Proposta de Manifesto – 1984 (5) O triunfo da pequena burguesia

Francisco Martins Rodrigues

O triunfo da pequena burguesia

O traço característico do último meio-século é pois a apropria­ção do marxismo-leninismo pela nova burguesia e pequena burguesia de “esquerda”, que o transformou numa arma suplementar de acorrentamento do proletariado. O reformismo completou a obra do terror.

O “marxismo” burguês dos nossos dias, primeiro centrista com o 7º congresso da Internacional, depois abertamente revisionista com o 20º congresso do PCUS, despojou o marxismo da sua natureza prole­tária, crítica, revolucionária, para o desfigurar num dogma utópico-reformista, consolador dos explorados e oprimidos com esperanças numa revolução que se afasta cada vez mais.

Frente Popular, união das forças democráticas contra os monopó­lios, semi-revoluções “democrático-populares” e “democrático-nacionais”, passagem pacífica ao socialismo, luta das “pessoas de boa vontade” pela paz e o desarmamento, partido único de todo o povo, colaboração dos patriotas para salvar da crise a economia nacional, apoio a governos de “salvação nacional” – tais são as receitas do marxismo pequeno-burguês com que a classe operária é diariamente iludida, para não pensar na revolução.

A burguesia repete, para tranquilizar os seus pesadelos, que a classe operária vai desaparecer, substituída pelos técnicos e pelos robots. Mas, enquanto não chega esse paraíso sonhado, ocupa-se em manter os operários em menoridade política e ideológica, transfor­mando-os em verdadeiros robots, li essa a sua arma secreta.

Cada frente de luta do proletariado é desnaturada pela burguesia com palavras de ordem caricaturais. A luta operária contra o Capi­tal opõe os “direitos humanos” burgueses, dissolve a meta da revo­lução proletária numa multidão de novas “revoluções” – tecnológica, racial, sexual, Juvenil. Desvia a luta contra as agressões e massa­cres imperialistas para inócuas campanhas pelo controle dos arma­mentos. Substitui o apoio à luta dos povos oprimidos pela esperança no “diálogo Norte-Sul” e pela defesa do meio ambiente. Afoga a in­quietação política das massas em doses maciças de evasão e aliena­ção, pela febre do espectáculo, etc.

A pequena burguesia é a caixa de ressonância de todas as modas lançadas pela burguesia. Transporta para o seio das massas prole­tárias e semiproletárias a ideologia burguesa e imperialista mas­carada numa versão “popular” atraente. Sem o veículo da ideologia pequeno-burguesa seria impossível à grande burguesia manter os operários domesticados.

Todas as causas pequeno-burguesas têm o mesmo traço comum: são guerras fingidas que nunca atingem um alvo concreto, justificam os privilégios da pequena burguesia, apoucam o proletariado, alimentam a ideia de que o capitalismo é eterno e de que a maneira de ser burguesa corresponde à “natureza humana”.

A falência teórica do revisionismo moderno está historicamente consumada, tal como no princípio do século a da social-democracia. Um e outro continuam a dominar a meias o movimento operário, mas já não podem apresentar nenhuma alternativa para pôr fim ao capi­talismo. Tudo o que fazem é pregar a submissão a uma ou outra das superpotências. Os seus frutos são a impotência política crescente do proletariado e a arrogância crescente da burguesia – e isto tan­to no mundo capitalista, como no campo dito “socialista”, como no chamado “terceiro mundo”.

Existe o terreno para o renascimento do marxismo-leninismo.

Teses apresentadas por FMR à I Assembleia da Organização Comunista Política Operária (OCPO)