Consulta aos camaradas sobre as eleições

Francisco Martins Rodrigues

Consulta aos camaradas sobre as eleições

A fim de preparar um projecto de Manifesto eleitoral, aue será discutido em Assembleia da nossa organização, a 14 de Dezembro, a Direcção decidiu fazer uma consulta prévia a todos os camaradas. As teses e perguntas que a seguir formulamos deverão ser discutidas nos núcleos e devolvidas à Direcção até 20 de Novembro, com respostas escritas. Chamamos a vossa atenção para a importância da par­ticipação de todos os camaradas nos trabalhos desta Assembleia.

Atitude face às eleições

Embora a OCPO não tenha capacidade para influenciar os aconteci­mentos, isso não nos dispensa da obrigação de ajudar os operários e outros trabalhadores a orientarem-se no meio da demagogia elei­toral dos partidos burgueses e pequeno-burgueses. Temos que contri­buir para criar uma corrente operária revolucionária defendendo po­sições que sirvam simultaneamente para combater a direita e desmas­carar os liberais e reformistas. Devemos levar essas posições ao conhecimento dos operários pela agitação directa. O desinteresse pelas eleições não é uma atitude revolucionária.

  • Pergunta: na situação actual, uma vez que não há candidatos que defendam os interesses operários, devemos defender sistematicamente a abstenção como única forma de combater as ilusões?

Legislativas

A nossa defesa da abstenção nas legislativas foi correcta. O voto na UDP ter-nos-ia ganho simpatias entre os seus aderentes mas à custa de alimentarmos ilusões na demagogia oportunista. Mesmo que aconselhássemos o voto crítico na UDP, ficaríamos nas suas águas e prejudicaríamos a ruptura que pretendemos fazer pela esquerda.

  • Pergunta: se tivéssemos feito, antes do início da campanha eleitoral, um desafio público à UDP para abandonar as palavras de ordem mais oportunistas da sua plataforma, não nos abriria isso maior es­paço para o debate e o esclarecimento dos seus aderentes e votantes? Foi errado não termos feito esse desafio?

Presidenciais

Não existe nenhum candidato que se oponha ao regime e defenda os interesses operários e populares. Todos os candidatos pretendem reforçar o capitalismo e mistificar as massas. Devemos portanto avisar os trabalhadores de que vai ser eleito o Presidente da burguesia e não o presidente “de todos os portugueses”. O nosso Mani­festo deve defender a abstenção como forma dos trabalhadores mani­festarem simultaneamente a sua oposição frontal à eleição de Freitas ou Soares e a sua desconfiança em Pintasilgo e Zenha.

  • Pergunta: para tornar clara a justeza da abstenção, o Manifesto deve confrontar os programas dos candidatos com as nossas reivindi­cações imediatas? quais devem ser essas reivindicações?

Se se definir o perigo de uma vitória da direita com Freitas à se­gunda volta, devemos fazer campanha para o derrotar, votando no seu opositor. Manter a abstenção nesse caso apareceria aos olhos dos trabalhadores como una ajuda à direita.

5- Para que esta votação no adversário de Freitas à segunda volta não se confunda com a campanha reformista do PCP e da UDP, o Manifesto deve dizer que só votaremos como último recurso, para impedir a estabilização do regime em torno de Cavaco-Freitas, e que, caso sejam eleitos Zenha ou Pintasilgo, continuaremos a combatê-los desde o primeiro dia da sua eleição.

  • Pergunta: se se admitir a possibilidade de votar à segunda volta para derrotar Freitas, não cria isso a tendência para ir votar logo à primeira volta em Zenha ou Pintasilgo? Pode-se conciliar a abs­tenção à primeira volta com o voto a segunda?

No caso de uma segunda volta entre Freitas e Soares, deveríamos fa­zer campanha contra os dois e não votar, por serem projectos igual­mente reaccionários e com iguais apoios imperialistas.

  • Pergunta: se se pretende evitar a estabilização do regime à direi­ta, não se deveria então votar em Soares contra Freitas, uma vez que a vitória de Soares agudizaria os conflitos com Cavaco?

Autárquicas

Como nestas eleições se decidem questões de poder local, não se exi­ge uma posição pública da nossa organização. Devemos deixar ao cri­tério de cada camarada a atitude a tomar, de voto ou abstenção.

  • Pergunta: é justificável votar APU nas autarquias onde esta possa correr o risco de ser derrubada pelo PS-PSD-CDS? Mesmo que esse voto seja acompanhado pela crítica ao reformismo, não favorece isso a campanha da “honestidade e competência” da APU e portanto a influên­cia reformista na classe operária?
  • Pergunta: é admissível votar UDP nas autarquias, apenas como for­ma de combater a influência das outras listas?

12/11/1985