O relatório Kruchov

Francisco Martins Rodrigues

Assinalando o 7 de Novem­bro, aniversário da Revolução Russa, a Renovação Comunista, agora legalizada como associação política, promoveu mais um de­bate na Biblioteca-Museu Repú­blica e Resistência, desta vez de­dicado ao célebre relatório de Kruchov no 20° congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956. Na mesa, Paulo Fidalgo, da organi­zação, Fernando Rosas, Carlos Brito e Raimundo Narciso.

Muitos aspectos úteis foram focados nas sucessivas interven­ções da mesa, mas a recapitulação obsessiva dos crimes e abusos de poder de Staline desviou o debate das duas questões que contudo seriam mais produtivas: a nature­za do regime social que tornou possível e necessário o odioso fenó­meno do stalinismo; e saber por­quê a “correcção” encetada no 20° congresso descambou na social-democratização do movimento comunista e no desmantelamento final da URSS, abrindo as portas à actual explosão de barbárie impe­rialista. Esta é porém uma refle­xão de que se mostram incapazes não só os actuais militantes do PCP, como os dissidentes, disper­sos ou agrupados na Renovação Comunista. Sob o choque das “re­velações” do 20° Congresso, pare­cem ter perdido o pouco discerni­mento marxista que ainda tives­sem e passaram a exibir a sua adesão fervorosa aos valores da democracia (sem sinal de classe). Fidalgo tirou como lição das tra­gédias passadas a necessidade de a “nova esquerda” ir para o governo e aí “transformar as relações de produção”. Narciso fez votos pela vitória do Partido Democrata nas eleições a decorrer nos Estados Unidos e apelou a “mais e melhor democracia”. Rosas apontou o de­do ao “vanguardismo”. Brito dis­tinguiu-se por uma apaixonada e lamentável defesa do farsante Kruchov, a quem pouco faltou para conferir uma medalha de mártir incompreendido da democracia.

Como é fácil calcular, as inter­venções da assistência foram em geral divagantes e carregadas de perplexidade. Salvou-se o brio de Carmelinda Pereira ao estigmatizar a colaboração de classes dos actuais campeões do anti-stalinismo, em nome de um absurdo projecto de “humanização” do capitalismo.

Política Operária nº 107, Nov-Dez 2006

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