Imperialismo e Terceiro Mundo

Francisco Martins Rodrigues

Imperialismo e Terceiro Mundo

Voltando ao problema dos “erros” de Marx, Ellen Meiksins Wood nota que o traço característico do Capital é analisar o capitalismo como se fosse um sistema fechado, e nessa base traçar a sua lógica interna, ao passo que hoje se tornou um sistema universal, com as distorções que isso acarreta (Monthly Review, 2/49, pp. 2-3). Se recordarmos que no tempo em que o Capital foi escrito o capitalismo era um fenómeno localizado à Europa e à América do Norte – e mesmo na Europa a situação ainda levava Marx a avisar os alemães que algum dia teriam que seguir as pisadas da Inglaterra -, teremos uma noção da profundidade da mudança ocorrida desde então.

Se se encara as regiões do 3o mundo como meros destacamentos atrasados no sistema capitalista e não como apêndices do capitalismo avançado, desmembrados e digeridos por este, não se percebe nada do imperialismo e da luta de classes mundial na alvorada do século XXI.

Hegemonia do proletariado. O problema dos aliados do proletariado para a revolução: com o campesinato pobre em vias de extinção e o contínuo alargamento da nova pequena burguesia assalariada, não é com os esquemas de aliança leninistas que nos podemos governar. Alianças com outros partidos da pequena burguesia.

O facto é que o ponto de vista da putrefacção social nos países imperialistas, demarcar da aristocracia operária, garantir a hegemonia do proletariado sobre a pequena burguesia, etc., conduzem ao abstencionismo sistemático, a um pretenso purismo ideológico que deixa o terreno à disposição da burguesia e do reformismo. Não é casual o apoio da direita ao radicalismo de esquerda com cunho abstencionista.

Nota-se um renovo do interesse pelo marxismo como reacção à brutalidade da ofensiva neoliberal. Isto é bom, sem dúvida, mas desde que não parta de ilações erradas quanto às origens do fracasso do movimento comunista no século XX; se assim for, a nova corrente comunista entrará nos carris do velho reformismo. E o que acontece, a meu ver, quando se aceita como indiscutível que “o socialismo falhou por não se aplicar uma verdadeira democracia socialista”, ou quando —

As afinações de Gramsci completando a noção de ditadura de classe com a do consenso foram aplaudidas pela pequena burguesia reformista porque vinham dar uma base séria ao reformismo com a sua teoria da construção da contra-hegemonia, da lenta ocupação de pontos fortes.

reler Bordiga, Panekoek, Mattik–

Podemos marcar três etapas e meia na história dos partido marxistas: houve a época da 1 Internacional—–; depois veio a época dos partidos social-democratas que tiveram o seu papel na luta pelos direitos sindicais e políticos do proletariado nos países capitalistas avançados; afundaram-se no oportunismo c no chauvinismo em 1914; depois de breve —– iniciou-se a terceira época, a dos partidos comunistas, inspirados na façanha de Outubro, agrupados cm torno da fortaleza; descambaram no parlamentarismo —-; deram dois ramos: primeiro, o ramo trotskista, que proclamou a IV Internacional mas que—-      e por último, nos anos 60, iniciou-se aquilo que pretendia ser uma quarta etapa, a da corrente M-L, equívoco de prolongar a política da IC sob Staline, combinada com um pouco de  maoísmo; ainda mexe, mas não tem futuro

A aplicação “criadora” cunhalista do marxismo, autêntico reformismo pequeno-burguês de fachada socialista, deu os frutos esperados.

(Inédito, incompleto, possivelmente de 2007)