Francisco Martins Rodrigues
Recentemente, em reuniões da Direcção e da Redacção, retomou-se a discussão sobre o trabalho que temos vindo a realizar através da P. O. Chegou-se a algumas conclusões, havendo assim o interesse de alargar este debate a todos. Não se trata de fazermos hoje um balanço exaustivo às posições contidas em cada artigo saído na P. O. — trata-se sim de saber se temos evoluído como corrente de pensamento marxista, se existe hoje o perigo de ausência de perspectivas para o trabalho futuro.
Através de um breve sumário por assuntos, podemos fazer uma ideia do trabalho já realizado:
P. O. n°
- Da revolução russa ao revisionismo
Staline no período do pós-guerra …………………………………………. 1
Comités de fábrica na Revolução de Outubro …………………….. 2
A família na URSS …………………………………………………………………. 2
Do 7o congresso à dissolução da IC ……………………………………… 2
Frente Popular em Espanha ………………………………………………….. 4
Guerra civil de Espanha ………………………………………………………… 6
10° congresso do Partido Bolchevique ………………………………….. 6
Processos de Moscovo …………………………………………………………….. 7
- As revoluções nacionais
Nicarágua ……………………………………………………………………………. 1, 3
Brasil ……………………………………………………………………………….. 1, 6
África do Sul …………………………………………………………………….. 1, 6
Moçambique ………………………………………………………………………. 2, 7
Angola …………………………………………………………………………………. 3
Dívida ao FMI ……………………………………………………………………… 3
Lumumba …………………………………………………………………………….. 3
Filipinas ……………………………………………………………………………….. 4
Haiti ……………………………………………………………………………………… 4
Irão ……………………………………………………………………………………… 5
Camboja ……………………………………………………………………………. 5
Conferência dos Não-Alinhados ………………………………………….. 6
Chile …………………………………………………………………………………….. 6
Afeganistão …………………………………………………………………………… 6
Classe operária no Terceiro Mundo ……………………………………… 6, 7
Fidel …………………………………………………………………………………….. 7
- Imperialismo e revolução
Situação em França ……………………………………………………….. 1, 2, 6
Conferência de Genebra ……………………………………………………….. 2
Reflexões de Vítor Almada e resposta …………………………….. 2, 3, 4
Luta operária nos EUA …………………………………………………………… 3
Década da Mulher …………………………………………………………………. 3
Papa e Vaticano …………………………………………………………………… 4, 5
Neoliberais contra social-democratas …………………………………… 5, 6
Reagan e o terrorismo …………………………………………………………… 5
O proletariado mais só ………………………………………………………….. 6
Droga …………………………………………………………………………………… 7
- O “campo socialista” hoje
Programa do PCUS ……………………………………………………………….. 3
27° congresso do PCUS ……………………………………………………….. 4
Livro do Ponomariov …………………………………………………………….. 5
5. Correntes centristas
PTA ……………………………
PC do Brasil ……………….
PC(R) …………………………
Trotskismo de Mandei .
Reunião m-l em Quito .
PC de Espanha …………..
- Construção do partido
Centralismo democrático 1 . 2 . 3 4, 5 . 6 . 7
- Movimento operário e sindical
Pacote laboral ………………………..
Cometna ………………………………..
Mulher no trabalho …………………
Situação do movimento sindical
Sorefame ……………………………….
Lisnave ………………………….. .
STCP …………………………………….
INDEP ……………………………………
Fundos de greve
Teses de Bexiga e resposta ……………………………………………….. .3, 5
SUPA ………………………………………………………………………. ……….. 4
J. B. Cardoso ……………………………………………………………………….. 5
Reflexões Vítor Hugo ……………………………………………………………. 6
Encontro sindical …………………………………………………………………. 7
- Camponeses
Reforma Agrária ……………………………………………………………………. 6
- Caminho do PCP
Paredes de vidro – Cunhal……………………………………………………… 1
Cândida Ventura …………………………………………………………………… 1
Lutas internas no PCP …………………………………………………………… 2
Democracia nacional nas empresas ……………………………………… 2
Portugueses honrados …………………………………………………………. 4
Lendo o “Avante” …………………………………………………………………. 6, 7
- Actualidade política e eleitoral
Comentários ……………………………….. …… 1, 2, 4, 5, 6, 7
- Para um programa da revolução
Questão agrária ……………………………………………………………………. 1
A crise de 1974/75 ………………………………………………………………… 1, 2
Portugal na CEE ………………………………………………………………….. 3
Revolução democrático-popular …………………………………………… 3
Da FAP à ORA …………………………………………………………………………. 6
Podemos dizer, em face deste sumário, que já demos ou iniciámos respostas sobre uma série de questões importantes:
- Como a pequena burguesia “revolucionária” empalmou a crise de 74/75
- O modelo de partido monolítico não é leninista
- Incapacidade das burguesias nacionais para fazerem a revolução
- O carácter semi-revisionista da corrente m-l e o seu namoro à burguesia democrática
- Como a Frente Popular levou à derrota a revolução em Espanha
- A revolução democrático-popular, uma escapatória para fugir à revolução socialista
- PCP, partido da nova pequena burguesia para operários
- O stalinismo como transição para o capitalismo de estado
- Luta de classes nas empresas – base para uma corrente sindical revolucionária
- O mistério dos khmers vermelhos – a revolução camponesa
- Os objectivos da URSS no Afeganistão são diferentes dos dos EUA no Vietname
- O proletariado mundial não está em vias de desaparecer
- O trotskismo contra a hegemonia do proletariado
- A “acção directa”, variante explosiva do oportunismo
Ao fim de um ano de publicação da P. O., estamos assim numa situação nova em qualidade comparando com a altura da cisão do PC(R). O fio condutor das nossas posições desde então, e que nos distingue das outras correntes, é estarmos a examinar tudo de novo à luz da diferenciação de interesses entre o proletariado e a pequena burguesia, restabelecendo a tradição leninista há muito abandonada.
Nesta perspectiva, há ainda um enorme trabalho de crítica e investigação a realizar. Perante esta exigência, diferentes atitudes surgem entre nós.
Manifesta-se por vezes uma atitude idealista sobre como abordar as grandes questões ainda em aberto. Ê necessário termos consciência das limitações do nosso estudo mas não transformar esta realidade em paralisia. Pode-se cair numa atitude académica de querer começar tudo pelo topo do edifício argumentando que só assim podemos chegar a conclusões sólidas e por isso desprezando os estudos parcelares.
Com uma atitude deste tipo poderíamos correr o risco de bloquear qualquer elaboração a curto prazo e arrastarmo-nos em estudos sem fim à vista.
Devemos manter a perspectiva de que os debates e estudos, mesmo que parcelares, nos colocam novos problemas que deste modo vão consolidando os nossos conhecimentos e renovando a apreensâo do marxismo.
Uma outra atitude que se tem vindo a verificar é a falta de ousadia nos temas a abordar. Evitando assuntos novos, como por exemplo as diferenças entre os dois imperialismos. as multinacionais e o “super-imperialismo”, o papel das novas classes médias, etc., manifesta-se o receio de mexer em teses que têm sido tabu na corrente m-l.
Também com esta atitude não renovamos nada e corremos o risco de remoer os mesmos assuntos sem avançar para argumentos novos.
Em resumo, pelo que já fizemos e pelo trabalho que temos à vista, não há razão para se pensar que “a gasolina se está a esgotar”. Enunciemos alguns dos problemas que esperam respostas da nossa parte:
- Centralismo democrático: como funcionava o Partido Bolchevique no tempo de Lenine
- A classe operária nos países avançados tende a desaparecer? Casos concretos: EUA. França, Alemanha, etc.
- Qual é o alinhamento das novas camadas intermédias face à revolução e ao socialismo?
- As multinacionais levam-nos para um super-imperialismo?
- Pode haver revolução socialista num só país?
- Mais exemplos sobre a via “não-capitalista” nos países dependentes
- Ditadura do proletariado, partido único e democracia socialista. As experiências da Rússia e da China
- Rússia e China, pode instaurar-se a ditadura do proletariado em países camponeses?
- Como funciona o capitalismo de estado nos países de Leste?
- A política imperialista da URSS é igual à dos EUA?
- A NEP e a degeneração da Rússia soviética
- O período de esquerda da IC em 1928-34
- Houve oportunismo na política de frente única operária da IC em 1922-26?
- As ideias de Bukarine
- Trotski em luta contra Staline
- A teoria da autogestão jugoslava
- O maoísmo, superação do leninismo?
- O que foi a Revolução Cultural na China?
- Frente Popular em França em 1936
- A análise marxista do capital ainda é actual?
- Crise em Portugal em 1974-75: produto da luta antifascista ou das guerras de libertação nas colónias?
- Experiências novas e limitações do “poder popular” em 1974-75
- As etapas na degeneração pequeno-burguesa do PCP
- Balanço à corrente m-l em Portugal
- Campesinato em Portugal – ontem hoje e amanhã
- Estrutura das classes em Portugal e tendências de evolução
- Ideias sobre o caminho da revolução em Portugal
- etc., etc., etc
PARA O ESTUDO DA REVOLUÇÃO CULTURAL NA CHINA
O quadro que nos foi dado inicialmente da revolução cultura! foi o de uma luta de elevado nível ideológico, entre a esquerda encabeçada por Mao e aia revisionista encabeçada por Liu Chao-chi e posteriormente por Lin Piao e Teng Siao-plng.
Mais tarde, com o descalabro da revolução na China e por influência do PTA, passou-se a negar qualquer valor à Revolução Cultural, que não teria sido mais do que uma luta pelo poder, no quadro da política oportunista e nacionalista dos Três Mundos. O descrédito do maoísmo arrastou consigo o descrédito da Revolução Cultural. Ela não teria sido “nem revolução, nem cultural, nem proletária”, mas uma luta anárquica entre cliques.
Hoje parece evidente que a Revolução Cultural foi um grande movimento revolucionário de massas que levantou aspectos novos na luta pela ditadura do proletariado e que por isso deve ser seriamente estudado. E parece claro que Mao, o Iniciador da Revolução Cultural, foi também o seu coveiro, devido à política de compromisso que seguiu entre as tendências de esquerda e de direita. O maoísmo terá sido o precursor do revisionismo na China, tal como já tinha sido o stalinismo na União Soviética.
Qual o carácter político e social das forças em presença durante a Revolução Cultural? Porque se revelou a direita mais forte na China, apesar dos grandes movimentos de massas e da educação ideológica? Era essa educação ideológica real ou apenas a repetição de slogans? O que foi de facto de esquerda e o que foi ultra-esquerdista na Revolução Cultural? Que papel desempenhou ou poderia ter desempenhado o Partido na luta? Que relação houve entre a Revolução Cultura! e a política externa chinesa? O que foi o caso Lin Piao? — estas são algumas das perguntas a que devemos tentar responder.
TEMAS DE ESTUDO Proposta de alguns temas para grupos de estudo
- Correntes e contra-correntes na Revolução Cultural (definir os períodos atravessados pela luta entre 1965 e 1976)
- O movimento das Comunas Populares (relações de classe nos campos desde o Grande Salto em Frente)
- Indústria (relações entre operários e quadros)
- O pensamento maotsetung (acção das concepções de Mao sobre a luta de classes)
- O trimundismo (política externa chinesa desde a Carta em 25 pontos à aliança com os EUA)
- A Revolução Cultural vista pelo revisionismo e pelo centrismo (criticas feitas pela União Soviética, pela corrente ML e pelos trotskistas).
Texto publicado no nº 10, Dezembro de 1986, da Tribuna Comunista da Organização Comunista Política Operária (órgão interno de debate), inédito