor oportunidade. Uma: deslocação nossa aos EUA está actualmente fora das nossas possibilidades materiais. Contudo, se da vossa parte surgirem condições para uma deslocação a Portugal, teremos grande gosto em receber-vos.
Enquanto isso não for possível, poderemos, através desta correspondência reservada que acima encetámos, conhecer melhor os – pontos de vista respectivos.
Aguardando notícias vossas, recebam, caros camaradas,
Saudações comunistas
Pela Direcção da OCPC,
Francisco Martins Rodrigues
(Carta ao Comité Executivo Nacional do Marxist-Leninist Party, USA, 18/2/1986), 3ª e última parte