Francisco Martins Rodrigues
A era do terror e do reformismo
O eclipse do movimento comunista prolonga-se há meio-século. Hoje começa a ficar claro que a nova corrente comunista lançada por Lenine e pelo Partido Bolchevique foi submergida pelas mutações sociais que ela própria desencadeou.
Enfrentando a ameaça de alastramento da primeira revolução proletária e debatendo-se em contradições agudas na concorrência para a conquista do mundo, o imperialismo desencadeou uma escalada de terror em proporções nunca antes conhecidas na história da Humanidade. A exportação da contra-revolução tornou-se uma característica central do imperialismo.
A época actual tem visto sucederem-se sem interrupção os regimes fascistas, as guerras gigantescas, os massacres, a ameaça de extermínio nuclear. A bestialidade dos campos da morte nazis, dos genocídios americanos eM Hiroxima, na Coreia, no Vietname, no Camboja, das matanças na Indonésia, Palestina, Chile, Argentina, não pôde suprimir a luta de classes mas conseguiu afrouxar-lhe o ritmo.
O choque do terror em massa que caracteriza a agonia do capitalismo tinha que conduzir o movimento operário a uma pausa, a uma fase de recuo e reagrupamento, até encontrar novas vias para a revolução. Era inevitável o aparecimento de tendências oportunistas, reformistas e pacifistas no movimento operário.
Mas o imperialismo não se baseou só no terror para estancar a revolução proletária. Ele encontrou um apoio social precioso em três novas correntes burguesas, que ascenderam ao longo do último meio-século nas três formações sociais do mundo actual:
– na União Soviética, a nova camada dos quadros (políticos, produtivos e administrativos) pôde apoiar-se nas limitações e deformações da ditadura do proletariado para a estrangular, operar uma contra-revolução gradual a partir dos anos 3O e guindar–se à posição de nova burguesia de Estado, coberta com a bandeira socialismo e do marxismo-leninismo.
– nos países capitalistas, e sobretudo nas metrópoles imperialistas, alastrou como um cancro uma vasta camada parasitária de assalariados improdutivos, que se constituiu numa nova pequena burguesia e, aliada à aristocracia operária em crescimento, assumiu o controle do movimento operário, como agente e capataz do grande capital.
– nos países dependentes, a luta popular libertadora e a crise do colonialismo elevaram ao poder uma nova burguesia nacional, pretenso porta-voz das reivindicações de todo o povo, enfeitando-se frequentemente com emblemas “socialistas”, mas na realidade cliente servil do imperialismo e do social-imperialismo.
Sob o envolvimento conjugado destas três novas correntes burguesas de cor revolucionária, progressista e anti-imperialista, soçobrou o movimento operário comunista que fora fundado por Lenine. O comunismo deslocou-se para a direita, fundiu-se com o falso marxismo pequeno-burguês, abandonou o alvo da revolução proletária e desnaturou-se numa versão “popular” centrista.
Por toda a parte, o centrismo “comunista” caracterizou-se por querer conduzir a luta contra o imperialismo, a reacção e o reformismo evitando a acção revolucionária independente do proletariado, para não assustar a pequena burguesia.
0 centrismo exprimiu-se na União Soviética pela linha de Staline, no Ocidente pela política das Frentes Populares de Dimitrov, no Oriente pela linha da Democracia Nova de Mao Tsetung.
Durante algum tempo, o movimento comunista continuou a registar avanços espectaculares, com a vitória da União Soviética sobre os nazis, as Democracias Populares na Europa oriental e a revolução na China.
Mas esses avanços vinham já contaminados pela conciliação operário-pequeno-burguesa e pelo afastamento cada vez maior da ditadura do proletariado. Pouco a pouco, o proletariado perdeu a identidade de classe que lhe fora conferida pela revolução russa e pela Internacional Comunista e regrediu à condição de parcela subalterna do povo, conformando-se a lutar só por objectivos aceitáveis para a pequena burguesia.
Com a ascensão e poderio cada vez maiores da nova burguesia soviética, o marxismo-leninismo acabou por ser transformado numa teoria revisionista de colaboração de classes, que mobiliza os operários como serventes da política burguesa e pequeno-burguesa “progressista”.
Teses apresentadas por FMR à I Assembleia da Organização Comunista Política Operária (OCPO)