Ou saiam todos ou não saía ninguém
– Como foi a relação com outros membros do PC que estavam também presos em Peniche?
– Inicialmente havia alguns elementos do PC no nosso pavilhão, mas começou a haver conflitos e os guardas separaram-nos. Passou então a haver dois pavilhões, nosso só de presos de extrema-esquerda e alguns coloniais.
Quando se dá o 25 de Abril, os membros do PC saem sem querer saber da nossa situação. Ora, o oficial do MFA que entra na prisão trazia ordens do Spínola dizendo que três presos (eu era um deles) não podiam sair porque tinha “crimes de sangue”. Teríamos de ir para o Forte da Trafaria. Aí fizemos um plenário dos presos da extrema esquerda em que foi decidido que ou saiam todos ou não saía ninguém. Depois de negociações e telefonemas para Lisboa, lá saímos todos, já na madrugada do dia 27.
– Como é que foi o recomeço da sua vida? Ainda não tinha visto os seus?
– A minha família levava os miúdos à cadeia de vez em quando. A minha companheira já tinha saído da clandestinidade, porque os dirigentes do Partido disseram-lhe que, para ficar na clandestinidade, tinha que cortar comigo. Bem, assim que saí no 25 de Abril, comecei novamente como funcionário da nova organização ML.
(Extractos de uma entrevista)
Fotografia tirada logo após a saída da cadeia do Forte de Peniche, ainda debilitado e magro em consequência duma série de greves de fome pela melhoria das condições prisionais.