10 anos depois
Há 10 anos, na madrugada de 22 de Abril, faleceu serenamente Francisco Martins Rodrigues, referência e figura incontornável da esquerda comunista revolucionária portuguesa.
Um grupo de pessoas que com ele militaram e conviveram quis assinalar a data com um encontro de homenagem Realizou-se um almoço, a 21 de Abril (sábado), em Lisboa,
Além do almoço e do convívio entre os cerca de 70 camaradas, amigos e companheiros presentes, foi visionado um vídeo-filme biográfico de FMR (que será disponibilizado aqui), foram vendidos alguns dos seus livros, ofereceu-se um cartaz que reproduzimos aqui e leram-se mensagem enviadas por quem não pôde estar presente, que a seguir transcrevemos, agradecendo calorosamente.
Mensagens
RUI D’ÁVILA
Por me encontrar ausente, lamento não poder estar presencialmente com todos Vós. Mas considero meritória a iniciativa de Homenagear o Francisco Martins Rodrigues como da mais elementar justiça.
Quando conheci pessoalmente Francisco era ainda um adolescente, mas o seu pensamento revolucionário, a sua dedicação abnegada à transformação social e política de Portugal, mas acima de tudo o seu exemplo de líder carismático, com uma personalidade humilde e de profundo humanismo e uma enorme generosidade, teve uma repercussão enorme na minha formação pessoal e no adulto em que me transformei.
Por tudo isso lhe ficarei para sempre agradecido.
RUI CANÁRIO
Cara Ana Barradas,
Não confirmo a minha participação dado que, desde há algum tempo, estou a residir na Póvoa de Varzim e nem sempre é fácil deslocar-me a Lisboa. No entanto, associo-me completamente à homenagem em memória de Francisco Martins Rodrigues que sempre admirei e respeitei. Podes fazer uso público desta posição.
Um abraço
Rui Canário
ZÈ CARLOS (do Brasil)
Olá Ana,
Muito boa essa iniciativa de homenagem ao Chico nos 10 anos de sua morte.
Se eu tivesse condições certamente participaria, pois o FMR foi decisivo para o meu amadurecimento como proletário com consciência comunista.
Sinto saudades dele também.
Sinta-se fortemente abraçada pelo Zé.
PS = me diga depois como transcorreu.
DIÁRIO LIBERDADE (da Galiza)
Do Norte da Galiza, e em nome do Coletivo Editor do Diário Liberdade, quero fazer chegar às camaradas e aos camaradas do saudoso Francisco Martins Rodrigues a nossa amizade e adesão neste ato de lembrança e reconhecimento ao velho Chico.
Tive a sorte de conhecer o Chico quando, nos primeiros anos do século atual, iniciou uma relação política com o que na altura era o pequeno partido comunista e independentista galego em que eu militava: Primeira Linha.
Não era fácil na altura, nem ainda é hoje, conseguir o apoio claro e incondicional da esquerda portuguesa para a causa da nossa independência nacional. Para nós, isso era fundamental, pois considerávamos, e eu ainda considero, que Portugal devia ser o principal aliado da Galiza na construção de um futuro comunista comum.
Porém, incompreensões, calculismos e indiferenças sempre alternaram, na diversa esquerda portuguesa, com a sincera irmandade dos melhores representantes do irmão povo trabalhador português. O Chico, como antes o Zeca Afonso e alguns outros, pertenceu ao grupo dos da sincera irmandade. Viajou periodicamente à Galiza, participou nas nossas manifestações e jornadas políticas, colaborou na nossa formação, escreveu textos de apoio explícito e, junto à Ana Barradas, ao António Barata, ao José Borralho e ao resto de bons e boas camaradas, cultivou a nossa amizade e demonstrou uma grande generosidade e disponibilidade, que no seu caso foi de grande importância pela liderança política e humana que representava para todos nós.
Tive ocasião de vir visitá-lo, já doente, nas suas últimas semanas de vida, sabendo que aquela era a nossa despedida. Foi uma reunião emotiva e de camaradagem com todo o coletivo da Política Operária, com o qual tínhamos mantido uma relação fraterna naquela década inicial de século.
Agora, uma década depois daquela despedida, lamento não poder acompanhar-vos para juntos lembrarmos aqueles últimos anos do Chico. Só quero que sempre lembrem que, como vocês, também um grupo de trabalhadoras e trabalhadores galegos, militantes independentistas e comunistas, tivemos a sorte de o conhecer e apreciar como grande comunista que foi.
“A todos nos chegará a nossa vez; mas ficarão as ideias dos comunistas cubanos”… Parafraseando essas últimas palavras que Fidel Castro dedicou, na sua despedida, aos revolucionários do seu país, também no caso do Chico podemos afirmar sem dúvida que “ficarão as ideias desse grande comunista português: Francisco Martins Rodrigues”.
Agradeço muito sinceramente o vosso convite e só lamento a minha ausência hoje aí junto a vós. Recebei, em meu nome e do resto do Coletivo Editor do Diário Liberdade, um abraço fraterno, comunista e galego do
Maurício Castro Lopes
Ferrol, GALIZA, abril de 2018
BRUNO TEIXEIRO (da Galiza)
Cara Ana,
Antes de mais agradecer o convite de homenagem ao Chico, quanto se sente a falta da sua lucidez.
Desgraçadamente, ainda que com muita vontade de acompanhar-vos, vai-me ser impossível estar em Lisboa no 21 de abril. Estive a tentar de mudar o turno de trabalho, sem êxito.
Os meus melhores desejos de que todo seja um sucesso.
Forte abraço para todos as e os irmãos e camaradas portugueses.
Bruno
COLECTIVO CEM FLORES (do Brasil)
Camarada Ana Barradas
Camarada Antonio Barata
Recebam, em nome do Coletivo Cem Flores, nossa mais sincera saudação a essa homenagem que vocês e outros camaradas portugueses realizam em homenagem aos 10 anos da morte desse verdadeiro bolchevique que foi Francisco Martins Rodrigues.
Infelizmente não chegamos a conhecer pessoalmente o Chico. Mas, como vocês bem sabem, suas ideias, seu exemplo e sua prática seguem presentes em nosso cotidiano.
A contribuição teórica e prática do Chico, e do coletivo que em torno dele se organizou, segue viva e ainda tem muito a dar na necessária reconstrução do partido revolucionário do proletariado.
Para nós, sem ser uma frase vazia, é absolutamente real afirmar que Francisco está presente! Vive entre nós por sua teoria e sua prática.
Um grande abraço comunista e fraternal a vocês e aos camaradas que o homenageam.
Coletivo Cem Flores.
Brasil.
PRIMEIRA LINHA (da Galiza)
Dez anos presente, Francisco Martins Rodrigues sempre!
Carlos Morais, portavoz de Primeira Linha
A derradeira vez em que estivem com o Francisco Martins Rodrigues o sol lisboeta acariciava o seu rosto protegido por um boné. Era 6 de abril de 2008. Estava sentado na rua e pola minha cabeça passárom imagens fotográficas dos últimos meses de Lenine em Gorki.
Só duas semanas depois, às 2 da madrugada de 22 de abril, deixa de latir o imenso coraçom do revolucionário comunista português.
Posteriormente tivem a honra de encabeçar a delegaçom galega que acompanhou e honrou o seu corpo no sepélio do cemitério do Alto de São João.
Dias mais tarde assistim à homenagem que tivo lugar em Lisboa no 1º de Maio.
Passárom dez anos da morte do Chico, um comunista excepcional. Umha década de constante involuiçom ideológica, de traiçons, de rendiçons, de capitulaçons, de permanente aggiornamento da prática totalidade das forças e organizaçons políticas que se declaram marxistas, que se autodefinem como comunistas.
Se o Francisco Martins estivesse vivo, as tendências em curso nom lhe teriam surpreendido, pois muitas décadas antes tivo a lucidez de identificar e caraterizar o cancro reformista que carcome a aplicaçom da açom teórico-prática marxista.
Tivo a coragem de abandonar o revisionista PCP em 1963, de promover umha nova organizaçom comunista inspirada nos ventos que provinham de Pequim, mas também de detetar as contradiçons inerentes ao maoismo, de fundar a Política Operária em 1983, de seguir pensando com cabeça própria, estudando e aplicando os textos fundacionais à realidade concreta, debulhando Marx e Lenine, intervindo com coragem e sempre tentando aprender.
Centenares de artigos e textos, de cadernos e livros, entrevistas, e basicamente o “Anti-Dimitrov. 1935/1985 – meio século de derrotas da revolução”, condensam a sua capacidade de compreender que o ponto de inflexom do abandono do marxismo-leninismo pola Internacional Comunista tivo lugar 21 anos antes do XX congresso do PCUS. Que foi no VII Congresso quando alterou a necessidade de que a classe operária se dote de umha plataforma política própria, evite diluir-se em espaços interclassistas hegemonizados pola pequena-burguesia.
Sem um partido genuinamente proletário, tanto na sua composiçom, como na orientaçom e intervençom, nom há possibilidades reais de transformar a indignaçom popular, o malestar social em potencialidades revolucionárias, em transitar com êxito da primária rebeldia ao antagonismo irreconciliável entre a classes.
A sua crítica, tam radical como rigurosa do “centrismo”, a forma do oportunismo vigorante em boa parte do século XX, é imprescindível na alforja de quem queira luitar contra o capitalismo e o imperialismo, em quem aposte por construir eficaces ferramentas proletárias de combate.
“Ninguém no mundo pode impedir a vitória dos comunistas a nom ser os próprios comunistas” prognosticou Lenine, e assim lamentavelmente está sendo, tal como tantas vezes lembrava o Chico.
Neste novo século, o “centrismo” desfruta da artificial saúde dos tam inofensivos como fugaces e inconsistentes êxitos eleitorais que bloqueiam a luita operária, e satisfazem os aparelhos burocráticos que só aspiram a ocupar as migalhas das periferias da dominaçom burguesa.
Na Galiza, o nacionalismo vernizado de adulterado marxismo compete por sobreviver, ancorado nas instituiçons que afirma combater, encistado nos aparelhos burocráticos que hipotecam e instrumentalizam as capacidades das organizaçons de massas pola simples alternáncia eleitoral.
A eclosom do novo “centrismo”, vestido com roupas aparentemente mais sedutoras e piercings mais atrativos, combinado com reivindicaçons nostálgicas do capitalismo de Estado soviético, é um híbrido entre marxismo-leninismo de manual e postmodernismo.
Arrasta idênticas deficiências que o tronco do que procede alguns dos seus principais núcleos, polo que nom passa de ser um analgésico funcional que tam só pretende deslocar o velho reformismo na competência oportunista por ocupar os espaços institucionais do inimigo.
Eleitoralismo, cretinismo parlamentar, utililizaçom e manipulaçom dos conflitos e mobilizaçons populares sob um prisma eleitoral, renúncia ao combate de ideias, conciliaçom com a burguesia, pacifismo obsessivo, legalismo e pánico à subversom nacional e de classe, definem as práticas reais dos dous espaços que hegemonizam a esquerda galega.
Ambos som simples tapons que atrasam o inevitável, que bloqueiam o imprescindível, a necessidade de que o proletariado galego colha as rédeas, agarre o leme e assuma sem dilaçons nem componendas a direçom, no caminho da confrontaçom sob umha estratégia insurreicional.
No Chico Martins encontramos úteis reflexons e elaboradas análises que nos afastam da tentaçom de procurar atalhos, fraudulentos antídotos que evitam conduzir-nos aos labirintos que desvirtuam e esterilizam a luita operária e popular.
Neste décimo aniversário da sua despariçom física, e no bicentenário do natalício de Karl Marx, a melhor homenagem que se lhe pode fazer é seguir construindo o partido comunista revolucionário, abrir caminhos, combater toda forma de comodidade e amorfismo, particar o internacionalismo proletário.
Nem as cómodas práticas contemplativas, atrapadas em análises canónicas e no relato doutrinário, que nunca arriscam, mas pretende tutelar e dar leiçons; nem o acionar sem princípios ideológicos sólidos, tendente à promiscuidade e falso unitarismo, formam parte do imenso legado do Francisco Martins Rodrigues.
O seu pensamento é imprescindível para reconstruir e reorganizar o movimento comunista, na atualidade literalmente sequestrado pola pequena-burguesia que o converteu na prolongaçom “progressista” do establishment imperialista.
Legado que nom é propriedade de ninguém, mais sim de quem o considere útil para a luita pola Revoluçom Socialista, no combate anticapitalista, para armar de razons e legitimidade o direito universal dos povos e das camadas exploradas à rebeliom armada contra toda forma de dominaçom e opressom.
Neste décimo aniversário tenho imensas saudades do meu maior mestre em marxismo, de conversar com ele, de compartilhar o sabor dos coentros com o ser humano humilde, que sempre escuitava com atençom, do comunista solidário com a causa galega, com o nosso direito e necessidade de dotar-nos de um Estado soberano, do veterano revolucionário capaz de incorporar à sua mochila de combate com velocidade de vertigem o arco da velha multicor das rebeldias presentes e futuras, sempre sob o eixo da luita de classes.
A dia de hoje “cravos vermelhos choram lágrimas de dor”, tal como há dez anos afirmava o comunicado de Primeira Linha manifestando a tristeza e consternaçom dos comunistas galegos.
A Galiza rebelde e combativa nom te esquece e sempre terá umha dívida contigo, caro camarada Chico Martins. Até a vitória sempre!
Partido Comunista Revolucionário do Brasil
Querida Ana, queridos camaradas de Portugal,
os comunistas revolucionários do Brasil apresentam sua calorosa saudação ao abnegado exemplo de vida do camarada Francisco Martins e a todos os seus admiradores, que hoje estão juntos para celebrar a sua memória e a sua coerente combatividade.
Impossibilitados de estarmos com vocês, neste gesto fraternal e de preservação da memória dos verdadeiros heróis do povo trabalhador português, designamos o camarada Eduardo, militante do Partido Comunista Revolucionário do Brasil e trabalhador e residente na cidade do Porto, para nos representar neste histórico encontro.
Calorosas saudações comunistas de
Edival Nunes Cajá, sociólogo, ex-preso político e presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa e de
Fernando Araújo – representante do maior arquivo marxista na Internet na língua portuguesa.
Plataforma Laboral e Popular (PLP)
Viagem fora com Francisco Martins Rodrigues
“Quem se apoia afinal na esperança dum golpe militar vitorioso? Aqueles que procuram criar uma força armada ao serviço do proletariado e das massas, conquistar os soldados para o campo da revolução, desintegrar o exército, ou aqueles que esperam pelo dia em que os aviões, tanques e canhões se voltarão contra o governo? Não é possível ter dúvidas sobre o carácter do «levantamento» encarado pelos dirigentes do Partido: por muito que o neguem, é uma concepção que deixa nas mãos dos «militares democratas e patriotas» (isto é, dos oficiais), o destino do levantamento antifascista.” (Lut Dezembro de 1963
Francisco Martins Rodrigues, Luta pacífica e luta armada no nosso novimento, dezembro de 1963
Francisco Martins Rodrigues faleceu exactamente há dez anos. Aproveitamos a oportunidade para explicar a importância dele e da sua obra para esta nova geração de militantes comunistas.
O Chico é o principal responsável pela chegada a Portugal daquilo a que se convencionou chamar movimento ML. Ao mesmo tempo, o Chico foi também o único militante capaz de teorizar a ruptura e a superação desse mesmo movimento.
Com o Chico aprendemos a identificar o inimigo dentro do movimento operário, e a defender os princípios.
A liquidação do projecto revolucionário após o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética foi uma operação delicada. Foi preciso levantar uma nebulosa para esconder o verdadeiro carácter de todas as inovações teóricas que vinham de leste. Nessa altura contámos com o Chico para perceber o que era o caminho pacífico para o socialismo, o partido de todo o povo, a coexistência pacífica, e a aplicação prática de tudo isto em Portugal.
Com o Chico fomos depois levados a analisar as causas da degenerescência que insistiu em contaminar não apenas a orla soviética, mas também o movimento ML.
Afinal o proletariado já não tinha caminho próprio bem antes da liquidação do projecto revolucionário. Abdicámos da hegemonia e independência para nos defendermos do fascismo; decidimos trabalhar para a democracia burguesa quando não a tínhamos, e quando a conquistámos fomos absorvidos pelo sistem. Decidimos entrar em todo o tipo de unidades populares, sempre à procura da próxima etapa, da próxima aliança social, de todas as justificações teóricas para evitar fazer o nosso caminho e o nosso trabalho.
O dimitrovismo é um labirinto sem saída. No final de cada etapa, voltamos ao ponto de partida. Da paz social burguesa à guerra, da guerra ao perigo da bota cardada, da bota cardada às alianças com a burguesia boa (contra a burguesia má), e finalmente da vitória novamente à paz social burguesa. E daqui não saímos.
Daremos a conhecer todas as partes desta viagem. Há muito sumo político entre a ruptura com o revisionismo durante o cisma sino-soviético, até à ruptura com o centrismo e o dimitrovismo. Durante este percurso palpita o desassossego intelectual, o espírito crítico e científico, a vontade dar à classe os instrumentos mais avançados.
Não chegámos a conhecer o Chico pessoalmente, mas conhecemo-lo bem. Aprendemos dos textos dele quando tinha razão, quando não tinha a razão toda e até mesmo quando não tinha razão.
Agora continuaremos nós mesmo viagem. Para o caminho levamos na mochila um exemplar do livro Anti-Dimitrov:
“Daí a ideia leninista de que a única pedagogia que produz frutos na escola da luta de classes é colocar a pequena burguesia perante o facto consumado da luta revolucionária independente do proletariado. As vacilações pequeno-burguesas nunca se venceram com «apoio político» nem com «explicações pacientes», como queria Dimitrov, mas pela força. A pequena burguesia sempre cairá, em última análise, para o lado do mais forte.”
Francisco Martins Rodrigues, Anti-Dimitrov, 1985.
JOÃO VILELA
O homem que ergueu a voz contra a degenerescência kruschevista do PCP, pagando o preço da prisão por bufaria e das campanhas de desmoralização na cadeia, feitas por «camaradas».
O homem que tomou a palavra para identificar no frentismo o problema fundamental da esquerda, a causa das suas derrotas desde os anos 30, quer quando tomou o poder em revoluções «democráticas e populares» que restabeleceram o capitalismo na primeira esquina, quer quando tentou derrubar o fascismo pela unidade de todas classes antimonopolistas e foi a forma mais segura de esse mesmo fascismo passar suavemente para uma democracia burguesa que não beliscasse os privilégios da burguesia.
É difícil expressar a importância do Francisco Martins Rodrigues para o pensamento marxista em Portugal, para a avaliação da crise revolucionária de 1974/75, para a teorização da reorganização do movimento popular que os dias de hoje nos impõem. A justa medida da sua importância é, muito seguramente, o silêncio sepulcral em torno do seu nome, da sua obra, do seu exemplo. O rigoroso oposto de tantos e tantos comunistas com direito a ruas e praças em seu nome, inauguradas por políticos dos partidos burgueses, citados como exemplos de «responsabilidade».
De todo modo, duvido que o Chico quisesse praças com o seu nome nesta sociedade, e seguramente havia de se sentir ofendido se lhe chamassem «responsável». O que quereria é o que hoje se faz, e que eu infelizmente, porque a geografia é o que é e 300 km são 300 km, só posso fazer à distância: que se conhecesse a sua obra, e sem concessões nem gazuas, se construísse a organização revolucionária que vai criar a única sociedade onde valerá a pena viver, que é a sociedade comunista. Um abraço aos camaradas que se reuniram em nome deste grande revolucionário, esta tarde, em Lisboa. Honra e glória, camarada Chico Martins.
RENATO TEIXEIRA
Fez ontem dez anos que Francisco Martins Rodrigues morreu. Figura incontornável da esquerda revolucionária militante, o Francisco Martins Rodrigues começou o seu percurso no MUD e no PCP, seguindo-se o CMLP e a FAP. Em ambos os casos é detido pela PIDE, o primeiro leva-o a participar na célebre fuga de Peniche, juntamente com Cunhal e outros dirigentes do PCP, o segundo leva-o a uma pena de vinte anos de cadeia, que seriam interrompidos a meio pelo 25 de Abril. Segue-se a UDP e, por último, a Política Operária. Tive o privilégio de o ter como editor da única brochura que publiquei até hoje, através da sua editora, a Dinossauro, o que a par do projecto “Mudar de Vida”, feito com o José Mário Branco e outros companheiros, me valeu o prazer de coleccionar vários serões na sua companhia. Para sempre ficam as lições do “Abril Traído”, o melhor livro sobre o pós 25 de Abril, e a franqueza do olhar e do verbo de um camarada insubstituível. O Francisco Martins Rodrigues faria sempre falta, mas na actual situação política a sua falta sente-se com redobrado dramatismo. Não me pude juntar ao encontro que lhe prestou o devido tributo – a convite da Ana Barradas que espero poder retribuir numa próxima oportunidade – mas não podia deixar de o fazer que fosse com a simplicidade de um parágrafo de reconhecimento, com a garantia de que todos os dias tento “guardar o pessimismo para tempos melhores.” Obrigado!