Carta ao PRC (Brasil), PC do B, PTA

Francisco Martins Rodrigues

Carta ao PRC (Brasil), PC do B, PTA

Ao Comité Central

Caros Camaradas:

No seguimento da mensagem que vos enviámos em Abril, comunican­do a constituição da Organização Comunista “Política Operária” [e propondo o estabelecimento de relações entre as nossas organizações], trazemos ao vosso conhecimento um novo episódio da degeneração ideológica do PC(R), que comprova a justeza da ruptura por nós efectua­da com esse partido.

Com efeito, e como podereis verificar pelos recortes da imprensa portuguesa que seguem Junto, um aos principais dirigentes do PC(R), membro do seu Comité Central desde a fundação, Frederico Carvalho, acaba de aderir ao PCP revisionista de Álvaro Cunhal.

Frederico Carvalho foi precisamente um dos principais promotores da campanha para a nossa exclusão das fileiras do PC(R), sob acusa­ções caluniosas de “anarco-trotskismo”, e isto porque vínhamos pon­do a nu as suas tendências reformistas cada vez mais pronunciadas.

A sua passagem para o campo do revisionismo e da colaboração de classes e a defesa que actualmente faz da União Soviética como “bastião do socialismo” mostra que nos apercebêramos correctamente da sua degeneração ideológica. Constitui por isso mesmo uma tremenda acusação ao CC do PC(R) que, ao longo doa últimos dois anos, tomou sempre a sua defesa contra as críticas que lhe fazíamos e inclusive o promoveu a chefe de redacção do órgão central do partido “Bandei­ra Vermelha“.

A deserção de Frederico Carvalho tem também implicações com a situação do movimento narxista-leninista internacional, porquanto ele era o principal defensor em Portugal das concepções políticas do Partido Comunista do Brasil, cuja influência oportunista sobre o PC(R) é largamente conhecida pelos comunistas portugueses. Torna-se cada vez mais evidente a urgência de um debate de princípios entre partidos e agrupamentos marxistas-leninistas para pôr termo à confusão ideológica que só interessa àqueles que, como Frederico Carvalho, pretendem liquidar a corrente marxista-leninista e pôr-se ao serviço do revisionismo e do social-imperialismo.

A degeneração revisionista do Partido Comunista de Itália (M-L), que nunca mereceu um sério exame crítico e autocrático apesar dos anos Já decorridos, constitui um alerta a ter em conta. Casos semelhantes poderão voltar a verificar-se se não for posto termo à tolerância pera com as manifestações de oportunismo que se infiltram no movimento a pretexto das necessidades tácticas.

[Neste sentido, renovamos a proposta para o estabelecimento de re­lações entre as nossas organizações, a fim de podermos procurar em comum vias de saída para a crise actual da corrente marxista-leninista e para novos avanços da causa da revolução. A unidade inter­nacional dos autênticos marxistas-leninistas, a causa da reconstru­ção da Internacional Comunista, exigem que se encete sem mais demo­ras o debate de princípios que tem vindo a ser sucessivamente impe­dido com falsos argumentos.]

A Organização Comunista “Política Operária”, formada numa assem­bleia de militantes comunistas que abandonaram o PC(R), em Março último, e que tem como objectivo a elaboração das bases do programa, da estratégia, da táctica e dos estatutos do Partido Comunista que urge reconstruir em Portugal, está aberta à troca de informações e documentos, ao estabelecimento de relações e ao debate com todos os partidos e organizações marxistas-leninistas.

[Desejando os maiores êxitos na vossa actividade revolucionária, aceitem, caros camaradas, as nossas]

Saudações comunistas

(pela direcção da OCPO)

ass.) Francisco Martins Rodrigues

Lisboa, 18 de Junho de 1985

Carta redigida e assinada por FMR, com nota manuscrita à margem: “Enviado em português para PRC (Brasil), PC do B, PTA (estes com supressão das passagens marcadas com []. Seguiu junto: recortes de imprensa sobre Fred; 2ª carta aos membros do PC(R).